Por R$ 5,1 mil a menos que a Exclusive, versão intermediária continua
agradável de dirigir, mas caixa de quatro marchas impõe limitações
Texto e fotos: Fabrício Samahá
De equipamento de carros de luxo, em geral de porte médio ou superior, a caixa de câmbio automática passa cada vez mais a ser oferecida em modelos menores e mais acessíveis. O item não é novidade no Citroën C3, que o oferece desde o modelo 2009 da geração anterior, mas até agora ficava restrito à versão de topo Exclusive. Na linha 2015, porém, torna-se possível combiná-lo ao acabamento intermediário Tendance.
A novidade representa redução de R$ 5.100 no preço de entrada de um C3 automático, dos R$ 56.090 do Exclusive para os R$ 50.990 do Tendance, que nesse caso recebe o mesmo motor de 1,6 litro e 16 válvulas da versão superior (o Tendance de câmbio manual continua com a unidade de 1,45 litro e oito válvulas). O pequeno Citroën, assim, torna-se mais competitivo diante de Chevrolet Onix LTZ 1,4 (R$ 52,4 mil), Fiat Punto Essence 1,6 16V (R$ 50,5 mil), Ford Fiesta SE 1,6 16V (R$ 53,5 mil), Hyundai HB20 Premium 1,6 16V (R$ 52,9 mil), Peugeot 208 Active Pack 1,6 16V (R$ 52,4 mil) e Volkswagen Fox Highline 1,6 (R$ 51,1 mil). Desses, Fiat e VW usam câmbio automatizado, a Ford tem um automatizado de dupla embreagem e os demais são automáticos.
Rodas de 15 pol em vez de 16 são uma diferença do Tendance para o Exclusive;
outras afetam comodidades do interior como acionamentos automáticos
O que se perde com a opção por esse C3 mais barato? São itens como controlador e limitador de velocidade, alarme com proteção por ultrassom, sensores de estacionamento na traseira, faróis e limpador de para-brisa com acionamento automático, rodas de 16 pol (passam a 15), apoios de braço centrais na frente, controle automático do ar-condicionado, retrovisor interno fotocrômico, revestimento em couro do volante, maçanetas externas e retrovisores cromados. O Exclusive ainda pode receber revestimento parcial dos bancos em couro. Ambos, porém, oferecem opção de navegador integrado (R$ 2.400) e pintura metálica (R$ 1.390) ou perolizada (R$ 1.790), com os quais o Tendance avaliado chegava a R$ 55.180.
Com estilo harmonioso, o Tendance oferece
um interior agradável e de acabamento
adequado, com posição de dirigir bem elaborada
Embora abra mão de alguns refinamentos que agradam no Exclusive, o C3 intermediário está longe de ser despojado. Os conteúdos de série passam por freios antitravamento (ABS) com distribuição eletrônica (EBD), direção com assistência elétrica, computador de bordo, banco do motorista regulável em altura, volante ajustável em altura e distância, faróis de neblina, luzes diurnas por leds na frente, para-brisa estendido Zenith, rádio/CD/MP3 com conexões auxiliar e USB, interface Bluetooth para telefone celular e controle elétrico dos vidros, travas e retrovisores. Bolsas infláveis são apenas as frontais.
Com um estilo harmonioso, que casa bem com as rodas de alumínio de 15 pol, o Tendance oferece um interior agradável e de acabamento adequado, apesar dos plásticos rígidos e do tecido simples aplicado aos bancos. A posição de dirigir foi bem elaborada, com amplas regulagens e pedais em alinhamento correto ao banco e ao volante, e o painel de instrumentos traz o habitual com fácil leitura, além de um computador de bordo de poucas funções. O navegador fica em posição ideal para se desviar menos a atenção da via, mas a inserção de endereços por botão no rádio não é prática.
Interior traz boa posição ao motorista e painel simples e funcional; navegador
é o único opcional da versão; a moldura cromada do câmbio reflete o sol
Há diversos bons detalhes no carro, como porta-luvas refrigerado, alerta para uso do cinto, o amplo para-brisa que se estende até acima dos bancos dianteiros (a parte superior é escurecida e existe um anteparo de acionamento manual para retomar o tamanho de um vidro comum), maçanetas internas cromadas (fáceis de encontrar à noite), comandos de áudio junto ao volante, lavador de para-brisa com excelente dispersão de água e indicador de temperatura externa.
