Valente e confortável, novo SUV precisa reafirmar confiança na Ford para ser opção a Jeep e Land Rover
Texto: Kleber Nogueira – Fotos: divulgação
Você percebe que um carro é icônico quando tem que se esforçar para achar a marca do fabricante estampada em algum lugar. O Ford Bronco é um desses, como o Mustang. Um nome tão bem-sucedido que alça voo, descolando-se da marca-mãe. Sabemos o quanto o Bronco representou (se ainda não sabe, leia as histórias da primeira geração e das posteriores), mas a pergunta a responder é: o que o novo Bronco Sport, lançado no ano passado nos Estados Unidos ao lado do Bronco “puro”, tem a mostrar?
Em meio à avalanche de más notícias acerca da Ford no Brasil — fechamento de fábricas, cancelamento de produtos, carros saindo de linha —, o Bronco deixa a boa percepção de um fabricante comprometido a se reestruturar rapidamente, recompondo o portfólio, e disposto a reverter a deterioração de imagem de uma empresa que, depois de 102 anos de trajetória, não mais produz ou monta qualquer veículo em solo nacional.
Com o mesmo porte do concorrente Jeep Compass, o Bronco Sport impressiona bem e sugere robustez; a versão Wildtrack será a única disponível no Brasil
Ao preço sugerido de R$ 256.900, o Bronco Sport vem de Hermosillo, México, na única versão Wildtrack e sem opcionais. Ele pareceu-nos pessoalmente mais bonito que pelas fotos, com estilo marcante, nostálgico, com toques arrojados como o conjunto ótico dianteiro. Tem o porte de um Jeep Compass, com seus 4,38 metros de comprimento. O nome do modelo ostenta-se brilhante na tampa traseira, que abre em separado do vidro. O carro é alto e retilíneo, com um capô bem paralelo ao chão, enquanto o teto preto brilhante, com um leve degrau, traz uma certa sensação de Land Rover.
Afinal, há um logotipo Ford? Sim, mas fica tímido, pequeno, em uma das laterais traseiras, enquanto o icônico cavalo arisco está nos principais cantos, do volante aos bancos e aos detalhes menos previsíveis, como o acabamento dos faróis dianteiros. A coluna traseira tem um aplique triangular que talvez seja a mais forte conexão com o estilo das gerações anteriores, época em que os utilitários esporte ainda eram… utilitários.
Interior bem-acabado e espaçoso combina preto e caramelo no couro e traz bons equipamentos de série, incluindo câmera dianteira, controlador de distância e assistente de faróis
O espaço interno é bom; o acabamento, ainda melhor. Destaque aos bancos de couro em dois tons, preto e um agradável caramelo, com costuras criativas, bolsas e presilhas nas laterais e na parte traseira. O volume declarado de bagagem, 580 litros, é excelente para seu porte e bem melhor que os 411 do Compass. Arranjos plásticos para uso modular podem ser usados como uma descolada mesinha num acampamento. Também uteis são as tomadas de energia (12 e 110 V) e focos de leds direcionáveis abaixo do limite da tampa traseira.
O motorista sente-se em um legítimo 4×4: em uma estrada de terra sofrível, roda-se a 80 km/h sem se dar conta, tamanho o isolamento proporcionado pelo bom trabalho da suspensão
O painel mescla instrumentos analógicos com um grande mostrador central digital com diferentes visualizações, como os dados do computador de bordo ou o modo de condução. Na central de áudio, com tela de oito polegadas e navegador integrado (importante em um 4×4, que pode rodar longe de torres de telefonia celular), é possível espelhar celulares Android e Apple. Um aplicativo do fabricante permite conveniências como ligar o carro a distância e obter informações sobre o veículo.
Sistema de áudio da grife Bang & Olufsen de 1.000 W produz alta qualidade de reprodução, com graves impactantes e agudos cristalinos — coisa fina. Estão inclusos controlador de velocidade e distância à frente com função para-anda, assistência de frenagem em emergência, leitor de placas de velocidade, comutação automática de faróis e monitor de veículos em pontos cegos, além de bolsas infláveis laterais dianteiras, de cortina e de joelhos do motorista. Convenientes no fora de estrada são o Trail Control, um controlador de (baixa) velocidade que atua em subidas e descidas, e a câmera dianteira com ângulo de 180°. Não falta o carregador de celular por indução.
