Opiniões variadas no uso urbano e rodoviário completam o teste de 30 dias da picape, que deixou boas impressões
Texto: Felipe Hoffmann – Fotos: autor e Fabrício Samahá
Depois de bastante rodovia, uso urbano e uma viagem ao litoral com direito a trilha e alagamento, o que mais faltava para a avaliação da Nissan Frontier LE em Um Mês ao Volante? Resposta: mais opiniões de motoristas de diferentes perfis.
Nessa quarta e última semana a picape rodou mais em rodovia: 748 quilômetros nas mãos de dois colaboradores com média geral de 9,9 km/l, boa parte dos trechos com trânsito intenso. Também cumpriu uso urbano nas mãos da colaboradora Julia Pacheco, habitual na seção, o que ajudou a atingir 269 km rodados na cidade com média geral de 9,8 km/l. E tivemos os testes dinâmicos de desempenho e estabilidade.
O que mais usou a Frontier em trecho rodoviário foi Erivaldo Santos, da FHB Rack Delivery, adepto de carros mais baixos (tem um Chevrolet Prisma), que por duas vezes foi de São Paulo a Iperó, SP, com a picape. Erivaldo fez vários elogios, a começar pelo bom conforto de rodagem, sem ficar “pendulando” de um lado para o outro como é comum em carros altos, o que ajuda na sensação de segurança em curvas. Também gostou dos faróis de leds e do consumo para o porte do carro. Como críticas, sentiu falta de um lugar adequado para o celular enquanto conectado ao sistema de áudio, além de relatar que o sistema demora um pouco para ativar o Android Auto quando se conecta o telefone.
Conforto ao rodar e faróis foram elogiados pelo primeiro motorista da semana, que gostaria de ter apoios na parte final da cabine para objetos mais longos
Outro ponto levantado por Erivaldo é a necessidade de instalar uma proteção de caçamba, o popular “santantônio”, caso o dono precise carregar algo alto ou comprido que não caiba na caçamba. Apesar de o teto contar com longarinas para um rack, elas terminam bem antes do fim da cabine — arranjo diferente do da Fiat Toro, por exemplo, que permite instalar uma travessa para apoiar objetos. Durante o mês de teste pensamos em transportar um sofá na picape, mas fomos impedidos por não poder apoiá-lo diretamente na cabine (carregá-lo com a ponta fora da caçamba, apoiado na tampa, com certeza lhe causaria danos por não ter proteção na parte superior).
A boa capacidade de contornar curvas foi comprovada no teste de aceleração lateral, chegando a 0,80 g — melhor que o Jeep Compass Sport e o JAC T40
Sobre os faróis, achamos que deveria haver regulagem de altura do facho, como em algumas concorrentes. Mesmo sem peso na caçamba, há momentos em que a movimentação da carroceria joga o potente facho de leds do facho baixo no rosto dos motoristas dos carros em sentido oposto, o que pode ofuscar.
A boa capacidade de contornar curvas foi comprovada no teste de aceleração lateral, chegando a 0,80 g — melhor que o Jeep Compass Sport e o JAC T40, ambos com 0,79 g. A Frontier não ficou muito longe até do divertido Jeep Renegade Longitude, que atingiu 0,84 g. Antes de sair se empolgando nas curvas com a picape, porém, não devemos esquecer que é um veículo com alto centro de gravidade e que surpresas podem ocorrer, mesmo sem inclinar tanto nas curvas. Além disso, o teste de aceleração lateral mede a capacidade de aderência em velocidade constante — a facilidade de lidar com as atitudes do veículo no limite são outro assunto.
A aceleração lateral de 0,80 g surpreendeu, ao superar a do Jeep Compass, mas se recomenda cuidado: atitudes de picapes não são tão fáceis de controlar
No caso da Nissan, não é tão simples comandar que a traseira se solte sem se perder. Assim, o comportamento subesterçante está lá justamente para afastar o risco de tombamento, que seria alto se a roda dianteira externa “grudasse” muito no chão. Sim, existe controle eletrônico de estabilidade, mas ele ainda não consegue alterar as leis da Física: corre-se o risco de tombar em desvios bruscos de vaivém em velocidades comuns em rodovia. Dito isso, vale deixar claro que em nenhum momento a Frontier mostrou comportamento perigoso, transmitindo segurança acima da média para o tipo de veículo.
Outro colaborador da semana foi Márcio Bucheb, da Condor Contabilidade, com pouco uso na cidade e uma viagem até São Vicente com trânsito pesado na ida e na volta. Márcio, que sempre foi proprietário de carros de passeio como Honda Civic e Hyundai i30, migrou para um Mitsubishi ASX na última compra — e gostou bastante da Frontier por realmente estar no alto e pelo tamanho da picape. Disse que ficou surpreso com o conforto da suspensão, mencionando as movimentações e as “batidas emborrachadas” (leia matéria da semana 2) em remendos e buracos. “A impressão é que tais obstáculos são desprezíveis para os pneus e suspensão”, observou.
Ele também aprovou o nível de ruído de rodagem, mesmo com os pneus de uso misto, que pouco transmitem para dentro da cabine em velocidades mais altas. O mesmo elogio para o ruído de motor, que agradou Márcio: “Dá para ouvir os assobios dos turbos quando começam a gerar pressão. A retomada surpreende pelo porte e a massa da picape ao mesmo tempo que o consumo é baixo”. O que poderia ser melhor, para ele: falta de limpador de para-brisa automático e de indicador de ponto cego nos retrovisores. Também achou o volante um tanto pesado em comparação aos carros que tem dirigido.
A cobertura marítima da marca mostrou boa vedação, mesmo sob forte chuva; o uso de chave na caçamba é inconveniente em um carro com sistema presencial
Quatro câmeras mostram ao arredores da picape e podem formar uma vista de cima
Por falar em chuva, nossa Frontier veio com cobertura marítima, acessório original instalado em concessionária — ausente da mesma unidade quando a testamos para o comparativo de quatro picapes. O sistema do tipo corrediço não permitiu entrada de água na caçamba, mesmo em temporais, mas requer o uso de chave para abrir. A própria tampa da caçamba exige retirar uma pequena chave mecânica da chave presencial do carro para ser destravada. Uma fechadura eletrônica seria muito útil, mesmo porque a tampa da caçamba já possui chicote elétrico para câmera de manobras, o que impede sua remoção.
Para completar o teste com a opinião feminina, Julia Pacheco adorou a posição elevada de dirigir: “Fico bem no alto e olho muitos SUVs por cima”. Ela também elogiou a suspensão, que julgou confortável, mesmo mantendo o jeitão de picape. Gostou do motor com boa agilidade quando em movimento, mas estranhou um pouco a saída mais lenta em alguns semáforos (leia explicação). De resto, Julia elogiou a central de áudio — simples, mas que funciona muito bem — e adorou o sistema de câmeras que projeta imagem em 360 graus do carro e uma imagem da lateral direita, junto ao pneu, para ajudar nas balizas. Apenas a qualidade da imagem “poderia ser melhor, pois é distorcida na visão superior e difícil de enxergar de noite”.
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