Volkswagen Saveiro 2014 ganha retoques e nada mais

 

A frente comum a Gol e Voyage atualizou a picape e há
novidades em conveniência, mas a VW poderia ter ido além

Texto: Geraldo Tite Simões – Fotos: divulgação

 

Apenas uma leve atualização, sem maiores custos de desenvolvimento, para manter o apelo no mercado de uma picape lançada em 2009: essa é a impressão ao ver e dirigir a Volkswagen Saveiro em sua linha 2014, que traz ao pequeno utilitário as alterações de estilo adotadas em julho do ano passado nos outros modelos da linha, Gol e Voyage.

Como no hatch e no sedã, a frente da picape agora tem grade de perfil mais baixo e faróis de formas angulosas, em vez de arredondadas. Capô, para-choque e para-lamas dianteiros também mudaram, mas quase não são notados. Na versão Cross, uma moldura cromada acentua o tamanho exagerado dos faróis auxiliares (de neblina e de longo alcance na mesma peça, como antes), em um efeito um tanto discutível, e os retrovisores ganharam luzes de direção. E foi só: nas laterais e na traseira, as únicas mudanças estão nas rodas e na aplicação — também questionável — de adesivos em preto, já que até o para-choque posterior foi mantido.

O interior repete as modificações vistas no Gol e no Voyage, como difusores de ar e seção central do painel, volante e revestimento de bancos. O acionamento de luzes externas passou para o painel (antes na alavanca esquerda da coluna de direção) e há novas funções permitidas por uma central elétrica mais moderna, como acionamento rápido de três piscadas das luzes de direção, mensagens de aviso para condução econômica (para não acelerar o motor com carro parado, por exemplo) e acionamento intermitente das luzes de freio em frenagens intensas.

 

 

 
A versão básica (nas fotos com o pacote Trend) mostra o novo visual da frente; no
interior mudam detalhes do painel e o rádio, que mostra obstáculos na traseira

 

O retrovisor direito, quando dotado de ajuste elétrico, agora focaliza o meio-fio quando se usa a marcha à ré para facilitar manobras. Nos carros com sensores de estacionamento na traseira, o novo rádio mostra uma silhueta digital da picape com uma barra que vai se aproximando da traseira à medida que a distância do obstáculo diminui. Na Cross, soleiras e pedais têm acabamento de alumínio. Bolsas infláveis frontais agora vêm de série na Trooper, com opção de desligar a do lado do passageiro, já que a lei permite levar crianças nesse banco em veículos de dois lugares.

 

O motor de 1,6 litro responde muito bem nas baixas rotações, mas em rodovia os ganhos de velocidade são algo lentos, mesmo com o veículo vazio

 

A linha Saveiro mantém as versões básica (que pode receber o pacote de equipamentos Trend), Trooper e Cross, todas com o mesmo motor flexível em combustível de 1,6 litro, com potência de 101 cv com gasolina e 104 com álcool, e câmbio manual — ainda não foi desta vez que a VW, como a Fiat, adotou a opção de caixa automatizada em sua picape leve. A versão de entrada oferece escolha entre cabines simples e estendida, esta a única disponível para as demais; a Trooper de cabine simples deixa de ser fabricada.

Na Saveiro básica, que custa R$ 33.490 com cabine simples e R$ 36.610 com a estendida, os itens de série compreendem protetor da caçamba, banco do motorista com regulagem de altura, temporizador do limpador de para-brisa, conta-giros, iluminação interna temporizada e (novidade) controle elétrico dos vidros e travas. As opções são aquecimento, ar-condicionado, travamento central com controle remoto, bolsas infláveis frontais, freios com sistema antitravamento (ABS), direção assistida, controle elétrico dos retrovisores, alarme, faróis de neblina, sensores de estacionamento traseiros, rádio/toca-CDs com MP3 e interface Bluetooth para telefone celular, rodas de alumínio de 15 pol (as de aço são de 14 pol), computador de bordo e volante com comandos. O pacote Trend traz detalhes de acabamento externo e interno, direção assistida e faróis com refletor duplo.

 

 

 
Adesivos de gosto discutível, rodas de alumínio e acabamento superior fazem parte
da versão Trooper, que deixa de ser oferecida com a pouco aceita cabine simples

 

A versão Trooper, de R$ 43.390, acrescenta ABS, bolsas infláveis, direção assistida, rodas de alumínio de 15 pol, para-sóis com espelho iluminado, computador de bordo e para-brisa com faixa degradê, além de itens de acabamento. Seus opcionais passam por ar-condicionado, aquecimento, revestimento em couro sintético, alarme, cobertura de caçamba, sensores de estacionamento traseiros, rádio e volante multifunção. Por fim, a Saveiro Cross — por R$ 49 mil — adiciona ao conteúdo da Trooper ar-condicionado, cobertura de caçamba, sensores de estacionamento, faróis auxiliares de dupla ação, alarme, controle remoto de travas e volante ajustável em altura e distância, ao lado do acabamento diferenciado. Os equipamentos à parte são couro sintético, rádio e volante com comandos.

 

 

Ao rodar, nada de novo

Na apresentação à imprensa tivemos acesso às versões Trooper e Cross para uma avaliação no litoral da Bahia. Embora as picapes com cabine estendida sejam as mais procuradas, demos uma boa olhada na versão de cabine simples, mais usada para trabalho. O espaço interno é suficiente para transportar pequenas valises atrás dos bancos, se o motorista não tiver mais de 1,80 metro. O protetor de caçamba como item de série compromete um pouco o espaço de carga, a ponto de dificultar o transporte de uma motocicleta de porte médio.

Já nas versões estendidas só é possível levar uma moto com a tampa traseira aberta — e aqui a VW precisa pensar urgente em um acessório simples que permita colocar uma segunda placa e a sinalização. Pelas leis brasileiras, pode-se exceder em até 20% a dimensão traseira do veículo, desde que a placa esteja visível, com iluminação e todas as luzes expostas. A Fiat chegou a apresentar algo similar no último Salão do Automóvel.

 

 

 
A Saveiro Cross vem mais equipada por fora e por dentro, mas tem a mecânica
igual à das demais; o motor de 101/104 cv poderia dar lugar a um mais vigoroso

 

Essa versão de cabine consegue o compromisso de oferecer um amplo espaço interno e uma razoável caçamba. Com regulagem de volante (Cross) e de altura do banco, motoristas de várias dimensões encontram boa posição de dirigir, deixando ainda muito espaço para bagagem no habitáculo. Continuamos a estranhar o pedal de embreagem com um curso tão longo, o que deixa o pedal bem acima do de freio. Mas é muito macia, assim como o câmbio de cinco marchas, preciso ao extremo.

Em nossa avaliação, com as caçambas vazias, a Saveiro revelou uma suspensão bem calibrada, sem pular muito, e transmitiu a sensação de que os freios efetivamente funcionam até na terra. Tivemos a chance de rodar na lama e sobre as piçarras (pedras jogadas sobre a terra batida) e o ABS modulou muito bem ao frearmos forte.

No asfalto, à velocidade de 120 km/h em quinta, o conta-giros revela 3.000 rpm e o motor tem funcionamento silencioso. Pode apresentar desempenho limitado em média e alta rotações, mas responde muito bem nas baixas, característica típica de motores de duas válvulas por cilindro como esse. Para uso urbano é satisfatório; contudo, em rodovia os ganhos de velocidade são algo lentos, mesmo com o veículo vazio. Talvez fosse o momento de investir em uma mecânica mais esportiva, já que a principal concorrente — a Fiat Strada — oferece versões com até 132 cv, quase 30 acima da Saveiro.