Vendido com diversos nomes pelo mundo, o utilitário completa 40 anos de evolução, dos quais 25 no Brasil
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Quando se pensa em picape de origem japonesa, no Brasil, três marcas vêm à mente: Mitsubishi com a série L200, Nissan com a Frontier e Toyota com a Hilux. A primeira delas está completando 40 anos de produção, 25 deles presente no mercado nacional.
A primeira L200, apresentada em setembro de 1978, aderia ao segmento de picapes médias que então contava com Hilux, a Datsun 620 da Nissan, a Isuzu KB (também vendida como Chevrolet LUV nos Estados Unidos) e a Mazda B-1800 (que a Ford oferecia como Courier). Em alguns mercados era chamada de Forte, do italiano, que significa o mesmo que em português. Com capacidade para uma tonelada, oferecia apenas cabine simples e estilo próximo ao de automóveis, com quatro faróis circulares em algumas versões.
A L200 surgia em 1978 (em cima) com jeito de automóvel e motores de 1,6 a 2,6 litros; à esquerda, modelo 1985; à direita, a versão Power Ram 50 da Dodge
A produção concentrava-se em Okazaki, Aichi, no Japão, embora ela também saísse de Laem Chabang, na Tailândia — grande mercado para picapes, que até hoje produz em massa esse tipo de veículo. Já no mês seguinte começavam as exportações para a América do Norte. O motor a gasolina de 2,0 litros com potência de 93 ou 110 cv era o principal, mas havia opções do 1,6 de 92 cv no Japão, do 2,6 de 105 cv para os EUA (pouco potente devido a limites de emissões poluentes) e de um 2,3 a diesel de 67 cv para exportação. Mais tarde viria um 2,3 turbodiesel com 86 cv.
Se de início a tração era traseira, na linha 1981 aparecia a versão com quatro rodas motrizes e reduzida, acionadas por alavanca. A picape usava freios a disco na frente, onde a suspensão se baseava em braços sobrepostos e molas helicoidais, enquanto a traseira recorria a um eixo rígido com feixes de molas semielípticas. Nos EUA ela foi chamada de Mighty Max e, por meio de parceria com a Chrysler, ganhou nomes variados: Dodge D-50, Ram 50 (tração 4×2), Power Ram 50 (4×4) e Plymouth Arrow. Na Austrália era L200 Express ou Chrysler D-50.
A L200 passava à segunda geração em março de 1986. Ao lado do desenho renovado, estavam três opções de cabine (simples, estendida Club Cab e dupla, esta com quatro portas) e duas de caçamba para a cabine simples. Os motores de 2,0 e 2,6 litros e as trações traseira e 4×4 permaneciam, mas o 2,3 a diesel crescia para 2,5 (68 ou 84 cv, este com turbo).
A segunda geração chamou-se Strada no Japão, ofereceu três tipos de cabine e veio em 1993 ao Brasil, que a produziu até 2007 (à direita a versão Savana)
Se o nome Forte não mais era usado, permaneciam Mighty Max, Triton e Ram 50 e havia novos: Colt na África do Sul, Cyclone na Tailândia e, na versão dupla no Japão, Strada — que seria usado por longo tempo também no mercado europeu. Os australianos ganhavam um V6 de 3,0 litros e 122 cv a gasolina em 1993.
A primeira geração da L200, por meio de parceria com a Chrysler, ganhou nomes variados; hoje o quinto modelo volta a ser oferecido pela Fiat e a Ram da FCA
Essa foi a primeira picape da marca vendida no Brasil, de 1993 em diante. Era importada pelo grupo Souza Ramos, grande concessionário Ford e até então transformador de picapes em cabine dupla. Criticado pelo desempenho, o motor 2,5 a diesel de 87 cv recebia adaptações de turbo a pedido das concessionárias. Em 1999 a MMC Automotores começava sua produção em Catalão, GO, com 50% de conteúdo local. Faróis e lanternas circulares vinham para 2000; a versão HPE 2001 trazia motor turbodiesel de 118 cv e dois amortecedores por roda.
Para o terceiro modelo, de novembro de 1995, a Mitsubishi adotava a Tailândia como principal fornecedora para os vários mercados. O desenho ficava mais suave e arredondado, o que se acentuaria em 1998 com novos faróis. As três cabines ainda estavam no catálogo. Ao lado do 2,5 a diesel de 103 cv com turbo e resfriador de ar, havia unidades a gasolina de 2,0, 2,4 e 3,0 litros, este V6.
A terceira L200, de 1995, oferecia freios ABS e tração 4×4 evoluída; o Brasil só a recebia em 2003 como Sport, versão que evoluía em 2007 para a Outdoor (à direita)
Outras novidades eram o sistema de tração Easy Select 4WD, que permitia engatar o modo 4×4 em certa velocidade; bolsa inflável para o motorista e freios com sistema antitravamento (ABS) em alguns mercados. Em Portugal ganhava em 1999 o nome Strakar, contração de Strada e Dakar (do rali). Outros nomes mundo afora eram Colt, G-Cab, Magnum, Storm, Strada e Triton. Esse modelo deu origem ao utilitário esporte Pajero Sport, que mais tarde ganharia desenho próprio.
