Cores alegres, faixas, cintos vermelhos e suspensão mais firme: era o 1.8R, enfim um Palio esportivo, só que apenas com cinco portas
Palio 1.8R, o primeiro esportivo
Em quase 10 anos de mercado o Palio ainda não oferecera uma versão esportiva, como as várias — 1.5R, 1.6R, Turbo i.e. — que a Fiat fez do Uno. Isso enfim mudava na linha 2006 com o Palio 1.8R, sigla que evidenciava a homenagem ao antecessor, assim como fazia seu acabamento, com cintos de segurança vermelhos e faixas laterais e na traseira. O visual também ganhava grade, retrovisores e defletor traseiro em tom cinza, faróis com máscara negra, novo desenho das rodas e as opções de cores amarela e vermelha, iguais às do Stilo Schumacher. Pena ser oferecido apenas com cinco portas.
No interior do 1.8R havia bancos dianteiros mais envolventes, tecido exclusivo, costura em vermelho e pedais com coberturas de alumínio. Era também o primeiro carro da categoria com sistema viva-voz para telefone celular por Bluetooth. Com cobertura em vermelho, o motor 1,8 vinha em versão aperfeiçoada, lançada na Idea e no Stilo, apta a 113 cv/17,8 m.kgf com gasolina e 115 cv/18,6 m.kgf com álcool. A Fiat divulgava velocidade máxima de 191 km/h e aceleração de 0 a 100 km/h em 9,2 segundos com o segundo combustível. A suspensão vinha mais firme, o carro era 12 mm mais baixo e usava pneus 185/60-14 ante 175/65-14 do HLX.
O Siena Tetrafuel vinha com instalação para gás natural, boa opção aos frotistas; a Strada Adventure com a nova frente tinha quatro faróis auxiliares
No Best Cars o 1.8R enfrentou o Corsa SS e o Citroën C3 XTR — pacotes decorativos que, ao contrário do Palio, mantinham intocada a mecânica de outras versões. O Fiat destacou-se em segurança passiva, mas com o maior preço dos três perdeu em custo-benefício para o C3, que venceu o confronto. O Palio e o Siena Fire assumiam em 2006 o desenho das outras versões. No sedã a versão ELX Tetrafuel vinha com instalação para uso de gás natural veicular (GNV), apreciado por frotistas e taxistas pelo menor custo de rodagem. O nome “tetra” apontava a aptidão para usar álcool, gasolina e gasolina sem álcool, como em países vizinhos, além do gás.
Nova geração para o Palio? Ainda não. Com o Punto destinado ao segmento superior entre os carros pequenos, bastava à Fiat atualizar o estilo de seu veterano com mais uma remodelação parcial em fevereiro de 2007, já como linha 2008. Realizada pela primeira vez no próprio centro de estilo da Fiat, sem participação da Italdesign, a mudança foi mais extensa que o habitual. Mudavam também as laterais, ainda que mantendo a estrutura principal.
A frente buscava inspiração no Punto com grandes faróis (de refletor único, um retrocesso) e grade ampla e protuberante. Os arcos de para-lamas estavam mais definidos e havia novos vincos. Os vidros laterais traseiros foram redesenhados no modelo de três portas, ganhando formas mais retas. Ponto mais polêmico, a traseira adotava lanternas horizontais e arredondadas e a placa de licença, que já esteve no para-choque e havia subido para a tampa, voltava a descer. O 1.8R agora oferecia três e cinco portas e o HLX saía de cena. Como de hábito, permanecia o Fire com o desenho anterior e motor 1,0. O interior mantinha o painel, embora com novos instrumentos, e nada mudava sob o capô.
A quarta versão de estilo do Palio foi a mais polêmica e teve vida curta; boa novidade era o 1.8R com três portas, que ganhava novo desenho dos vidros laterais
Ao Palio renovado seguia-se o Siena, em novembro, pela primeira vez com desenho frontal próprio. Os faróis tinham duplo refletor, sendo o baixo do tipo elipsoidal, e seu formato era mais elaborado. As laterais acompanhavam as alterações do Palio, enquanto a traseira ganhava lanternas horizontais de perfil baixo — não era difícil ver a inspiração nos modelos da italiana Alfa Romeo.
Dez anos depois da pioneira cabine estendida, a Strada voltava a surpreender o mercado com a primeira cabine dupla em picape leve — de fábrica, pois no passado houve transformações
O sedã estava disponível nas versões ELX (com motores flexíveis de 1,0 e 1,4 litro), ELX Tetrafuel (1,4) e HLX (1,8 flexível), além do Fire com o desenho antigo. Por dentro, as poucas mudanças comuns ao hatch somavam-se a apoio de braço para o motorista no HLX, três encostos de cabeça no banco traseiro e mais equipamentos de série. As opções incluíam bolsas infláveis laterais dianteiras, rodas de alumínio de 15 pol e sensores de estacionamento traseiros.
