Ford Focus vs. Peugeot 308: médios bons para acelerar

Por que brigar com o acelerador de um utilitário esporte, se há hatches potentes e bem-equipados pelo mesmo preço?

Texto e fotos: Fabrício Samahá

 

Os hatchbacks médios, é preciso admitir, andam em baixa no mercado brasileiro. Se os sedãs preservam seu espaço entre compradores mais interessados em espaço, conforto e sobriedade, os modelos de cinco portas e tamanho intermediário já não encontram tantos adeptos — grande parte de seu público, aparentemente, migrou para os utilitários esporte compactos.

Os números não mentem: nos sete primeiros meses do ano, os hatches médios mais vendidos (Volkswagen Golf e Ford Focus) tiveram cerca de 4 mil unidades licenciadas cada um, enquanto Honda HR-V e Jeep Renegade têm disputado a liderança de sua classe com mais de 30 mil exemplares no mesmo período. No entanto, uma parcela de compradores não abre mão das vantagens de um hatch sobre um utilitário esporte, em particular a esportividade do comportamento dinâmico. Foi para esses que comparamos o citado Focus ao Peugeot 308, ambos reestilizados e com outras evoluções na linha 2016.

 

 

Ford Focus SE Plus Peugeot 308 THP
4,36 m 4,29 m
2,0 litros 1,6 litro, turbo
175/178 cv 166/173 cv
R$ 86.890 R$ 86.490
Preços públicos sugeridos para os carros avaliados, com possíveis opcionais

 

O Golf, que teria presença natural no confronto, ficou de fora por um fator: preço. Considerando-se que o 308 tem seu topo na versão Griffe THP com motor turbo de 1,6 litro (potência de 166 cv com gasolina e 173 com álcool) e transmissão automática, que custa R$ 86,5 mil, o Focus foi escolhido na opção SE Plus de 2,0 litros e 175/178 cv com caixa automatizada de dupla embreagem, que sai por R$ 86,9 mil (a Titanium de mesmo motor vai a R$ 95,3 mil). Para ter o VW em faixa semelhante seria preciso optar pela versão Comfortline de 1,6 litro e 110/120 cv (que parte de R$ 83,5 mil), muito inferior aos concorrentes em potência. O Golf mais coerente em termos de motor, o Highline turbo de 1,4 litro e 150 cv, começa em R$ 101 mil, sempre com caixa automática.

 

 

Focus e 308, por outro lado, competem diretamente em nossos quatro “Ps”. Têm a mesma proposta de uso: hatches médios de muito bom desempenho, recheados de equipamentos e bastante aptos ao uso urbano e em viagens. Estão no mesmo segmento em porte, com mais 7 cm em comprimento e 4 cm na distância entre eixos para o Focus. Em potência, como vimos, a vantagem do Ford é de 9 cv com gasolina e apenas 5 cv com álcool, ambos com injeção direta em motores flexíveis, só o Peugeot dotado de turbocompressor. E os preços, vistos acima, são bastante próximos.

Nenhum deles oferece opcionais: quem quiser algo mais no Focus tem à disposição as versões Titanium e Titanium Plus (há ainda a SE de 1,6 litro), enquanto o 308 tem apenas alternativas mais acessíveis com motores aspirados de 1,6 e 2,0 litros.

Próxima parte

 

 

Frente remodelada e retoques na traseira marcaram a linha 2016 dos dois modelos, mas o Focus (em cima) está certamente mais atualizado no conjunto

 

Concepção e estilo

Os dois modelos são projetos europeus que ganharam produção na Argentina, mas estão em fases diferentes de seu ciclo de fabricação. O Focus surgiu na Europa em 1998 e chegou em 2011 a esta terceira geração, que dois anos mais tarde veio ser feita na América do Sul. A remodelação apresentada no Velho Continente em 2014 apareceu por aqui no ano passado.

Por sua vez, o 308 sucedeu ao 307 em 2007 na França, mas demorou cinco anos para ser naturalizado argentino — tempo suficiente para vir já reestilizado na frente, que abandonou o “nariz” protuberante do modelo inicial. Se os europeus já em 2013 ganharam uma nova geração, com direito a plataforma mais leve e moderna, por aqui a antiga recebeu uma sobrevida com a alteração frontal da linha 2016, exclusiva do sul-americano.

