Depois de obter bom consumo em uma viagem constante,
o sedã passa a uma motorista e sai do estado pela primeira vez
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Atualização de 29/11/13
Em duas semanas de avaliação, o Citroën C4 Lounge Tendance de Um Mês ao Volante havia devorado quilômetros de rodovia com certa pressa, subido e descido serra e enfrentado trânsito congestionado, sempre com gasolina no tanque. Antes da mudança de combustível para álcool — nossa avaliação é feita em parte com cada um —, faltava uma viagem tranquila, seguindo a corrente de tráfego com o controlador de velocidade ajustado para 120 km/h, para saber que consumo ele obteria com interações menos frequentes entre o pedal acelerador e o tapete do assoalho.
É fato que 120 km/h, o maior limite de velocidade hoje vigente no Brasil, não são o ritmo mais econômico que se pode impor a um carro, mas é como muitas pessoas viajam hoje em boas rodovias como as que cortam o estado de São Paulo. E foi por uma delas, o sistema SP-70 Ayrton Senna/Carvalho Pinto, que o C4 seguiu de Pindamonhangaba, SP, rumo à capital paulista com este editor ao volante.
Comecemos pelo fim, ou seja, o resultado final de consumo registrado no computador de bordo: 12,5 km/l, considerando apenas 124 km de rodovias, sem qualquer uso urbano. O ar-condicionado funcionou todo o tempo, mas sem grande trabalho, dada a temperatura externa de 25ºC. O consumo obtido nos parece muito bom para o tipo de carro — um amplo sedã de mais de 1,4 tonelada com motor de 2,0 litros — e desfaz em parte a sensação de carro “beberrão” que o Lounge vinha nos passando até então.
Viajando a 120 km/h no controlador de velocidade, o C4 Lounge obteve consumo
de 12,5 km/l e revelou seus melhores atributos, como espaço e baixo ruído
Parte daquela viagem, feita também a 120 km/h no controlador, consiste de nosso trajeto-padrão rodoviário que faltava cumprir com gasolina. O trecho de 37 km indicou média de 12,3 km/l, também boa marca, sendo um pouco pior que a da viagem completa por causa da topografia mais acidentada da região. Embora sejam carros de outras categorias, vale lembrar que o Fiat Bravo Sporting (de câmbio manual e 130 cv) obteve marca idêntica, enquanto o C3 Exclusive (de caixa automática e 115 cv) conseguiu apenas 11,4 km/l no mesmo percurso.
Mas não se viaja de olho apenas no computador de bordo. O que mais o C4 Lounge revelou?
O Tendance confirmou somar os principais atributos que um típico pai de família, sem pretensões de esportividade, procuraria em um sedã médio
Conforto é a primeira palavra que vem à mente, em seus diversos significados: um interior espaçoso e bem servido de itens de conveniência (apesar dos encostos de bancos que apoiam mal a região lombar e favorecem o cansaço), um bom ar-condicionado com duas zonas de ajuste, o rodar macio da suspensão calibrada com esse objetivo em vista, o baixo nível de ruído geral — favorecido pela longa sexta marcha, que impõe apenas 2.800 rpm para manter 120 km/h. O motor incomoda um pouco pela aspereza acima de 4.000 rpm, mas acompanhar o trânsito urbano ou rodoviário não costuma exigir tantos giros.
Sobre o câmbio Aisin de seis marchas — uma das grandes evoluções do Lounge sobre seu antecessor, o C4 Pallas —, vale registrar que praticamente toda a viagem foi cumprida em sexta marcha, mantendo a alavanca na posição D. Em nenhum momento houve redução desnecessária, que eleva o nível de ruído, um comportamento frequente nos modelos de marcas japonesas causado por opção desses fabricantes ao calibrar a central eletrônica da caixa. A Citroën confirma o acerto na calibração, que já nos havia agradado no trajeto de serra.
No interior, os itens de conveniência da versão Tendance mostraram utilidade,
mas não aprovamos a forma dos encostos dos bancos em longos trajetos
E quanto à suspensão? Também aqui o carro difere do anterior pelo melhor isolamento de impactos (ponto crítico do C4 Pallas), mas ainda não ficou ideal: nota-se bem como os pneus Michelin Primacy HP de perfil baixo transmitem as irregularidades à suspensão, que então usa buchas e amortecedores macios para absorvê-las, com algum prejuízo ao comportamento dinâmico. No uso moderado, tudo bem, mas um pouco mais de empenho ao volante indica que o C4 Lounge não segue a tradição Citroën de grande estabilidade. Outro ponto que evoluiu, sem se equiparar aos melhores da classe, é a transmissão de impactos ao volante em curvas de piso irregular.
No conjunto, o Tendance confirmou somar os principais atributos que um comprador típico de carros de seu perfil — um pai de família sem pretensões de esportividade — procuraria em um sedã médio. Se estivesse para comprar um automóvel desse segmento e faixa de preço, este editor escolheria um como o avaliado? Sim, seria uma opção a considerar. Embora prefira carros com um acerto mais esportivo, as qualidades de conforto do Tendance e o que ele oferece pelo preço pedido tornam-no uma válida alternativa em um dos segmentos mais concorridos do mercado.
O ponto de vista feminino
Durante a última semana nosso Citroën passou pela primeira vez ao comando de uma motorista: Giuliana Pucci, colaboradora que já participou dos testes do C3 e do Bravo, veio nos emprestar o ponto de vista feminino, que é sempre interessante mesmo em um tipo de carro não tão voltado ao dito sexo frágil. Ex-proprietária de dois modelos da marca — um C3 e um C4 hatch —, ela dirigiu o Lounge em cidade e rodovia.
A motorista aprovou o sedã por fora e por dentro: “O carro tem presença. Gosto do estilo e do impacto que os carros da Citroën causam. O acabamento interno é muito bom, e a posição de dirigir, excelente. O que mais gosto nos carros da marca é o painel, que no C4 Lounge é marcante, diferente dos outros carros. Adorei o velocímetro com indicações analógica e digital”. Giuliana destaca ainda o “excelente espaço interno, com muito conforto para os passageiros”, e itens de conveniência como “os locais para objetos e latinhas de bebidas, inclusive um para a garrafa de água no porta-luvas. Nele há uma saída de ar condicionado, que mantém a temperatura mais amena”.
Os pneus de perfil baixo transmitem irregularidades que cabe à suspensão macia
filtrar: o resultado é conforto aceitável, mas com algum prejuízo à estabilidade
A opinião fica menos favorável quando entram em cena os aspectos dinâmicos. “Achei o motor um pouco fraco para o carro e tudo que ele aparenta ser quando visto de fora. Deixa a desejar na estrada e em ultrapassagens em que necessitamos de mais potência. Também não é um carro econômico”, avalia a colaboradora. Como pontos positivos ela menciona o câmbio “silencioso e de fácil manuseio; quase não dá para sentir as mudanças de marcha” e a “boa suspensão, que aumenta o conforto em conduzi-lo”. No entanto, considera que “a direção leve demais deixa o carro pouco estável na estrada, mesmo sendo excelente para manobrar na cidade. Meu antigo C4 hatch passava mais segurança em alta velocidade”.
Ao fim do contato, a clássica pergunta: Giuliana compraria esse carro pelo preço sugerido? “Considero que o C4 Lounge tem excelente custo-benefício. Há outros carros da mesma faixa de preço que não apresentam o mesmo conforto, a tecnologia em que a Citroën sempre se destaca, o amplo espaço interno. Embora sedãs não sejam o tipo de carro que eu compraria, se fosse para escolher um deles, acredito que o C4 estaria entre as primeiras opções”.
Quando fechamos esta atualização, nosso Tendance está além das divisas paulistas pela primeira vez na avaliação, após seguir rumo ao Rio de Janeiro, RJ, com um colaborador inédito ao volante e com álcool no tanque (cuja primeira média já foi apurada: 6,6 km/l, sendo o trajeto 40% urbano). Depois de três Fords Focus e dois Hondas Civic de diferentes gerações, o motorista optaria por um Citroën em sua próxima troca de carro? Na próxima sexta-feira, saberemos.
Atualização anterior |
Último período
7 dias |
887 km |
Distância em cidade | 315 km |
Distância em rodovia | 572 km |
Tempo ao volante | 18h 54min |
Velocidade média | 47 km/h |
Consumo médio (gasolina) | 10,3 km/l |
Melhor marca média | 12,5 km/l |
Pior marca média | 7,2 km/l |
Consumo médio (álcool) | 6,6 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Desde o início
19 dias |
1.834 km |
Distância em cidade | 591 km |
Distância em rodovia | 1.242 km |
Tempo ao volante | 39h 1min |
Velocidade média | 47 km/h |
Consumo médio (gasolina) | 9,3 km/l |
Melhor marca média | 12,5 km/l |
Pior marca média | 5,5 km/l |
Consumo médio (álcool) | 6,6 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Consumo em trajetos-padrão
Trajeto leve em cidade | 10,4 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 5,5 km/l |
Trajeto em rodovia | 12,3 km/l |
Indicações do computador de bordo; testes efetuados com gasolina |
Preço
Sem opcionais | R$ 66.990 |
Como avaliado | R$ 68.680 |
Preços públicos vigentes em 13/11/13 |
Teste do Leitor
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Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 85 x 88 mm |
Cilindrada | 1.998 cm³ |
Taxa de compressão | 10,8:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas/álc.) | 143/151 cv a 6.250 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 20,2/21,7 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | automático / 6 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | eletro-hidráulica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 17 pol |
Pneus | 225/45 R 17 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,621 m |
Largura | 1,789 m |
Altura | 1,505 m |
Entre-eixos | 2,71 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 60 l |
Compartimento de bagagem | 450 l |
Peso em ordem de marcha | 1.414 kg |
Desempenho | |
Velocidade máxima (gas.) | 211 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h (gas.) | 9,5 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |