O desenho ousado da Toro (igual nas duas versões, salvo pelas rodas maiores na 2,4) deixa superada a Oroch em comparação
Concepção e estilo
Não foi a Renault quem inventou a picape derivada de utilitário esporte com estrutura monobloco: há exemplos antigos desse conceito lá fora em outras marcas, como o Jeep Comanche de 1986, baseado no primeiro Cherokee. Em análise mais ampla e com carroceria sobre chassi, até a picape Willys que foi fabricada aqui (mais tarde como Ford F-75) com base na perua Rural poderia ser citada. Mas, a seu tempo e no Brasil, a ideia da Oroch foi realmente diferente.
Desenvolvida aqui, a picape deriva do Duster lançado em 2010 na Europa pela Dacia, subsidiária romena de carros de baixo custo do grupo. Também foi feita para nosso mercado a Toro, que se baseia na plataforma ampliada do Jeep Renegade, modelo de 2014 em âmbito mundial.
A Renault foi a primeira aqui a fazer aqui uma picape monobloco derivada de utilitário esporte, conceito que há tempos tem representantes no exterior
Embora pouco mais antiga, a Oroch envelhece ao lado da Toro. Mesmo com para-lamas bojudos e imponentes, suas linhas perdem apelo diante das formas arrojadas da picape Fiat, que sobressai com a frente de luzes em dois níveis, com charmosos leds na parte superior, e o perfil longilíneo da carroceria. Nenhum dos fabricantes informa o coeficiente aerodinâmico (Cx), mas seria de se esperar melhor resultado na Toro pelo perfil suave e elementos como o para-brisa mais inclinado.
Pouco mais antiga, a Oroch envelhece ao lado da Toro: as formas arrojadas da picape Fiat sobressaem com a frente de luzes em dois níveis e o perfil longilíneo
Conforto e conveniência
O ambiente interno da Toro é superior em aspecto e desenho, mas os plásticos são rígidos e simples como os da Oroch. A versão 1,75 tinha bancos revestidos em tecido espartano e volante de plástico, enquanto a 2,4 e a concorrente vieram com couro de bom padrão em ambos os itens. O motorista das Fiats ainda dispõe de banco mais confortável e com maior apoio para coxas (embora devesse ter mais apoio lombar ou sua regulagem), volante ajustável também em distância (na Renault, só em altura) e melhor apoio para o pé esquerdo.
Nos quadros de instrumentos, de fácil leitura, o das Toros traz informações adicionais: velocímetro digital, tensão da bateria, horas de funcionamento do motor e temperaturas do líquido de arrefecimento, do óleo lubrificante e da transmissão. A 2,4 mostra ainda pressão dos pneus, medida por um sistema preciso que reconhece variações antes mesmo de rodar (não é baseado, portanto, nos sensores de rotação dos freios antitravamento). Só o computador de bordo da Fiat tem duas medições.
O interior da Toro tem melhor aspecto, sobretudo com os bancos e volante de couro da 2,4; a Oroch é mais simples nas formas, embora similar em materiais
Vantagem da Oroch é o sistema de áudio e navegação com ampla tela sensível ao toque de sete polegadas (ante 5 pol da Toro 2,4) e resolução superior, mas em posição baixa e sujeita a reflexos. Ambas têm qualidade de áudio razoável, entradas USB e auxiliar e interface Bluetooth, além de comandos atrás do volante (Fiat) ou junto dele (Renault). A Toro 1,75 veio com um simples aparelho de áudio, o mesmo do Uno, com qualidade sonora modesta e sem comandos no volante. Nenhuma tem toca-CDs.
Nas duas versões, o conteúdo da Toro sobressai em itens como alarme volumétrico (ultrassom), alerta para uso de cinto também pelo passageiro, apoios centrais de braço à frente e atrás, assento rebatível do passageiro para objetos, assistente para saída em rampa, aviso específico de qual porta está mal fechada (geral na Renault), comando a distância para abrir e fechar vidros, faróis e limpador de para-brisa automáticos, para-sóis com espelhos iluminados (a rival nem mesmo tem tampa para o espelho do passageiro), porta-óculos, quatro luzes de leitura (na Oroch só uma, mais a luz de cortesia central), rebatimento elétrico dos retrovisores externos, retrovisor interno fotocrômico, tomada USB no console para os passageiros de trás (a de 12 volts vem também na concorrente) e vidros traseiros que descem por inteiro.
Bancos dianteiros, ajustes de volante e espaço para pernas atrás favorecem as picapes da Fiat; todas são limitadas em largura para três adultos na traseira
A versão 2,4 tem ainda ar-condicionado automático de duas zonas, câmera traseira de manobras e preaquecimento de álcool para partida a frio — as outras ainda usam tanque auxiliar de gasolina. Em resposta, a Oroch traz apenas maçanetas internas cromadas (mais fáceis de localizar à noite) e mola a gás para sustentar o capô. Bons recursos em comum passam por ajuste elétrico dos retrovisores, controlador e limitador de velocidade, controle elétrico de vidros com função um-toque para todos (novidade na Oroch 2017) e temporizador e sensores de estacionamento na traseira.
O que poderia ser melhor? Nas Fiats falta espaço para objetos do dia a dia e a função de velocidade média do computador fica escondida (só pelo rádio). Na versão 1,75 não há mostrador de temperatura externa e o velocímetro “mente” muito acima do normal, cerca de 15% em velocidades de rodovia — seria intencional para mascarar o baixo desempenho? Na 2,4 os comandos de áudio ficam atrás do volante, posição pouco intuitiva.
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