Aspectos que podem melhorar: o bocal do tanque de combustível requer uso de chave, falta ajuste de altura para os cintos (pior no caso do passageiro, que não dispõe dessa regulagem em seu banco), os espaços para objetos são escassos, as luzes de cortesia dianteiras ficam recuadas e são muito fracas, os para-sóis não têm espelho nem podem ser movidos para as laterais, a moldura cromada do câmbio reflete os raios solares em certos horários, o bloqueio dos controles elétricos de vidros traseiros também desativa sua operação pelo motorista (deveria afetar apenas os comandos dos passageiros) e faltam repetidores laterais de luzes de direção, agravado pela posição infeliz dessas luzes na frente.
Espaço no banco traseiro não é destaque do C3, mas há acomodação adequada para duas pessoas de estatura média atrás de outras do mesmo porte e, se forem crianças, uma terceira pode viajar no centro com relativo conforto — dispondo de encosto de cabeça e cinto de três pontos, assim como os colegas das laterais, o que é raro na categoria. A capacidade de bagagem de 300 litros está na média do segmento e o banco traseiro tem encosto bipartido em 60:40. O estepe da versão segue a medida dos demais pneus, mas com roda de aço.
Mesmo que espaço não seja seu forte, o C3 acomoda bem uma pequena família; o
passageiro central atrás também tem encosto de cabeça e cinto de três pontos
Bom motor, câmbio limitado
Como vimos, ao contrário do Tendance manual, que usa o motor de 1,45 litro e oito válvulas, a versão de caixa automática recebe a unidade de 1,6 litro e 16 válvulas já conhecida do Exclusive. Além de potência e torque bastante superiores (115/122 cv e 15,5/16,4 m.kgf contra 89/93 cv e 13,5/14,2 m.kgf, sempre na ordem gasolina/álcool), o motor de maior cilindrada traz a vantagem adicional do sistema Flex Start de partida a frio, que usa preaquecimento de álcool e dispensa o tanque suplementar de gasolina.
A caixa automática de quatro marchas, a mesma AT8 que a PSA já deixou de usar em alguns modelos (como Peugeot 308 e 408), oferece programas de condução normal, esportivo e para pisos de baixa aderência, um canal para seleção manual e comandos fixos à coluna de direção para o mesmo fim. Em modo manual permanecem as trocas automáticas para cima no limite de rotações, mas é possível abrir quase todo o acelerador sem provocar redução, que só ocorre ao chegar ao fim de curso do pedal. Curioso não haver indicação da marcha em uso em manual.
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E o Tendance manual, como é?
Para quem não quer a comodidade do câmbio automático, o C3 oferece alternativas mais em conta: as versões de caixa manual partem de R$ 41 mil no acabamento Origine, passam por R$ 44,1 mil no Attraction, R$ 46,1 mil no Tendance e chegam a R$ 50 mil no Exclusive. Em todos eles o motor aplicado é o de 1,45 litro e oito válvulas, pois a Citroën deixou de vender o Exclusive 1,6 16V com esse câmbio.
O Best Cars avaliou o Tendance — embora não tenha sido possível submetê-lo às medições — e encontrou um carro competente, com potência adequada em baixas e médias rotações, bem como deve ser em um modelo voltado ao uso urbano. Embora um pouco mais áspero que o 1,6 em altos giros, o motor se mantém silencioso a maior parte do tempo e viaja-se a 120 km/h a moderadas 3.500 rpm. O câmbio tem comando leve e preciso e marcha à ré muito fácil de engatar, sem travas redundantes.
A versão manual usa uma calibração bem macia de suspensão. De início a baixa carga dos amortecedores chega a passar a sensação de instabilidade, mas isso não se confirma nas curvas, que ele contorna bem. Em contrapartida, o conforto de rodagem é dos melhores já vistos na categoria e agrada a quem não gosta da firmeza encontrada em muitos hatches pequenos. De resto, é o mesmo Tendance da avaliação principal — só que mais leve no bolso.