Tal geração chegava ao Brasil apenas em 2003 como L200 Sport, com faróis circulares e motor 2,5 turbodiesel em duas opções: 121 ou 141 cv, esta na HPE. A transmissão automática de quatro marchas era a primeira em picape a diesel por aqui. O modelo anterior continuou com acabamento simples ou no fora de estrada Savana.
Na avaliação do Best Cars a Sport revelou “impressão de solidez, mesmo nos trechos de terra mais esburacados; conforto de marcha dos melhores para a categoria e nível de ruído interno dos mais baixos. O veículo é dócil de comandos, o motor é elástico e o turbo entra sem demora. Abusando nas curvas, o comportamento é mais do que adequado para uma picape”. O modelo 2007 mudava para L200 Outdoor, perdendo a pintura dos para-choques. No ano seguinte a Savana ganhava o mesmo desenho, com o qual ficaria até 2012.
Estilo arredondado e motores de até 200 cv na quarta geração, que o Brasil ganhava em 2008 como L200 Triton (embaixo em modelos 2014 e Savana 2016)
Mesmo no exterior essa série foi duradoura, até agosto de 2005, quando a quarta L200 era revelada. O desenho estava bem mais moderno com frente arredondada, para-brisa mais inclinado e corte em arco nas portas traseiras e na divisão cabine/caçamba. O chassi era novo, com molas helicoidais na suspensão dianteira, e os motores turbodiesel de 2,5 (com 136 ou 167 cv) e 3,2 litros (165 cv) com injeção de duto único avançavam em desempenho, emissões poluentes e refinamento. Alguns mercados recebiam o 2,4-litros de 142 cv e o V6 de 3,5 litros e 200 cv, ambos a gasolina.
Havia opção de caixa automática de cinco marchas e duas versões de tração 4×4: Easy Select e Super Select 4WD, esta com diferencial central, o que permitia seu uso mesmo em pisos de maior aderência. Ela foi feita também na África do Sul, em fábrica da então parceira Daimler-Benz, e chamada de Hunter, Sportero, Strada e Triton em outros mercados. Dessa vez o Brasil não precisou esperar tanto: ela estreava na linha 2008 como L200 Triton com três motores (ficava de fora o 2,4, acrescentado depois), mas sem o Super Select. O V6 flexível vinha no ano seguinte. As antigas Outdoor e Savana permaneciam.
“O interior, de aspecto atual, traz farto equipamento de série. Mesmo com as limitações de picape, a Triton tem rodar agradável e seu desempenho é bastante convincente. O nível de ruído a bordo é moderado. Mostrou boa aptidão fora de estrada. Nem mesmo vazia nota-se dureza excessiva da suspensão traseira”, observou o Best Cars. Aqui, na linha 2014 o motor 3,2 passava a 180 cv e vinha a quinta marcha na caixa automática. Essa série foi vendida em 150 países e superou 1,4 milhão de unidades, o maior total da linha até hoje — mas não chegou aos EUA, onde a marca produzia a Raider com base na Dodge Dakota, com direito a motor V8.
A mais atual L200 (Triton Sport no Brasil) tem controle de estabilidade e seletor dos modos de tração; a FCA a oferece como Fiat Fullback (à direita) e Ram 1200
O quinto modelo da L200 vinha em novembro de 2014, com desenho inspirado no do conceito híbrido GR-HEV, e ar mais robusto. Os motores turbodiesel de 2,5 litros com 110, 136 ou 178 cv (este com turbina de geometria variável) estavam ao lado do novo 2,4 turbodiesel (154 ou 181 cv) e do 2,4 a gasolina. O sistema opcional Super Select 4WD-II usava acionamento eletrônico e havia caixa manual de seis marchas e uma automática de cinco.
No Brasil ela estreava para 2017 como L200 Triton Sport, apenas com motor 2,4 turbodiesel de 190 cv, cabine dupla e tração 4×4. Controle eletrônico de estabilidade e tração era uma boa evolução. O Best Cars aprovou o “interior cada vez mais próximo ao de um sedã, com bancos confortáveis e bom acabamento; isolamento acústico eficiente, bom desempenho e a maciez de operação da caixa automática. A rodagem é macia e silenciosa — mesmo com a caçamba vazia a Triton não ‘pula’ em irregularidades e mantém o equilíbrio no asfalto. Em um percurso bem exigente no fora de estrada, a Sport faz jus a todo investimento feito em ralis pela marca”.
Parceria com a FCA (Fiat Chrysler Automobiles) levou a duas variações: Fiat Fullback, para mercados europeus, e Ram 1200 para países do Oriente Médio — um curioso retorno ao primeiro modelo e sua Ram 50. Ainda é chamada de Strada nas Filipinas, L200 Strakar em Portugal e Triton na Austrália e na Malásia. Nas quatro décadas, 4,7 milhões de picapes dessa série ganharam o mundo.
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