Kwid Intense de R$ 41 mil começa avaliação prolongada; conheça detalhes construtivos e consumo urbano
Texto: Felipe Hoffmann – Fotos: autor e divulgação
Nossa avaliação de Um Mês ao Volante de maio é com um importante lançamento recente da indústria brasileira: o Renault Kwid. Estávamos ansiosos para recebê-lo para um teste mais extenso e análise técnica. É o carro de menor custo e da mais baixa categoria de mercado entre os testados até agora na seção, mas havia uma grande curiosidade do ponto de vista de Engenharia. Afinal, carros devem ser julgados levando-se em conta sua faixa e seu preço.
Automóveis são fabricados para trazer dinheiro aos acionistas do fabricante, sendo bons projetos do ponto de vista técnico ou não. Pense no caso da Volkswagen Kombi ou mesmo do tradicional sedã da Lada, que foram vendidos em grandes volumes por décadas, dando farto lucro às empresas: esses foram, sem dúvida, excelentes projetos do ponto de vista de viabilidade e retorno econômico. Mas, para amantes de carros e engenheiros, os pontos técnicos dos carros mencionados podem ser bem questionáveis. É nesse ponto que pensamos no Kwid, um projeto barato, idealizado para as condições de mercados como o indiano (o primeiro a recebê-lo) e o brasileiro.
A carroceria de desenho simples do Kwid mostra vãos estreitos e regulares entre os painéis; defletor da tampa traseira contribui para menor consumo
A versão Intense, com preço sugerido de R$ 41 mil, tem entre os equipamentos de série abertura elétrica do porta-malas, ajuste elétrico dos retrovisores, ar-condicionado, bolsas infláveis laterais, câmera traseira de manobras, comando interno da tampa traseira, computador de bordo, conta-giros, controle elétrico de vidros dianteiros e travas, direção com assistência elétrica, encostos de cabeça para cinco pessoas, faróis de neblina, fixação Isofix para cadeira infantil, indicador de troca de marcha, limpador do vidro traseiro e sistema de áudio Media Nav com navegador e tela de 7 pol. A garantia é três anos sem limite de quilometragem (cinco anos ou 100 mil km, o que ocorrer primeiro, se financiado pelo banco Renault).
No Kwid, o forro do teto foi feito o mais alto possível em cada ponto, o que impôs um rebaixo para duas longarinas: a origem indiana explica essa decisão
Em uma análise externa, as primeiras impressões foram boas. A carroceria, de construção muito simples nas partes que são visíveis, mostra ser bem construída. Seria esperado encontrar grandes vãos e desalinhamento entre algumas partes, tanto pela faixa de preço quanto pelo baixo peso e a origem do projeto. Contudo, o que se vê são estruturas e painéis alinhados e bem-acabados.
Os vãos entre portas e para-lamas, porta-malas e capô são até menores que em outros Renaults como o Sandero, mostrando o uso de processos de fabricação atuais, não de ferramentais e processos antigos. Além de certos caprichos, levando em conta que tinham de gastar o mínimo possível: o cofre do motor e assoalho do porta-malas são pintados como o resto da carroceria. Isso não impede que se encontrem chapas e pontos de solda expostos, além de soluções simples de construção.
Motor de três cilindros e 1,0 litro produz 70 cv com álcool; longarinas de perfil quadrado (apenas a esquerda fechada com espuma) mostram construção simples
Ao abrir o capô, nota-se que as longarinas e partes estruturais possuem formatos simples, mais quadrados e de cantos retos, menos custosos na construção. A longarina lateral superior não deixa de ser um tubo de seção quadrada — com nervuras e relevos para absorver impactos — que ficou aberto. No lado esquerdo há uma espuma fechando-o, que faltava no lado direito. As torres de suspensão também possuem formato quadrado. Nota-se a falta de fechamento da caixa de rodas, feito por uma cobertura plástica. Em geral os carros possuem fechamento em chapa, de que o Kwid abre mão para reduzir tanto o custo de material e de produção quanto o peso. O lado negativo é a maior transmissão de ruídos de rolagem dos pneus para a cabine.
Ao abrir o compartimento de bagagem, vê-se que a tampa é um sanduíche entre chapas e que o vidro fica fixado sem um acabamento para esconder a chapa. O defletor de teto é parte estampada da própria chapa. Tal “acessório”, aplicado a modelos de dois volumes, tem a função principal de quebrar os vórtices (turbulência) na traseira, favorecendo a aerodinâmica e o consumo de combustível. O volume do porta-malas surpreende pelo tamanho do veículo: 290 litros, comparável ao de modelos 20 ou 30 centímetros mais longos. Interessante que o encosto do banco traseiro não apenas se rebate, mas pode ser retirado, aumentando bastante o espaço para grandes volumes.
O bom espaço de bagagem deve-se em parte à posição mais alta dos ocupantes, sobretudo os dianteiros, o que exige menor distância longitudinal para uma posição confortável. As pernas ficam mais na vertical e isso garante que se ocupe menos o espaço, que pode ser aproveitado no porta-malas. Por outro lado, elevam-se a posição de dirigir e o centro de gravidade. Contudo, o Kwid não é tão alto: mede 1,47 metro, menos 3 cm que os concorrentes Fiat Mobi e Volkswagen Up, apesar do maior vão livre do solo.
Bom espaço para bagagem, 290 litros; encosto traseiro é facilmente retirado para ampliá-lo ainda mais; pintura de partes menos expostas é a mesma da externa
Um efeito colateral é a chance de pessoas mais altas baterem a cabeça no teto. Um condutor de mais de 1,85 m pode se achar um pouco apertado, tanto pelo vão sobre a cabeça —mais precisamente entre a cabeça e a longarina de fechamento do teto, que une as colunas central — quanto pelo espaço lateral entre o teto e a cabeça. Diferente do usual, o forro do teto não é uniforme: no Kwid, optou-se por fazer o forro mais alto possível em cada ponto, o que impôs um rebaixo para a longarina citada e outra antes da tampa traseira.
Se todo o forro ficasse ao nível das longarinas, não faria diferença para um motorista de 1,90 m, que fica com a cabeça alinhada à longarina dianteira, por se sentar mais para trás que um condutor mais baixo. Contudo, tal solução remete à origem indiana do projeto: apesar da população de estatura média mais baixa, o país requer grande vão para a cabeça por muitos usarem turbante. No caso, um ocupante indiano de estatura média ficaria com a posição do banco mais avançada, com a cabeça numa região na qual o forro acompanha a chapa do teto.
Computador de bordo e tela de 7 pol para sistemas de áudio, navegador e câmera traseira; ressalto no forro de teto para aproveitar melhor a altura disponível
As impressões ao dirigir o Kwid serão nosso assunto nas próximas três terças-feiras (por enquanto, leia o comparativo com o Mobi). Na primeira semana o pequeno Renault fez uso urbano, com gasolina, e saltou os olhos o excelente consumo — mérito do motor eficiente aliado ao baixo peso. Foi o recordista até então em nosso uso urbano diário de cerca de 70 km, com boa parte dos trechos pelas marginais dos rios Pinheiros e Tietê: 22,8 km/l com média de velocidade de 44,9 km/h. Como referências passadas (não precisamos lembrar que são carros bem diferentes), o Honda Civic EXL fez 17,9 km/l; o Volkswagen Polo Highline TSI, 18,0 km/l; e o Nissan Kicks SV, 18,1 km/l.
Também como boa referência, o colaborador Edison Velloni usou o Kwid em seu trajeto urbano habitual de mais de 5 horas de trânsito intenso. Com ele o Kwid fez 12,1 km/l (Civic, 9,7 km/l). Edison gostou da proposta do carro, elogiando os bancos, agilidade, direção precisa e leve, indicador de condução econômica no painel e sistema de áudio simples e agradável de usar. Também gostou do acerto de suspensão para a buraqueira e os remendos mal feitos de São Paulo, com boa absorção de impactos. Por outro lado, sentiu falta de um lugar para o pé esquerdo e de um porta-objetos menor e fechado para a carteira ou um controle de portão. O consumo médio da primeira semana foi de 17 km/l em 461 km rodados. O pior consumo foi durante o trânsito intenso com Edison.
O Kwid seguiu para a praia no feriado prolongado, viagem a ser contada na próxima terça-feira, junto a impressões de itens externos e comportamento dinâmico. Até lá!
Mais Avaliações
Primeira semana
Distância percorrida | 461 km |
Distância em cidade | 461 km |
Distância em rodovia | – |
Consumo médio geral | 17,1 km/l |
Consumo médio em cidade | 17,1 km/l |
Consumo médio em rodovia | – |
Melhor média | 22,8 km/l |
Pior média | 12,1 km/l |
Dados do computador de bordo com gasolina |
Preços
Sem opcionais | R$ 40.990 |
Como avaliado | R$ 40.990 |
Completo | R$ 42.390 |
Preços sugeridos em 2/5/18 |
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 3 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4 |
Diâmetro e curso | 71 x 84,1 mm |
Cilindrada | 999 cm³ |
Taxa de compressão | 11,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 66/70 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 9,4/9,8 m.kgf a 4.250 rpm |
Transmissão | |
Tipo de caixa e marchas | manual, 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 14 pol |
Pneus | 165/70 R 14 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,68 m |
Largura | 1,579 m |
Altura | 1,474 m |
Entre-eixos | 2,423 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 38 l |
Compartimento de bagagem | 290 l |
Peso em ordem de marcha | 798 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 152/156 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 15,5/14,7 s |
Consumo em cidade | 14,9/10,5 km/l |
Consumo em rodovia | 15,6/10,8 km/l |
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro |