Versão de 1,35 litro do hatch revelou muita economia e conjunto equilibrado, mas deixou algumas ressalvas
Texto e fotos: Felipe Hoffmann
O Fiat Argo Drive concluiu na semana passada seu teste Um Mês ao Volante, que foi alguns dias mais longo que os 30 habituais — uma gentil concessão do fabricante a nosso pedido, justificado pelo problema de abastecimento que tivemos durante a greve dos caminhoneiros. Sua jornada terminou no uso urbano com gasolina, com a qual testamos seu limite de autonomia. Temos também a análise técnica em vídeo (veja abaixo) feita no NZ Centro Automotivo (nzca.com.br) de São Paulo, SP.
Na semana fizemos a ótima média de consumo urbano de 19,4 km/l, sendo a melhor marca de todo o teste obtida no corriqueiro uso pelas Marginais Tietê e Pinheiros: 22,7 km/l com média de velocidade de 45 km/h. Por outro lado, tivemos um “delicioso” trânsito em São Paulo com média de 13 km/h — meia hora para percorrer 6,5 km —, que resultou em ainda bons 11,5 km/l. Nessa ocasião o número foi ajudado pelo sistema de parada/partida automática (mais sobre ele), pois ficamos muitos minutos parados sem movimentar o carro.
No total do teste foram 2.327 km rodados, sendo 86% em uso urbano. Entre os combustíveis, usamos álcool em 52% e gasolina nos restantes 48% (desprezando o período de mistura no tanque). Foram consumidos 62,8 litros do combustível vegetal e 41,4 do derivado de petróleo (mais informações no quadro abaixo do texto).
Aproveitamos para fechar a diferença entre o consumo mostrado no computador de bordo e o calculado na bomba de combustível — a mesma e do mesmo posto, sempre que possível. O valor encontrado foi de 4%, ou seja, o carro indica 10,4 km/l quando faz na verdade 10 km/l, bem dentro da normalidade. O que não é normal é a antecipação com que o Argo alerta o motorista para reabastecer.
O Argo mostrou-se um bom companheiro para o trânsito, com destaque à suspensão bem acertada para pisos irregulares, sem impedir boa estabilidade
Com aquele erro e o consumo em mãos, pudemos desafiar o mostrador de autonomia e puxamos o carro até seu limite. Próximo do momento em que a luz de reserva acendeu, a autonomia deixou de marcar um valor. Estimando a autonomia com margem de segurança de 10% (não queríamos arriscar), levando em conta nossa média de consumo urbano, havia ainda 190 km para rodar com o conteúdo do tanque! É cedo demais para deixar o motorista preocupado em parar, muitas vezes em um posto menos confiável, pensando que está nos últimos km de fato.
No total rodamos 782 km com um tanque de gasolina, o que mostra que o carro é bastante econômico. Então, por que computador e mostrador de combustível são cautelosos demais? Talvez seja para evitar que o motorista use o tanque perto de ficar vazio: isso de certa forma prejudica a vida útil da bomba de combustível, a qual tem seu motor elétrico refrigerado pela passagem do próprio combustível. Com nível muito baixo, a bomba pode não captar combustível numa subida ou curva acentuada. Nessa hipótese o motor não falha, pois há como se fosse um copo no corpo da carcaça, que segura a bomba e a boia de combustível, para que daí envie o líquido ao motor.
Muito econômico e com espaço e desempenho em boa medida, o Argo Drive agradou bastante, mas cabem correções a alguns itens como o acelerador
Falando em paradas em postos, sentimos falta da etiqueta na tampa do tanque com as pressões de pneus recomendadas, sendo necessário consultar o manual do veículo. Além de não ser uma prática e rápida consulta, isso pode incomodar quem deixa o manual em casa com receio de furto em lava-rápido ou estacionamento. Importante saber que o monitor de pressão dos pneus do modelo (do tipo indireto) não dispensa a verificação periódica de pressão, pois pode haver perda gradual nos quatro que o sistema não detectaria.
Durante o mês de teste, o Argo mostrou-se um bom companheiro para o trânsito, apesar de o nosso não contar com a transmissão automatizada GSR Comfort (leia avaliação com ela). O destaque é a suspensão bem acertada para pisos irregulares, sem deixar de transmitir boa impressão em estabilidade. O carro se inclina em grau moderado em curvas ou mudanças de trajetória, com comportamento de subesterço no limite da aderência — seguro para o consumidor comum. Se provocado, consegue-se jogar a traseira numa tomada de curva agressiva sem grandes riscos. A versão com caixa manual não tem controle eletrônico de estabilidade e tração, usado apenas na automatizada. Com isso, também não oferece o prático assistente de partida em rampa.
No teste-padrão em plataforma circular o Argo obteve aceleração lateral de 0,85 g, bem abaixo do VW Polo Highline (0,96 g) e semelhante ao Nissan Kicks SV (0,84 g). Como a versão testada do Fiat tem pneus de medidas moderadas (185/60 R 15) e apelo mais ao conforto e ao consumo de combustível, não cabe comparação direta ao Polo com os mais ousados 205/50 R 17. De fato, sentimos que o limitador neste caso está nos pneus, diferentemente do Kicks, que passa a impressão de ter como limites o projeto de suspensão e o centro de gravidade mais alto.
Interior tem bom acabamento; central de áudio usa tela de 7 pol com integração a celular e mostra imagens da traseira; motor rende 109 cv com álcool
O sistema de freios se mostrou muito bem calibrado e eficiente — em nenhum momento houve falta de freio ou problema com sua modulação. Pelo contrário: de tão bem acertado, parece que a área que fez a modulação do pedal de freio não é da mesma empresa do pessoal que fez o do acelerador, tão criticado nas matérias anteriores.
Sobre esse ponto de insatisfação, é bom lembrar a teoria do grande professor de engenharia automotiva Ricardo Bock: “Se você perguntar como é a textura do volante do carro e a pessoa disser que não lembra, mesmo tendo o carro por anos, isso significa que o projeto está bom. Afinal, é o tipo de coisa que a pessoa só nota se for ruim”. O exemplo serve para a progressão e o peso dos pedais, pois comentamos muito o acerto que nos incomodou do acelerador, enquanto o pedal de freio nem era lembrado por quem dirigiu o carro.
De maneira geral o Argo Drive de 1,35 litro agradou à equipe. Mostrou um bom acerto de suspensão para o uso diário, espaço e ruído internos adequados, bom acabamento, ótimo consumo e desempenho justo. Ficam ressalvas a pequenos pontos que ajudariam no dia a dia sem adicionar grande custo ao carro, como volante com regulagem também em distância, apoio de braço e luz de cortesia na traseira. O item que mais gerou críticas, porém, exigiria apenas algumas horas do setor de calibração: a resposta agressiva do pedal do acelerador. Algo que pode ser facilmente consertado nos carros em circulação, mediante atualização eletrônica durante as revisões em concessionária. Basta a Fiat querer.
Semana anterior
Quinta semana
Distância percorrida | 283 km |
Distância em cidade | 283 km |
Distância em rodovia | – |
Consumo médio geral | 19,4 km/l |
Consumo médio em cidade | 19,4 km/l |
Consumo médio em rodovia | – |
Melhor média | 22,7 km/l |
Pior média | 11,5 km/l |
Dados do computador de bordo com gasolina |
Desde o início
Distância percorrida | 2.327 km |
Distância em cidade | 1.992 km |
Distância em rodovia | 335 km |
Consumo médio geral | 18,6 km/l (gas.) / 13,4 km/l (álc.) |
Consumo médio em cidade | 18,3 km/l (gas.) / 13,4 km/l (álc.) |
Consumo médio em rodovia | 19,0 km/l (gas.) |
Melhor média | 22,7 km/l (gas.) / 15,2 km/l (álc.) |
Pior média | 8,8 km/l (gas.) / 7,5 km/l (álc.) |
Dados do computador de bordo |
Preços
Sem opcionais | R$ 54.990 |
Como avaliado | R$ 60.190 |
Completo | R$ 62.190 |
Preços sugeridos em 2/5/18 |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 2, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 70 x 86,5 mm |
Cilindrada | 1.332 cm³ |
Taxa de compressão | 13,2:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima | 101 cv a 6.000 rpm/ 109 cv a 6.250 rpm |
Torque máximo | 13,7/14,2 m.kgf a 3.500 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | manual, 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 15 pol |
Pneus | 185/60 R 15 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,998 m |
Largura | 1,724 m |
Altura | 1,50 m |
Entre-eixos | 2,521 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 48 l |
Compartimento de bagagem | 300 l |
Peso em ordem de marcha | 1.140 kg |
Desempenho e consumo | |
Velocidade máxima | 180/184 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,8/10,8 s |
Consumo em cidade | 12,9/9,2 km/l |
Consumo em rodovia | 14,3/10,2 km/l |
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro |