Versão automática CVT começa com bom acabamento e muito conteúdo: como se sairá em 30 dias de teste?
Texto: Felipe Hoffmann – Fotos: autor e Fabrício Samahá
Fazia tempo que queríamos ter na avaliação Um Mês ao Volante um carro de origem chinesa, e esse dia chegou quando conseguimos com a JAC Motors o empréstimo de um T40 CVT. O hatch “aventureiro” traz uma boa proposta para bater de frente com os concorrentes nacionais, como transmissão automática de variação contínua (CVT), controle eletrônico de estabilidade e o motor aspirado de 1,6 litro mais potente do mercado. Com isso, tenta ganhar volume de vendas e quebrar o estigma dos carros chineses.
A versão CVT Pack 2 (não existe o 1) tem preço sugerido de R$ 71 mil, que inclui itens como ar-condicionado automático, assistente de partida em rampa, computador de bordo, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis com regulagem elétrica de altura do facho, faróis de neblina, fixação Isofix para cadeira infantil, monitor de pressão dos pneus, parada/partida automática do motor, para-sóis com espelho iluminado, retrovisor interno fotocrômico, rodas de alumínio de 16 pol e sensores de estacionamento dianteiro e traseiro.
O carro avaliado, branco Nevada com teto revestido em preto, custa R$ 74 mil com o Pack 3, que inclui bancos revestidos em simulação de couro, barras de teto, câmera frontal no retrovisor interno, câmera traseira de manobras, chave canivete, cinzeiro (!), controlador de velocidade, faróis automáticos, luzes diurnas em leds, pinças de freio vermelhas, sistema de áudio com tela de 8 pol e volante de couro. A garantia de seis anos sem limite de quilometragem impressiona.
O T40 CVT traz um bom conteúdo de série ao preço de R$ 71 mil, como controle de estabilidade e belas rodas de 16 pol; o teto em preto é obtido com revestimento
Entre os que ainda torcem o nariz para produtos chineses, muitos provavelmente terão carros de origem chinesa no futuro não tão distante, como ocorreu no passado com marcas japonesas e sul-coreanas. Essa rejeição é a mesma que um norte-americano nos anos 70 teria ao ouvir que o carro japonês dominaria aquele mercado e, ainda por cima, que seria sinônimo de robustez e qualidade (num dos filmes da série De Volta para o Futuro, o professor Brown dos anos 50 fala da má qualidade da eletrônica japonesa e é contestado por Marty McFly, que veio dos anos 80). Na década de 1990, no Brasil, programas de prêmios de Sílvio Santos ofereciam carros da Hyundai aos ganhadores e todos torciam o nariz para aquele Elantra simples, barato e feio — mas hoje a marca atingiu um bom patamar de qualidade e até de prestígio no mercado.
Com os avanços mercadológicos no ramo automotivo chinês, não há como negar que eles irão pelo mesmo caminho, com uma curva de aprendizagem sem igual. Há diversas empresas chinesas buscando consultoria, para carros e motores, com empresas responsáveis por projetos de grandes marcas. Magna, PAC Group e MSXi, entre outras, atuam fortemente no mercado chinês para desenvolver e fabricar carros no país de maior crescimento na área. Os chineses também estão comprando fabricantes tradicionais, como a Volvo, para compartilhar tecnologia.
No caso do T40, notam-se grandes avanços em termos de acabamento interno, qualidade das peças e construção em geral. Isso não significa que já chegaram ao nível dos fabricantes tradicionais no mercado, por haver alguns pontos para refinamento — itens que, se houver interesse da parte de marketing, a engenharia solucionará nos próximos anos. O novo JAC se mostra bem-acabado internamente, com bom espaço para ocupantes de grande estatura e as pernas do motorista. Agrada o espaço para esticar a perna esquerda no amplo vão ao lado dos pedais, algo raro em carros de seu porte. O acabamento dos bancos usa imitação em couro perfurado e o apoio central, com regulagem, permite puxá-lo para frente e apoiar melhor o braço direito.
Interior mostra bom acabamento; central de áudio tem tela de 8 pol; câmeras traseira e para o trânsito adiante; mostrador até da temperatura dos pneus; ajuste elétrico dos faróis; apoio central regulável
Por outro lado, o volante não possui regulagem de distância, ficando um pouco distante do motorista, e o assento dos bancos dianteiros um pouco curto não apoia bem as coxas de pessoas mais compridas. Mesmo assim, é bom o espaço interno: tivemos a chance de andar com quatro ocupantes (dois na faixa de 1,90 metro de estatura, outro de 2,01 m e um de 1,70 m), com peso combinado passando dos 400 kg, e o T40 agradou em espaço tanto para cabeça como para as pernas de todos, além de a suspensão não comprometer seu comportamento dinâmico nem o conforto. O ponto negativo, que detalharemos nas próximas semanas, foi a resposta do conjunto motor/transmissão em certas situações.
