
Motor moderno e econômico, vão livre de SUV e bom porta-malas a partir de R$ 30 mil: saiba agora como ele anda
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Fiat Mobi e Volkswagen Up terão vida mais difícil daqui em diante. O responsável por tirar sua paz chama-se Renault Kwid e mostrou bons atributos na primeira avaliação pelo Best Cars.
Com produção nacional anunciada há mais de um ano, o Kwid foi lançado em 2015 na Índia e chega ao Brasil como sucessor do Clio. O modelo fabricado em São José dos Pinhais, PR, na região de Curitiba, oferece três versões de acabamento, todas com motor de 1,0 litro e três cilindros e transmissão manual. Os preços começam em R$ 30 mil na opção Life, sem equipamentos muito desejados hoje, e chegam a R$ 40 mil na Intense.
Todos vêm de série com bolsas infláveis laterais e fixações Isofix para cadeira infantil, o que é elogiável (veja preços e itens de série de cada uma no quadro abaixo). Por ora não está prevista caixa automatizada monoembreagem Easy’R, disponível aos indianos, que usa um comando rotativo no painel em vez de alavanca. A garantia de três anos passa a cinco em caso de financiamento pelo banco Renault.
O Kwid obteve um estilo simpático e robusto, apesar das pequenas dimensões, valendo-se da grade ampla, os para-lamas bojudos, ressaltos no capô e molduras nos arcos das caixas de roda — que aqui não trazem repetidores de luzes de direção, usados na Índia. Chama atenção o grande vão livre do solo de 180 milímetros, maior que o de alguns utilitários esporte (como Honda HR-V e Jeep Renegade 4×2) e hatches “aventureiros” e bem maior que os de Up (162 mm) e Mobi (146 mm ou, no Way, 171 mm). Por essa razão a Renault o anuncia como “SUV compacto”, rótulo que o Best Cars rejeita.
Diante dos testes de colisão do modelo indiano, a Renault esclarece que nosso Kwid é uma variação da plataforma com 30% de aços de alta resistência na estrutura
As rodas de 14 pol (maiores que as 13 do indiano) são de aço em todas as versões, mas as da Intense ganham calotas que parecem rodas de alumínio. Os três parafusos de fixação, raros por aqui (existiram no Renault Dauphine/Gordini e no Ford Corcel/Del Rey, projeto originário da marca francesa), não representam desvantagem. As dimensões colocam o Kwid como subcompacto, assim como os adversários. O comprimento de 3,68 metros supera Up e Mobi, enquanto a distância entre eixos de 2,42 m se equivale à do VW e é bem maior que a do Fiat (2,31 m). Por outro lado, o Renault é claramente menor em largura (1,58 m contra 1,65 m do Up e 1,63 m do Mobi) e mais baixo (1,47 m ante 1,50 m dos rivais).
A carroceria estreita é a primeira impressão do interior: fica-se mais íntimo do passageiro ao lado do que nos concorrentes. A segunda é de grande simplicidade, caso dos painéis de porta e dos plásticos em geral, mas o painel tem desenho correto e a versão Intense pode receber o sistema Media Nav de áudio e navegação com tela tátil de 7 pol, que serve também à câmera traseira de manobras. O quadro de instrumentos digital do indiano deu lugar a um analógico, que só traz conta-giros e computador de bordo na versão de topo. Todas trazem indicador para troca de marcha e uma barra com cores (verde, amarelo e laranja) que indica se a condução está eficiente.
De estilo simpático e ar robusto, o Kwid destaca o amplo vão livre do solo (18 cm) que o aproxima de SUVs; rodas do Intense parecem de alumínio, mas não são
Certas economias são esperadas de um carro com sua proposta. Entre elas, o controle elétrico de vidros (só dianteiros) tem botões no painel sem função um-toque, não há espelho no para-sol do motorista e o sistema de áudio usa apenas dois alto-falantes. Outras surpreendem, caso do retrovisor interno do Life sem a posição noturna — evitar farol alto por trás, só desviando o espelho para uma posição não funcional — ou de não avisar o motorista de que esqueceu faróis acesos ao sair, problema à vista com a exigência de seu uso em rodovias. Curioso o botão que destrava o capô, parecido com um velho afogador, assim como no Toyota Etios.
Um motorista de média estatura encontra boa posição, apesar de banco e volante serem fixos em altura, mas este último deveria ficar mais próximo. Os pedais ficam mais juntos do que o habitual e o de freio precisa ser revisto: sapatos acima de 40 encostam o bico na haste a cada aplicação. No banco traseiro, o espaço lateral bastante limitado não é diferente de Mobi e Up, mas em altura útil ele supera os concorrentes. Segundo a Renault, também no espaço para os joelhos — só que os pés ficam apertados de qualquer maneira, ou seja, continua inadequado para adultos atrás por maiores trajetos.
Outra vantagem é o compartimento de bagagem de 290 litros: não só deixa o do Fiat bem atrás (215 litros; no VW são 285), como é claramente maior no sentido longitudinal, o que facilita aproveitá-lo quando os volumes não podem ser empilhados ou guardados na vertical. A versão Life expõe as laterais do porta-malas, revestidas nas outras. A Intense traz comando a distância para a tampa, que nas demais é aberta por alavanca no assoalho. O estepe vem por dentro.
Interior bem simples ganha toques de acabamento na versão de topo, a única com conta-giros e tela de 7 pol para áudio, navegador e câmera de manobras
Nova plataforma e baixo peso
Ao contrário do Mobi, que derivou da plataforma do Uno, e a exemplo do Up, o Kwid usa plataforma própria e inédita no Brasil: a CMF-A, sigla para Common Module Family (família comum modular) A, ou seja, a de menor porte entre as novas arquiteturas da aliança Nissan-Renault. Por ora apenas mais um modelo indiano (o Datsun Redi-Go) a compartilha, mas está previsto aplicá-la a outros produtos do grupo.
As vantagens de não tomar emprestada a plataforma de um carro maior são, pelo menos, duas: menor peso e maior aproveitamento de espaço, pois parâmetros como a distância entre o motor e a parede de fogo (divisória entre seu compartimento e a cabine) foram definidos para esse modelo. Na versão indiana o Kwid surpreendeu pela leveza, com 660 kg na opção inicial de 800 cm³, mas decepcionou ao passar por testes de colisão do instituto Global NCap: entre zero e uma estrela para ocupantes adultos em quatro provas, mesmo após receber reforços estruturais.
Próxima parte
Versões, preços e equipamentos
• Kwid Life (R$ 30 mil) – Alerta para uso do cinto, bolsas infláveis laterais, comando interno da tampa traseira, desembaçador do vidro traseiro, fixação Isofix para cadeira infantil, indicador de troca de marcha e de condução, predisposição para rádio, rodas de aço de 14 pol. Opcionais: ar-condicionado e direção com assistência elétrica (a partir de outubro).
• Kwid Zen (R$ 35.390) – Como o Life, mais alerta para faróis acesos, ar-condicionado, compartimento de bagagem revestido, controle elétrico de vidros dianteiros e travas, direção com assistência elétrica, limpador do vidro traseiro, rádio com Bluetooth e entradas USB e auxiliar, retrovisor interno dia/noite.
• Kwid Intense (R$ 40 mil) – Como o Zen, mais abertura elétrica do porta-malas, ajuste elétrico dos retrovisores, câmera traseira de manobras, chave dobrável, computador de bordo, conta-giros, encosto de cabeça central no banco traseiro, faróis de neblina, rodas diferenciadas, sistema de áudio Media Nav com navegador. A partir de outubro será oferecido sem alguns itens acima.
• Garantia: três anos sem limite de quilometragem (cinco anos ou 100 mil km, o que ocorrer primeiro, se financiado pelo banco Renault).
• Acessórios: kit Aventura (bolsa organizadora, câmera interna), kit Fun (capa da chave, carregador USB, porta-celular), kit Segurança (alarme, sensor de estacionamento traseiro), câmera traseira de manobras, faróis de neblina, rodas de alumínio, entre outros.
Bom em altura interna e porta-malas (290 litros), o Kwid é mais estreito que os concorrentes; controles de vidros, só dianteiros, vêm no painel
Diante da preocupação causada por esses testes, a Renault brasileira esclarece que os Kwids de lá e de cá são variações diferentes da plataforma — cada uma desenvolvida para atender a um mercado, sua legislação e suas exigências pelo consumidor. Nossa versão tem maior emprego de aços de alta resistência na estrutura (30% dela) e, somados a outras alterações, os reforços elevaram o peso em 120 kg para 780 kg na versão Life. Embora não anuncie uma previsão para o teste do Latin NCap, a fábrica se diz confiante em bons resultados.
O motor SCE de 1,0 litro e três cilindros com bloco de alumínio, duplo comando e quatro válvulas por cilindro é o mesmo disponível na Índia: embora inaugurado aqui pela linha 2017 de Logan e Sandero, foi no Kwid que ele nasceu no grupo, sendo derivado da unidade de 800 cm³. Comparado ao daqueles modelos, perdeu a variação de tempo de abertura das válvulas e teve a taxa de compressão reduzida de 12:1 para 11,5:1, o que baixou a potência de 79/82 cv para 66/70 cv e o torque de 10,2/10,5 m.kgf para 9,4/9,8 m.kgf, sempre na ordem gasolina/álcool. Up e Mobi oferecem potência e torque superiores, mas são mais pesados.
Além da óbvia redução de custo, a Renault justifica que o novo carro atinge o desempenho previsto: de acordo com a fábrica, acelera de 0 a 100 km/h em 15,5/14,7 segundos e alcança velocidade máxima de 152/156 km/h, na ordem. Além disso, pelos dados oficiais o Kwid torna-se o carro mais econômico da categoria no ciclo urbano do Inmetro (veja tabela comparativa com os concorrentes após a ficha técnica).
Plataforma inédita no Brasil foi bastante reforçada (em vermelho, aços de alta resistência); motor SCE sem variador tem 70 cv; note a câmera traseira no emblema
Como no Mobi Drive, a corrente que aciona os comandos de válvulas dispensa troca periódica, necessária com correia dentada como a do Up. A transmissão manual é exclusiva na marca, mais compacta que a de Logan e Sandero. Em relação ao indiano o tanque de combustível foi ampliado de 28 para 38 litros, até para compensar o uso de álcool (que rende cerca de 30% a menos que gasolina), e os pneus passaram de 155/80 R 13 para 165/70 R 14. As suspensões seguem o padrão McPherson/eixo de torção, sem estabilizador, e os freios dianteiros são a disco sólido, usual em carros mais leves.
O Kwid flui sem esforço, com melhor relação peso-potência que os adversários, e a suspensão de longo curso traz tranquilidade em pisos desnivelados e valetas
Ao volante do Kwid
Na apresentação prévia à imprensa em São Paulo, SP, o Best Cars dirigiu o Kwid Intense em condições urbanas variadas, da Marginal Pinheiros a ruas bastante desniveladas. A primeira boa impressão é de agilidade: o carro flui sem esforço, seguindo o tráfego em rotações moderadas, pois consegue melhor relação peso-potência que os adversários. Acima de certa velocidade, como 50 km/h, a menor potência se faz notar. Como é comum em modelos de baixo custo, as vibrações do três-cilindros são bem percebidas tanto em marcha-lenta quanto em rotações mais altas — eliminá-las tem custo. O comando de transmissão é leve e relativamente preciso.
A suspensão de longo curso e o amplo vão livre trouxeram tranquilidade em pisos desnivelados e grandes valetas (a Renault escolheu bem o trajeto), pelos quais passou mais rápido que o habitual sem atritos inferiores. Contudo, o rodar não é confortável: a suspensão traseira dura transmite os impactos, bem mais que a do Mobi, talvez mais que a do Up. Bons os bancos: embora compactos, acomodam melhor que os do Fiat, que são dos piores do mercado.
O novo Renault é ágil e supera pisos irregulares com facilidade, mas o rodar poderia ser mais confortável; bolsas infláveis laterais de série são destaque
Pelo contato inicial, o que esperamos do Kwid? Sua maior qualidade talvez seja trazer benefícios do Up, como plataforma própria e bom espaço para bagagem, a preço próximo ao do Mobi. Até então, para não pagar mais pelo VW (R$ 48.790 na versão Move aspirada), o comprador desse segmento tinha de aceitar o pequeno porta-malas do Fiat e escolher a versão Drive (R$ 41.260) de três cilindros para ter um carro econômico. Para obter grande vão livre do solo, tinha de descartar tanto o Up quanto essa versão do Mobi — o pacote Way não oferece o novo motor Firefly.
Assim, é bem-vinda a alternativa de um modelo mais barato (R$ 35.390 com os itens hoje essenciais) que combina economia, bom espaço para bagagem, suspensão elevada e ainda bolsas infláveis laterais, ausentes dos concorrentes. Por essa associação é que prevemos êxito para o Kwid e tempos menos tranquilos para Mobi e Up. Que vença o consumidor.
Mais Avaliações
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 3 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4 |
Diâmetro e curso | 71 x 84,1 mm |
Cilindrada | 999 cm³ |
Taxa de compressão | 11,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 66/70 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 9,4/9,8 m.kgf a 4.250 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | manual, 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 14 pol |
Pneus | 165/70 R 14 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,68 m |
Largura | 1,579 m |
Altura | 1,474 m |
Entre-eixos | 2,423 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 38 l |
Compartimento de bagagem | 290 l |
Peso em ordem de marcha | 798 kg |
Desempenho | |
Velocidade máxima | 152/156 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 15,5/14,7 s |
Dados do fabricante para versão Intense |
Compare o consumo
Mobi Drive | Kwid | Move Up | |
Em cidade | 13,7/9,6 km/l | 14,9/10,5 km/l | 14,2/9,6 km/l |
Em rodovia | 16,1/11,3 km/l | 15,6/10,8 km/l | 15,3/10,6 km/l |
Gasolina/álcool, conforme padrões do Inmetro; Move Up com pneus de 14 pol |