Em sequência ao Toyota Corolla, seu eterno adversário
Honda Civic passa pela análise da equipe por 30 dias
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: Roberto Agresti
Atualização de 10/8/12
Por melhor que seja nosso planejamento com relação às avaliações de Um Mês ao Volante, será muito difícil repetir a curiosa situação com a qual nos defrontamos no fechamento para esta atualização sobre o Honda Civic LXL: uma quase que exata paridade de quilometragem cumprida usando álcool e gasolina como combustível.
Na semana que passou, estreando o uso de gasolina no tanque, rodamos apenas um quilômetro a menos do que na fase anterior, quando era o derivado da cana de açúcar a abastecer o Civic. A quilometragem é igual também quanto à tipologia de roteiro: pouco mais de 600 km de rodovias para quase 500 de cidade, uma coincidência e tanto, pois tal equilíbrio não foi intencional. E daí?
Daí que a grande questão sobre a eficiência de cada um dos combustíveis estaria, em tese, mais do que escancarada com essa paridade. Os números: 10,4 km/l de média geral com gasolina e 8,2 km/l usando o álcool, ou seja, a primeira rendeu 26,8% mais que o segundo. É pouco, pois a famosa proporção de 70% de preços (pela qual se deve usar álcool, do ponto de vista financeiro, apenas se ele custar até 70% do preço da gasolina) implicaria rendimento por litro 42,8% maior com o derivado de petróleo.
O Civic já rodou com gasolina tanto quanto rodara com álcool; no percurso-padrão, o
consumo obtido indica vantagem para o segundo com preço até 71% da primeira
Contudo, são necessárias duas considerações. Uma sobre trajetos: enquanto com álcool o percurso rodoviário foi uma viagem da capital paulista ao litoral, com desnível de cerca de 800 metros do planalto à localidade visitada ao nível do mar (Ubatuba), com gasolina o trecho rodoviário alcançou como destino final a cidade de Araraquara, cujo desnível em relação à capital é de só 200 metros. Ou seja, rota tortuosa, lenta e íngreme com álcool e plana, retilínea e rápida com gasolina. A outra consideração é sobre modos de dirigir.
“Equipar o Civic com apenas dois airbags parece piada hoje: é menosprezo demais para itens de segurança, algo que não combina com a imagem que a Honda pretende”
Inês Agresti, que levou o Civic ao interior, joga luz no ponto: “Na rodovia dos Bandeirantes chega a ser difícil respeitar o limite de velocidade de 120 km/h e sobretudo na ida, durante o dia, me peguei acima desse limite várias vezes. Não fiz uso do controlador de velocidade no trecho; se assim fosse, acredito que poderia ter obtido consumo menor. Na volta, em vez da velocidade foi o trânsito carregado de domingo o vilão. Sem esses percalços, imagino que o Civic teria superado 12,5 ou 13 km/l, mesmo com porta-malas cheio e ar-condicionado ligado 100% do tempo”.
A colaboradora também não fez uso da tecla Econ, que aciona um programa de condução mais econômico: “Ela me pareceu ‘amarrar’ o carro de um modo que não gostei, exigindo afundar o pé no acelerador para obter a devida resposta. Chegou a me deixar insegura em situações de ultrapassagem na estrada, como se estivesse com um carro bem menos potente”. Outro aspecto que influiu no consumo da viagem, pois no trajeto ao litoral o comando foi usado e a condução contou com nenhuma pressa e grande parcimônia no uso do pedal da direita.
A semana do Civic incluiu viagem até Araraquara (na foto, diante do novo estádio a
ser usado na Copa de 2014), na qual revelou desempenho e conforto satisfatórios
Justo, mas com faltas
Mesmo com as ressalvas, Inês se disse satisfeita com o Honda, definido por ela como um carro sem grandes destaques, mas tampouco lacunas graves. “Ele é justinho, tem o mínimo que se espera de um carro de R$ 70 mil, e esse ‘quase’ se aplica por injustificáveis faltas. Como pode ter câmera de ré e não ter um espelho fotocrômico ou faróis de neblina? Por que razão não tem ar-condicionado com duplo ajuste e sistema Bluetooth? E equipar o Civic com apenas dois airbags parece piada hoje: é menosprezo demais para itens de segurança, algo que não combina com a imagem que a Honda pretende para si”.
A colaboradora relembra, ainda, que na comparação com o rival Corolla XRS — o qual dirigiu na avaliação anterior a essa — o Civic apresenta algumas similaridades, mas as marcantes diferenças falam mais alto: “O Honda dá impressão de ser um carro menor do que o Toyota, talvez por conta da direção que parece mais rápida, das suspensões mais durinhas e da própria posição de dirigir e a visibilidade. Mas o motor 2.0 do Corolla responde de maneira mais consistente ao acelerador, em especial em baixa rotação, e dá a impressão de que sofre bem menos para levar o carro ladeira acima. De resto, os passageiros que me acompanharam tanto em um como em outro carro foram unânimes em declarar ser o Toyota mais confortável, mais macio e silencioso”.
Inês confessa que nunca pensou em ter um sedã, preferindo carros mais compactos, mas depois dessa experiência dupla Corolla-Civic começa a cogitar um carro desse segmento para seu futuro: “Antes minha utilização era 100% urbana, enquanto agora faço viagens com certa frequência. Um carro de maiores dimensões me passa sensação de mais segurança e conforto na estrada. Além disso há o porta-malas maior, necessário para quem viaja com dois ou três acompanhantes como é meu caso”, acrescenta. “E o Civic nesse item é muito bom, com bastante espaço, mas senti falta de ganchos no piso para fixar aquela rede elástica, tão útil quando se carrega pequenos objetos. Fazem falta também ganchinhos para pendurar sacolas de supermercado, algo simples e muito útil”.
Ao lado da falta de algumas conveniências, a colaboradora lamentou a economia
da Honda em segurança: bolsas infláveis apenas frontais são pouco para seu preço
Afinal, ela compraria o Civic LXL? “De um modo geral, gostei muito dele, mas repito achar o modelo caro demais pelo que oferece, em especial em termos de segurança, que deve ser sempre uma prioridade. Acredito que minha opção na categoria seria por um dos concorrentes mais equipados nesse quesito”, ela responde.
Ao cabo do uso pela colaboradora, o Civic realizou nosso percurso-padrão de consumo e, como na medição feita antes com álcool, repetimos o roteiro com e sem o uso da tecla Econ. O resultado? Conseguimos 16,6 km/l sem o dispositivo e 16,9 km/l com o sistema acionado. Aqui, sim, a proporção ficou próxima da esperada, com rendimento 39,7% maior com gasolina. Os resultados nos fazem indicar o uso de álcool se seu preço representar até 71,6% do valor da gasolina.
Repetimos que o percurso, apesar de urbano, é realizado em horário sem trânsito, de madrugada, e premia vias expressas com mínima quantidade de semáforos e trechos íngremes. Assim, não é indicativo do consumo em uso urbano na acepção da palavra, mas válido termo de comparação para avaliar a eficiência usando combustíveis diferentes — e nos dará chance de comparar o consumo de diversos veículos sob um mesmo tipo de trecho, com motorista e condições de uso iguais.
Para a semana, o Civic passará por mãos variadas e será usado em “missões” rodoviárias e urbanas de diferentes tipos, buscando um extenso panorama de opiniões. E fará a tradicional visita à oficina Suspentécnica, sempre reveladora e útil.
Relato anterior |
Último período
7 dias |
1.105 km |
Distância em cidade | 496 km |
Distância em estrada | 609 km |
Consumo médio (gasolina) | 10,4 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Desde o início
21 dias |
2.211 km |
Distância em cidade | 992 km |
Distância em estrada | 1.219 km |
Consumo médio (álcool) | 8,2 km/l |
Melhor marca média | 9,1 km/l |
Pior marca média | 6,3 km/l |
Consumo médio (gasolina) | 10,4 km/l |
Melhor marca média | 11,4 km/l |
Pior marca média | 8,7 km/l |
Consumo em percurso-padrão (43,2 km) | |
Com sistema Econ | 16,9 km/l (gasolina) |
Sem sistema Econ | 16,6 km/l (gasolina) |
Com sistema Econ | 12,1 km/l (álcool) |
Sem sistema Econ | 12,0 km/l (álcool) |
Indicações do computador de bordo |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo e levantamento |
Diâmetro e curso | 81 x 87,3 mm |
Cilindrada | 1.799 cm³ |
Taxa de compressão | 11,7:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 139/140 cv a 6.500 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 17,5/17,7 m.kgf a 4.600/5.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | automático / 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson |
Traseira | independente, braços sobrepostos |
Rodas | |
Dimensões | 6,5 x 16 pol |
Pneus | 205/55 R 16 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,525 m |
Largura | 1,755 m |
Altura | 1,45 m |
Entre-eixos | 2,668 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 57 l |
Compartimento de bagagem | 449 l |
Peso em ordem de marcha | 1.230 kg |
Dados do fabricante; desempenho e consumo não disponíveis |