Menos é mais: com o três-cilindros a ser usado no Up, o Fox
ganha funcionamento suave, mais potência e menor consumo
Texto: Fabrício Samahá e Edison Ragassi – Fotos: divulgação
Até então restrita a pacotes de alterações técnicas para reduzir o consumo de motores já existentes (caso do Fox de 1,6 litro), a linha BlueMotion da Volkswagen ganha seu primeiro representante com um motor exclusivo, inédito no Brasil e de alta tecnologia: o Fox BlueMotion de 1,0 litro. A novidade é um propulsor de três cilindros e quatro válvulas por cilindro, similar ao do Up vendido na Europa e destinado a equipar tal modelo quando chegar ao Brasil, talvez ainda este ano, para ocupar a base da oferta da marca no País.
Embora o foco das versões BlueMotion — aqui e na Europa — seja a redução do consumo de combustível e das emissões poluentes e de gás carbônico, a nova opção do Fox destaca-se também em desempenho: a potência de 82 cv com álcool é a mais alta entre os carros de 1,0 litro do mercado atual (com gasolina são 75 cv). Ele é o quarto modelo hoje à venda no Brasil com motor de três cilindros, depois de Smart Fortwo, Kia Picanto e Hyundai HB20, embora tenha havido no passado a linha DKW-Vemag com tal configuração.
O Fox BlueMotion tem preços sugeridos a partir de R$ 32.590 com três portas e R$ 34.090 com cinco, aumentos da ordem de 2% sobre a versão de 1,0 litro e quatro cilindros, que permanece em linha ao menos por ora. Os equipamentos de série são escassos: direção assistida, computador de bordo, bolsas infláveis frontais, freios com sistema antitravamento (ABS), banco do motorista com regulagem de altura, chave tipo canivete, conta-giros, para-sóis com espelho e desembaçador, lavador e limpador do vidro traseiro.
Rodas de 14 pol com pneus de menor resistência à rolagem são uma diferença externa
do Fox BlueMotion, cujo preço é 2% mais alto que o da versão de quatro cilindros
Os opcionais incluem o pacote Trend (faróis de duplo refletor, repetidores de luzes de direção nos retrovisores, para-sóis iluminados), I-Trend BlueMotion (os mesmos itens, mais rádio/toca-CDs/MP3 com entradas USB e para cartão SD e volante com controles de áudio), Kit V (ar-condicionado, controle elétrico dos vidros, travas e retrovisores, comando a distância de travamento, alarme e luzes de leitura, entre outros), Pacote Funcional II (banco traseiro corrediço e volante ajustável em altura e distância), faróis e lanterna de neblina e sensores de estacionamento traseiros. O revestimento dos bancos é específico da versão.
O pequeno três-cilindros tem ronco dócil, mas move o carro com desenvoltura acima da média para um motor 1,0-litro
A opção por três cilindros, ainda rara por aqui, mas cada vez mais frequente em motores de baixa cilindrada na Europa, permite reduzir o número de peças móveis, o peso e as dimensões do motor e os atritos internos, além de aumentar sua eficiência térmica pela menor perda de calor. O novo motor pesa 24 kg a menos que o quatro-cilindros do Fox, para o que concorre o uso de bloco de alumínio — além de mais leve, é mais eficiente na dissipação de calor que o de ferro fundido.
O motor da família EA211, fabricado em São Carlos, SP, traz outras modernas soluções técnicas como variação contínua do tempo de abertura das válvulas de admissão, acionamento de válvulas por alavancas roletadas (já presente no quatro-cilindros) e sistema de partida a frio com álcool pelo preaquecimento do combustível (o que dispensa a injeção de gasolina e o tanque auxiliar). A taxa de compressão de 11,5:1 é maior que no Up europeu (10,5:1).
Com 12 válvulas e variação de tempo para as de admissão, o novo 1,0-litro fornece até 82 cv
e pesa 24 kg a menos; o bom trabalho de coxins (à direita) traz um funcionamento suave
O duplo circuito de arrefecimento permite manter temperaturas diferentes para o bloco e para o cabeçote, pelo uso de duas válvulas termostáticas. O bloco mais quente torna o óleo lubrificante mais fluido e reduz os atritos; o cabeçote mais frio afasta o risco de detonação. A partida do motor é assistida, ou seja, basta girar a chave uma vez para que o motor de partida seja acionado pelo tempo necessário. Curioso é que, em meio a tanta modernidade, a VW tenha escolhido algo tão trivial quanto a injeção multiponto (MPI) para estampar sobre a cobertura plástica do motor…
Na comparação com o quatro-cilindros, o novo 1,0-litro apresenta vantagem em potência, que passou de 72/76 para 75/82 cv, mas não traz ganho em torque: de 9,7/10,6 m.kgf no Fox conhecido varia para 9,7/10,4 m.kgf no BlueMotion (sempre na ordem gasolina/álcool), com o benefício de estar disponível a 3.000 rpm (no quatro-cilindros, só a 3.850 rpm). A VW informa que 85% do valor máximo aparecem a 2.000 rpm.
Além do novo motor, o BlueMotion traz outras medidas que contribuem para redução do consumo. A assistência de direção é eletro-hidráulica, o que traz economia de 3% em comparação à hidráulica (seria ainda melhor com uma elétrica, porém); os pneus têm maior aplicação de sílica, para reduzir a resistência ao rolamento, e usam a medida 175/70 R 14, ante os exagerados 195/55 R 15 do Fox conhecido; a pressão de enchimento é maior (de 29/28 para 36/34 lb/pol², na ordem dianteiros/traseiros); e os amortecedores foram recalibrados para compensar a maior transmissão de impactos dos pneus decorrente da pressão elevada.
A caixa de câmbio passa a ter relações mais próximas entre si: a primeira foi alongada em quase 10%, enquanto na quinta esse efeito não chegou a 5% (o diferencial é o mesmo, mas os pneus de menor diâmetro respondem por pequeno encurtamento, não considerado nos valores acima). O peso total do carro diminuiu em 29 kg e, com os pneus mais estreitos e novas grades dianteiras superior e inferior, o coeficiente aerodinâmico (Cx) baixou de 0,353 para 0,33 (menos 7%).
Por dentro o BlueMotion tem revestimento exclusivo; o mostrador central multifunção
atua como velocímetro, computador de bordo e graduação de consumo instantâneo
Como tudo isso se reflete no desempenho? Acelerar de 0 a 100 km/h requer 13,5/13,2 segundos no BlueMotion, contra 14,7/14,1 s do Fox básico, e a velocidade máxima da novidade é de 166/167 km/h, ante 158/160 da versão já conhecida.
Embora não tenhamos os dados do quatro-cilindros para comparação, o consumo informado pela VW segundo os padrões do Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia) apontam 12,7 km/l em ciclo urbano e 14,7 km/l no rodoviário, com gasolina, e 8,8/9,9 km/l com álcool. Vale lembrar que esses ciclos são diferentes dos previstos em norma NBR, usada nos dados divulgados pela maioria dos fabricantes e informada nas fichas técnicas do Best Cars, o que inviabiliza a comparação.
Ao volante
Para mostrar o Fox BlueMotion a Volkswagen fez a avaliação da imprensa na cidade de Campinas, SP, e em rodovias da região. A versão que dirigimos, de três portas e sem ar-condicionado, estava abastecida com gasolina. A primeira impressão é boa, pois o pequeno três-cilindros tem ronco dócil, mas move o carro com desenvoltura acima da média para um motor 1,0-litro. O câmbio permanece o mesmo, com mudanças bastante suaves e precisas.
Mesmo com marchas alongadas para contribuir com a economia, o BlueMotion acelera
mais rápido que o Fox quatro-cilindros; sua vivacidade surpreende para um 1,0-litro
Em rodovia o carro tem desempenho bastante bom. Ao trafegar a 120 km/h em quinta marcha o conta-giros fica perto de 4.000 rpm — o que ainda proporciona fôlego para subidas leves sem redução de marcha —, mas o nível de ruído é moderado a ponto de não incomodar, assim como as vibrações do motor são bastante contidas. A VW resolveu bem o que poderia ser um problema, já que motores de três cilindros são mais propensos a vibrar.
Em termos de dirigibilidade o Fox continua o mesmo, apesar das alterações em pneus e suspensão. O perfil alto da nova medida de rodagem compensa em parte a aspereza trazida pela maior pressão, de modo que o rodar não chega a ser desconfortável. Alguma perda em estabilidade é esperada em relação ao Fox de quatro cilindros, mas nada que preocupe para um carro de sua proposta. Os freios pareceram ter assistência acima do desejável, pois um leve toque resulta em grande atuação.
Dezessete anos depois do lançamento de seu primeiro motor de 1,0 litro e quatro cilindros — que estreou no Gol 1997 para substituir a unidade de origem Ford, usada desde 1993 —, a Volkswagen enfim dá um passo decisivo de modernização nessa categoria, que coloca nosso mercado em sintonia com os de países desenvolvidos. Ainda é cedo para dizer se o Up será uma boa opção, mas um motor de última geração e com grandes qualidades ele já tem antes mesmo de nascer.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 3 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 74,5 x 76,4 mm |
Cilindrada | 999 cm3 |
Taxa de compressão | 11,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 75/82 cv a 6.250 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 9,7/10,4 m.kgf da 3.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | manual / 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | eletro-hidráulica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 5 x 14 pol |
Pneus | 175/70 R 14 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,823 m |
Largura | 1,657 m |
Altura | 1,545 m |
Entre-eixos | 2,465 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 50 l |
Compartimento de bagagem | 260 l |
Peso em ordem de marcha | 993 kg |
Desempenho | |
Velocidade máxima (gas./álc.) | 166/167 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h (gas./álc.) | 13,5/13,2 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |