Caro, Citroën DS4 encara alemães com sofisticação

 

Criativo na aparência, ágil com o motor turbo de 165 cv, o
novo membro da linha DS chega a um valor difícil de justificar

Texto: Geraldo Tite Simões – Fotos: divulgação

 

Houve um tempo em que carro alemão era sinônimo de técnica, sem grande inspiração no desenho, e carro francês era confortável e ousado no estilo, com a vantagem de custar menos que os germânicos. A globalização do automóvel fez com que algumas dessas características ficassem no passado, caso dos alemães com linhas cada vez mais inspiradas — o que dizer do Mercedes-Benz CLA? Agora a Citroën vem mudar mais um desses parâmetros, ao trazer ao Brasil um hatch médio francês com preço… alemão.

Importado de Mulhouse, na França, o DS4 é o terceiro membro da família de prestígio DS da marca, que pega carona na tradição do modelo DS lançado em 1955 — um carro tão avançado que, ao sair de produção após 20 anos, ainda superava em tecnologia muitos produtos da categoria na época. Tudo levou apenas nove meses, da chegada do hatch pequeno DS3 à do DS4, passando em dezembro pelo grande DS5, o topo de linha até que surja um modelo ainda maior, previsto pelo conceito Numéro 9.

 

Os bancos têm revestimento em couro muito suave ao toque e os dianteiros contam com massagem na região lombar, obtida inflando e desinflando suas bolsas de ar

 

O DS4 é oferecido em versão única, com motor THP de 1,6 litro com turbocompressor e 165 cv, caixa de câmbio automática de seis marchas e garantia de três anos, ao preço de R$ 100 mil. Os equipamentos de segurança de série abrangem controle eletrônico de estabilidade e tração, seis bolsas infláveis (frontais, laterais dianteiras e cortinas laterais), fixação Isofix para cadeiras de crianças, freios antitravamento (ABS) com distribuição eletrônica de força entre os eixos e assistência adicional em emergência, monitor de ponto cego nos retrovisores (avisa se houver veículo, mesmo moto, por perto e fora do alcance dos espelhos) e faróis com lâmpadas de xenônio para ambos os fachos e efeito autodirecional, além das unidades de neblina. As rodas são de 18 pol.

 

 
A altura total e o vão livre do solo acima da média dão um ar robusto ao DS4;
o motor THP de 1,6 litro, com turbo e 165 cv, é o mesmo dos DS já conhecidos

 

Entre os itens de conforto estão bancos revestidos de couro com massageador nos dianteiros, controlador e limitador de velocidade, retenção para facilitar a arrancada em rampa, sistema de áudio com CD/MP3 e interface Bluetooth, navegador, ajuda à baliza com avaliação do espaço disponível (avisa se a vaga possui tamanho suficiente para estacionar), retrovisor interno fotocrômico, ar-condicionado automático de duas zonas de ajuste, sensores de estacionamento à frente e atrás, computador de bordo, controle elétrico dos vidros do tipo um-toque e volante ajustável em altura e distância.

 

 

O desenho é moderno, com linhas imponentes e carroceria alta. Embora se trate de um hatch de cinco portas, a Citroën buscou a aparência de apenas três ao usar maçanetas embutidas nas portas traseiras — detalhe empregado à exaustão desde o Alfa Romeo 156, de 1998, mas ainda válido. Moldura de alumínio nos vidros laterais, frente imponente, “ombros” sobre as caixas de roda e formatos inéditos nos faróis e nas lanternas são algumas das características que tornam o DS4 interessante de ver e fácil de identificar.

Seguindo a tendência de seus parentes franceses, o novo Citroën tem ampla área de para-brisa, que proporciona uma sensação cênica agradável, mas expõe mais o motorista e o passageiro à luz solar. Apesar de contar com para-sóis maiores e mais articulados que os convencionais, sob o sol forte chega a incomodar. Olhando mais de perto, percebe-se um cuidado apurado no acabamento. No entanto, as portas traseiras têm um formato estranho: pode até facilitar a entrada do passageiro, mas para sair se torna necessário se apoiar na caixa da roda traseira. Curioso é que seu vidro é fixo, uma opção estética segundo o fabricante.

 

 
Os faróis (de xenônio e autodirecionais) e as lanternas têm formas interessantes;
as maçanetas das portas traseiras vêm disfarçadas para ele parecer um três-portas

 

No interior bem cuidado, os bancos têm revestimento em couro muito suave ao toque e os dianteiros contam com massagem na região lombar, obtida inflando e desinflando as bolsas de ar que apoiam tal região do corpo. O tom é preto nos carros em cinza ou preto, vermelho com preto nos modelos de cor vermelha e preto com branco para os veículos brancos. O motorista é posicionado em um banco envolvente, com regulagens manuais, e segura um volante com base achatada que facilita a entrada, mas de dimensões um pouco exageradas. Como já habitual em Citroëns, há vários comandos no volante, mas faltou o acionamento manual do câmbio por meio de borboletas.

Ainda no interior, interessante a solução de formar uma espécie de onda sobre o painel como forma de evitar o reflexo no para-brisa. Painel que adota soluções curiosas, como alteração na cor do fundo — em cinco variações de tom entre branco e azul — e até no som do aviso das luzes de direção, mas o velocímetro e o conta-giros têm leitura difícil. Informações do computador de bordo, hodômetros e da marcha em uso aparecem dentro dos mostradores. Na área central do painel, a tela de 7 pol atende aos sistemas de áudio e navegação.

