Apesar da diferença de idade (o Fiesta saiu cinco anos antes na Europa), são projetos atuais e que agradam; ambos já tiveram a frente reestilizada
Concepção e estilo
Fiesta é um nome longevo na Ford, que começou a produzi-lo há 40 anos e aplicou-lhe grandes transformações até chegar à atual sexta geração em 2007. No Brasil ele estreou em 1995 mediante importação da terceira geração, tornou-se nacional no ano seguinte (já na quarta) e passou em 2011 ao último modelo do hatch, que em dois anos ganhava fabricação em São Bernardo do Campo, SP. Recente, o HB20 surgiu em 2012 de desenvolvimento focado no mercado brasileiro e foi reestilizado no ano passado.
Os dois modelos estão entre os mais atraentes do segmento, embora com escolas diversas de estilo. O Hyundai abusa de vincos e arestas, tendência da marca em períodos passados que foi atenuada na reestilização. O Ford é mais suave, mas também comete seus excessos, como na frente um tanto “bicuda” adotada em 2013 para alojar nova grade. Digno de nota é como ele não parece envelhecido, nove anos após a apresentação europeia — sinal de bom resultado do desenho. Os dois seguem princípios atuais como a linha de cintura bastante ascendente rumo à traseira.
Há empate técnico no coeficiente aerodinâmico (Cx), divulgado, 0,33 no Hyundai e 0,332 no Ford, valores adequados para o porte dos carros. Os vãos de carroceria de ambos são adequados em largura e uniformidade, salvo pela junção do capô com as colunas dianteiras no Fiesta.
Linha de cintura que sobe rumo à traseira é recurso de estilo empregado nos dois; o HB20 foi desenhado com foco no mercado nacional
Conforto e conveniência
Sem ser luxuoso, o interior do HB20 agrada mais à primeira vista pelo aspecto dos plásticos, que no Fiesta são um tanto simples e usam cobertura do painel em textura diferente da parte inferior e dos painéis de porta, o que soa improvisado. A vantagem acentua-se com o revestimento em couro marrom (opcional) do Premium, que traz ar sofisticado e diferente ao interior e foge à mesmice do tom preto do Titanium, mas deveria se estender aos painéis de porta traseiros (só cobre os dianteiros) e à tampa do porta-luvas, que nas formas segue as portas.
Muito superior no HB20 é o sistema de áudio com tela tátil de 7 pol e espelhamento do telefone: o Fiesta precisa receber com urgência o Sync 3
Encontra-se boa posição para dirigir em ambos, com ajustes de altura do banco e altura e distância do volante e pedais bem posicionados, mas há restrições: o assento do Fiesta apoia mal as pernas e o encosto do HB20 parece uma tábua de tão duro. Os volantes — de três raios no Ford e quatro no oponente — são bem desenhados e há apoio adequado ao pé esquerdo. Os quadros de instrumentos simples e funcionais incluem computador de bordo (com uma só medição) e termômetro do motor.
Muito superior no HB20 é a interface do sistema de áudio Blue Media (opcional no Premium) com tela sensível ao toque de sete polegadas, que facilita o uso das funções, e espelhamento de tela do telefone celular pelos sistemas Car Play da Apple e Car Link, compatível com alguns aparelhos LG e Samsung. Por meio dela comandam-se funções do telefone e usam-se aplicativos como de música e navegação. O Fiesta precisa receber com urgência o sistema Sync 3 que acaba de chegar ao Focus: sua versão antiga tem operação complicada por botões (navegar pelas pastas de um pendrive impõe infindáveis menus), a tela monocromática de 4,2 pol está ultrapassada e a única ligação ao celular é a interface Bluetooth. Conexões USB e auxiliar constam dos dois.
Interior do Ford traz mais itens de conveniência, mas perde em acabamento e sistema de áudio; espaço traseiro deixa a desejar, sobretudo para pernas
Recursos em comum passam por alerta geral para porta mal fechada, ar-condicionado e faróis com controle automático, aviso para atar cinto, controle elétrico de vidros com função um-toque para todos e comando a distância para abrir e fechar, luzes de leitura dianteiras (atrás, apenas luz geral), mostrador de temperatura externa, sensores de estacionamento na traseira (com mostrador gráfico no Ford) e volante revestido em couro. O espaço para pequenos objetos é razoável nos dois.
Vantagens do Fiesta em detalhes são alarme antifurto volumétrico (proteção com ultrassom), assistente para saída em rampa, chave presencial para acesso e partida do motor, controlador de velocidade, limpador de para-brisa automático, retrovisor interno fotocrômico e tampa do tanque destravada junto às portas (mais prático que acionar alavanca como no rival). O HB20, em contrapartida, é o único a ter alças de teto (três), bolsa para revistas em ambos os encostos dianteiros (no rival, só na direita), cinzeiro, iluminação nos espelhos dos para-sóis, porta-objetos com tampa para conexões de áudio (no oponente os dispositivos ficam à vista), porta-óculos no teto e rebatimento elétrico dos retrovisores externos.
Merecem atenção dos fabricantes: no Fiesta é difícil usar os difusores de ar centrais sem receber ar gelado no rosto, o ajuste de reclinação do encosto fica apertado junto à coluna central e os comandos de luzes escondem-se atrás do volante; no HB20, a seção da quinta porta vista só quando aberta recebe pintura em cor diferente e a iluminação dos mostradores digitais fica insuficiente com faróis acesos de dia. Em ambos falta faixa degradê no para-brisa.
Plásticos mais refinados, couro marrom e tela central de 7 pol diferenciam o Hyundai; bancos dianteiros com encosto duro incomodam, mas espaço é superior
Se conforto no banco traseiro for prioridade, melhor esquecer os dois carros. O HB20 oferece espaço mais razoável para as pernas (ponto crítico do Fiesta), mas o assento baixo deixa as coxas sem apoio e logo cansa, além de acentuar o incômodo da base alta das janelas quanto à visibilidade de crianças. Nem assim ele dispõe de boa altura útil, sendo mais limitado nesse quesito que o Ford. Estreitos, ambos limitam o uso com três pessoas atrás a trajetos breves. Na frente, porém, acomodam bem.
O Hyundai é pouco melhor em capacidade de bagagem, 300 contra 281 litros. Ambos trazem banco traseiro bipartido 60:40 apenas no encosto e uma solução de estepe que julgamos das piores, com roda de 14 polegadas: continua limitado no uso e não serve para reposição definitiva de pneu.
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