Farta em conforto, competente em desempenho e segurança, a nova geração opõe suas qualidades aos utilitários esporte
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Até a década de 1990, peruas eram os carros familiares por excelência, vistas em quantidade nas rodovias em feriados e períodos de férias, carregadas — ou sobrecarregadas — com direito a bagageiro no teto e cachorro no porta-malas. Então vieram nos anos 2000 as minivans, com vantagens como aproveitamento de espaço e modularidade interna, além de uma posição de dirigir elevada que agradava às motoristas, e as peruas se tornaram superadas.
Apesar da adesão de muitos, com o tempo os fabricantes deixaram as minivans de lado. Veio a onda dos utilitários esporte com seu estilo de aventura, seu ar mais jovial e menos familiar, em consonância com um mundo em que todos querem parecer ter 20 anos — e as minivans caíram no ostracismo. Foram-se Chevrolet Zafira, Kia Carens, Nissan Livina e Grand Livina, Renault Scénic e Grand Scénic… Ficou a Citroën Picasso, que da família Xsara passou à C4, em 2009, e agora ganha nova geração.
Nova minivan parte R$ 111 mil; a versão Intensive com opcionais vai aos R$ 140.500
Não que a marca do duplo chevron tenha sido rápida em sua evolução por aqui: sua importação levou quase três anos desde o lançamento europeu em abril de 2013, precedido pelo carro-conceito Technospace. Mas tarde é melhor que nunca e, assim, fomos avaliar por mais tempo a nova C4 Picasso. Com cinco lugares (há alternativa pela Grand C4 Picasso, de sete), a minivan trazida de Vigo, na Espanha, vem em duas versões: Seduction, ao preço básico de R$ 111 mil, e Intensive (que avaliamos), por R$ 118 mil. Em qualquer caso o trem de força usa o conhecido motor THP de 1,6 litro com turbocompressor e injeção direta e transmissão automática de seis marchas.
Comodidades estão por toda parte, como massagem nos encostos e ventilação regulável aos passageiros de trás
Os equipamentos de série são fartos, como acesso à cabine e partida do motor com chave presencial, alarme volumétrico, ar-condicionado automático de duas zonas de ajuste, bancos traseiros individuais (três) com regulagem longitudinal e de inclinação do encosto, câmera traseira para manobras, controlador e limitador de velocidade, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis e limpador de para-brisa automáticos, faróis de neblina, fixação Isofix para cadeiras infantis, freio de estacionamento com controle elétrico e assistência em rampas, freios antitravamento (ABS) com distribuição eletrônica da força e assistência adicional em emergência, navegador, rodas de alumínio de 17 polegadas, seis bolsas infláveis (frontais, laterais dianteiras e cortinas), sensores de estacionamento traseiros e sistema de áudio com disco interno.
Opcionais na versão Intensive são apoio de perna para o passageiro dianteiro, banco do motorista com ajustes elétricos e memória, bancos dianteiros com aquecimento e massagem, faróis de xenônio (facho baixo apenas) autodirecionais, pacote Park Assist 360° (alerta para veículo em ponto cego nas faixas laterais, assistente de estacionamento, câmeras ao redor com visão de 360 graus e sensores também na frente), revestimento em couro, tampa do porta-malas com abertura e fechamento motorizados e teto envidraçado com controle elétrico do forro. Com todos eles o preço chega a R$ 140.500, mas a avaliada trazia bancos de couro e tecido, ficando em R$ 134.600.
Frente sobressai nas linhas modernas da C4 Picasso, que traz amplo para-brisa e rodas de 17 pol
O desenho moderno é um destaque da minivan, que causa impacto com a solução adotada na frente: os faróis (com refletor elipsoidal e lâmpada de xenônio para o facho baixo, aos quais o alto acrescenta um refletor comum com lâmpada halógena) ficam embaixo das faixas de leds diurnas, estas ligadas aos frisos cromados que compõem a grade superior. Nas laterais chamam atenção o contorno cromado das janelas das portas, que as fazem sobressair das demais, enquanto a traseira mais sóbria cativa pela sensação de profundidade obtida quando os leds das lanternas se acendem.
O interior da C4 Picasso impressiona bem, com plásticos de bom aspecto — embora não suaves ao toque —, bancos com intenso apoio lateral e revestimento de bancos que usa seções de couro e, em sua maior parte, um tecido áspero. O painel dá o tom futurista com o quadro de instrumentos digital e configurável de 12 polegadas no centro, que permite escolher entre três temas: pode-se optar entre velocímetro digital e a simulação de um analógico e mostrar instrumentos, mapa de navegação, computador de bordo, informações de áudio ou mesmo uma foto de sua escolha no lado direito. A posição central não nos incomodou, pois os dígitos são amplos e bem definidos.
Mais abaixo vem outra tela, de 7 pol e sensível ao toque, para controlar ventilação/ar-condicionado, sistemas de áudio e navegação, configurações do carro, o conjunto de câmeras externas, um manual de instruções e outros auxílios, como alerta de ponto cego e assistente para estacionar. Em princípio não gostamos de telas táteis para comandos como o de ar-condicionado, pois requerem mais atenção e podem levar ao acionamento incorreto pela falta de comandos percebidos pelo tato, mas a da C4 convence pelos “botões” amplos e fáceis de usar.
Interior mostra ousadia nos instrumentos digitais em tela configurável de 12 pol; motorista tem posição cômoda, mas bancos traseiros reguláveis não apoiam bem as coxas
O aspecto negativo é que às vezes se precisa usar uma função que não está mostrada, o que toma mais tempo do motorista — um simples ajuste de temperatura do ar, por exemplo, requer mudança da função da tela. Esse problema é amenizado pelos comandos no volante para áudio e auxílio ao estacionamento, além de controlador e limitador de velocidade. Ao contrário da geração anterior, o cubo central gira com o volante, em abandono de uma daquelas ideias peculiares que a Citroën propõe de tempos em tempos. O que permaneceu e funciona muito bem é a pequena alavanca sobre a coluna de direção para a caixa automática.
Como antes, a minivan usa um imenso para-brisa para ampliar a visibilidade dos ocupantes para cima, com anteparos reguláveis (separados direita e esquerda) para quando o sol for mais incômodo que prazeroso, frequente no verão brasileiro. A duplicidade de colunas dianteiras, costumeira no tipo de veículo, foi muito bem resolvida: estreitas e espaçadas, elas permitem ampla visão em ângulo.
Comodidades estão por toda parte da C4 Picasso. Além de todo o conteúdo citado, elas incluem apoio lombar com ajuste elétrico para motorista e passageiro (parte do sistema massageador, que infla e desinfla bolsas de ar para variar a pressão à coluna), difusores de ar com ventilação regulável nas colunas centrais para os passageiros de trás, mesas para tais ocupantes com iluminação, cortinas contra sol em suas portas, três tomadas de 12 volts na cabine, espelho convexo para monitorar crianças atrás, controle elétrico de vidros com função um-toque em todos e fechamento a distância, computador de bordo com duas medições, bocal de tanque sem tampa rosqueada, porta-objetos no assoalho traseiro, recolhimento elétrico dos retrovisores, leds nas luzes internas de cortesia e leitura, lanterna recarregável no porta-malas e ótimo espaço para objetos do dia a dia.
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Comentário técnico
• Bem conhecido no grupo, o motor THP — fruto de projeto conjunto da PSA com a BMW — usa bloco de alumínio, turbocompressor de duplo fluxo e injeção direta de combustível. Se o aumento de potência sobre o antigo 2,0-litros de aspiração natural pode não parecer expressivo (de 143 para 165 cv), o de torque certamente foi: passou de 20,4 m.kgf a 4.000 rpm para 24,5 m.kgf a apenas 1.400 rpm.
• A arquitetura EMP2 (Efficient Modular Platform 2, plataforma modular eficiente 2) do grupo foi aplicada pela primeira vez a este modelo, seguida pelo Peugeot 308 de nova geração. Sua vantagem mais perceptível em números é a redução de peso, que foi de 106 kg na C4 Picasso e chegou a 130 na Grand, considerando-se as versões de motor oferecidas no Brasil. Os valores incluem alívios de massa na carroceria com itens como capô de alumínio e tampa traseira de compósito.
• À parte a assistência elétrica de direção (não mais eletro-hidráulica, como no C4 Lounge ou no Peugeot 308, que mantêm a antiga plataforma do grupo), a EMP2 mantém elementos conhecidos como a suspensão traseira por eixo de torção, que bem poderia dar lugar a algo mais sofisticado, como um sistema multibraço.
• Apesar das lâmpadas de xenônio para o facho baixo e do sistema autodirecional, que acompanha o movimento do volante, os faróis não têm ajuste automático de altura do facho (há apenas regulagem elétrica no painel) ou lavador: a legislação dispensa esses itens no caso de aplicação de lâmpadas de baixa potência, assim como visto no Jeep Renegade.
• No mercado europeu a Citroën oferece itens adicionais de segurança como controlador da distância ao tráfego à frente com frenagem automática, alerta para saída da faixa de rolamento e faróis com comutação automática entre fachos baixo e alto conforme perceba veículos adiante.
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