Próxima parte

 

 

 
O interior transmite luxo e vem recheado de conveniências, do navegador
aos
 bancos com massagem; volante acumula numerosos comandos

 

O banco traseiro comporta adultos com relativo conforto, com cinto de três pontos para todos e apoio de braço central, mas não há difusor de ar-condicionado para esses passageiros (no “primo pobre”, o C4 nacional, havia até ventilador específico para o banco traseiro). Com sistema de rebatimento 60:40 no banco, a capacidade do porta-malas de 359 litros está na média da categoria. O estepe é de aço com roda de 16 pol.

 

Quando o acelerador encosta no fim do curso, o motor sobe rápido de giro e o corpo cola no banco — a Citroën divulga aceleração de 0 a 100 km/h em 8,6 segundos

 

Ao volante

O DS4 deriva da plataforma do C4 europeu de nova geração, lançado em 2010 e ainda não disponível no Brasil, e mantém as suspensões simples com eixo de torção na traseira — simples demais para um carro de seu preço, aliás — e a direção com assistência eletro-hidráulica, hoje em desuso em favor da elétrica. O conhecido motor THP fornece potência algo modesta para suas pretensões (165 cv; há versão de 200 cv na Europa), bem compensada pelo expressivo torque máximo de 24,5 m.kgf disponível desde rotação bem baixa, 1.400 rpm.

A avaliação pela imprensa foi realizada em uma terça-feira bastante congestionada em São Paulo. Nessas condições, o câmbio automático é uma benção, assim como o eficaz isolamento acústico e o ótimo tratamento na redução das vibrações. Com o generoso torque em baixa, rodar na cidade fica muito fácil, bastando um toque no acelerador para o DS4 se deslocar com agilidade. A festa mesmo começa quando a estrada fica mais vazia e podemos colocar em xeque o motor turbo, desenvolvido em conjunto entre a PSA Peugeot Citroën e a BMW.

 

 
Há cinco opções de iluminação para os instrumentos, que não têm leitura ideal;
pneus 225/45 em rodas de 18 pol garantem boa aderência ao hatch nas curvas

 

Quando o acelerador encosta no fim do curso, o motor sobe rápido de giro e o corpo cola no banco — a Citroën divulga aceleração de 0 a 100 km/h em 8,6 segundos e velocidade máxima de 212 km/h, boas marcas para um hatch pesado, de 1.363 kg. A 120 km/h em sexta o conta-giros marca o baixo regime de 2.500 rpm, mas as retomadas de velocidade são ágeis mesmo sem recorrer a rotações muito altas. Com a alavanca na posição manual, ao se atingir a rotação máxima (6.000 rpm) a iluminação das barras do conta-giros muda de cor e a marcha troca para cima por si mesma. No C4, esse efeito visual ficava restrito aos carros com câmbio manual.

 

 

Com 1,53 m de altura, o DS4 tem uma aparência mais “musculosa” que a habitual nos hatches e um vão livre do solo (não declarado) maior que o do novo C4. Vendo-o parado, a expectativa era de um carro versátil, mas com dúvidas quanto à estabilidade pelo centro de massa elevado. Contudo, a calibração da suspensão e os pneus de 18 pol com perfil baixo, 225/45, mostraram-se acertados. Os movimentos da carroceria são contidos e as “patas” o grudam ao solo, transmitindo boa dose de confiança.

O alvo da Citroën com o mais novo DS são justamente os alemães, como BMW 118i (com motor similar e preço de R$ 107 mil), Mercedes-Benz B 200 (também 1,6 turbo, com 156 cv, por R$ 115,9 mil) e o Audi A3 Sportback de nova geração (1,8 turbo de 180 cv), ainda a ser lançado no Brasil. É certo que o modelo francês exibe luxo e um farto pacote de equipamentos, mas o preço de alemão pode ser um grande obstáculo para uma marca que não desfruta o mesmo prestígio daquelas.

 

 
O revestimento acompanha algumas das cores externas; o ar-condicionado tem
duas zonas de ajuste; o para-brisa maior pode ser reduzido com os para-sóis

 

Ficha técnica

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas duplo no cabeçote
Válvulas por cilindro 4, variação de tempo
Diâmetro e curso 77 x 85,8 mm
Cilindrada 1.598 cm³
Taxa de compressão 10,5:1
Alimentação injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar
Potência máxima 165 cv a 6.000 rpm
Torque máximo 24,5 m.kgf a 1.400 rpm
Transmissão
Tipo de câmbio e marchas automático / 6
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a disco
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência eletro-hidráulica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira eixo de torção, mola helicoidal
Rodas
Dimensões 18 pol
Pneus 225/45 R 18
Dimensões
Comprimento 4,275 m
Largura 1,81 m
Altura 1,533 m
Entre-eixos 2,612 m
Capacidades e peso
Tanque de combustível 60 l
Compartimento de bagagem 359 l
Peso em ordem de marcha 1.363 kg
Desempenho
Velocidade máxima 212 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 8,6 s
Dados do fabricante; consumo não disponível

 

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