Viagem revela conforto, estabilidade e bom consumo; confira também suas funções e detalhes mecânicos
Texto e fotos: Felipe Hoffmann e Saito Produções
Resolvida a questão de disponibilidade do carro, completamos a avaliação Um Mês ao Volante do Peugeot 3008 Griffe Pack com a quarta e última semana, avaliação rodoviária e vídeo de análise técnica (assista abaixo). No total foram 698 quilômetros com média geral de 12,7 km/l, sendo 330 km de uso urbano, com média geral de 10,9 km/l, e 368 km de uso rodoviário rumo ao litoral paulista, com média geral de 15 km/l. Sua melhor marca foi a ida ao litoral com o trecho de descida de serra: 16,9 km/l em 182 km com média de 71 km/h, incluindo trecho do Rodoanel. A pior marca foi num dia de trânsito intenso e calor, 8,8 km/l em 21 km percorridos em mais de uma hora.
O carro da semana não é o mesmo das três anteriores. Como a Peugeot precisava retirar aquele da frota de testes, trouxe-nos outra unidade, igual até na cor. Logo de início notamos um rodar mais suave, com melhor absorção de impactos, e os pneus não perderem contato com o solo tão facilmente. Em nosso posto de confiança, notamos que os pneus estavam com 25 lb/pol², bem abaixo do recomendado de 32 lb/pol². Os “ombros” (laterais da banda de rodagem) dianteiros estavam mais desgastados, mas não muito. O bom ganho de câmber (inclinando a roda para dentro da curva) durante o esterçamento, indicação de elevado cáster na geometria de direção, contribui para preservá-los.
Não faltou comodidade para viajar ao litoral com o 3008; na volta, o motor turbo de 165 cv e o comportamento em curvas fizeram o motorista sorrir
Com a pressão mais baixa, o conforto de rodagem melhorou muito e as “quicadas” se reduziram bastante. O comportamento em curvas manteve-se muito bom, sem que os pneus tendessem a se dobrar ou afetar a estabilidade. Então, por que recomendar uma pressão que traz menor conforto? O fato é que as laterais (flancos) do pneu respondem por 85% a 95% das perdas de energia na rolagem — e não a banda de rodagem, como a maioria imagina. Quanto menores os atritos da estrutura interna do pneu, menor a resistência ao rolamento, ou seja, mais fácil ele rodará. Notamos isso na bicicleta: pneus murchos deformam-se e deixa o pedalar “pesado”. Uma vez que se enchem os pneus, a bicicleta embala com mais facilidade.
Os pneus “ecológicos” atuais visam a menor atrito das partes estruturais, sem tanto prejuízo ao conforto e à absorção de impactos. Mesmo assim, fica difícil em pneus de perfil baixo atingir menor resistência ao rolamento, pois há pouca área lateral para trabalhar na dissipação do atrito. Diante das metas de consumo e emissão de gás carbônico (CO2), os fabricantes recorrem a pressões maiores. Nos de perfil baixo, cabe considerar que a maior pressão reduz o risco de cortar o pneu ou estragar a roda num impacto forte.
Com a pressão recomendada, fomos à rodovia, começando por trechos com piso de concreto. Em velocidades de rodovia a absorção de impactos é melhor (pneus e coxins trabalham mais que os amortecedores), revelando um carro muito bem acertado para uso rodoviário, mesmo em vias de concreto. Sobre bom asfalto o carro vira praticamente um tapete voador, de tão isolado de ruídos e vibrações — quase não se ouvem ruídos de vento e mecânicos.
Também facilita a condução o controlador de distância, que usa o radar frontal para ajustar a velocidade do 3008 em função do carro à frente, chegando a parar se necessário. Tal sistema também se mostrou muito útil na descida de serra da Imigrantes, com limite de 80 km/h. Ali, se o motorista se descuidar, o carro pega embalo por variação da inclinação da via e passa do limite bem onde há radar. O 3008 reduz marchas para aumentar o freio-motor e, caso a inclinação aumente muito, aciona os freios para manter a velocidade programada. O sistema também trabalha bem em curva, mesmo as mais fechadas, sem perder o outro carro de vista ou se confundir com obstáculos nas laterais.
Outra função muito útil é o assistente de faixas, que “puxa” o volante para o centro das duas faixas caso se invada uma delas. O sistema conduz o carro mesmo em curvas leves, mas manda alertas no painel para que se retornem as mãos ao volante — e se desativa caso o motorista não o faça. Afinal, ainda não é um sistema autônomo capaz de assumir a responsabilidade da condução.
O controlador de distância usa o radar frontal para ajustar a velocidade do 3008: muito útil na descida de serra, pois o carro reduz marchas e freia se necessário
O retorno à noite e com chuva permitiu avaliar os faróis de leds, muito bons, claros e com amplo facho. Além do nivelamento automático, eles contam com comutação automática entre os fachos alto e baixo. A câmera junto ao retrovisor interno detecta veículos à frente, no mesmo sentido ou no contrário. Em trechos escuros o sistema passa para farol alto, mas caso apareça um carro ele passa ao facho baixo, até mais rápido do que o motorista faria.
O consumo rodoviário agradou, sobretudo diante do porte do carro. No trecho habitual de 40 km com dezenas de lombadas na Rio-Santos, o 3008 fez 15,6 km/l. Mesmo corrigindo o erro do computador de bordo (o carro anterior indicou, em média, 10,1% melhor que o real) são 14 km/l, não muito longe de carros de porte menor e com transmissão automática de variação contínua (CVT): o Toyota Corolla 2,0 alcançou 15,4 km/l, o Honda HR-V fez 15,3 km/l e o JAC T40 obteve 14,4 km/l de gasolina, também corrigidos.
Amplo porta-malas (520 litros) e banco dianteiro direito rebatível; controlador de distância e assistente de faixas são eficazes; pneus com menor pressão aumentaram conforto
Isso mostra um excelente consumo para um carro bem mais pesado, com perdas adicionais por arrasto aerodinâmico e pneus mais largos e com transmissão escalonada de “apenas” seis marchas. Só por ela já seria esperado consumo pior: os veículos com CVT mal passam de 1.500 rpm nesse trecho, mantendo rotação constante, o que o Peugeot não pode repetir. Ficam evidentes, assim, as vantagens de eficiência obtidas com turbocompressor e injeção direta.
A transmissão do 3008, aliás, está bem calibrada em favor da eficiência. O motor não gira muito em acelerações e retomadas com uso moderado de acelerador, trocando as marchas entre 2.000 e 2.500 rpm. Isso mostra sua grande capacidade de trabalhar com cargas maiores em rotações baixas, sem ter que apelar para o excesso de combustível para esfriar as câmaras de combustão. Caso precisasse trabalhar com excesso, seria mais econômico recorrer a rotações maiores.
Mesmo em rotações baixas (cerca de 1.500 rpm) e sem carga, como a 50 km/h em quarta marcha, a central não reduz marcha ao se iniciar uma ultrapassagem, aproveitando bem o torque e o enchimento rápido do turbo caso o motorista pise de forma gradativa. Claro, há um limite para isso: na subida de serra da Imigrantes, a caixa escolheu quinta para manter 100 km/h por volta de 2.300 rpm em vez de sexta a 1.800 rpm. Não que faltasse torque para tanto, mas seria preciso usar excesso de combustível para esfriar as câmaras, com impacto no consumo.
Mesmo com porte e peso maiores, o 3008 consumiu pouco mais que carros menores e com CVT em um trecho habitual de rodovia, sinal da eficiência do motor
O comportamento em curvas, mencionado no relato anterior, mostrou-se outro ponto positivo do 3008: transmite confiança e permite uma direção mais esportiva, algo que não se espera em um utilitário esporte. O espaço para bagagem agradou tanto pelo grande volume quanto pelo encosto do banco dianteiro do passageiro que deita para frente — ajuda a carregar objetos compridos, como pranchas. Uma pena que a divisão 2/3 do banco traseiro esteja atrás do motorista, o que limita a largura do lado do passageiro e impede colocar a prancha só com essa parte rebatida.
Há diversas comodidades nesse Peugeot, como a luz sob os retrovisores externos, que ilumina o chão ao lado do carro antes de entrar ou após sair. As luzes azuis de cabine, nas portas, ao redor do teto solar e no painel, são úteis para encontrar algo dentro do carro e podem ser diminuídas ou mesmo apagadas. Outros itens são botão para o motorista acionar as travas infantis das portas traseiras, roteamento de internet e carregador de celular por indução.
O 3008 conclui o teste de um mês com grande aprovação. Os pontos altos foram desempenho do motor, comportamento em curvas, consumo para sua categoria, conforto e espaço interno e sistemas de assistência ao motorista — sem esquecer o belo desenho, que ganhou elogios por toda parte. Um ponto que não havia agradado — o comportamento da suspensão em vias irregulares – mostrou que pode ser contornado com menor pressão dos pneus. Devolvido na última sexta-feira, ele já nos deixa com saudades.
Semana anterior
Quarta semana
Distância percorrida | 698 km |
Distância em cidade | 330 km |
Distância em rodovia | 368 km |
Consumo médio geral | 12,7 km/l |
Consumo médio em cidade | 10,9 km/l |
Consumo médio em rodovia | 15,0 km/l |
Melhor média | 16,9 km/l |
Pior média | 8,8 km/l |
Dados do computador de bordo com gasolina |
Desde o início
Distância percorrida | 1.662 km |
Distância em cidade | 1.294 km |
Distância em rodovia | 368 km |
Consumo médio geral | 11,8 km/l |
Consumo médio em cidade | 11,1 km/l |
Consumo médio em rodovia | 15,0 km/l |
Melhor média | 16,9 km/l |
Pior média | 6,5 km/l |
Dados do computador de bordo com gasolina |
Preços
Sem opcionais | R$ 166.990 |
Como avaliado | R$ 166.990 |
Completo | R$ 169.780 |
Preços sugeridos em 6/3/19 em São Paulo, SP |
Equipamentos
• 3008 Griffe Pack – Alarme perimétrico e volumétrico, ar-condicionado automático de duas zonas, assistente de faixa, assistente de faróis, assistente de saída em rampa, bancos dianteiros com ajustes elétricos e massageador (memória no do motorista), câmera traseira de manobras, carregador de celular por indução (sem fio), chave presencial para acesso e partida, controlador de velocidade e distância e limitador de velocidade, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis de neblina de leds com iluminação de curvas, faróis de leds com luzes diurnas, faróis e limpador de para-brisa automáticos, fixação Isofix para cadeiras infantis, leitor de sinalização de velocidade, monitor de atenção do motorista, monitor de pontos cegos nas faixas laterais, monitor frontal com frenagem automática, quadro de instrumentos digital de 12,3 pol, revestimento de bancos em couro, rodas de alumínio de 19 polegadas, seis bolsas infláveis (frontais, laterais dianteiras e de cortina), sensores de estacionamento à frente e atrás, sistema de áudio com tela de 8 pol e integração a celular, teto solar panorâmico com abertura elétrica, volante com regulagem de altura e distância.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 77 x 85,8 mm |
Cilindrada | 1.598 cm³ |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Alimentação | injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar |
Potência máxima | 165 cv a 6.000 rpm |
Torque máximo | 24,5 m.kgf de 1.400 a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | automática, 6 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 19 pol |
Pneus | 235/50 R 19 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,447 m |
Largura | 1,906 m |
Altura | 1,625 m |
Entre-eixos | 2,675 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 53 l |
Compartimento de bagagem | 520 l |
Peso em ordem de marcha | 1.567 kg |
Desempenho e consumo | |
Velocidade máxima | 206 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 8,9 s |
Consumo em cidade | 9,2 km/l |
Consumo em rodovia | 11,5 km/l |
Dados do fabricante; consumo de gasolina conforme padrões do Inmetro |