A Fiat aproveitava o lançamento do Siena para alterações técnicas no motor 1,0, que ganhava até 9 cv, passando a 73 cv/9,5 m.kgf com gasolina e 75 cv/9,9 m.kgf com álcool. O 1,4 seguia o do Palio, com mais 5 cv que antes. O terceiro membro da linha renovada era a Palio Weekend, em maio de 2008: adotava a frente do Siena e a traseira ganhava lanternas horizontais pela primeira vez, com bom efeito estético. A versão ELX 1,4 continuava e a HLX desaparecia.
Siena e Weekend tinham faróis diferenciados e lanternas traseiras com bom resultado; a Adventure ganhava grandes pneus, muitos plásticos e bloqueio Locker
Agora havia a Trekking 1,4 (com o pacote visual e de suspensão da antiga Adventure) e a Adventure Locker 1,8, nome do novo sistema de bloqueio de diferencial para uso fora de estrada a até 20 km/h. Quando uma das rodas dianteiras perdia a aderência, um sistema eletromagnético travava juntas as planetárias para que as duas rodas girassem juntas. A versão trazia pneus 205/70-15 de uso misto (antes 175/80-14), maior altura de rodagem, bitolas mais largas e amortecedores Powershock, com mola interna que atuava a partir de certa carga aplicada. O visual robuscado e discutível, com grandes molduras plásticas de perfil retilíneo nos para-lamas e grade cromada, aparentemente foi bem-aceito por seu público.
A reforma da família era concluída em agosto com a Strada, cuja versão Adventure adotava o mesmo visual dianteiro, o bloqueio de diferencial e as soluções de pneus e suspensão da Weekend. A Fire continuava com a carroceria antiga e opção de cabine estendida, assim como o motor 1,4 inalterado. Já a Trekking e a Adventure ganhavam novo para-choque dianteiro, faróis com duplo refletor e lanternas com complementos na tampa da caçamba.
O motor 1,4 da Trekking era o evoluído do Palio, enquanto o 1,8 da Adventure seguia como antes. A suspensão dessa última ganhava maior curso e amortecedores Powershock. Para ela, os opcionais passavam por bancos com simulação de couro, retrovisor interno fotocrômico, teto solar e cobertura marítima de caçamba. Em nossa avaliação a Adventure mostrou “suspensão bem acertada que permite fácil controle do carro, tanto em estradas de terra e cascalho como no asfalto. O motor é adequado à proposta, com bom comportamento em baixa rotação, mas falta um pouco de vigor em rotações mais altas. A Trekking tem suspensão um pouco mais macia”.
O visual da Strada seguia o da Weekend, assim como o bloqueio de diferencial; em 2009 aparecia a cabine dupla, inédita em picapes pequenas de fábrica no Brasil
Dez anos depois da pioneira cabine estendida, a Strada voltava a surpreender o mercado em junho de 2009 com a primeira cabine dupla em picape leve — de fábrica, pois houve no passado transformações por empresas externas para modelos como Ford Pampa e VW Saveiro. A novidade atendia a clientes da estendida que aproveitavam o vão traseiro para instalar um banco de reduzido conforto, de modo a levar passageiros em breves percursos. De início apenas a Adventure estava disponível.
Sem aumentar o comprimento, os 25 cm que se ganhavam na cabine se perdiam na caçamba, agora com capacidade de 580 litros até a borda, 30% menos que na estendida. Por fora era perceptível a adaptação da cabine maior, pelo acabamento plástico abaixo dos vidros laterais. O banco traseiro para duas pessoas oferecia bem pouco espaço para as pernas, embora adequado em altura. O teto solar, mantido e sem forro, criava inconveniente passagem de raios solares sobre os passageiros. As mudanças aumentavam o peso da picape em 55 kg.
Próxima parteA eletricidade
O Brasil não produzia carros elétricos desde o Gurgel Itaipu dos anos 80, mas a Fiat tomou a iniciativa com uma versão do Palio em 2006. Com projeto em parceria com a usina hidrelétrica de Itaipu e algumas empresas e universidades nacionais e estrangeiras, o hatch recebia um modesto motor de apenas 15 kW ou 20 cv. Três anos depois o projeto foi adaptado à Palio Weekend reestilizada, opção preferível pelo maior espaço para as baterias. Na perua o motor elétrico da empresa suíça Mesdea dispunha de 28 kW (38 cv) e as baterias, de sais de níquel, ofereciam autonomia de 120 km com tempo de recarga de oito horas. Mesmo com seu peso adicional, a versão superava em apenas 50 kg a ELX 1,4.
O Best Cars dirigiu a Weekend elétrica em 2009: “O carro começa a movimentar-se em silêncio, só rompido pelo ruído do atrito dos pneus com o solo. Movimenta-se com desenvoltura, pois o torque máximo de 12,6 m.kgf está disponível em todas as rotações, e mantém velocidade sem problemas nos trechos planos”. As peruas seguiam da fábrica de Betim, MG, já configuradas para receber o sistema elétrico, além de trazer alterações na suspensão e nos freios. Além do desempenho, o maior obstáculo era o mesmo dos carros elétricos até hoje: o alto custo das baterias, que chegava a 25 mil euros junto ao motor.