Essa diferença histórica fica aparente no estilo de cada um. A reforma aplicada ao Focus foi bem mais coerente com o desenho original, com destaque para a frente mais harmoniosa, embora alguns lamentem a excessiva semelhança com outros modelos da marca — o anterior tinha identidade própria, mesmo que discutível na tomada de ar em três partes. O 308, ainda que não esteja de todo ultrapassado no conjunto (mérito do desenho original), ficou um tanto controverso com a adaptação do novo padrão de grade dianteira da empresa.

 

Painel atual e bancos mais confortáveis no Focus, mas menos espaço; sistema de áudio com pequena tela e sem navegador do SE é muito limitado

 

O coeficiente aerodinâmico (Cx) declarado do atual Focus é 0,287, muito bom para a categoria. A Peugeot não informou o índice após a reestilização frontal, mas até então era ainda melhor, 0,28. Os vãos de carroceria mostram-se regulares e de tamanho adequado nos dois, parecendo ter desaparecido o problema de folgas irregulares do começo da produção do atual Ford, em 2013.

 

Conforto e conveniência

Se por fora o Focus se mostra mais atual, por dentro o contraste é ainda maior entre seu painel de formas arrojadas e o do 308, mais conservador. Ambos foram revistos apenas em algumas seções na linha 2016, como a tela central do Peugeot e o console do Ford. Nestas versões eles trazem revestimento em couro para bancos e volante, mas o THP agrada mais na qualidade de alguns plásticos, como os das portas.

 

Com novo sistema de entretenimento, o Peugeot ampliou sua vantagem nessa área: tela de 7 pol, disco interno de 16 GB, espelhamento de celular

 

Os dois carros são bons exemplos de posição de motorista bem definida quanto a banco (incluindo apoio lateral), volante e as posições relativas entre esses componentes e os pedais, além de repouso ideal para o pé esquerdo. A favor do Focus estão a espuma mais suave dos bancos (muito duros no 308) e o ajuste de apoio lombar, mas o assento poderia apoiar melhor as coxas. A reclinação do encosto é liberada por alavanca nos dois. Seus painéis trazem os instrumentos usuais, com boa leitura e iluminação em branco, e incluem computador de bordo, que no 308 opera com duas medições. Há nele certo excesso de decoração nos mostradores.

Com a adoção de novo sistema de entretenimento e navegação na linha 2016, o Peugeot ampliou sua vantagem nessa área: ampla tela de sete polegadas (ante 4,2 pol do Focus SE) sensível ao toque, disco interno de 16 GB, conexão Mirror Link para espelhamento de tela de celular e navegador. A inserção de endereços para navegar ficou bem mais fácil, pois no sistema antigo dependia de comando giratório, letra por letra.

 

Poucas mudanças internas no 308, que ganha em espaço, mas perde pelos bancos; apesar da tela baixa, novo sistema de áudio e navegação é melhor

 

Em contrapartida, a nova tela é bem mais baixa (antes ficava no topo do painel, melhor para visualização ao dirigir) e o uso de algumas funções não é nada intuitivo, como pausar e desligar o som. Em qualidade de áudio eles se equivalem (boa, mas não expressiva), assim como pela oferta de conexões (USB, sendo duas no Focus, mais auxiliar e Bluetooth) e pelos comandos no volante ou junto a ele. Só no Ford há o tradicional toca-CDs.

 

 

Ambos vêm bem equipados nestas versões, com itens como alarme volumétrico (proteção com ultrassom), alças de teto com retorno suave, alerta para uso de cinto, ar-condicionado automático de duas zonas de ajuste, aviso específico de qual porta está mal fechada, comando de fechamento de vidros a distância, controlador e limitador de velocidade, controles elétricos de vidros com função um-toque para todos e temporizador, faróis e limpador de para-brisa com acionamento automático, mostrador de temperatura externa, para-sóis com espelhos iluminados, retrovisor interno fotocrômico e sensores de estacionamento na traseira com indicação gráfica.

