Os tempos são outros, assim como a proposta, mas o Sigma
de 110 cv traz ao novo Ka uma agilidade que convida a acelerar
Texto: Fabrício Samahá e Paulo de Araújo – Fotos: divulgação
Durante sete anos da década passada, a Ford proporcionou diversão em pequenos frascos com o Ka de 1,6 litro, lançado em versão XR e depois em outras como Action e MP3. Compacto, leve, com torque imediato, acelerador e direção rápidos, escapamento ruidoso e ótima estabilidade — sem esquecer a traseira “alegre”, que gostava de sair quando se cortava o acelerador em curvas —, foi daqueles carros que nem todos compreenderam e poucos compraram, mas os que apostaram em um garantiram muitos sorrisos em estradinhas sinuosas.
Inevitável lembrar-se desse Ka ao dirigir a nova geração com motor de 1,5 litro, que vem complementar a gama iniciada com o hatch de 1,0 litro e seguida pelo sedã Ka+ com ambos os motores (a fábrica espera que de 20% a 30% dos hatches vendidos tenham a unidade mais potente). Não se engane, porém: ainda que cative pela agilidade, o novo Ka é um carro politicamente correto. Aquele esportivo disfarçado de carro de universitária ficou mesmo no passado.
Sem identificações externas: logotipos e rodas são os mesmos do Ka SEL
de 1,0 litro, o que permite pregar alguns sustos em saídas de semáforo
Isso não significa que lhe falte desempenho — pelo contrário. Com potência de 105 cv com gasolina e 110 com álcool e torque de 14,6 e 14,9 m.kgf (na mesma ordem), o motor Sigma de 1,5 litro de 16 válvulas faz um belo trabalho no hatch de apenas 1.034 kg (são 9,4 kg/cv com álcool). Superada ligeira hesitação até 2.000 rpm, o Kazinho arranca com desenvoltura e sobe de giros com relativa suavidade, bem diferente da vibrante versão de 1,0 litro e três cilindros. A Ford não informa dados de desempenho, mas nosso teste com o Ka+ com álcool indicou aceleração de 0 a 100 km/h em 12 segundos e retomada de 80 a 120 km/h em quarta marcha em 13,3 s.
O motor Sigma faz um belo trabalho no hatch:
o Kazinho arranca com desenvoltura e
sobe de giros com mais suavidade que o 1,0-litro
Com câmbio escalonado para economia, que produz apenas 3.300 rpm a 120 km/h em quinta, o Ka 1,5 — que dispensa identificações externas — permite viagens confortáveis, com baixo nível de ruído. A Ford anuncia a conquista da nota A em consumo de combustível pelo Conpet/Inmetro (veja os números na ficha, abaixo); em nosso teste o sedã, que é apenas 14 kg mais pesado, obteve 11 km/l no trajeto urbano leve, 6,1 no urbano exigente e 9,6 no rodoviário, sempre com álcool e seguindo o método Best Cars.
Comportamento dinâmico é um ponto alto do novo Ka, que mostra fácil controle em curvas rápidas, sem sacrifício do conforto (mas poderia melhorar na absorção de impactos), e tem controle eletrônico de estabilidade de série na versão SEL. A direção com assistência elétrica é bem leve em baixa velocidade e ganha peso correto em alta, os freios respondem bem e o comando de câmbio agrada pela maciez, além de ter fácil engate da marcha à ré, sem travas redundantes.
Espaço na média da categoria e acabamento acima, em um interior que vem
bem-equipado nesta versão, mas deixa de lado alguns itens relevantes
Por fora o mais novo Ford brasileiro não surpreende: as linhas simples visaram a agradar ao grande público, ao contrário da primeira geração, que abria mão de aplausos da maioria para ser reconhecida como inovadora. Por dentro o acabamento tem bom padrão para sua categoria, o motorista desfruta posição cômoda ao volante (que é regulável em altura, mas não em distância) e há espaço adequado para dois adultos de estatura média no banco traseiro.
Vários bons detalhes podem ser percebidos, como fartos locais para objetos, comandos de áudio no volante, luz de sugestão para troca de marcha (desligável), comandos de voz para sistema de áudio e telefone, partida assistida (não é preciso segurar a chave até o motor pegar), assistente de partida em rampa, controles elétricos de vidros com temporizador, alarme com proteção volumétrica, comando elétrico da tampa traseira, amplos retrovisores convexos, limpador de para-brisa com ajuste de intervalo, marcador de temperatura ambiente, partida a frio com preaquecimento de álcool (dispensa tanque de gasolina) e um ar-condicionado bastante potente para um carro dessa classe.
O que pode melhorar? O apoio lombar dos bancos dianteiros é escasso, o sistema de áudio Sync impõe dificuldade para tarefas que deveriam ser simples e faltam faixa degradê no para-brisa, iluminação no porta-malas, banco traseiro bipartido, repetidores laterais de luzes de direção e fixação Isofix para cadeira infantil.
A conhecida unidade de 1,5 litro lançada no Fiesta garante desenvoltura
ao mais leve Ka, sem abrir mão de nota A em consumo pelo Inmetro
O Ka SEL custa R$ 45 mil e inclui itens de série como rodas de alumínio de 15 pol com pneus 195/55, faróis de neblina, computador de bordo, alarme e ajuste de altura do banco do motorista, além do controle de estabilidade. Quem abrir mão de tais itens pode optar pela versão SE, por R$ 40.390, que ainda traz ar-condicionado, direção assistida elétrica, vidros dianteiros e travas elétricos, chave tipo canivete com controle remoto, ajuste de altura do volante, abertura elétrica do porta-malas e sistema de áudio com interface Bluetooth, USB e local para encaixe do celular. O SE Plus, de R$ 42.390, vem ainda com sistema de áudio Sync com toca-CDs e comandos de voz, controles de áudio e telefone no volante, assistência de emergência e vidros elétricos traseiros, tudo isso também presente no SEL.
Se R$ 45 mil por um carro pequeno está longe de ser barato, o fato é que a relação entre potência, conteúdo e preço do Ka ficou bem inserida diante da concorrência, como Chevrolet Onix LT (1,4 litro, 98/106 cv, R$ 44.640), Citroën C3 Attraction (1,45 litro, 89/93 cv, R$ 44.590), Fiat Palio Sporting (1,6 litro, 115/117 cv, R$ 44.200), Hyundai HB20 Comfort Style (1,6 litro, 122/128 cv, R$ 46.690), Nissan March SL (1,6 litro, 111 cv, R$ 43 mil), Peugeot 208 Active Pack (1,45 litro, 89/93 cv, R$ 46.890), Renault Sandero Dynamique (1,6 litro, 98/106 cv, R$ 43.180), Toyota Etios XLS (1,5 litro, 92/96,5 cv, R$ 46.220) e Volkswagen Gol Comfortline (1,6 litro, 101/104 cv, R$ 45.250).
O que para muitos será convidativo é subir um degrau na linha Ford e passar ao novo Fiesta, que em versão S custa R$ 43 mil (é provável que o fabricante logo descarte essa opção), e em SE, R$ 47 mil, com o mesmo motor 1,5 do Ka. Mas, para a marca do oval azul, se a decisão do comprador ficar em casa estará tudo bem.
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Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4 |
Diâmetro e curso | 79 x 76,4 mm |
Cilindrada | 1.499 cm³ |
Taxa de compressão | 11:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 105 cv a 6.500 rpm/110 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 14,6/14,9 m.kgf a 4.250 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | manual, 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 6 x 15 pol |
Pneus | 195/55 R 15 |
Dimensões | |
Comprimento | 3,886 m |
Largura | 1,695 m |
Altura | 1,525 m |
Entre-eixos | 2,491 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 52 l |
Compartimento de bagagem | 257 l |
Peso em ordem de marcha | 1.034 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | ND |
Aceleração de 0 a 100 km/h | ND |
Consumo em cidade | 11,5/7,9 km/l |
Consumo em rodovia | 13,6/9,5 km/l |
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro; ND = não disponível |