Suspensão elevada era o destaque da Parati Crossover, já com a traseira atualizada do modelo 2003; o para-choque dianteiro mudava em toda a linha
Pequenas mudanças na frente vinham na linha 2003, caso do para-choque. A Parati recebia uma traseira mais retilínea, coerente com o desenho frontal — a parte parecia ter sido esquecida na mudança de 1999. As versões 1,0 16V ganhavam terceira, quarta e quinta marchas mais longas, para menor nível de ruído, e havia novidades internas como volante, alerta programável para excesso de velocidade e travamento automático das portas em movimento.
Meses mais tarde, chegavam o Gol City e o “novo Special” de cinco portas, com o desenho adotado na linha 2000 e o motor evoluído. O Special de três portas preservava o estilo de 1995, tanto por fora quanto no despojado interior. Na Parati havia as novas versões City, com acabamento simples e motor 1,6; Plus, com o 1,8 e mais equipamentos; e Crossover, com rodas de 15 pol, pneus 195/55 e suspensão mais alta, para 27 mm de ganho de vão livre incluindo os pneus maiores. O visual com detalhes cromados somava-se a um interior chamativo, em cinza e vermelho, e havia escolha entre o motor 1,0 turbo e o 2,0. A linha completava-se com a Sportline 1,0 16V Turbo e a Comfortline 1,8 e 2,0.
Na avaliação da Crossover 2,0, o Best Cars opinou: “A Parati ‘topa-tudo’ prefere uma aparência sutil. De fora de estrada não há nada mais que a suspensão pouco elevada. Que torque: há tempos não avaliávamos um carro desse porte com tanta disposição em baixas rotações. Continua a quinta marcha longa, que dá um repouso ao motor em viagem, mas o veterano AP-2000 vibra o tempo todo, da marcha-lenta ao limite de rotações. A Crossover anda bem, mas sem surpreender. A suspensão mais alta deixou-a ainda mais apta às lombadas e valetas, com alguma perda em estabilidade. Pneus de medida mais moderada permitiriam arriscar um fora de estrada leve. Como está, ela chega a ser mais delicada que as Paratis comuns”.
Total Flex: em março de 2003, o Gol 1,6 era nosso primeiro carro de motor flexível
A Quatro Rodas colocou a mesma versão ao lado da Fiat Palio Adventure: “Apesar do motor mais antigo, os 112 cv da Crossover renderam marcas melhores. A Parati não perdeu em estabilidade e continua entregando uma suspensão firme. Comparada à Adventure, é melhor no asfalto”. Vantagem da Palio era a “melhor relação custo-benefício, por ser R$ 1.000 mais barata e vir de série com ar-condicionado”.
Na corrida dos fabricantes para oferecer o primeiro modelo capaz de rodar com gasolina ou álcool, a Volkswagen saiu à frente com o Gol Total Flex em 2003
O álcool vivia sua grande retomada, pelo preço convidativo, o que levava os fabricantes a uma corrida para oferecer o primeiro modelo brasileiro flexível, capaz de rodar com gasolina ou álcool puros ou misturados — o que existia nos Estados Unidos desde 1991, mas limitado a 85% de álcool. A Volkswagen saiu à frente com o Gol Total Flex, lançado em março de 2003. Pela baixa taxa de compressão (10:1), o motor de 1,6 litro não ganhou muito em potência ou torque: passou de 92 cv e 13,9 m.kgf para 97 cv e 14,1 m.kgf, com gasolina, e com álcool manteve os 99 cv e 14,4 m.kgf da versão a álcool oferecida até então.
Entre as alterações técnicas estavam sistema de partida a frio com tanque auxiliar de gasolina, coletor de admissão, bicos injetores, válvulas e suas sedes, comando de válvulas, velas e bomba de combustível. A novidade logo foi estendida à Parati City e à Saveiro, tanto a básica quanto a versão Super Surf. Na linha 2004 deixava de existir o motor 1,0 turbo, vítima de um problema crônico na polia do variador de tempo de válvulas — sem relação com o turbo, mas que não mereceu a devida atenção do fabricante.
Anunciada como Geração 4, a segunda reestilização do segundo Gol o deixava bem mais simples por dentro, a começar pelos instrumentos do Fox
Os motores 1,0-litro de oito válvulas (o 16V saía de produção) e 1,8 tornavam-se flexíveis no começo de 2005. O primeiro passava a 65/68 cv e 9,1/9,2 m.kgf, e o outro, a 103/106 cv e 15,5/16 m.kgf, sempre na ordem gasolina/álcool. A versão de menor cilindrada travou verdadeira corrida contra a Fiat: a Volkswagen apresentou o Gol City Total Flex apenas um dia antes das versões flexíveis de Mille e Palio.
