Posição do motor e dos cilindros, comando, válvulas e velas são itens em que alguns fabricantes fogem aos padrões
Texto: Fabrício Samahá – Fotos e ilustrações: divulgação
Os motores dos carros de hoje estão bem parecidos. Entre os automóveis nacionais, quase todos têm três ou quatro cilindros em linha e ficam em posição transversal. Mas existem motores que fogem à rotina, seja na posição ou na disposição dos cilindros, seja em itens como comando, válvulas e velas. Vamos conhecer esses motores fora do comum.
Cilindros
Carros de três cilindros você conhece vários, mas só com dois? No passado existiram muitos, como BMW 600 (um irmão maior do Isetta), Citroën 2CV, Honda N600 e o Gurgel BR-800/Supermini nacional. Hoje,o Fiat 500 é um dos poucos, com o pequeno motor Twin Air de 900 cm³ com turbo e 105 cv.
Para quatro cilindros, a disposição em linha é universal: quase todas as marcas a seguem. De vez em quando aparece algo diferente, como o V4, usado em outros tempos por Ford, Lancia e Saab. Ou ainda o boxer, com cilindros horizontais opostos: era assim nos Volkswagens arrefecidos a ar, nas séries Berlinetta Boxer e Testarossa da Ferrari e continua em modelos da Porsche e da Subaru (acima, o quatro-cilindros de 2,0 litros de seu BRZ e do Toyota 86).
Cinco cilindros existem em certa quantidade, como no Fiat Marea e no Stilo Abarth que foram fabricados aqui. Volvo, Audi e Volkswagen usaram e usam diversos motores assim — até o Santana alemão teve o seu. O mais comum é que os cilindros fiquem em linha, mas a Volkswagen criou um V5 (com cinco cilindros em V) para equipar Golf, Jetta e Beetle de 1997 a 2006.
Também diferente é o motor VR6 da Volkswagen (acima), lançado nos anos 90 e que chegou a equipar uma pequena série do Golf brasileiro: o ângulo entre as bancadas de três cilindros é pequeno, 15 graus, contra os mais comuns de 60 e 90 graus. Isso deixa o motor bem mais estreito que um V6 tradicional e com comprimento similar ao de um quatro-cilindros em linha, ideal para posição transversal em carros médios.
Motores de seis cilindros em linha foram poucos nos últimos anos: a maioria das marcas migrou para o V6, sendo a BMW uma das que resistiram. Já a Mercedes-Benz adotou o V6 nos anos 90 e está voltando ao seis-em-linha. Os casos do Land Rover Freelander e do Volvo S80 (acima) foram mais peculiares: a unidade de seis cilindros em linha ficava em posição transversal.
O motor V8 é um patrimônio norte-americano que faz muitos apreciadores. A Volkswagen queria um para o Passat, mas fez algo diferente em 2001: um W8 de 4,0 litros (acima) formado por quatro bancadas de dois cilindros, como se fossem dois VR4 lado a lado com um só virabrequim. Embora compacto, o motor era um tanto complexo e não teve uso em outro modelo. Só durou três anos e equipou 11 mil unidades.
Esse não foi o único motor em “W” no grupo Volkswagen. Os sedãs de luxo Phaeton e Audi A8 e modelos da Bentley ganharam o W12, com quatro bancadas de três cilindros, como se fossem dois VR6 unidos pelo virabrequim. Os Bugattis Veyron e Chiron receberam um W16 (acima) com quatro bancadas de quatro cilindros. Existiu ainda um W18 com três bancadas de cilindros, aplicado a carros-conceito da Bugatti na década de 1990 como EB 118, EB 18/3 Chiron e EB 18/4 Veyron, mas não a modelos de produção. Embora com disposição em “V”, merecem citação os raros 16-cilindros na história, como o Cadillac V16 da década de 1930 e o supercarro Cizeta-Moroder V16T.
Posição
Motor dianteiro é quase unânime hoje, salvo em carros esporte, que em muitos casos o colocam entre eixos e atrás da cabine. A posição traseira já foi comum em carros pequenos, como o Volkswagen Fusca e o Fiat 500 de 1955; médios, caso do BMW 700 e diversos Volkswagens; e mesmo grandes, como o Tucker Torpedo e os Tatras feitos na antiga Checoslováquia. Deixando de lado o imortal Porsche 911, carros com motor atrás são poucos hoje, como Mitsubishi i, Smart Fortwo (acima o modelo de 2007) e Renault Twingo.
No caso de aplicação central-traseira, a posição longitudinal é certamente a mais comum. Entre os casos de motor transversal entre eixos estão o clássico Lamborghini Miura (não o pioneiro dos carros de série com motor central, mas o primeiro que notabilizou essa posição), acima, e os pequenos Fiat X1/9, Lancia Stratos, Matra-Simca Bagheera e Toyota MR2.
Velas
Quase todos os carros do mundo têm uma vela de ignição para cada cilindro. Usar duas pode melhorar a eficiência da queima, embora aumente o custo. A Alfa Romeo começou a usar essa solução em carros de corrida em 1914, trouxe a modelos de rua na década de 1980 e a aplicou sob o nome Twin Spark a carros variados, incluindo os 145, 147, 155 e 156 vendidos no Brasil (acima o motor de 1,6 ou 1,8 litro do 145). Em carro nacional,o único caso foi o Honda Fit de 1,3 litro da primeira geração, mas a Ford Ranger argentina dos anos 90 usou a solução no 2,3-litros.
Válvulas
Você prefere duas ou quatro válvulas por cilindro? Algumas marcas seguiram outros caminhos. Houve motores com três válvulas, como no Honda Civic na década de 1980, em alguns V6 e V8 da Mercedes-Benz nos anos 90, no V8 da Ford para picapes e SUVs nos anos 2000 e no MWM turbodiesel que equipou diversos utilitários no Brasil, com quatro cilindros (como Chevrolet S10 e Blazer e Nissan Frontier) ou seis (Chevrolet Silverado, Ford F-250).
Outros tiveram cinco válvulas por cilindro, como diversos motores da Audi (incluindo o 1,8-litro usado no A3 e no Volkswagen Golf GTI brasileiros), o Bugatti EB 110 e os Ferraris F355 (acima) e F50. O pioneiro nessa técnica, para surpresa de muitos, foi o Toyota Corolla: adotou-a em 1991 no 1,6-litro desenvolvido com auxílio da Yamaha, especialista nessa tecnologia. Nesses casos de número ímpar, a válvula a mais faz admissão.
E usar mais de cinco válvulas, é possível? A Maserati fez em 1985 um V6 biturbo com 36 válvulas, seis por cilindro, e a Honda aplicou oito válvulas a cada cilindro oval da moto NR 750, feita em pequena série em 1991.
Quanto ao número de árvores de comando de válvulas, a maioria segue a regra: um comando para duas válvulas por cilindro, dois comandos para quatro válvulas por cilindro. Como sempre, houve exceções. Duplo comando com apenas duas válvulas foi adotado por marcas como Alfa Romeo (incluindo os modelos FNM 2000, 2150 e Alfa 2300 brasileiros), Fiat (caso do Tempra oito-válvulas brasileiro), Ford e Jaguar (no XK de seis cilindros).
A solução oposta, um só comando para quatro válvulas, também é rara: entre os casos houve um motor da Triumph inglesa, alguns da Honda (como os atuais de 1,5 e 1,8 litro, este na foto, usados no Brasil), o Renault de 1,0 litro dos anos 2000 (adotado também pelo Peugeot 206) e o projeto BMW-Chrysler que deu origem ao E-Torq, hoje aplicado a vários Fiats e ao Jeep Renegade.
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