Comportamento em curvas convence sem prejuízo do conforto; transmissão CVT melhoraria com conversor de torque
Texto: Felipe Hoffmann – Fotos: autor e Fabrício Samahá
O JAC T40 CVT passou por situações mais variadas na terceira semana do teste Um Mês ao Volante, que incluiu uso rodoviário, testes dinâmicos e condução por uma colaboradora. Rodamos 769 quilômetros, mas contabilizamos para consumo 657 km com média de 14,8 km/l de gasolina (não consideramos o consumo durante os testes, em que o carro é exigido a pleno). A média urbana foi de 14,2 km/l em 331 km, enquanto em rodovia o chinês alcançou 15,5 km/l em 326 km rumo ao litoral norte de São Paulo. Seu melhor consumo foi de 16,3 km/l, na descida de serra ao litoral, e a pior marca de 10 km/l em trânsito intenso de 33 km com ar-condicionado ligado em um atípico dia quente no inverno.
Pelo uso de motor de cilindrada mediana e de transmissão automática de variação contínua (CVT), esperávamos um consumo melhor em rodovia. Para isso, porém, a CVT precisaria ter a última relação mais longa. A do T40 fica limitada nesse aspecto para garantir boa saída com uma relação curta na parte mais reduzida da caixa, que trabalha com embreagem — caso usasse conversor de torque, a relação inicial também poderia ser alongada. Outra ocasião de consumo pior que o esperado foi no trecho de 40 km com inúmeras lombadas da Rio-Santos, no qual a CVT mantém a rotação do motor mais baixa e constante que uma transmissão com marchas. No trecho o T40 fez 15,3 km/l, enquanto o Fiat Argo de 1,35 litro e caixa manual fez 20,2 km/l e o Honda Civic de 2,0 litros com CVT, mais pesado, conseguiu 17 km/l.
O ideal seria a CVT dos chineses usar conversor de torque, como é praxe no mercado — o único outro modelo com embreagem em CVT que conhecemos no Brasil é o Honda Fit de 2003 a 2008. O conversor ajuda a multiplicar o torque no momento da saída (leia mais), o que garante aceleração mais alta e rápida. Qual o motivo de a JAC usar embreagem? Simples: o conversor multiplica o torque que chega à entrada da transmissão, o que a obriga a ser mais resistente, com impacto direto no custo de fabricação. A JAC tentou mascarar essa desvantagem com a relação inicial curta e a calibração agressiva do acelerador, que leva o motor a carga alta com apenas 20% de abertura do pedal. Mesmo assim há certo retardo na saída, pois o motor ganha giros para depois acoplar a embreagem.
O T40 foi à praia com consumo regular; na viagem, mostrou bom comportamento em curvas; o controle de estabilidade é que poderia ser mais permissivo
Além disso, em saídas com mais vigor o acoplamento não é tão suave e progressivo. Em subidas se nota muito isso, parecendo que o motorista está aprendendo a dirigir. O T40 joga a rotação para perto de 2.000 rpm e acopla a embreagem muito rápido, o que faz o carro dar um pulo. Para não “matar” o motor, desacopla para ganhar giros de novo e acopla outra vez, rapidamente. Ou seja, o carro sai galopando. O sistema automático de parada e partida do motor, que dificilmente o desliga, também merece alguns acertos: se o ar-condicionado estiver ligado, o motor desliga e volta a ligar em 3 ou 5 segundos, gastando mais combustível que se tivesse ficado ligado. Afinal, a energia necessária para partir o motor é enorme e tem de ser reposta na bateria por meio de queima de combustível.
Opinião feminina
No período, a colaboradora Julia Pacheco trouxe-nos uma opinião feminina sobre o JAC. Ela gostou do acabamento interno e da posição alta de dirigir. Também se adaptou bem ao uso da central de áudio, mas notou um problema crônico quando usada a interface Bluetooth para ligações telefônicas: durante a ligação a conexão é interrompida sem aviso e depois de alguns segundos volta, chegando a ponto de desistirmos de usar o sistema para esse fim. Julia também estranhou o assistente de saída em rampa: só funciona se, ao parar na subida, o motor não for desligado pela parada automática.
Caso o motor desligue, o motorista fica sem o auxílio no momento mais importante. Ao tirar o pé do freio o carro desce muito, pois o motor precisa ligar e ganhar giro para a embreagem da CVT acoplar. Em testes controlados, o carro desceu tanto que com certeza acertaria o veículo de trás. Julia também reclamou de ruídos em vias cheias de remendos. Descobrimos que a tampa do assoalho do compartimento de bagagem, junto com o sistema de divisórias, pula com a oscilação do carro e resolvemos o problema com alguns pontos de velcro. A motorista elogiou ainda o baixo ruído de vento (nota-se bom trabalho de aerodinâmica na região da cabine) e de pneus. Foi interessante notar que estes têm índice de velocidade Z, o que permite o uso a até 270 km/h!
A colaboradora elogiou o acabamento e a posição de dirigir desse JAC, mas teve problemas com as ligações telefônicas usando a interface Bluetooth
De volta a nossas mãos, levamos o T40 para uma análise de comportamento dinâmico. Sua atitude em curva agradou: apesar da altura de hatch “aventureiro”, ele transmite segurança e boa resposta ao volante. Alguns apontaram direção muito leve em certas condições, mas a descrição técnica seria um pouco diferente. Em alguns carros a resposta ao volante parece ser amortecida ou mais lenta, pois leva tempo para as buchas dos braços de direção se acomodarem e “puxarem” a roda para onde se deseja. Faz-se isso para melhor absorção de vibrações e oscilações das rodas. No JAC nota-se o volante muito bem conectado às rodas, sem que isso acarrete transmissão de vibração. Junta-se esse fator à assistência elétrica de direção e o resultado é a sensação de tudo muito leve, pois qualquer mexida no volante é refletida no carro como um todo.
