Com nova opção de R$ 94,8 mil, alemães propõem abrir mão de
equipamentos e potência para embarcar em uma marca de prestígio
Texto: Paulo de Araújo e Fabrício Samahá- Fotos: Paulo de Araújo e divulgação
Interessada em uma fatia do mercado de sedãs médios de marcas generalistas em suas versões mais caras — como Chevrolet Cruze LTZ, Ford Focus Titanium, Honda Civic EXR, Toyota Corolla Altis e Volkswagen Jetta Highline TSI —, a Audi lançou no Brasil em abril o A3 Sedan em configurações mais acessíveis que aquelas disponíveis desde janeiro. Em vez do motor turboalimentado de 1,8 litro com potência de 180 cv, as versões 1.4 TFSI trazem a unidade de 1,4 litro e 122 cv, também turbo.
Com preço básico de R$ 94.800, que passa a R$ 99.900 no acabamento Attraction, a nova opção da linha A3 pretende convencer o comprador de um médio nacional (ou argentino ou mexicano, como nos casos citados) a pagar pouco mais pela imagem de prestígio e qualidade associada ao logotipo das quatro argolas. Claro que para obter tais ganhos — e bancar o Imposto de Importação de 35% — foi preciso abrir mão de alguma dose de conforto e desempenho.
A versão básica tem entre os equipamentos de série bolsas infláveis frontais, laterais dianteiras, cortinas laterais e para os joelhos do motorista; suporte Isofix para cadeiras infantis, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis com lâmpadas de xenônio para ambos os fachos, alarme antifurto, ar-condicionado com ajuste manual, computador de bordo, freio de estacionamento com comando elétrico, rádio MMI e rodas de alumínio de 16 pol com pneus 205/55. O revestimento dos bancos vem em tecido.
Apesar das rodas menores (16 pol em vez de 17) e da remoção dos faróis de neblina, o
bonito desenho não foi prejudicado; as luzes são de xenônio em ambos os fachos
O acabamento Attraction adiciona volante revestido em couro com comandos para trocas manuais de marcha e sistema de áudio mais elaborado, com interface Bluetooth para telefone celular. Opcionais para ele são áudio MMI Plus com navegador, teto solar panorâmico e um pacote com bancos de couro sintético, sensores de estacionamento na traseira e controlador de velocidade. Em comparação ao A3 Sedan de 1,8 litro, o 1,4 deixa de oferecer itens como faróis de neblina, banco do motorista com ajuste elétrico, ar-condicionado automático de duas zonas, rodas de 17 pol com pneus 225/45, faróis e limpador de para-brisa com controle automático, seletor de programas de condução Drive Select e retrovisor interno fotocrômico.
Se os 122 cv não impressionam, o torque de
bons 20,4 m.kgf está disponível de 1.400
a 4.000 rpm, benefício do moderno motor turbo
A não ser pelas rodas menores, que não comprometem, o belo desenho do sedã é preservado como um de seus atrativos. As linhas são equilibradas, com a filosofia atemporal que a Audi segue em suas definições de estilo, e as lanternas traseiras mantêm os leds. É bom o coeficiente aerodinâmico (Cx) de 0,29 em uma época em que nem todo fabricante tem se dedicado a esse aspecto.
O interior perde esportividade no volante, de quatro raios em vez de três, e no contorno mais convencional dos bancos. A simplicidade geral de desenho do conjunto pode decepcionar quem espera luxo do A3, embora o acabamento revele a habitual qualidade. Posição de dirigir, densidade (alta) de espuma dos bancos e acionamento de comandos correspondem ao esmero a que a marca nos acostumou. O espaço traseiro é bom para dois adultos de estatura média, mas o porta-malas de 425 litros fica entre os menores dos sedãs conhecidos.
Interior simples da versão básica e bancos de tecido podem decepcionar, mas
é bom o acabamento; motor de 122 cv fornece todo o torque já a 1.400 rpm
Pouca potência, bom torque
O motor agora aplicado ao sedã é o mesmo usado desde o ano passado no A3 Sportback, a versão de cinco portas do modelo. Em relação ao que equipa o pequeno A1, há diferenças como o cabeçote e o acionamento do comando de válvulas, que no A3 usa correia dentada em vez de corrente. Embora esta anuncie maior resistência, a correia traz reduções de peso e atrito que se tornam importantes dentro do empenho atual em reduzir consumo de combustível e emissão de gás carbônico (CO2).
Tecnologia não falta ao 1,4-litro, que além do turbocompressor usa injeção direta de gasolina, variação do tempo de abertura das válvulas de admissão e sistema de parada e partida automáticas (na Europa existe versão de 140 cv com desativação seletiva de cilindros). Se a potência de 122 cv não impressiona diante do que oferecem os adversários citados no início do texto, o torque máximo de bons 20,4 m.kgf está disponível de 1.400 a 4.000 rpm, tipo de benefício que só os atuais motores turbo podem oferecer. Com peso de 1.215 kg — menos 80 kg que a versão 1,8 —, o resultado são boas marcas oficiais de desempenho como aceleração de 0 a 100 km/h em 9,4 segundos.
Contribui para a agilidade do A3 o câmbio S-Tronic, um automatizado de dupla embreagem (a seco) e sete marchas, que admite mudanças manuais pela alavanca na versão básica e também pelos comandos no volante no Attraction. O restante do conjunto mecânico é plenamente atual, da plataforma MQB — a mesma do novo VW Golf — à suspensão traseira independente multibraço, montada em subchassi como a dianteira.
Comportamento estável, conforto de rodagem e baixo nível de ruído são atributos
que o novo A3 preserva; preço o torna competitivo aos nacionais mais caros
Avaliado por 130 quilômetros (30 ao volante) nas rodovias Anhanguera e Bandeirantes a partir da capital paulista, o A3 Sedan deixou boas impressões. O bom torque desde regimes bem baixos traz respostas ágeis, que mascaram a modesta potência e deixam a sensação de haver algumas dezenas de cavalos a mais. A confirmação dos 122 cv só aparece mesmo em alta rotação, quando não se obtém o ímpeto esperado — cuidado com aquele Jetta TSI da pista ao lado…
O câmbio faz mudanças muito rápidas, quase imperceptíveis, e o nível geral de ruídos e vibrações é bastante baixo. A 120 km/h em sétima marcha o motor gira a apenas 2.600 rpm. Embora não houvesse curvas no trajeto, ficou claro o bom acerto da suspensão, com rodar firme que não compromete o conforto — concorre para ele a medida moderada dos pneus em termos de perfil — e a sensação de muito boa estabilidade.
Afinal, vale a pena abrir mão de um sedã de marca generalista repleto de comodidades e com potência superior para ter um A3 Sedan? A resposta depende das prioridades. Quem busca acima de tudo desempenho ou itens de conveniência pode encontrá-los em maior dose em um carro nacional (ou importado sem tributação adicional) e ainda pagar menos. No entanto, se o prestígio de uma marca de luxo e a qualidade a ele associada forem elementos importantes na escolha, o mais acessível sedã da Audi tem tudo para trazer satisfação.
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Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 74,5 x 80 mm |
Cilindrada | 1.395 cm³ |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Alimentação | injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar |
Potência máxima | 122 cv de 5.000 a 6.000 rpm |
Torque máximo | 20,4 m.kgf de 1.400 a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | automatizado de dupla embreagem, 7 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | independente, multibraço, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 16 pol |
Pneus | 205/55 R 16 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,456 m |
Largura | 1,796 m |
Altura | 1,416 m |
Entre-eixos | 2,637 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 50 l |
Compartimento de bagagem | 425 l |
Peso em ordem de marcha | 1.215 kg |
Desempenho e consumo | |
Velocidade máxima | 212 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,4 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |