Apesar das qualidades, o hatch compacto deixa a desejar em eficiência do motor e segurança passiva diante dos concorrentes
Texto: Victor Sousa e Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Depois de sucessivos adiamentos, que nos fizeram até incluí-lo entre os carros que não nasceram, o Kia Rio afinal está entre nós. O hatch compacto lançado em 2000 já está na quarta geração e vendeu mais de 6,7 milhões de unidades no mundo desde então. No Brasil ele supre uma longa carência para a marca sul-coreana, que até então tinha uma lacuna entre o subcompacto Picanto e o sedã médio Cerato. A vinda de Pesquería, no México, isenta o Rio de Imposto de Importação e permite um preço competitivo com os similares nacionais como Chevrolet Onix, Fiat Argo, Hyundai HB20, Toyota Yaris e Volkswagen Polo.
Quão competitivo? Os valores sugeridos são de R$ 70 mil na versão LX e 79 mil na EX, ambas com motor flexível de 1,6 litro e 16 válvulas, que produz potência de 130 cv e torque de 16,5 m.kgf, com álcool ou 123 cv e 16 m.kgf com gasolina. Não há opção de caixa manual: a transmissão de série é automática de seis marchas.
A opção por um motor que a parceira Hyundai colocou como opção secundária no novo HB20, priorizando o turbo de 1,0 litro, deixa o Rio com a sensação de chegar atrasado. O conteúdo das versões (veja quadro abaixo) tem pontos positivos, como controle eletrônico de estabilidade e tração de série, e negativos, como as bolsas infláveis apenas frontais — pouco em um momento em que todo Onix traz as laterais e de cortina.
Linhas simples do Rio sugerem robustez; pouco maior que o HB20, ele oferece bom porta-malas; a versão EX das fotos custa R$ 79 mil ante R$ 70 mil da LX
O Rio deixa boa impressão com seu estilo simples e que sugere solidez, embora não pareça dos mais modernos — mesmo tendo sido apresentado há apenas três anos. A Kia declara bom coeficiente aerodinâmico (Cx), 0,31, e destaca o método de fixação estrutural por adesivos, mais eficientes e que evita rebarbas de acabamento. As duas versões têm as mesmas rodas de alumínio de 15 polegadas, sendo diferenciadas por itens como os faróis: a EX usa refletor elipsoidal, luzes diurnas de leds e facho auxiliar que se movimenta de acordo o uso do volante, ausentes da LX. Na traseira, vale notar a câmera de manobras bem acoplada à abertura do porta-malas, cuja capacidade de 325 litros é das maiores da categoria. O estepe é temporário, fino.
Com conjunto mecânico “arroz com feijão”, o motor do Rio responde bem em retomadas, a caixa está bem acertada e o nível de ruído é moderado
No interior, ambas as versões mostram acabamento de boa qualidade, que usa material suave apenas nas portas do EX para o apoio de braço, assim como bancos e volante com revestimento em couro (o LX tem só plástico duro, mas com boa montagem). Os instrumentos são simples e bem legíveis e o ar-condicionado automático de apenas de uma zona mostrou-se eficiente. A central de áudio, com tela de 7 polegadas e integração a celular por Android Auto e Apple Car Play, tem respostas rápidas e vários botões físicos. Apenas o controle elétrico de vidro do motorista tem função um-toque, o que deveria ser revisto.
Os bancos oferecem ótimo encaixe ao corpo. O espaço interno é típico de um hatch compacto, adequado a quatro adultos de estatura média. O banco traseiro oferece encostos de cabeça e cintos de três pontos para todos os ocupantes e fixação Isofix para cadeira infantil, além de rebatimento bipartido.
Interior do EX tem bom acabamento e ar-condicionado automático; instrumentos fáceis de ler; central de áudio com tela de 7 pol e integração a celular é de série
O conjunto mecânico segue o “arroz com feijão” do mercado, caso do eixo traseiro de torção e dos freios a disco só na frente. A apresentação à imprensa ofereceu uma limitada avaliação na rodovia que leva ao aeroporto de Guarulhos, SP. O motor responde bem em retomadas e a caixa está bem acertada, reduzindo marchas com rapidez ao comando do acelerador. O nível de ruído moderado revela bom isolamento acústico.
Os freios atuam bem e, no que foi possível fazer de curva em uma rotatória para testar a estabilidade, o carro se comportou muito bem. Pequeno trecho irregular apontou conforto de marcha adequado, que não incomoda, sugerindo um ajuste de suspensão mais para maciez. Nota negativa fica para o consumo pelos padrões do Inmetro, que recebeu a baixa nota D na categoria — um preço a pagar pelo uso do antigo motor, embora simplifique a manutenção. Com o tanque de apenas 45 litros, os donos que usarem álcool farão visitas frequentes ao posto.
Pelo que o enxuto contato demonstrou, o Rio é um carro correto sob vários aspectos, sem empolgar; tem um motor conhecido, mas do qual a outra marca do grupo já tirou os holofotes; e traz bons conteúdos, só que economiza em um item — bolsas infláveis — que vem ganhando importância na categoria. A nosso ver ele tem condições de conquistar uma fatia do segmento, mas não de causar qualquer abalo ao espaço dos protagonistas.
- Correção: a transmissão é automática tradicional e não CVT, como informamos antes. A informação incorreta foi dada na apresentação e confirmada depois pela assessoria de imprensa, até ser corrigida pelo diretor técnico da Kia.
Bancos bem definidos em uma cabine com espaço na média da categoria; motor de 1,6 litro e até 130 cv traz bom desempenho, mas consumo anunciado não convence
Versões, equipamentos e preços
• Rio LX (R$ 70 mil) – Ar-condicionado, banco do motorista com regulagem de altura, câmera traseira de manobras, central de áudio com tela de 7 pol e integração a Apple Car Play e Android Auto, computador de bordo, controle eletrônico de estabilidade e tração, direção assistida, faróis automáticos, faróis de neblina, fixação Isofix para cadeira infantil, monitoramento de pressão dos pneus, rodas de alumínio de 15 pol.
• Rio EX (R$ 79 mil) – Como o LX, mais ar-condicionado automático, bancos e volante de couro, controlador de velocidade, luzes diurnas de leds e retrovisores com rebatimento elétrico.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4 |
Diâmetro e curso | 77 x 85,4 mm |
Cilindrada | 1.591 cm³ |
Taxa de compressão | 11:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 123/130 cv a 6.000 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 16,0 m.kgf a 4.700 rpm/ 16,5 m.kgf a 4.500 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática, 6 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 6 x 15 pol |
Pneus | 185/65 R 15 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,065 m |
Largura | 1,725 m |
Altura | 1,45 m |
Entre-eixos | 2,58 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 45 l |
Compartimento de bagagem | 325 l |
Peso em ordem de marcha | 1.141 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | ND |
Aceleração de 0 a 100 km/h | ND |
Consumo em cidade | 9,3/7,2 km/l |
Consumo em rodovia | 13,4/10,5 km/l |
Dados do fabricante; ND = não disponível; consumo conforme padrões do Inmetro |