Grandes mudanças foram reservadas para a linha 2006: anunciada como “Geração 4”, a reestilização da frente e da traseira deixava a família um pouco mais atual por fora — e bem mais simples por dentro, pois seu antigo lugar na linha agora pertencia ao Polo. O painel mais espartano tinha o quadro de instrumentos do Fox e desapareciam itens como controle elétrico de vidros traseiros, função um-toque para os comandos dianteiros, travamento de portas a distância, comandos de áudio no volante e bolsas infláveis. Os Gols City (com motor 1,0 ou 1,6), Plus (1,0) e Power (1,6 ou 1,8, este de volta ao modelo) tinham os motores flexíveis sem alterações. A suspensão mais alta, antes restrita à série especial Rallye, agora podia vir no Power.
Próxima parte
Os conceitos
• Tecno (1983) – O Gol e seus derivados foram base para diversos estudos, como esse Voyage de quatro portas apresentado na Feira do Álcool. Sofisticado, o conceito trazia quadro de instrumentos digital (parecido com o que seria oferecido em Chevrolet Omega, Monza e Kadett anos depois), bancos com ajuste elétrico e memória, cintos com a faixa diagonal automática e sintetizador de voz. As lanternas traseiras, escuras, apareciam só quando acesas e o facho dos faróis passava de alto para baixo ao detectar veículo no sentido oposto. O interior tinha alerta do momento de revisão, controlador de velocidade e computador de bordo. O motor de 1,8 litro e 139 cv usava parada/partida automática. Um controle infravermelho travava as portas a distância.
Na mecânica, freios ABS e quatro válvulas por cilindro, opção que o carro de série só ganharia 35 anos depois! Várias soluções apareceram mais tarde no modelo: os para-choques em plástico envolvente vieram em 1987, as formas do painel de um estudo da Audi eram praticamente iguais às do CL de 1988, o volante antecipou o do GL do mesmo ano e os faróis e luzes de direção lembravam os adotados em 1991.
• Parati EDP 200 (1996) – A perua de segunda geração foi transformada em um superesportivo para o Salão do Automóvel. EDP 200 era sigla para Engenharia e Desenvolvimento de Produto e a potência do motor com turbocompressor. Por fora tinha enormes defletores e saias e, por dentro, assoalho de alumínio — o que seria comum em personalização anos depois —, bancos com ajuste elétrico, volante Momo italiano e instrumentos exclusivos. O sistema de áudio Clarion no lugar do banco traseiro incluía disqueteira para 18 discos, dois alto-falantes de subgraves e potência de 1.000 watts.
• Parati EDP II (1998) – No Salão a Volkswagen seguia um conceito que a Fiat traria ao mercado no ano seguinte com a Palio Adventure: perua voltada ao fora de estrada. Molduras laterais largas, faróis de xenônio e duas saídas de escapamento davam um ar exótico. Além disso, a EDP II antecipava — exceto pelos faróis de perfil mais baixo — elementos da reestilização da linha 2000, como grade, capô, maçanetas e retrovisores.
• Gol Turbo (2000) – O Salão daquele ano revelava o Gol em proposta esportiva, com rodas de 17 pol, suspensão rebaixada, defletor dianteiro e saída central de escapamento. A cor preta mudava de tom conforme a incidência de luz. Por dentro, o sistema de áudio e vídeo Clarion tinha 600 watts e exibia DVDs em uma tela retrátil, além de poder se conectar à internet.
• Saveiro EDP III (2000) – A inspiração na picape de conceito AAC da Volkswagen alemã ficava evidente no primeiro estudo da Saveiro, mostrado no mesmo Salão, com estilo robusto no para-choque e nas laterais, rodas de 16 pol e suspensão elevada. Havia barras sobre o teto, volante com hastes de alumínio escovado e câmera traseira para manobras, item que demoraria a chegar a modelos de série. O sistema de áudio também sintonizava TV.
• Saveiro Rocket (2010) – Uma atraente picape esportiva foi ao Salão com cobertura rígida de caçamba com acionamento elétrico, aerofólio e arcos que passavam a impressão de um perfil alongado de cabine. A Rocket (foguete em inglês) usava rodas de 18 pol com pneus 225/40, bancos de Golf R32 revestidos em couro vermelho e camurça sintética e central de áudio da Audi. O motor era o turbo de 1,4 litro do Golf com 150 cv e caixa manual de seis marchas.
• Gol GT (2016) – Buscando restaurar o apelo da primeira versão esportiva do Gol, o conceito de três portas mostrado no Salão tinha novos para-choques, faróis de leds, rodas de 18 pol, teto preto e suspensão rebaixada. Um tom laranja estava em frisos, retrovisores e detalhes do interior, que usava bancos concha. Não havia informações técnicas, pois o estudo era apenas estético.