O Focus agrada pelos vidros que podem ser abertos a distância (ideal para aliviar o calor interno antes de entrar), monitor de pressão dos pneus, comando por voz para sistema de áudio e telefone, programação My Key (para emprestar o carro a motorista jovem ou manobrista, limitando velocidade e volume de áudio, entre outras funções), duas tomadas de 12 volts no console (uma no porta-objetos fechado) e mais espaço para objetos do dia a dia.

Próxima parte

Focus tem porta-malas para 316 litros e bons instrumentos; como no rival, vidros um-toque, ar-condicionado de duas zonas, retrovisor fotocrômico e limitador/controlador de velocidade

 

Favorecem o 308 a câmera traseira para manobras, amplo teto envidraçado (há comando elétrico para o forro, que veda o sol de forma apropriada, ao contrário do usado pelo 2008), sensores de estacionamento também na frente, porta-luvas refrigerado, apoios centrais de braço separados na frente e um atrás (este ausente do rival), quatro focos de luz para leitura (no concorrente, apenas luzes gerais dianteira e traseira), recolhimento elétrico dos retrovisores, maçanetas internas cromadas (para fácil localização à noite) e, a nosso ver, o comutador de fachos de faróis que apenas se puxa contra o volante (embora o do Focus também seja bom: facho alto empurrando, baixo puxando ou empurrando).

 

O interior do 308 oferece mais espaço na frente e para as cabeças de quem viaja no banco traseiro; sua capacidade de bagagem é pouco maior

 

Os fabricantes reviram algumas deficiências dos modelos até 2015. O Ford ganhou melhor posição para a tomada de 12 volts (ficava distante do para-brisa para uso de navegador portátil ou celular) e desenho mais agradável na alavanca de freio de estacionamento. O Peugeot, além da questão citada do navegador, teve revista a iluminação excessiva dos instrumentos — por outro lado, perdeu o difusor de ar para o banco traseiro.

Os dois ainda podem ter detalhes aprimorados. No Focus estranham-se as barras tortas que sustentam os encostos de cabeça e há alguns itens de acabamento inadequados, caso do forro de teto flexível em certas regiões e dos parafusos bem à mostra na base dos bancos dianteiros. No 308 a ventilação emite ar quente mesmo com temperatura externa na faixa de 20°C, o que leva ao uso de ar-condicionado quando não se precisaria, e a tampa do tanque de combustível ainda requer uso da chave. Nos dois falta faixa degradê no para-brisa.

 

Porta-malas de 348 litros e grafia exagerada nos mostradores do 308; teto envidraçado, câmera traseira e ampla tela para áudio, telefone e navegador são vantagens

 

O interior do 308 oferece mais espaço na frente e para as cabeças de quem viaja no banco traseiro, onde as acomodações de pernas e ombros são algo limitadas como no Focus. Vantagem deste é a posição central do banco mais confortável, sem o encosto bem duro do adversário, embora nenhum seja adequado para levar três adultos atrás.

Em capacidade de bagagem há sutil vantagem para o Peugeot, 348 litros ante apenas 316 do Ford, que fica entre os piores da classe nesse quesito. Observe que a marca francesa divulga 430 l no Brasil, mas pela medição com líquido: o método VDA, com blocos, permite 348 l como divulgado na Argentina. Os dois contam com banco traseiro bipartido 60:40 (assento incluído). O estepe do Focus é temporário, bem estreito, enquanto o 308 usa pneu de 16 pol, diferente dos demais de 17: impõe menos restrições durante o uso, mas continua limitado a emergências.

Próxima parte

 

 

Equipamentos de série e opcionais

Focus 308
Ajuste de altura dos bancos mot./pas. S/ND S/ND
Ajuste de apoio lombar mot./pas. S/ND ND
Ajuste do volante em altura/distância S/S S/S
Ajuste elétrico dos bancos mot./pas. ND ND
Ajuste elétrico dos retrovisores S S
Alarme antifurto/controle a distância S/S S/S
Aquecimento S S
Ar-condicionado/controle automático/zonas S/S/2 S/S/2
Bancos/volante revestidos em couro S/S S/S
Bolsas infláveis frontais/laterais/cortinas S/S/ND S/S/S
Caixa automática/automatizada ND/S S/ND
Câmera traseira para manobras ND S
Cintos de três pontos, todos os ocupantes S S
Computador de bordo S S
Conta-giros S S
Controlador/limitador de velocidade S/S S/S
Controle de tração/estabilidade S/S S/S
Controle elétrico dos vidros diant./tras. S/S S/S
Controles de áudio no volante S S
Direção assistida S S
Encosto de cabeça, todos os ocupantes S S
Faróis com lâmpadas de xenônio ND ND
Faróis de neblina S S
Faróis/limpador de para-brisa automático S/S S/S
Freios antitravamento (ABS) S S
Interface Bluetooth para telefone celular S S
Limpador/lavador do vidro traseiro S/S S/S
Luz traseira de neblina S S
Navegador por GPS ND S
Rádio com toca-CDs/MP3 S/S ND/S
Repetidores laterais das luzes de direção S S
Retrovisor interno fotocrômico S S
Rodas de alumínio S S
Sensores de estacionamento diant./tras. ND/S S/S
Teto solar/comando elétrico ND S/S*
Travamento central das portas S S
Convenções: S = de série; O = opcional; ND = não disponível; *teto envidraçado fixo com controle elétrico do forro

Próxima parte

Motor turbo e mais torque em baixa rotação são decisivos para o melhor desempenho do 308 (embaixo), embora o Focus também ande muito bem

 

Mecânica, comportamento e segurança

Ambos os motores são de concepção atual e usam injeção direta de combustível para maior eficiência. O do 308 adota turbocompressor de duplo fluxo, o que lhe permite potência próxima à do Focus aspirado (166 cv com gasolina e 173 com álcool ante 175 e 178 cv) e torque superior em regime bem mais baixo (24,5 m.kgf a 1.400 rpm com qualquer dos combustíveis, contra 21,5/22,5 m.kgf a 4.500 rpm do oponente), apesar da cilindrada menor em 400 cm³.

Essa distinção fica clara ao volante de cada um: com pesos bem próximos (o Focus tem 17 kg a menos), o Peugeot mostra maior agilidade na maioria das situações, sobretudo em menores rotações. Seu motor é também mais suave em altos regimes, nos quais surge alguma aspereza no Ford, sendo ambos silenciosos — não espere um ronco esportivo desses modelos. O desempenho de ambos satisfaz para sua proposta, como indicaram nossas medições, com aceleração de 0 a 100 km/h em 8,9 segundos no 308 e 9,4 s no Focus e boas retomadas. Em consumo eles são equivalentes (veja números e análise na próxima página).

 

Caixas diferentes em princípio, mas ambas suaves e bem calibradas; o Focus (à esquerda) ganhou comandos de trocas manuais no volante, e o 308, o modo Eco

 

Diferenças aparecem também na transmissão: o 308 usa automática, e o Focus, automatizada de dupla embreagem, ambas de seis marchas. A Ford fez sua calibração no foco no conforto e na suavidade, com mudanças não tão imediatas quanto as do DSG da Volkswagen, o que deixa os dois hatches semelhantes para o motorista. No Peugeot, que tem a seu favor a multiplicação de torque promovida pelo conversor (para mais agilidade nas saídas rápidas), ficou clara a recalibração para 2016.

 

Superior em técnica, a suspensão do Focus agrada mais pelo equilíbrio irrepreensível entre comportamento dinâmico e conforto de marcha

 

A caixa está mais favorável à economia, mantendo o motor em baixas rotações, sem o excesso de giros notado nos anteriores. Essa característica chega a exagero quando acionado o modo Eco, não disponível até então: nota-se com frequência o motor pouco acima de 1.000 rpm em marchas altas. Nos dois carros existe também um programa esportivo, que trabalha o motor com giros mais altos para trazer agilidade e freio-motor nos declives.