No T40 notam-se grandes avanços em termos de acabamento interno, qualidade das peças e construção em geral, mas há alguns pontos para refinamento
O acabamento em certas condições produz ruídos internos, mas não das peças plásticas: dá a impressão de que os fios por dentro delas estão soltos em alguns pontos. O quadro de instrumentos traz mostrador de pressão e temperatura dos pneus, este um item muito raro, mas não indica temperatura externa, velocidade média ou mesmo tempo de uso, além de seu consumo não estar atrelado ao hodômetro parcial. Os mostradores têm tamanho reduzido em relação ao mercado atual.
A central de áudio tem funcionamento simples e intuitivo, além de fáceis botões de apagar a tela e deixar o som mudo. Apesar da incoerente falta de interface para Apple Car Play e Android Auto, a conexão via Bluetooth e mesmo por cabo permite usar o Spotify para músicas. Algo simples de fazer seria que a regulagem da intensidade da luz do painel atuasse também na tela central. Há também câmera traseira de manobras e sensores dianteiros e traseiros, estes muito bem-vindos: a coluna C, extremamente grossa, dificulta a visibilidade para manobrar ou acesso de avenida. A JAC colocou uma minijanela que não ajuda em nada. Bom recurso é a câmera frontal junto ao retrovisor para gravar o dia a dia do trânsito, que pode ser útil para provar quem estava errado em um acidente (é um acessório muito usado em certos países, como a Rússia).
Porta-malas não parece levar 450 litros, culpa da volumosa caixa removível sob o assoalho; minijanela não melhora visão pelas colunas traseiras extralargas
Analisando o T40 por fora, nota-se o revestimento adesivo preto opaco do teto, até um pouco rugoso, que não parece item de fábrica. Esse acessório estético resulta em muito mais calor absorvido pela radiação do Sol que se houvesse uma pintura metálica preta — e acaba sendo bastante transmitido para a cabine, mostrando que a forração de teto não está projetada para reter tal calor.
Como o Best Cars assinalou na avaliação 10 Chances, o compartimento de bagagem parece ser bem menor do que o divulgado (450 litros), por ser muito raso. O motivo é o assoalho muito alto: abaixo dele (e acima do estepe) vem um conjunto de espumas que formam caixas, podendo-se colocar objetos escondidos. Útil para pequenas compras, o conjunto pode ser removido ou invertido — o que fizemos e o tornou útil para evitar que a pasta de computador e uma maleta ficassem “sambando” no porta-malas. Estranho mesmo é o triângulo de emergência dentro de um tubo com velcro, sem local próprio para ficar.
Na primeira semana rodamos 471 km em trechos urbanos com média geral de 13,7 km/l de gasolina (o motor não é flexível). A melhor marca foi de 15,3 km/l, no trecho de nosso uso de 70 km com boa parte pelas Marginais do Tietê e do Pinheiros, e o pior consumo de 10,1 km/l em voltas curtas pelo bairro. Nas próximas semanas analisaremos a construção, a mecânica e o comportamento do T40 em situações variadas.
Mais Avaliações
Primeira semana
Distância percorrida | 471 km |
Distância em cidade | 471 km |
Distância em rodovia | – |
Consumo médio geral | 13,7 km/l |
Consumo médio em cidade | 13,7 km/l |
Consumo médio em rodovia | – |
Melhor média | 15,3 km/l |
Pior média | 10,1 km/l |
Dados do computador de bordo com gasolina |
Preços
Sem opcionais | R$ 70.990 |
Como avaliado | R$ 73.990 |
Completo | R$ 73.990 |
Preços sugeridos em 24/8/18 |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 75 x 90 mm |
Cilindrada | 1.590 cm³ |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima | 138 cv a 6.000 rpm |
Torque máximo | 17,1 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática de variação contínua, emulação de 6 marchas |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 16 pol |
Pneus | 205/55 R 16 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,135 m |
Largura | 1,75 m |
Altura | 1,568 m |
Entre-eixos | 2,49 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 42 l |
Compartimento de bagagem | 450 l |
Peso em ordem de marcha | 1.220 kg |
Desempenho | |
Velocidade máxima | 190 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,1 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |