Tenho um Chevrolet Onix e vou passar seis meses no exterior, deixando o carro parado. Gostaria de saber o que posso fazer para evitar ou minimizar problemas. Posso desconectar a bateria? Preciso tirar os pneus e colocá-lo em cavaletes? Troco o óleo antes da viagem ou deixo para a volta? E o combustível, posso deixar no tanque? É preferível álcool ou gasolina nesse caso? O que mais devo observar?
Rubens Silva – São Paulo, SP
É comum o receio de deixar o veículo parado por muito tempo, mas não devemos nos esquecer do período que eles permanecem em pátios antes de serem vendidos. Carros com grande demanda ficam alguns dias, mas há casos, sobretudo na crise atual, em que o veículo passa semanas ou meses esperando um comprador. Além disso, o processo de importação entre países faz que o automóvel fique até 40 dias sem uso.
No manual do proprietário há informações de como proceder caso o carro não seja usado por longo tempo. Para não descarregar ou mesmo inutilizar a bateria, o ideal é deixá-la desconectada. Não há problema relacionado à central eletrônica, mas alguns modelos após certo período sem uso precisam de um tempo para reconhecer a chave, para dar a partida (por causa do módulo eletrônico que impede a ligação sem a chave original), ou mesmo o sistema de alarme, que não funciona sem a bateria. Nesses casos o manual informa os procedimentos necessários.
Quantos aos pneus, o ideal seria deixar o carro em cavaletes para que não tendam a ficar ovalados. Contudo, se mantidos com pressão alta (na faixa de 40 lb/pol²), a probabilidade de isso ocorrer é pequena. Os fabricantes de pneus já contam com o fato de o carro ficar bastante tempo parado, apoiado nos pneus, durante o projeto desse componente. Deixar o carro sem pneus traz um risco adicional: não seria possível alguém retirá-lo às pressas, mesmo que empurrado ou rebocado, no evento de desastres como uma enchente. Talvez você não se preocupasse tanto com um modelo atual com seguro, mas e se fosse um antigo muito especial?
Com o óleo lubrificante do motor é necessário prestar atenção: ele absorverá umidade do ar, bem como sofrerá oxidação. Recomenda-se que se troque o óleo na volta, mesmo sem uso. E nunca se deve “pedir para o cunhado ou vizinho ligar o carro a cada duas semanas durante alguns minutos”: esse procedimento, embora favorável à bateria caso não se desconectem os terminais, é muito prejudicial ao óleo do motor, que não atinge a temperatura normal de trabalho em alguns minutos. Ao se partir o motor a frio, muito combustível em forma líquida e não queimado contamina o óleo. Ao se rodar por mais de 10 minutos, o óleo atinge sua temperatura de trabalho ideal, evaporando o combustível presente nele, bem como parte da umidade acumulada.
Quanto ao combustível, no caso do álcool, haverá grande absorção de umidade do ar e, ao retornar, ele terá muito mais que os 7% de água oficiais. A gasolina pode criar outros problemas: por ser uma “sopa” de cadeias de carbono e hidrogênio, ocorrerá a evaporação das moléculas mais “leves”, o que dificulta a partida na volta (as moléculas menos voláteis permanecem). Além disso, parte das moléculas que evaporam são responsáveis por garantir a octanagem da gasolina: uma gasolina “velha” traz mais risco de detonação.
Considere ainda a característica da gasolina brasileira — comum ou aditivada — de, ao se degradar, tornar-se uma espécie de cera que pode entupir injetores, filtro ou mesmo travar a bomba de combustível. Em veículos modernos é mais difícil que isso ocorra, pela maior pressão do sistema de combustível, mas motores carburados sofrem muito com esse efeito, sobretudo entupindo os giclês. É por isso que donos de barcos com motores de popa carburados esgotam todo combustível do motor, a menos que o usem toda semana.
Uma opção é colocar a gasolina Podium da Petrobrás, cuja octanagem (102 octanas RON, bem acima do que qualquer motor atual precisa) compensa a perda que ocorrerá e que, segundo a petrolífera, pode ficar estocada por até 12 meses. Portanto, o mais indicado é deixar uma quantidade pequena de álcool ou de gasolina Podium no tanque e, ao voltar, completá-lo com o outro combustível: parte das impurezas presentes no álcool é dissolvida pela gasolina e vice-versa.
Há também quem recomende deixar o freio de estacionamento livre, pois haveria risco de as sapatas do freio a tambor (usadas para esse fim também por vários carros com freio a disco na traseira) ficarem “coladas” ao tambor, impedindo o movimento do carro quando o freio de estacionamento for liberado. Se optar por essa medida, não deixe de calçar um dos pneus para evitar que o carro se movimente.
No mais, não há muito com que se preocupar a não ser um pouco de poeira acumulada, o que pode ser solucionado com uma capa. Se o local for plenamente protegido da chuva, as de tecido (como a do Porsche 911 da foto) são preferíveis às de plástico pela melhor ventilação. Para prevenir algum mau cheiro dentro do carro, devido à umidade, pode-se deixar um desumidificador de ambientes, um pote com produto que absorve a umidade presente no ar.
Texto: Felipe Hoffmann – Fotos: divulgação