Com mais ar de automóvel que a maioria das minivans, ela teve
três gerações e foi vendida sob grande variedade de denominações
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Antes mesmo da Chrysler nos Estados Unidos com a Dodge Caravan/Plymouth Voyager ou a Renault na França com a Espace, foi no Japão que nasceu o conceito moderno de minivan com a Nissan Prairie, em 1982. Uma espécie de perua alta, a Prairie ficou pouco tempo sem concorrência local: em fevereiro do ano seguinte a Mitsubishi apresentava sua representante para a classe, a Chariot — denominada como as charretes de batalha dos antigos impérios grego e romano —, que se tornaria mais conhecida no Ocidente pelo nome de exportação Space Wagon.
Seu desenho seguia a fórmula da Nissan, com linhas retas, capô bem inclinado e vidros muito amplos. Maior que os sedãs médios da época, ela media 4,49 metros de comprimento, 1,65 m de largura e 2,62 m de distância entre eixos — e 1,52 m de altura, o que não impressiona hoje, mas ficava bem acima do padrão das peruas daquele tempo, como a derivada do sedã Galant que ela vinha substituir. O interior acomodava sete pessoas em três fileiras de bancos, 2-3-2. O peso variava entre 1.080 e 1.310 kg.
A primeira Space Wagon parecia uma perua alta, mas levava sete pessoas; a
versão japonesa Chariot 4WD (à direita) tinha tração nas quatro rodas
Estavam disponíveis de início os motores a gasolina de 1,8 litro (potência de 95 cv) e 2,0 litros (101 cv) com câmbio manual de cinco marchas ou automático de três. Tração dianteira e suspensões independentes — McPherson à frente e com braços semiarrastados e barras de torção na traseira — formavam uma mecânica atual para seu tempo, mas a estrutura não era monobloco: a Mitsubishi optou pela clássica solução de carroceria sobre chassi.
Além de Chariot e Space Wagon, a minivan
foi chamada nos EUA de Expo e teve
versões para marcas Dodge, Eagle e Plymouth
Em julho do mesmo ano vinha a versão MR Turbo com motor de 1,8 litro, turbocompressor e 135 cv para um desempenho incomum no tipo de veículo. No ano seguinte, em junho, aparecia a tração integral permanente — de grande aceitação no país —, seguida em outubro por um motor 1,8 turbodiesel com 75 cv.
Além dos nomes Space Wagon (usado nos mercados europeus) e Chariot, a minivan foi nomeada Nimbus na Austrália e vendida por marcas da Chrysler nos Estados Unidos (como Dodge e Plymouth Colt Vista) e no Canadá (como Eagle Vista Wagon). Desde os anos 70 a Mitsubishi vinha fornecendo carros para essa marca norte-americana. Por lá era usado apenas o motor 2,0-litros com 88 cv (depois 98) e havia a opção do câmbio Twin Stick, com caixa de transferência — a reduzida que conhecemos de jipes e picapes — para duplicar as quatro marchas. A tração integral também foi oferecida naquele mercado.
Linhas mais arredondadas e maior conveniência no interior da segunda
geração, de 1991; um motor turbo de 230 cv foi oferecido no Japão
A revista Popular Science confrontou a versão Plymouth a Nissan Stanza, Subaru GL-10 e Toyota Tercel, todas com tração nas quatro rodas: “Ela é a melhor carregadora de pessoas. A terceira fila de bancos pode ser rebatida, deixando uma grande área de carga. A posição de dirigir é confortável, com excelente visibilidade, e o conforto ao rodar surpreende. A tração integral é engatada com facilidade por um botão na alavanca de câmbio”.
Cantos arredondados sobre linhas ainda retas marcavam a segunda geração, lançada em 1991. As dimensões cresciam (4,52 m de comprimento e 2,72 m entre eixos) e o interior ganhava conveniências como ajuste longitudinal do segundo banco, para ampliar o espaço dessa ou da terceira fila de lugares, e rebatimento de ambas as filas formando uma plataforma plana. Estreava uma versão de entre-eixos curto com porta lateral corrediça apenas no lado do passageiro (esquerdo no Japão, direito na maioria dos países), que em alguns mercados se chamava Space Runner. No modelo longo as quatro portas laterais mantinham a abertura convencional.
Com maior peso — de 1.230 a 1.530 kg conforme a versão — os motores também aumentavam, agora de 1,8 litro (122 cv), 2,0 litros (135 cv) e 2,4 litros (145 cv, de 1993 em diante) a gasolina, todos com 16 válvulas, além de um 2,0 turbodiesel de 82 cv. O câmbio automático passava a quatro marchas e ganhava controle eletrônico; a tração integral permanecia no catálogo. Interessante era a versão esportiva Chariot Resort Runner GT, oferecida só no Japão, que usava o motor turbo de 2,0 litros do Galant VR-4 e do Lancer Evolution, com 220 cv (câmbio automático) ou 230 cv (manual), e tração integral. Rodas de 15 pol, tomada de ar no capô e amplo teto solar na parte dianteira da cabine equipavam a GT.
O segundo modelo existiu com entre-eixos curto e porta lateral corrediça
só de um lado; em cima, a Space Runner e sua versão fora de estrada
RVR; embaixo, variações Plymouth Colt Vista e Eagle Summit para os EUA
Nos EUA a Mitsubishi usou o nome Expo, com versões LRV Sport (curta), de motor 1,8 de 113 cv ,e SP (longa), com 116 cv no 2,4-litros, que começou com oito válvulas — passava a 16 e atingia 136 cv no modelo 1993, mas duraria apenas mais dois anos. Os norte-americanos tinham ainda a Dodge Colt Wagon, a Eagle Summit Wagon e a Plymouth Colt Vista Wagon de divisões da Chrysler. A Expo SP teve importação oficial para o Brasil entre 1992 e 1996.
No Japão existiu a RVR, um modelo curto com suspensão elevada e adereços fora de estrada — hoje essa sigla denomina o ASX por lá. Os sul-coreanos recebiam a Hyundai Santamo e a Galloper Santamo, produzidas lá mesmo pela Hyundai Precision (a marca fez outros produtos Mitsubishi sob licença, como o sedã Grandeur, que era o Debonair, e o utilitário Galloper, um antigo Pajero, vendido também no Brasil).
O guia da Consumer Guide, nos EUA, descreve a Expo como “agradável e fácil de dirigir, com aceleração adequada. Falta torque suficiente ao motor menor da LRV para evitar a frequente ‘caça de marchas’ da caixa automática. Espere um rodar confortável e grande manobrabilidade urbana, mas a capacidade de curva é modesta”.
A terceira Space Wagon, em 1997, vinha maior, oferecia injeção direta
em motores de 2,4 e 3,0 litros e podia vir com seis ou sete lugares
Na Popular Mechanics as duas opções da Expo foram comparadas a oito minivans, incluindo Dodge Caravan, Ford Aerostar, Nissan Quest, Pontiac Trans Sport e Toyota Previa: “O espaço para pernas nas duas primeiras filas da SP é comparável ao da Caravan, mas a terceira fila é apertada. Os muitos ajustes dos bancos parecem desenhados por um mestre de origami. Onde os dois modelos brilharam é no desempenho geral, com baixo peso que permite aceleração ágil, rápidas respostas em curvas e boa economia”.
A tendência de crescimento seguia em 1997 com a terceira geração da minivan, que passava a 4,65 m de comprimento e 2,78 m entre eixos — não havia mais a versão curta. Enfim com construção monobloco, a Chariot Grandis (seu novo nome japonês) ou Space Wagon ganhava linhas mais retas e robustas, mantendo o capô destacado que a diferenciava da maioria das minivans. O interior podia levar seis pessoas, com bancos individuais na segunda fila, ou sete caso fosse empregado um inteiriço. Faróis de xenônio, teto solar e bolsas infláveis laterais equipavam as versões mais luxuosas, como a Royal Exceed.
No Japão havia um motor de 2,4 litros, quatro cilindros e 165 cv e um vigoroso V6 de 3,0 litros, 24 válvulas e 215 cv, ambos com injeção direta — o fabricante foi pioneiro nessa solução —, enquanto os europeus a recebiam também com um 2,0-litros de 16 válvulas e 134 cv com injeção multiponto. Os câmbios eram os mesmos de antes e permanecia a opção de tração integral, com a qual a versão V6 alcançava 1.720 kg; a opção mais leve pesava 1.510 kg.
O nome Chariot Grandis no Japão sugeria como seria chamada sua
sucessora; a Royal Exceed vinha com interior luxuoso e bem-equipado
O nome Nimbus foi mantido para a Austrália e surgiu o inédito Savrin para a versão fabricada de 2001 em diante em Taiwan. No Brasil a denominação Space Wagon foi adotada em 1997. Essa fase da minivan não chegou aos EUA, nem mesmo pelas mãos da Chrysler, que preferiu investir na evolução de sua Caravan/Voyager e em criar versões mais longas, mas na Coreia do Sul a Kia — do mesmo grupo da Hyundai — aproveitou sua plataforma para desenvolver a Joice, produzida no país com motor de 2,0 litros.
A revista sueca Vi Bilägare assim avaliou a terceira geração da Space Wagon em um guia de carros usados: “Ela parece mais um hatchback para se dirigir, com exceção da posição um pouco mais alta. A condução é de alta classe: é estável e o motor desenvolve bem, mas requer alta rotação para andar realmente. Ela é espaçosa e confortável, mas não tão flexível quanto algumas competidoras”. A inglesa What Car? destacou sua robustez e os equipamentos de série, mas criticou o aspecto interno, o alto consumo e a suspensão inadequada a pisos irregulares.
Depois de mudanças visuais de pequena monta em 2000, a Chariot/Space Wagon foi fabricada no Japão até 2003, quando deu lugar à Grandis, também oferecida no Brasil. No último ano apenas o motor 2,4 estava disponível.
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