Por fora o SUV mudou pouco, mas o três-cilindros gira macio e tudo ficou mais agradável de ver, tocar e ouvir
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Estamos acostumados a carros que ganham remodelações de estilo e, quando são dirigidos, se mostram mais do mesmo. Com o Ford Ecosport acontece agora o contrário: embora a linha 2018 pareça ter recebido apenas uma nova frente, na verdade houve grande reforma interna, intervenções técnicas variadas e a adoção de motores mais potentes, um deles todo novo. Foi essa versão de 1,5 litro que avaliamos dessa vez (leia as impressões com a de 2,0 litros).
O novo motor substitui o Sigma de 1,6 litro e está disponível nos acabamentos SE e Freestyle, tanto com transmissão manual de cinco marchas quanto com a inédita automática de seis. Representará a maior fatia das vendas do Ecosport — o 2,0 fica restrito ao Titanium. Os preços estão pouco mais altos que os do modelo anterior, apesar de vários itens adicionais: o SE manual passou de R$ 72.800 para R$ 74 mil, o automático de R$ 78.800 para R$ 79 mil, o Freestyle manual de R$ 80.300 para R$ 81.490 e o automático de R$ 85.300 para R$ 86.490. O Titanium, só automático, baixou de R$ 94.700 para R$ 94 mil (confira no quadro abaixo os equipamentos de cada um).
É claro que esses são preços sugeridos: no mundo real o antigo Ecosport era vendido com grandes descontos e o SE automatizado saía por R$ 70 mil. Mesmo assim os novos valores estão bem situados na categoria. Deixam de existir o Freestyle Plus e o 4WD de tração integral, que retorna mais adiante. Em breve haverá uma versão automática mais simples para pessoas com deficiência (PCD), dentro do teto de R$ 70 mil para isenção mais ampla de impostos. A fábrica prevê que as automáticas respondam por 70% das vendas.
Houve trabalho importante no acabamento, com boa parte das novidades que agradaram no Titanium, e o sistema de áudio é compatível com celular em todas as versões
A unidade de três cilindros, que por enquanto vem da Índia (há planos de nacionalização), está sendo lançada em primazia no Brasil. Tem projeto similar ao do Ecoboost do novo Fiesta ST europeu, mas sem turbo ou injeção direta, assim como ocorreu com o 1,0-litro do Ka em relação à versão turbo que hoje temos no Fiesta. A faixa de 500 cm³ por cilindro tem sido padrão na indústria alemã de prestígio, havendo opção similar no Mini Cooper da BMW.
O 1,5-litro recebeu recursos técnicos atuais em favor da eficiência, como duplo comando com variação do tempo de abertura das 12 válvulas, bloco de alumínio, coletor de escapamento integrado ao cabeçote (abrevia o aquecimento do catalisador), vela de ignição centralizada, uma bobina de ignição por cilindro, virabrequim deslocado na linha de centro do motor (reduz atritos) e bomba de óleo cuja operação varia conforme a necessidade. Tem ainda preaquecimento de álcool para partida.
Frente é a única alteração de estilo do Ecosport 2018; Freestyle tem faróis elipsoidais e rodas de 16 pol em grafite, mesmo tom de retrovisores e grade
Como no 1,0-litro, a distribuição usa correia dentada em óleo, o que garante longevidade sem os acréscimos de atrito e ruído da corrente. Diferentes dele são os tuchos hidráulicos, mais silenciosos e que dispensam verificar a folga das válvulas. O que o Ka também não tem — e lhe faz falta — é um bom arranjo para anular as vibrações de primeira ordem, que fazem o motor de três cilindros “oscilar” de maneira desconfortável. Para esse fim, no 1,5-litro a Ford aplicou uma árvore de balanceamento com mancais hidrodinâmicos.