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No C3 Tendance o ar-condicionado tem ajuste manual, mas ele mantém os
comandos de trocas de marcha, para-brisa estendido e porta-luvas refrigerado
Tanto nos freios com discos ventilados à frente quanto na calibração mais firme da suspensão, o Tendance automático segue o Exclusive de mesmo tipo de câmbio — a versão manual de 1,45 litro usa discos sólidos e acerto mais macio, pois o conjunto motor-câmbio pesa cerca de 80 kg a menos. Já os pneus de medida 195/60 R 15 estão ligados à versão de acabamento; a Exclusive vem com 195/55 R 16, qualquer que sejam o motor e a caixa escolhidos.
As medições apontaram bom desempenho,
dentro do esperado, mas consumo mais alto do
que o porte e a potência do C3 fariam prever
Como é dirigir esse C3? Agradável, sem dúvida. O motor vibra pouco, produz ruído moderado e tem potência adequada desde baixas rotações para lidar com um dos compactos mais pesados do mercado (1.182 kg nesta versão). Embora as quatro marchas sejam pouco para aproveitar a faixa de melhor desempenho do 1,6-litro, no uso normal o câmbio dá conta do recado. Poderia ser mais suave nas mudanças, é verdade, assim como mais uma ou duas marchas reduziriam a grande variação de rotação em cada troca. Ponto positivo é sua calibração em uso rodoviário, onde mantém a quarta marcha em subidas leves que, em alguns câmbios desse tipo, resultariam em redução para terceira e aumento de ruído.
As medições do Best Cars apontaram bom desempenho, dentro do esperado por suas características (veja tabela abaixo), mas um consumo mais alto do que o porte e a potência do Citroën fariam prever — aqui, as quatro marchas e as perdas de energia do conversor de torque do câmbio, que os automatizados evitam, fazem diferença para pior. Como referência, o Honda Fit EX de caixa CVT obteve desempenho superior (apesar da menor potência) e consumo bem mais baixo, sobretudo nos ciclos urbanos, e até o mais potente e pesado Ford Focus SE foi mais econômico que o C3, salvo no trajeto exigente em cidade.
Rodar macio e baixo nível de ruídos e vibrações são pontos altos desse Citroën; o
motor de bom desempenho sai prejudicado pelo câmbio de quatro marchas
Ao contrário do C3 Exclusive, que havia incomodado pela transmissão de irregularidades do piso, o Tendance mostrou um rodar confortável sobre condições menos favoráveis, sinal de que pneus de perfil mais alto podem fazer muito pela adequação de um carro ao solo brasileiro. Eventual redução na estabilidade — se houver, pois até a largura dos pneus é mantida — em nada prejudica o bom comportamento dinâmico do carro, que tem ainda freios eficientes. A direção cativa pela leveza em manobras, mas alguns podem desejar maior sensibilidade ao andar rápido.
Quando submetemos a versão de topo à avaliação de Um Mês ao Volante, no fim de 2012, concluímos que o C3 Exclusive é um carro bastante interessante, mas oferecido a preço alto demais para suas características. O Tendance ataca diretamente esse ponto e consegue um preço mais razoável, abrindo mão de itens que não fazem tanta falta assim. Ficou barato? Ainda não: o Fiesta SE parece mais convincente com o câmbio de seis marchas, o controle eletrônico de estabilidade e outros atributos compatíveis com os do Citroën. Mas quem simpatizar pelo francesinho ou quiser sentir o sol das manhãs de inverno entrando pelo enorme para-brisa, sem precisar trocar de marchas, agora pode fazê-lo tirando R$ 5 mil a menos do bolso.
Mais Avaliações |
Testes de desempenho
• Arrancar forte com o C3 é fácil: basta segurar os freios e acelerar até 2.600 rpm, rotação de estol da caixa automática. Liberado o pedal da esquerda, ele sai ágil sem patinar pneus.
• As trocas automáticas dão-se a 6.000 rpm no caso da primeira e 6.200 na segunda. O grande intervalo entre as relações das quatro marchas implica queda expressiva de giros: quando a segunda entra, as 6.000 rpm despencam para meras 3.300 rpm e o motor sente grande perda de potência até atingir sua melhor faixa novamente. Os testes de desempenho foram feitos no modo esportivo do câmbio, que mantém o motor em regimes mais altos em cargas (aberturas de acelerador) parciais, mas não altera a rotação máxima das trocas.
