As remodelações caminharam em sentidos opostos rumo a um mesmo objetivo:
o March (em cima) era todo arredondado e o Sandero abusava das formas retilíneas
Concepção e estilo
Em sua versão japonesa, chamada de Micra, o March é produzido desde 1982 e já está na quarta geração, lançada em 2010 e alvo de reestilização no exterior no ano passado. O Brasil conheceu-o apenas em 2011 e acaba de receber o modelo renovado, que passa a ser fabricado em Resende, RJ, em vez de vir do México. A história do Sandero é bem outra: surgiu aqui mesmo em 2008, derivado do Logan que a Dacia — marca do grupo Renault focada em carros de baixo custo — fazia na Romênia desde 2004. A segunda geração, apresentada lá em 2012, começou a sair da unidade de São José dos Pinhais, PR, agora em julho.
Diferentes também foram os conceitos de estilo adotados pelas marcas. O Micra era tão arredondado quanto possível, padrão que foi atenuado na reestilização em nome da aparência robusta que todo fabricante parece perseguir hoje. O Sandero nasceu retilíneo ao extremo, o que também mudou na reforma a fim de obter um aspecto mais elaborado, distante do “jeito de leste europeu” tão acentuado do Logan original. Ainda que os fabricantes tenham caminhado em sentidos opostos rumo a um meio-termo, basta olhar para eles para confirmar que continuam bem diferentes.
Qual agrada mais? Nenhum se mostrou expoente em desenho às pessoas que opinaram durante a avaliação, mas a Renault parece ter acertado mais, ao descartar elementos controversos do antigo Sandero como os vincos curvos das portas e as lanternas traseiras irregulares que subiam pelas colunas. Até detalhes como os retrovisores foram alvo de merecida atenção — antes, incomodava a falta de aplique plástico ao redor de sua fixação à porta. Por sua vez, a Nissan manteve itens que dividem opiniões como as lanternas traseiras saltadas da carroceria. Ponto em comum é que os dois adotaram mais detalhes cromados, alguns questionáveis, como as grossas molduras dos faróis de neblina do Dynamique.
A versão japonesa do March, o Micra, existe há mais de 30 anos e já está na quarta
geração; o Sandero passou à segunda, sendo a anterior um projeto brasileiro
Os vãos entre painéis metálicos são um pouco grandes, mas regulares em ambos os modelos. Em aerodinâmica, o Cx 0,33 do March — mantido da versão anterior — supera o de 0,35 do Sandero, apesar da grande melhoria verificada neste (antes apresentava 0,38, valor similar ao do Ford Escort de 30 anos atrás).
O March tem câmera traseira e ajuste do intervalo
do limpador de para-brisa; o Sandero, controlador e
limitador de velocidade e volante de couro
Conforto e conveniência
No interior os dois carros revelam um projeto simples, com materiais de acabamento de baixo custo, mas com certos cuidados para obter melhor aparência nessas versões de topo — apliques em preto brilhante, maçanetas cromadas, comandos criativos para o ar-condicionado com controle automático e, no Sandero, pontos azuis no revestimento preto dos bancos. Os plásticos são rígidos, mas em sua maioria com bons aspecto (mais no March) e montagem, e os bancos recebem tecidos simples que não comprometem.
O motorista dos dois obtém relativo conforto, com restrição pelo assento curto, e conta com regulagem de altura do banco e do volante de três raios, mas não sua distância. No Nissan o volante fica enviesado e um pouco voltado à esquerda, fazendo o condutor esticar mais esse braço, sem chegar a incomodar. Os pedais vêm em posições corretas; o apoio de pé esquerdo é mais adequado no March, pois o do Sandero fica muito próximo. A reclinação do encosto é em pontos definidos nos dois modelos.
O interior do March não mudou muito, mas ganhou detalhes interessantes como
os comandos de ar-condicionado; a posição do motorista poderia ser melhor
Os painéis simples têm instrumentos de fácil leitura, iluminados em branco, e trazem computador de bordo (sem indicação de velocidade média no March), além de um recurso na tela central que analisa a forma de dirigir e dá notas ao motorista nos quesitos aceleração, troca de marchas e antecipação. Não há termômetro do motor; só luz indicadora de superaquecimento. Incomoda no Nissan ter-se de selecionar funções e zerar o computador pelo botão do hodômetro, em vez de teclas no volante ou nas alavancas da coluna de direção como em qualquer carro.
Navegador por GPS equipa ambos os modelos, com tela sensível ao toque para fácil programação. Os sistemas de áudio têm qualidade mediana, interface Bluetooth para telefone celular, conexões USB e auxiliar (no March, também para cartão SD, mas ocupada pelos mapas do navegador) e comandos no volante ou junto a ele. O Nissan mantém toca-CDs, em desuso para muita gente, mas que ainda tem apreciadores; só no Sandero pode-se ligar o aparelho sem a chave no contato.
Detalhes que favorecem o March são câmera traseira para manobras, controle elétrico de vidros com função um-toque ao menos para descer o do motorista (no concorrente, nem isso) e comandos traseiros na porta do condutor (o rival os traz no painel), dois hodômetros parciais, ajuste do intervalo do limpador de para-brisa e vidros traseiros que descem por inteiro. Há ainda o sistema Nissan Connect para telefones inteligentes com sistema Android ou IOS, que permite usar no carro aplicativos como Facebook e pesquisa de pontos de interesse pelo Google e tem uso gratuito por três anos.
O espaço no banco traseiro deixa clara vantagem ao Sandero, que tem o mesmo
painel do novo Logan; o acabamento é espartano em ambos os adversários
O Sandero é melhor em outros itens: controlador e limitador de velocidade, volante revestido em couro, sensores de estacionamento na traseira, mostrador de temperatura externa (falta inaceitável no March, pois ela é medida pelo ar-condicionado automático), alças de teto para os passageiros de trás, luz de leitura na frente e bolsas para revistas atrás dos dois encostos (só no direito no concorrente). Bons recursos em ambos são ar-condicionado automático (opcional no Renault), abertura interna da tampa traseira e do tanque de combustível, espelho em ambos os para-sóis (poderia haver tampa também no do passageiro no Sandero), porta-copos e alerta para porta mal fechada.
Alguns pontos podem melhorar. No Nissan são os cintos de segurança sem ajuste da ancoragem superior, o incômodo do bloqueio de controle elétrico de vidros habitual em marcas japonesas (ao travar os comandos traseiros, o motorista perde o próprio controle sobre tais vidros e inativa o botão do passageiro ao lado), o porta-luvas de dimensões mínimas e sem iluminação e a montagem da câmera na tampa traseira, que parece improvisada. No Renault falta ao limpador de para-brisa a função de varrida única, a tela central é propensa a reflexos pela luz que vem dos vidros traseiros e os sensores de estacionamento pretos (opcionais), que destoam do para-choque pintado, também lembram instalação pós-venda.
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