Tudo isso resultou em números expressivos de potência: 130 cv com gasolina e 137 cv com álcool, valor este que resulta em 91,5 cv/litro, a maior potência específica do mercado para motores aspirados. O torque atinge 15,6 e 16,2 m.kgf, na ordem. Comparado ao 1,6 de quatro cilindros, o 1,5 dispõe de mais 4 cv/0,2 m.kgf ou 6 cv/0,1 m.kgf, na mesma ordem de combustíveis. Mais importante é que o torque melhorou bastante abaixo de 2.500 rpm e na faixa 3.000-3.500 rpm. Compradores do Ecosport manual foram ainda mais beneficiados: essa versão tinha 110/115 cv e 15,7/15,9 m.kgf.
A Ford não informa dados de desempenho, que terão que esperar pela avaliação completa, mas os índices de consumo pelos padrões do Inmetro apontam um carro mais econômico em cidade e rodovia, exceto na versão automática no ciclo urbano com álcool (veja tabela comparativa no fim da matéria). Embora o novo motor seja mais eficiente, a transmissão automatizada anterior favorecia a economia em uso urbano por não ter conversor de torque. A nota atribuída pelo instituto continua A na categoria e melhorou de C para B na classificação geral com ambas as caixas.
Ganho de potência com o 1,5-litro foi discreto, mas há bem mais torque na faixa média; caixa automática de seis marchas traz comandos no volante
A caixa automática de seis marchas 6F15 fabricada na China (para o 2,0-litros é outra, 6F35, apta a maior torque) é compacta, dispensa troca de fluido por toda a vida útil do carro e permite mudanças manuais pelos comandos do volante, que deixam no passado o limitado botão na alavanca, como já feito no Focus. Não apenas é tendência mundial o abandono das caixas de dupla embreagem (entenda os motivos), como a usada antes no modelo enfrentou problemas de confiabilidade.
A exemplo do Titanium, o Ecosport 1,5 traz suspensões recalibradas e novos pneus, que visaram tanto a melhorar a estabilidade quanto a reduzir a transmissão de impactos e asperezas à cabine e ao volante. Sensores nas rodas monitoram a pressão dos pneus e a grade dianteira deixa de admitir ar quando não é preciso, o que melhorou em 11% o coeficiente aerodinâmico (Cx) nessa condição, de 0,395 para 0,35. A segurança foi ampliada com sete bolsas infláveis de série em toda a linha e assistência adicional em frenagens de emergência, além de recursos antes presentes como controle eletrônico de estabilidade e tração.
Próxima parte
Versões, equipamentos e preços
• Ecosport SE 1,5 manual (R$ 74 mil) – Alarme volumétrico, ar-condicionado, assistente de partida em rampa, banco traseiro bipartido, bolsas infláveis frontais, laterais dianteiras, de cortina e de joelhos do motorista; cintos de três pontos para cinco ocupantes, computador de bordo, controle elétrico de vidros com função um-toque e abertura/fechamento a distância, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis de neblina, fixação Isofix para cadeira infantil, monitoramento de pressão dos pneus, porta-luvas refrigerado, retrovisores com luzes de direção, rodas de alumínio de 15 pol, sensor de estacionamento traseiro, sistema de áudio Sync 3 com integração a telefone e tela de 6,5 pol, volante de couro com ajuste de altura e distância.
• Ecosport SE 1,5 automático (R$ 79 mil) – Como o manual, mais controlador e limitador de velocidade, transmissão automática com comandos no volante.
• Ecosport Freestyle 1,5 manual (R$ 81.490) – Como o SE manual, mais ajuste lombar do banco do motorista, ar-condicionado automático, assoalho ajustável no porta-malas, bancos revestidos em tecido e couro, câmera traseira de manobras, controlador e limitador de velocidade, navegador, rodas de alumínio de 16 pol, sistema de áudio com tela de 8 pol.
• Ecosport Freestyle 1,5 automático (R$ 86.490) – Como o manual, mais transmissão automática com comandos no volante.
• Ecosport Titanium 2,0 automático (R$ 94 mil) – Como o Freestyle automático, mais alerta para veículo em ponto cego e tráfego cruzado, bancos revestidos em couro, chave presencial para acesso e partida, faróis de xenônio, faróis e limpador de para-brisa automáticos, retrovisor interno fotocrômico, rodas de alumínio de 17 pol, teto solar com controle elétrico.
Garantia: três anos sem limite de quilometragem.