Tivemos um breve contato com o hatch esportivo da marca,
que empolga pelo desempenho nas versões básica e Cup
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Um hatchback médio emocionante, de desempenho entre os mais altos da categoria dentro do que se conhece no Brasil, é o que a Renault pode passar a oferecer ao mercado nacional no primeiro semestre de 2014. Por enquanto a importação não foi anunciada — estaria ainda em estudos, garante a empresa —, mas o convite à imprensa para experimentar o Mégane Renault Sport, ou RS, parece indicar que ele logo estará entre nós.
Do antigo Mégane fabricado em São José dos Pinhais, PR, em versões sedã e perua Grand Tour o novo carro mantém apenas o nome: é um hatch de três portas (existe com cinco na Europa, mas não em versão RS), está uma geração à frente (da qual foi derivado o Fluence) e foi todo revisto para receber o sobrenome da divisão esportiva da Renault, que surgiu nos anos 70 como braço de competição e chegou ao Brasil no ano passado com o Fluence GT.
O desenho é um ponto alto do Mégane de três portas, acentuado pelo pacote
esportivo da versão; a Renault parece prever preço em torno de R$ 130 mil
É desse Fluence que o Mégane RS usa o motor turbo de 2,0 litros e 16 válvulas, mas com diversas alterações: turbina — que é de duplo fluxo, como no sedã — com maior capacidade e pressão máxima de 1,2 bar (contra 1 bar do Fluence), novo resfriador de ar, válvulas de escapamento refrigeradas a sódio, revisões na central eletrônica e na variação do tempo de abertura das válvulas de admissão, pistões, bielas e virabrequim reforçados.
O resultado é um ótimo rendimento para sua cilindrada: potência de 265 cv (potência específica de 132,6 cv por litro) e torque de 36,7 m.kgf, dos quais 80% aparecem a 1.900 rpm. O motor pode ser levado a 6.500 rpm, 1.000 acima do ponto de potência máxima. De acordo com a Renault, o hatch de 1.387 kg acelera de 0 a 100 km/h em seis segundos e atinge a velocidade máxima de 254 km/h, quando atua a limitação eletrônica.
Para obter esses valores (em vez de 250 cv e 34,7 m.kgf) é preciso habilitar o modo de direção Sport, que afeta diversos outros parâmetros: coloca o controle eletrônico de estabilidade em modo mais permissivo (existe ainda como desativá-lo), deixa as respostas do acelerador mais rápidas, libera mais ruído pelo escapamento e desativa a assistência adicional de frenagem em emergência, cuja atuação seria inconveniente em uso vigoroso. Pode-se ainda regular o ponto em que surgem os alertas visual e sonoro para troca de marcha.
O RS básico (sem o sufixo Cup) tem o mesmo motor, mas com suspensão, pneus e
freios diferentes; seu interior oferece conforto adicional de que o Cup abre mão
Todo o conjunto mecânico é adequado à proposta, com câmbio manual de seis marchas (inclui ré sincronizada), suspensão mais firme e freios a disco com pinças Brembo nos dianteiros. Um assistente eletrônico permite obter arrancadas rápidas com menor patinação de pneus, que são Dunlop Sport Maxx TT em medida 225/40 R 18. Tudo isso em uma carroceria bastante atraente, de aerodinâmica razoável (Cx 0,34), e com um interior refinado e esportivo que traz muitos elementos em comum ao Fluence. O espaço no banco traseiro é restrito, assim como a visibilidade para trás, mas isso não é algo que incomode seu público-alvo. Para bagagem a capacidade é adequada, 344 litros.
O programa de uso esportivo, além do motor mais vigoroso em 15 cv e da resposta ao pé direito mais rápida, produz um delicioso ronco
O RS é oferecido também na versão Cup, mostrada em amarelo nas fotos, que abre mão de alguns elementos de conforto em favor de ainda maior esportividade. As diferenças incluem diferencial autobloqueante (mecânico), pneus Michelin Pilot Sport 2 em medidas 235/40 R 18 (no carro experimentado eram Bridgestone Potenza RE 050 A opcionais, 235/35 R 19), suspensão recalibrada, freios com ranhuras, bancos dianteiros Recaro com formato típico de competição (mas sem as regulagens elétricas dos convencionais) e detalhes próprios de acabamento. O carro avaliado trazia o pacote amarelo, cor aplicada até aos cintos de segurança.
O Cup vem com o RS Monitor, opcional para o RS básico, um sistema eletrônico que fornece dados como pressão do turbo, temperatura do óleo do motor, uso de torque e potência, acelerações lateral e longitudinal, cronômetro e aceleração de 0 a 100 km/h e de 0 a 400 metros. De resto, o conteúdo de conforto e segurança é farto, com itens como ar-condicionado automático de duas zonas, chave-cartão, acesso ao interior e partida do motor (por botão) sem uso da chave, navegador, sistema de áudio Arkamys, monitor de pressão dos pneus, limitador e controlador de velocidade e faróis direcionais com lâmpadas bixenônio.
O Cup pode vir com bancos Recaro inspirados nos de corrida e traz de série um monitor
com dados do carro e da condução; os freios têm ranhuras e as pinças são Brembo
Ao volante
Nosso contato com ambas as versões, no Aeródromo Dr. José Augusto de Arruda Botelho SDJA, na cidade paulista de Itirapina (mais conhecido como BROA), foi bastante limitado: apenas uma sessão para obter a maior velocidade possível na reta de 1.450 metros — por volta de 210 km/h — e um circuito sinuoso que levava 15 segundos para ser cumprido. No total, menos de 10 minutos ao volante entre as duas versões.
O que se pôde notar em tão pouco tempo? Que a Renault Sport fez um bom trabalho de conferir esportividade ao Mégane, do visual ao desempenho, passando pelo ronco do motor e a operação de todos os comandos. A aceleração empolga de verdade, com um coice nas costas a cada liberação do (pesado) pedal de embreagem, e a sensação é de plena segurança ao alcançar a faixa de 200 km/h. Ao fim da reta, os freios usados em sua plenitude dissiparam velocidade com rapidez.
No pequeno circuito, no qual dirigimos o RS básico em modos normal e Sport e a versão Cup apenas em Sport, o programa esportivo fez grande diferença no comportamento do carro e nas sensações que ele transmite. Além do motor mais vigoroso e da resposta ao pé direito claramente mais rápida, o Mégane passava a produzir um delicioso ronco. O que deixou dúvida — a ser esclarecida apenas em uma avaliação mais razoável em tempo e espaço — é como a tração dianteira lida com 265 cv. Se nas arrancadas ainda se pode recorrer ao assistente eletrônico, em curvas de pequeno raio parece difícil evitar grande subesterço, ainda mais quando se começa a aplicar potência. Conforto de rodagem não houve como analisar, mas certamente o básico é melhor nesse aspecto.
Uma “esticada” a mais de 200 km/h e um circuito muito breve: foi pouco para avaliar,
mas o Mégane RS mostrou qualidades para emocionar quem busca esportividade
Quanto custará o Mégane Renault Sport se vier? A fábrica diz não ter preço previsto, mas a consulta feita aos jornalistas previa quatro faixas das quais o valor médio seria de R$ 130 mil — parece um bom palpite do que pode ser o preço final. Produzido na Espanha (onde custa a partir de € 28.800 ou R$ 87,8 mil), ele recolheria Imposto de Importação de 35%, mas a Renault pode usar uma parcela de sua cota de 9.600 unidades por ano, obtida pelo programa Inovar-Auto, para evitar o acréscimo de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) em 30 pontos percentuais.
Por R$ 130 mil, parece-nos que faltaria competitividade ao RS entre os hatches esportivos. Embora mais potente que Audi A3 Sport (180 cv, R$ 115 mil), BMW 125i M Sport (218 cv, R$ 162,7 mil), Mini Cooper S Top (184 cv, R$ 120 mil) e Volvo V40 Dynamic (180 cv, R$ 116 mil), só custaria menos que um deles — e seria difícil atribuir à Renault o prestígio que as marcas citadas desfrutam. Seria valor próximo ao do Subaru Impreza WRX (270 cv, R$ 136 mil), mas ele oferece a importante tração integral. Se a Renault pudesse trazê-lo a até R$ 110 mil, porém, ele se tornaria tão convidativo à compra quanto é ao pleno uso do pé direito.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 82,7 x 93 mm |
Cilindrada | 1.998 cm³ |
Taxa de compressão | 8,6:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial, turbocompressor, resfriador de ar |
Potência máxima* | 250/265 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo* | 34,7/36,7 m.kgf de 3.000 a 5.000 rpm |
* em modos normal e Sport | |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | manual / 6 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 18 pol (Cup: 19 pol) |
Pneus | 225/40 R 18 (Cup: 235/35 R 19) |
Dimensões | |
Comprimento | 4,299 m |
Largura | 1,848 m |
Altura | 1,435 m |
Entre-eixos | 2,636 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 60 l |
Compartimento de bagagem | 344 l |
Peso em ordem de marcha | 1.387 kg |
Desempenho e consumo | |
Velocidade máxima | 254 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 6,0 s |
Consumo em cidade | 8,7 km/l |
Consumo em estrada | 14,9 km/l |
Dados do fabricante; consumo pelos padrões europeus |