Aceleração | |
0 a 80 km/h | 8,8 s |
0 a 100 km/h | 12,2 s |
0 a 120 km/h | 17,1 s |
0 a 400 m | 18,2 s |
Retomada | |
60 a 100 km/h* | 7,3 s |
60 a 120 km/h* | 12,5 s |
80 a 120 km/h* | 9,1 s |
Consumo | |
Trajeto leve em cidade | 7,6 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 4,6 km/l |
Trajeto em rodovia | 8,4 km/l |
Autonomia | |
Trajeto leve em cidade | 376 km |
Trajeto exigente em cidade | 228 km |
Trajeto em rodovia | 416 km |
Testes efetuados com álcool; *com reduções automáticas; conheça nossos métodos de medição |
Dados do fabricante
Não disponíveis
Comentário técnico
• O motor de 1,6 litro, que a Citroën chama de VTi 120 (em alusão à variação do tempo de abertura das válvulas de admissão e à potência aproximada) e a Peugeot de EC5, é uma evolução do que acompanha o C3 desde o lançamento da primeira geração, em 2003. Entre as evoluções estão a maior taxa de compressão e o preaquecimento de álcool para partida a frio. Contudo, o motor usa bloco de ferro fundido, o que explica uma parte dos expressivos 80 kg que a versão 1,6 com câmbio automático pesa a mais que a 1,45 de caixa manual.
• A gama de relações (obtida dividindo-se a relação da primeira marcha pela da última) do câmbio do C3 exemplifica o que se ganha com o maior número de marchas das caixas modernas. No Citroën esse valor é de apenas 3,8, ante 5,6 do Fiesta automatizado de seis marchas e 6 do Onix automático de seis. Um número maior indica que o fabricante previu uma primeira mais curta, que favorece as arrancadas e requer menor intervenção do conversor de torque (pouco eficiente e que aumenta o consumo), e/ou uma última marcha mais longa para menor rotação em viagem, o que traz economia e menos ruído. Além dessa vantagem, um câmbio com mais marchas consegue manter o motor por mais tempo na faixa de rotação ideal para o que se pretende, seja desempenho ou economia e baixas emissões, pois as relações podem ser definidas mais próximas umas das outras.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Material do bloco/cabeçote | ferro fundido/alumínio |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 78,5 x 82 mm |
Cilindrada | 1.587 cm³ |
Taxa de compressão | 12,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 115 cv a 6.000 rpm/122 cv a 5.800 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 15,5/16,4 m.kgf a 4.000 rpm |
Potência específica (gas./álc.) | 72,5/76,9 cv/l |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | automático / 4 |
Relação e velocidade por 1.000 rpm | |
1ª. | 2,73 / 9 km/h |
2ª. | 1,50 / 16 km/h |
3ª. | 1,00 / 25 km/h |
4ª. | 0,71 / 35 km/h |
Relação de diferencial | 3,67 |
Regime a 120 km/h | 3.450 rpm (4ª.) |
Regime à vel. máxima informada | ND |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado (266 mm ø) |
Traseiros | a tambor (229 mm ø) |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Diâmetro de giro | 10,3 m |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Estabilizador(es) | dianteiro e traseiro |
Rodas | |
Dimensões | 15 pol |
Pneus | 195/60 R 15 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,944 m |
Largura | 1,708 m |
Altura | 1,521 m |
Entre-eixos | 2,46 m |
Bitola dianteira | ND |
Bitola traseira | ND |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | 0,31 |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 55 l |
Compartimento de bagagem | 300 l |
Peso em ordem de marcha | 1.182 kg |
Relação peso-potência (gas./álc.) | 10,3/9,7 kg/cv |
Garantia | |
Prazo | 3 anos sem limite de quilometragem |
Carro avaliado | |
Ano-modelo | 2015 |
Pneus | Pirelli Cinturato P1 |
Quilometragem inicial | 2.000 km |
Dados do fabricante; ND = não disponível |