Sua atitude em curva agradou: apesar da altura de hatch “aventureiro”, o modelo chinês transmite segurança e boa resposta ao volante
Além disso, nota-se o autoalinhamento bem acentuado, o que é bom. Para sanar esse “excesso de conexão”, a JAC adotou uma estratégia contrária à da maioria dos fabricantes. Todo sistema de direção tem certa progressão em função dos ângulos das barras e ganhos de ângulos das próprias rodas. Muitos fazem ter um grande ganho de ângulo das rodas no início do esterçamento, diminuindo esse ganho com a maior rotação do volante. No T40 tem-se um ganho não tão grande no início, mas que aumenta ao se esterçar mais, como ao entrar numa esquina fechada ou vaga de garagem. Isso traz a vantagem de não criar grandes movimentos em velocidades maiores.
Pela relação entre largura e altura, um “aventureiro” como esse está mais suscetível ao tombamento que um hatch com menor altura de rodagem. Para reduzir o risco de tombar, aumenta-se a rigidez da barra estabilizadora dianteira e do eixo de torção traseiro, o que contém a inclinação em curvas e mudanças de trajetória, bem como causa a tendência de escorregar mais fácil os pneus (em carro alto é melhor perder a aderência e escorregar do que grudar os pneus ao solo e tombar). O reflexo desse acerto é notado em duas ocasiões.
Um carro mais alto precisa desgarrar mais os pneus para afastar o risco de tombar: por esse acerto, o T40 ficou bem atrás de Polo e Argo em aceleração lateral
Uma, a aceleração lateral baixa comparada à de outros carros, 0,79 g com o controle eletrônico de estabilidade desligado. O Nissan Kicks SV, um utilitário esporte não muito diferente do JAC em termos de dimensões e tipo de pneus, obteve 0,84 g. O Argo (hatch compacto com pneus moderados) fez 0,85 g e o Volkswagen Polo Highline TSI (do mesmo segmento, mas com pneus de perfil baixo) alcançou 0,96 g. No JAC percebem-se grandes balanços laterais quando só um lado do carro passa por ondulações ou buracos, mostrando a grande conexão de um lado com o outro pela citada rigidez de barra e eixo. No fim, o acerto mostra segurança no uso em rodovias.
O controle de estabilidade atua de forma coerente, sem grandes interferências, mas limita a capacidade do carro em fazer curvas mais rápidas: começa a atuar assim que os pneus “gritam”, sem esperar que o carro chegue a seu limite físico. Ao desligá-lo por botão no painel, o carro ganha mais 10% ou 15% de aceleração lateral até começar a se perder. No caso de uso do modo manual da transmissão, ela passa a D quando o controle atua e volta ao manual ao se andar em linha reta de novo.
Um aspecto melhorável da suspensão dianteira é a absorção de grandes oscilações: a pouca resistência à compressão dos amortecedores permite à frente “mergulhar” bastante em vias com maiores desníveis e balançar mais do que deveria. A forma que a JAC encontrou para segurar esse balanço foi aumentar a resistência à distensão (abertura) dos amortecedores, o que leva a um efeito indesejável: ao passar mais rápido por lombada a suspensão dianteira comprime muito, mas quando as rodas chegam ao fim da oscilação perdem contato com o solo pelo retorno lento da suspensão. O resultado é a “pancada” dos pneus voltando a bater no solo, mesmo que se passe pouco mais rápido que o habitual.
Na quarta semana traremos mais dados técnicos referentes a construção e desempenho do T40. Confira na sexta 14.
Semana anterior
Terceira semana
Distância percorrida | 657 km |
Distância em cidade | 331 km |
Distância em rodovia | 327 km |
Consumo médio geral | 14,8 km/l |
Consumo médio em cidade | 14,2 km/l |
Consumo médio em rodovia | 15,5 km/l |
Melhor média | 16,3 km/l |
Pior média | 10,0 km/l |
Dados do computador de bordo com gasolina |
Desde o início
Distância percorrida | 1.690 km |
Distância em cidade | 1.364 km |
Distância em rodovia | 327 km |
Consumo médio geral | 14,4 km/l |
Consumo médio em cidade | 14,2 km/l |
Consumo médio em rodovia | 15,5 km/l |
Melhor média | 16,3 km/l |
Pior média | 10,0 km/l |
Dados do computador de bordo com gasolina |
Preços
Sem opcionais | R$ 70.990 |
Como avaliado | R$ 73.990 |
Completo | R$ 73.990 |
Preços sugeridos em 24/8/18 |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 75 x 90 mm |
Cilindrada | 1.590 cm³ |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima | 138 cv a 6.000 rpm |
Torque máximo | 17,1 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática de variação contínua, emulação de 6 marchas |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 16 pol |
Pneus | 205/55 R 16 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,135 m |
Largura | 1,75 m |
Altura | 1,568 m |
Entre-eixos | 2,49 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 42 l |
Compartimento de bagagem | 450 l |
Peso em ordem de marcha | 1.220 kg |
Desempenho | |
Velocidade máxima | 190 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,1 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |