O novo motor do Fiat Mobi, em poucos meses, foi um entre vários casos de intervenção em modelo recém-lançado
Ao lançar o Mobi, em abril do ano passado, a Fiat revelou que almejava alcançar o patamar de vendas de sete mil unidades mensais. Após seis meses a média não havia chegado a quatro mil. Então veio um pacote de melhorias que deveria ter acompanhado o carro desde o início, capitaneado pelo motor Firefly de três cilindros, com consumo de combustível mais baixo que o do superado Fire de quatro cilindros (em breve, nossa avaliação completa).
Embora as vendas ainda não tenham reagido como esperado — em janeiro e fevereiro passaram pouco de três mil ao mês —, ficou clara a correção de rota efetuada por Betim, que não foi a primeira nem será a última do mercado brasileiro. Desde o começo de nossa indústria, há pouco mais de 60 anos, diversas marcas passaram pela necessidade de rever com rapidez um modelo recém-lançado, seja por reclamações de baixo desempenho, alto consumo ou outro inconveniente. Confira alguns casos.
A bola passou longe da trave no lançamento do Gol com motor 1,3 “a ar” do Fusca, lento e ruidoso: chute certeiro mesmo foi o 1,6 “a água” para 1985
• Simca Chambord (1959) – O sedã elegante de origem francesa ganhou o apelido de “Belo Antônio”, personagem de filme que conquistava as mulheres, mas decepcionava pelo desempenho na cama. De fato, com potência de apenas 84 cv, o motor V8 de 2,35 litros não dava conta: acelerar de 0 a 100 km/h tomava 26 segundos. O Chambord e seus derivados passaram nos anos seguintes por várias intervenções, que os levaram a até 140 cv e aplacaram as reclamações.
• Ford Maverick (1973) – Talvez a marca tenha sido pega de surpresa, mas o motor de seis cilindros aproveitado do Aero-Willys era tudo o que o Maverick não deveria ter no começo da crise do petróleo. A ultrapassada unidade de 3,0 litros, dizia-se, combinava “desempenho de quatro-cilindros e consumo de V8”. Em dois anos a Ford adotava o quatro-cilindros de 2,3 litros, mais leve e econômico.
• Dodge 1800 (1973) – O menor Dodge fabricado no Brasil, lançado sem o adequado desenvolvimento, apresentou problemas de qualidade (direção, transmissão, montagem) e alto consumo. A empresa atacou os pontos críticos e mudou o nome para Polara, em 1976, em busca de nova chance.
• VW Gol (1980) – A bola passou longe da trave no lançamento: a VW optou pelo motor de 1,3 litro arrefecido a ar do Fusca, que deixava o novo carro lento e ruidoso. A correção de rota foi rápida: no ano seguinte vinha a versão 1,6, mais ágil. Mas chute certeiro mesmo foi na linha 1985 com o motor 1,6 “a água”, que colocou o Gol na rota para assumir a liderança de vendas dois anos depois.
• Chevrolet Monza (1982) – Outro líder que começou mal: na estreia só existia o hatch com motor de 1,6 litro. Seis meses mais tarde vinha o 1,8, seguido pelo sedã de quatro portas e enfim o de duas na linha 1984. Agora, sim, com o formato preferido pelos brasileiros e bom motor, ele partia para ser nosso carro mais vendido entre 1984 e 1986.
• VW Santana (1984) – Amplo e luxuoso como nunca havia sido um Volkswagen nacional, o Santana nasceu errado: o motor de 1,8 litro com especificação diferente da alemã (bielas mais curtas) tinha funcionamento áspero e, com relações de transmissão longas típicas do mercado europeu, as queixas de baixo desempenho não demoraram. Na linha 1986 o motor adotava as bielas certas e vinha uma caixa mais curta — na verdade, apenas com a primeira alteração o resultado teria sido melhor.
No Kadett GS o motor “girava” alto e devorava combustível: com o tanque pequeno, em viagens rápidas o carro pedia parada para lanche antes dos passageiros
• Chevrolet Kadett GS (1989) – Se alguns vieram com transmissão longa, outros surgiram curtos demais, como o Kadett esportivo: o motor de 2,0 litros “girava” alto em rodovia e devorava combustível. Com o tanque de 47 litros — de carro europeu, não pensado para álcool —, em viagens rápidas o GS pedia parada para lanche antes dos passageiros… Um ano depois a GM alongava a transmissão e adotava pneus mais altos, o que o deixava menos sedento e mais silencioso até que chegasse o GSi com injeção para 1992.
• Toyota Corolla (1997) – Entre as versões japonesa, europeia e norte-americana do sedã, a Toyota escolheu mal: trouxe ao Brasil a segunda opção, com faróis ovalados e grade perfurada — conhecida como “Corolla de óculos” e com “ralador de queijo”. O estilo destoava do perfil conservador de seus compradores por aqui, o que exigiu rápida mudança. No fim de 1998, nacionalizado, o Corolla adotava um desenho tão ortodoxo quanto uma caixa de Maizena.
• Chevrolet S10 e Blazer (1995) – Dois modelos, dois equívocos: motor de 2,2 litros com apenas 106 cv e eixo traseiro pesado demais, por limitação do fornecedor, o que implicava desconforto em pisos desnivelados. A GM respondeu no ano seguinte com o Blazer V6 de 4,3 litros e 180 cv (mais tarde também na S10) e, em 1997, com eixo até 30 kg mais leve, seguido por injeção multiponto e mais 7 cv no motor 2,2.
• Chevrolet Tracker (2001) – Sem aprender com o caso acima, a marca lançava sua versão do Suzuki Grand Vitara com motor a diesel de meros 87 cv — em aceleração, perdia para qualquer carro de 1,0 litro… Após um ano o Tracker aparecia com um Peugeot mais esperto de 109 cv.
• VW Polo (2002) – Em meio a vários atributos, incomodou pela transmissão curta: em busca de agilidade no trânsito, a VW optou por uma caixa que impunha 4.000 rpm a 120 km/h ao motor 1,6. Imprensa e consumidores reclamaram e em seis meses houve alongamento, a que se somaria outro em 2009.
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