Operação manual é possível em ambos, com a boa solução de comandos junto ao volante no Ford (novidade do modelo 2016; antes havia só um botão na alavanca) e canal próprio na alavanca no Peugeot. Em modo manual eles passam à próxima marcha no limite de giros do motor, mas a atuação ao abrir o acelerador varia: o 308 reduz marcha apenas se o pedal for levado ao fundo, enquanto no Focus uma pisada rápida, mesmo que parcial, invoca redução. Não gostamos desse arranjo, que muitas vezes reduz quando se queria apenas uma retomada com acelerador mais aberto.

 

A Peugeot mexeu de novo na suspensão em busca de maior conforto, que foi conseguido, mas o melhor acerto ainda é do Ford (em cima)

 

Superior do ponto de vista técnico pelo emprego do conceito multibraço na traseira, a suspensão do Focus agrada mais também pela calibração. Mestre no assunto, a fábrica obteve um equilíbrio irrepreensível entre comportamento dinâmico — respostas ágeis, grande aderência, pouco subesterço, leve sobresterço quando provocado pelo corte do acelerador — e conforto de marcha, com rodar suave e muito boa absorção de irregularidades.

 

 

O 308 passou na linha 2016 pela segunda revisão desde o lançamento: em 2014 havia recebido novas buchas, que eliminaram a transmissão “seca” de certos impactos (como ao passar por linhas férreas), e agora traz nova calibração dos amortecedores. O resultado foi bom, deixando-o mais confortável na maioria das situações, mas ainda se tem nele a clara sensação de pneus de perfil baixo, ao contrário do oponente, mesmo que a altura de flancos seja muito próxima (101 mm no Peugeot, 107 mm no Ford). Por outro lado, em estabilidade é tão bom quanto o adversário e também tem controle eletrônico.

O uso de assistência elétrica pela direção do Focus facilitou ao fabricante chegar ao acerto ideal, com pouco esforço em manobras e peso adequado em alta velocidade. O 308 equivale-se no segundo quesito, mas não no primeiro: o volante é mais pesado do que se tem visto em vários carros de projeto recente. Mais que isso, incomoda a transmissão de impactos em curvas, mesmo em ondulações sutis do asfalto, algo conhecido nessa plataforma. Quanto a freios os dois estão bem servidos, com discos nas quatro rodas e distribuição eletrônica entre os eixos (EBD), a que o Peugeot acrescenta assistência adicional em emergência.

 

Faróis equivalem-se e os dois têm unidades de neblina e repetidores de direção

 

Ambos os modelos trazem bons faróis com duplo refletor de superfície complexa (apenas o Focus Titanium com lâmpadas de xenônio usa o tipo elipsoidal), unidades de neblina à frente e atrás e repetidores laterais das luzes de direção. Lamenta-se que a Ford tenha retirado o ajuste elétrico do facho dos faróis, também ausente do adversário. Duas vantagens para o Focus em visibilidade são as colunas dianteiras, que obstruem menos o campo visual que as do 308, e os excelentes retrovisores biconvexos (são convexos no rival). Para trás, ambos impõem limitações pelo formato da carroceria.

Bolsas infláveis laterais nos bancos dianteiros equipam os dois carros, mas só o Peugeot traz também cortinas que protegem a cabeça dos ocupantes à frente e atrás, item que a Ford reserva à versão Titanium. Ambos têm encostos de cabeça e cintos de três pontos para todos os passageiros e ancoragem Isofix para cadeiras infantis.

Próxima parte

 

O 308 (à direita) foi mais rápido em aceleração e parte das retomadas; os índices de consumo fazem esperar certo equilíbrio ao concorrente

 

Desempenho e consumo

Não foi possível testá-los com o mesmo combustível, como seria ideal, pois recebemos o Focus com gasolina e o 308 com álcool e não haveria tempo hábil para esgotar o tanque antes das medições. Assim, a vantagem do Ford em potência (9 cv com gasolina, 5 cv com álcool) acabou reduzida a 2 cv, com o Peugeot claramente superior em torque, tanto pelo valor máximo quanto por sua oferta que começa 3.100 rpm mais cedo. Com pesos bem próximos, o Focus tem uma transmissão mais eficiente, mas não conta com conversor de torque para obter sua multiplicação nas saídas.

Diante dessas diferenças, como eles se saíram na pista de testes?

O 308 ficou à frente em todas as acelerações e na maior parte das retomadas, mas sempre por pequena margem. De 0 a 100 km/h ele levou 8,9 segundos, ante 9,4 s do Focus, e de 80 a 120 km/h precisou de 7,8 s contra 8,7 s do adversário (que foi mais rápido, porém, de 60 a 120). Beneficiaria o Ford se as mudanças automáticas de marcha fossem em rotação mais alta: ocorrem a 6.500 rpm, ponto de potência máxima, sendo recomendável passar desse ponto em pelo menos 5% para reduzir a perda de desempenho após a troca. O Peugeot vai a 6.200 rpm, uma sobra de 200 rpm.

Para entender a vantagem do 308 é preciso considerar que motores aspirados perdem potência com a altitude pela menor pressão atmosférica. No caso de nossa pista, 600 metros acima do nível do mar, o Focus estaria com cerca de 9% a menos ou perto de 159 cv: uma diferença de 24 cv para o rival com álcool, que não sofre o mesmo efeito por ser turboalimentado.

A velocidade máxima informada pelo fabricante é mais alta no Peugeot: 215 km/h ante 206 do Ford. O primeiro revela cálculo exato de transmissão para atingi-la em quinta marcha, apenas 100 rpm abaixo do pico de potência, ao passo que o segundo fica quase 1.000 rpm abaixo do pico. Nos dois casos a sexta é sobremarcha, pouco mais longa no 308.

Como os carros usavam combustíveis diferentes, os índices de consumo não podem ser diretamente comparados. Contudo, simulamos os resultados do Focus com álcool pela aplicação, aos obtidos com gasolina, da proporção verificada nos dados oficiais (veja na tabela mais abaixo): 69% para consumo em cidade e 71% para rodovia. Assim, ele ficaria com 8,4 km/l no trajeto urbano leve, 4,5 km/l no urbano exigente e 9,7 km/l no rodoviário: um pouco mais econômico que o 308 em rodovia, algo menos na cidade. Pelo mesmo critério o Ford teria 477 km de autonomia rodoviária, quase um empate com os 486 do rival.

 

  Focus 308
Aceleração
0 a 100 km/h 9,4 s 8,9 s
0 a 120 km/h 12,8 s 12,2 s
0 a 400 m 17,1 s 16,6 s
Retomada
60 a 100 km/h* 7,8 s 7,5 s
60 a 120 km/h* 11,0 s 11,3 s
80 a 120 km/h* 8,7 s 7,8 s
Consumo
Trajeto leve em cidade 12,2 km/l (g) 8,8 km/l (a)
Trajeto exigente em cidade 6,6 km/l (g) 4,6 km/l (a)
Trajeto em rodovia 13,6 km/l (g) 9,0 km/l (a)
Autonomia
Trajeto leve em cidade 604 km (g) 475 km (a)
Trajeto exigente em cidade 327 km (g) 248 km (a)
Trajeto em rodovia 673 km (g) 486 km (a)
Testes efetuados com gasolina (Focus) e álcool (308); *com reduções automáticas; melhores resultados em negrito; conheça nossos métodos de medição

 

 

Dados dos fabricantes

Focus 308
Velocidade máxima 206 km/h 215 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 9,2 s 8,3/8,1 s
Consumo em cidade 9,7/6,7 km/l ND
Consumo em rodovia 13,0/9,2 km/l ND
Dados do fabricante para gasolina/álcool; consumo conforme padrões do Inmetro

 

Motor aspirado ou turbo, caixa de dupla embreagem ou automática, suspensão multibraço ou eixo de torção: várias diferenças entre as soluções mecânicas

 

Comentário técnico

• O motor do Focus pertence à família Duratec, sendo uma evolução daquele que equipa o modelo desde 2005, ainda na primeira geração. Para esta terceira, recebeu injeção direta de combustível para operar com taxa de compressão mais alta (12:1), o que resultou em ganhos expressivos em potência e torque. No 308 vem a unidade Prince, desenvolvida em cooperação entre a PSA Peugeot Citroën e o grupo BMW, que já deixou de usá-lo na maioria dos modelos. A versão flexível, que os alemães não chegaram a oferecer, teve a taxa reduzida (de 10,5:1 para 10,2:1) em relação à movida a gasolina.