Grande compartimento de bagagem com piso impermeável, sistema de áudio B&O, carregador de celular sem fio e sete modos de condução, que adaptam o Bronco aos tipos de terreno
Ao volante do Bronco Sport
O Bronco será ofertado no Brasil apenas com motor 2,0-litros a gasolina com turbocompressor, injeção direta, 240 cv e 38,3 m.kgf de torque, o Ecoboost bem conhecido do finado Fusion. Não é um destaque, mas atende sem reclamar do peso de 1.718 kg, como constatamos no campo de testes da Ford em Tatuí, no interior paulista — só não espere frugalidade no consumo. A transmissão automática de oito marchas tem mudanças suaves e permite trocas manuais no volante, enquanto a direção demonstra certa lentidão de respostas no asfalto.
O melhor do Bronco aparece no fora de estrada. A primeira incursão faz você concluir que, de fato, está em um legítimo 4×4, apesar de compartilhar a plataforma básica com o Escape (chamado de Kuga na Europa), com suspensões McPherson na dianteira e multibraço no eixo traseiro. Em que pese a sensação pendular, com certa sensibilidade lateral nas altas velocidades ou nas curvas mais ousadas, a compensação vem quando se roda em uma estrada de terra sofrível e se vê o velocímetro a 80 km/h sem se dar conta, tamanho o isolamento proporcionado pelo bom trabalho da suspensão. O perfil alto dos pneus 225/65 R 17, Pirelli Scorpion AT, certamente ajuda — mesmo sem a aparência esportiva dos perfis baixos que invadiram o segmento.
Variedade de condições fora de estrada em Tatuí mostrou boa aptidão do Bronco Sport, que usa o motor 2,0-litros turbo conhecido do Fusion e tração integral sob demanda
Os sete modos de condução (normal, eco, esportivo, escorregadio, areia, lama/terra e escalada de pedras), chamados de Goat Modes, mudam o comportamento de motor, transmissão e controle eletrônico de estabilidade e tração para as condições de variados terrenos, sem muitas opções confusas a selecionar. Atravessa-se um alagadiço com segurança, uma barra de areia em praia sem atolar e sobe-se um morrete inclinado com um girar de seletor, enquanto uma agradável e detalhada animação surge no centro do painel.
Buracos, elevações, facões e outros obstáculos são superados com serenidade. E a direção, se merece alguma crítica no asfalto, nas terras complicadas comunica-se muito bem com o motorista. Para quem gosta de números, as credenciais não fazem feio: ângulo de entrada de 30,4°, de transposição de rampa de 24,4°, de saída de 33,1°, vão livre do solo de 223 mm e capacidade de imersão de 600 mm.
A Ford pretende convencer dissidentes de Land Rover Discovery Sport, Volvo XC40 e, claro, das versões 4×4 do Jeep Compass a testar uma opção de aparência diferenciada. Mediante a imagem do fabricante no momento atual, o Bronco Sport pode parecer uma aposta. Seu êxito dependerá do quanto a Ford será capaz de convencer compradores de seu compromisso com o Brasil, porque o produto tem os atributos para tanto.
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Preço e equipamentos de série
• Bronco Sport Wildtrack (R$ 256.900) – Acesso remoto a funções por aplicativo no telefone, alerta de colisão com frenagem autônoma de emergência, ar-condicionado automático, assistente de faróis, bancos de couro, bolsas infláveis laterais dianteiras, de cortina e de joelhos do motorista; câmeras dianteira e traseira, carregamento sem fio para celular, central de áudio com tela de 8 polegadas e integração a Apple Car Play e Android Auto, chave presencial para acesso e partida, computador de bordo, controlador de velocidade e distância à frente, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis de leds, faróis de neblina, faróis e limpador de para-brisa automáticos, freio de estacionamento com comando elétrico, leitor de placas de velocidade, monitoramento de ponto cego e de pressão dos pneus, rodas de alumínio de 17 pol, teto solar elétrico.
• Garantia – Três anos sem limite de quilometragem.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 87,5 x 83,1 mm |
Cilindrada | 1.999 cm³ |
Taxa de compressão | 10:1 |
Alimentação | injeção direta, turbo, resfriador de ar |
Potência máxima | 240 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo | 38,0 m.kgf a 3.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática, 8 marchas |
Tração | integral sob demanda |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | independente, multibraço, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 7 x 17 pol |
Pneus | 225/65 R 17 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,386 m |
Largura | 1,938 m |
Altura | 1,797 m |
Entre-eixos | 2,67 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 64 l |
Compartimento de bagagem | 580 l |
Peso em ordem de marcha | 1.718 kg |
Desempenho e consumo | |
Não disponíveis | |
Dados do fabricante |