• Além da injeção, ambos têm características modernas como bloco de alumínio e variação de tempo de abertura das válvulas e usam corrente para sincronizar o comando ao virabrequim. A partida a frio com álcool é obtida pela alta pressão de injeção, o que dispensa sistemas de preaquecimento e de injeção suplementar de gasolina. A relação r/l é muito boa no Ford (0,284) e nem tanto no Peugeot (0,310).

• A transmissão de dupla embreagem do Focus tem a peculiaridade de usar duas relações de diferencial: uma para terceira e quarta marchas, outra (mais longa) para as demais. É por isso que a relação de quarta fica numericamente tão próxima à da quinta, como se vê na ficha técnica. Feitos os cálculos de velocidade por 1.000 rpm, tudo se arruma e o intervalo entre elas cai dentro do habitual. No modelo 2016 a caixa do 308 teve as relações alongadas em 11% e passou a tracionar menos na condição de marcha-lenta para menores vibrações e consumo.

• A suspensão traseira multibraço do Ford é mais moderna e sofisticada. Além da completa independência entre as rodas, permite que os engenheiros planejem melhor a posição das rodas em diferentes condições, como carro vazio ou carregado, sob aceleração ou desaceleração. Vantagem do eixo de torção do 308 — um arranjo simples, similar ao dos carros mais baratos do mercado — é dispensar correção de alinhamento por toda sua vida útil.

Próxima parte

 

Por valores muito próximos, o 308 (à direita) traz mais conteúdos, como cortinas infláveis, teto envidraçado, navegador e câmera traseira

 

Preços

Focus 308
Sem opcionais 86.890 86.490
Como avaliado 86.890 86.490
Completo 88.190 87.780
Preços públicos sugeridos, em reais, vigentes em 9/8/16; menores preços em destaque; consulte os sites: Focus e 308

 

Custo-benefício

Poucos concorrentes no mercado ficam tão próximos em preço quanto esses: apenas R$ 400 separam os valores básicos, que só se alteram pela escolha de pintura metálica ou perolizada (não há outros opcionais). O 308, porém, sai à frente com itens de série como cortinas infláveis, câmera traseira, sistema de áudio com ampla tela, navegador e teto envidraçado, que o Focus só oferece na versão de topo Titanium (no caso, teto solar móvel). Para o Ford ficam poucas vantagens, como comando de marchas no volante e apoio lombar ajustável.

Assim, a relação entre equipamentos e preço favorece o Peugeot e não esperávamos que fosse diferente, tanto por ser o Griffe THP a versão de topo do modelo (ao contrário do SE na linha Focus) quanto pelo fato de que acrescentar conteúdos é uma estratégia habitual na indústria para manter competitivo um modelo mais antigo.

 

Melhor acerto de suspensão no Focus (à esquerda), mais espaço e desempenho no 308: cada um a seu modo, boas alternativas para optar por um hatch

 

E na comparação item por item, qual a competitividade do 308? O Focus obteve notas superiores nos quesitos estilo, posição de dirigir, suspensão, estabilidade e visibilidade e perdeu em espaço interno, motor, desempenho e segurança passiva. Portanto, o Ford oferece projeto mais moderno e melhor calibração de suspensão, a que o Peugeot responde com motor e espaço superiores, além de bolsas infláveis adicionais. Entendemos, assim, que a relação custo-benefício merece a mesma nota em ambos.

O Focus termina a comparação com pequena vantagem na média de notas, não a ponto de definir o adversário como um produto superado: ainda há bons atributos no 308, mesmo defasado em relação à versão europeia. Mais importante, esses representantes de um segmento em baixa nas vendas comprovam que são grandes opções para quem busca desempenho, comportamento dinâmico, conteúdo de conforto e segurança em um carro médio, sem gastar mais que em um utilitário esporte compacto e com muito melhor resposta ao comando do pé direito.

Mais Avaliações

 

 

Nossas notas

Focus 308
Estilo 4 3
Acabamento 4 4
Posição de dirigir 4 3
Instrumentos 4 4
Itens de conveniência 4 4
Espaço interno 3 4
Porta-malas 3 3
Motor 4 5
Desempenho 4 5
Consumo 4 4
Transmissão 4 4
Freios 4 4
Direção 4 3
Suspensão 5 4
Estabilidade 5 4
Visibilidade 4 3
Segurança passiva 4 5
Custo-benefício 4 4
Média 4,00 3,88
Posição 1º. 2º.
As notas vão de 1 a 5, sendo 5 a melhor; conheça nossa metodologia

 

Teste do Leitor: opinião dos proprietários

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Ficha técnica

  Focus 308
Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Material do bloco/cabeçote alumínio
Comando de válvulas duplo no cabeçote
Válvulas por cilindro 4, variação de tempo
Diâmetro e curso 87,5 x 83,1 mm 77 x 85,8 mm
Cilindrada 1.999 cm³ 1.598 cm³
Taxa de compressão 12:1 10,2:1
Alimentação injeção direta injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar
Potência máxima (gas./álc.) 175/178 cv a 6.500 rpm 166/173 cv a 6.000 rpm
Torque máximo (gas./álc.) 21,5/22,5 m.kgf a 4.500 rpm 24,5 m.kgf a 1.400 rpm
Potência específica (gas./álc.) 87,5/89,0 cv/l 103,9/108,3 cv/l
Transmissão
Tipo de caixa e marchas automatizada de dupla embreagem, 6 automática, 6
Relação e velocidade por 1.000 rpm
1ª. 3,92 / 8 km/h 4,04 / 8 km/h
2ª. 2,43 / 13 km/h 2,37 / 13 km/h
3ª. 1,44 / 20 km/h 1,56 / 20 km/h
4ª. 1,02 / 28 km/h 1,16 / 27 km/h
5ª. 0,87 / 37 km/h 0,86 / 36 km/h
6ª. 0,70 / 45 km/h 0,67 / 47 km/h
Relação de diferencial 3,85 e 4,28* 4,06**
Regime a 120 km/h 2.650 rpm (6ª.) 2.550 rpm (6ª.)
Regime à vel. máx. informada 5.550 rpm (5ª.) 5.900 rpm (5ª.)
Tração dianteira
* A segunda relação aplica-se apenas a 3ª. e 4ª.; **árvore de saída com relação 0,94 alonga em 6% todas as marchas
Freios
Dianteiros a disco ventilado (ø ND) a disco ventilado (283 mm ø)
Traseiros a disco (ø ND) a disco (249 mm ø)
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica eletro-hidráulica
Diâmetro de giro ND 10,6 m
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira independente, multibraço, mola helicoidal eixo de torção, mola helicoidal
Estabilizador(es) dianteiro e traseiro
Rodas
Dimensões 7 x 17 pol
Pneus 215/50 R 17 W 225/45 R 17 W
Dimensões
Comprimento 4,36 m 4,292 m
Largura 1,823 m 1,815 m
Altura 1,469 m 1,518 m
Entre-eixos 2,648 m 2,608 m
Bitola dianteira 1,53 m ND
Bitola traseira 1,53 m ND
Coeficiente aerodinâmico (Cx) ND
Capacidades e peso
Tanque de combustível 55 l 60 l
Compartimento de bagagem 316 l 348 l
Peso em ordem de marcha 1.375 kg 1.392 kg
Relação peso-potência (gas./álc.) 7,9/7,7 kg/cv 8,4/8,0 kg/cv
Garantia
Prazo 3 anos sem limite de quilometragem
Carros avaliados
Ano-modelo 2016
Pneus Pirelli Cinturato P7 Michelin Primacy 3
Quilometragem inicial 3.000 km 1.500 km
Dados dos fabricantes; ND = não disponível

 

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