Leve e com alto torque, o Volkswagen foi superior em aceleração, retomada e consumo; o Honda equivale-se ao Fiat em desempenho e consome menos que ele
Desempenho e consumo
Diferentes em cilindrada, potência, peso e até no tipo de transmissão, como esses três sedãs se saem um contra o outro na pista de testes? Os resultados coletados pelo instrumento Race Capture Pro foram então analisados pelo consultor técnico Felipe Hoffmann, da FHB Performance.
O Virtus foi o mais rápido em todas as provas de aceleração e retomada, mas por pequenas margens, com os rivais equilibrados. De 0 a 100 km/h com gasolina, por exemplo, ele cumpriu em 10,7 segundos ante 11,3 s do City e 11,4 s do Cronos. Interessante notar que, apesar de mais potente, o Fiat acelera junto com o Honda e o supera por pouco em retomadas, por ser o mais pesado, usar rodas e pneus maiores (mais massa para ser girada) e não ter a eficiente transmissão CVT do oponente.
Cabe lembrar que nossa pista fica à altitude média de 600 metros acima do nível do mar, o que favorece o motor turbo do VW por não perder potência com a menor pressão atmosférica (os modelos aspirados perdem cerca de 9% e não fazemos correção dos resultados para anular esse fator, como fazem os fabricantes).
Ao analisar o gráfico de aceleração acima, percebe-se que o City leva desvantagem nos primeiros 3 segundos (destacados), tanto no pico mais baixo de aceleração quanto na média. O comportamento é fruto da limitação da caixa CVT, com uma “primeira marcha” (a mais curta da relações) um tanto longa. Tanto que em modo manual a “primeira” termina por volta de 60 km/h, ante cerca de 40 km/h dos oponentes.
Ajudaria o Honda um conversor de torque mais “solto”, que permitisse saída com rotação maior de estol que 2.100 rpm. Nesse aspecto o Cronos é beneficiado, com 2.700 rpm contra 2.500 do Virtus. Por outro lado, o Honda é o único a manter o motor por boa parte da prova exatamente na rotação de maior potência (6.000 rpm). Acelerados a pleno, o VW faz a troca de marcha 700 rpm acima do pico de potência, o que mantém o motor mais “cheio” depois da mudança que o Fiat (250 rpm acima).
A vantagem da CVT aparece logo após os rivais passarem para a segunda marcha (entre 3 e 4 segundos), quando as rotações de trabalho se tornam parecidas. O City começa a “buscar” o Cronos e o Virtus assim que ambos engatam a terceira, entre 7 e 8 s, enquanto a CVT mantém a rotação constante. Dali em diante o Honda permanece em potência máxima o tempo todo, ao passo que os adversários ficam com a potência média gerada entre 4.000 e 6.000 rpm em valores redondos — e ainda perdem tempo durante as trocas de marchas. Fica claro que o City alcança ambos em velocidade de 8 s em diante (trecho em destaque acima).
Ao selecionar o modo manual na CVT do City, o motorista obtém uma emulação de sete marchas, pela qual o motor passa a variar de rotação perto de seu regime máximo (em números redondos vai a 6.000 rpm, cai a 5.000 e assim por diante), como se mudasse de marchas. O objetivo é agradar aos ouvidos e evitar o ruído constante e monótono do motor, mas o desempenho perde: nesse modo o 0-100 km/h sobe de 11,3 s para 11,8 s, enquanto o 0-120 km/h piora de 15,4 s para 16,4 s (quanto mais ciclos de variação de rotação ele promover, mais a diferença de tempo aumentará).
Apesar de seguirmos o critério de contar o tempo de retomada a partir do momento em que o veículo começa a acelerar, a análise do gráfico nos permite verificar o tempo de resposta ao acelerador de cada carro, desde que o pedal é pressionado a fundo. O City teve a resposta mais rápida durante a “redução de marcha”, por se tratar de simples variação de posição das polias.
Na retomada de 80 a 120 km/h, a estratégia adotada foi simular uma marcha fixa, o que pode agradar mais pelo ganho de rotação em função da velocidade, mas prejudica o desempenho — o carro seria mais rápido se mantivesse a rotação de potência máxima. Interessante notar que o Virtus tem o mesmo tempo de resposta do Cronos, mostrando que retardo de turbo é coisa do passado. Já na de 60 a 120 km/h (gráfico acima) o Honda ficou bem perto dos concorrentes, por escolher uma “marcha” intermediária entre a segunda e a terceira do VW e do Fiat, os quais precisam trocar de marcha durante a manobra.
Em consumo, Virtus e City brilharam sobre o concorrente. Ficaram empatados no trajeto urbano leve, o Honda foi melhor no urbano exigente e o VW venceu por margem importante (2 km/l) no rodoviário. Nessa condição, o motor turbo cheio de torque mantém-se firme a 120 km/h em sexta marcha nas subidas da rodovia que usamos (SP-70 Carvalho Pinto), enquanto o aspirado do City requer, com frequência, encurtamento de relação para elevar a rotação de 2.100 para cerca de 3.500 rpm, o que prejudica sua economia. No Cronos as condições mais críticas foram as urbanas, por conta do peso elevado. A maior autonomia é também do Virtus.
Cronos | City | Virtus | |
Aceleração | |||
0 a 100 km/h | 11,4 s | 11,3 s | 10,7 s |
0 a 120 km/h | 15,6 s | 15,4 s | 14,8 s |
0 a 400 m | 18,0 s | 18,0 s | 17,4 s |
Retomada | |||
60 a 100 km/h* | 6,2 s | 6,3 s | 6,1 s |
60 a 120 km/h* | 10,3 s | 10,6 s | 10,2 s |
80 a 120 km/h* | 7,7 s | 8,1 s | 7,3 s |
Consumo | |||
Trajeto leve em cidade | 12,1 km/l | 15,1 km/l | 15,1 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 5,9 km/l | 8,3 km/l | 7,8 km/l |
Trajeto em rodovia | 12,8 km/l | 13,4 km/l | 15,4 km/l |
Autonomia | |||
Trajeto leve em cidade | 523 km | 625 km | 707 km |
Trajeto exigente em cidade | 255 km | 344 km | 365 km |
Trajeto em rodovia | 553 km | 555 km | 721 km |
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Dados dos fabricantes
Cronos | City | Virtus | |
Velocidade máxima | 195/196 km/h | ND | 189/194 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 10,8/9,9 s | ND | 10,4/9,9 s |
Consumo em cidade | 10,3/7,2 km/l | 12,3/8,5 km/l | 11,2/7,8 km/l |
Consumo em rodovia | 13,3/9,6 km/l | 14,5/10,3 km/l | 14,6/10,2 km/l |
Gasolina/álcool; consumo conforme padrões do Inmetro; ND = não disponível |
Os três motores usam soluções atuais, com destaque para o do Virtus; o City diferencia-se na transmissão de variação contínua
Comentário técnico
• O motor mais moderno é o do Virtus, da série EA-211, com turbocompressor e injeção direta de combustível. Como o City, ele usa bloco de alumínio, mais leve e favorável à dissipação de calor que o ferro fundido do Cronos. Os três têm variação de tempo de abertura das válvulas, que no Honda vem associada à variação do levantamento das válvulas. O motor E-Torq do Fiat recebe ainda coletor de admissão com geometria variável. O acionamento dos comandos usa corrente no Cronos e no City e correia dentada no Virtus. No Cronos há parada/partida automática.
• A transmissão automática de variação contínua (CVT) do Honda tem um ponto em comum à automática tradicional dos outros: conversor de torque, que nesse caso responde apenas pela conexão ao motor, sem trabalhar nas “mudanças de marcha”. Algumas CVTs — como a do primeiro Honda Fit e a atual da JAC — usam para essa função uma embreagem, que sofre desgaste gradual quando o carro é acelerado ao sair ou para se manter parado em subida.
• Cronos e Virtus usam a mesma transmissão básica Aisin, com iguais relações de marcha, variando apenas a relação de diferencial e o diâmetro dos pneus. Ambos os itens deixam o VW cerca de 8% mais longo em todas as marchas, o que é coerente com a curva de torque dos motores. A 120 km/h em sexta, portanto, o Fiat gira 200 rpm a mais. Nas ocasiões em que usa a relação mais baixa (longa) da CVT, porém, o City mantém outras 200 rpm a menos que o Virtus.
• As plataformas são compartilhadas com os hatches Argo, Fit e Polo até certo ponto. A Honda e a VW usam maior distância entre eixos nos sedãs, enquanto a Fiat alega ter refeito a seção traseira. No City — como nos colegas de arquitetura, que incluem WR-V e HR-V — o tanque de combustível tem posição peculiar, abaixo dos bancos dianteiros, em vez de sob o assento traseiro como usual.
Ficha técnica
Cronos | City | Virtus | |
Motor | |||
Posição | transversal | transversal | transversal |
Cilindros | 4 em linha | 4 em linha | 3 em linha |
Material do bloco/cabeçote | ferro fundido/ alumínio | alumínio | alumínio |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote | duplo no cabeçote | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo | 4, variação de tempo e levantamento | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 80,5 x 85,8 mm | 73 x 89,4 mm | 74,5 x 76,4 mm |
Cilindrada | 1.747 cm³ | 1.496 cm³ | 999 cm³ |
Taxa de compressão | 12,5:1 | 10,4:1 | 10,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial | injeção multiponto sequencial | injeção direta, turbo, resfriador de ar |
Potência máxima (gas./álc.) | 135/139 cv a 5.750 rpm | 115/116 cv a 6.000 rpm | 116/128 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 18,8/19,3 m.kgf a 3.750 rpm | 15,3 m.kgf a 4.800 rpm | 20,4 m.kgf de 2.000 a 3.500 rpm |
Potência específica (gas./álc.) | 77,2/79,6 cv/l | 76,8/77,5 cv/l | 116,1/128,1 cv/l |
Transmissão | |||
Tipo de caixa e marchas | automática, 6 | automática de variação contínua, emulação de 7 marchas | automática, 6 |
Relação e velocidade por 1.000 rpm | |||
1ª. | 4,46 / 7 km/h | variação de 2,53 a 0,41/ variação de 9 a 56 km/h | 4,46 / 8 km/h |
2ª. | 2,51 / 13 km/h | 2,51 / 14 km/h | |
3ª. | 1,56 / 20 km/h | 1,56 / 22 km/h | |
4ª. | 1,14 / 28 km/h | 1,14 / 30 km/h | |
5ª. | 0,85 / 37 km/h | 0,85 / 40 km/h | |
6ª. | 0,67 / 47 km/h | 0,67 / 51 km/h | |
Relação de diferencial | 3,68 | 4,99 | 3,50 |
Regime a 120 km/h | 2.550 rpm (6ª.) | 2.150 rpm* | 2.350 rpm (6ª.) |
Regime à velocidade máxima informada (gas./álc.) | 5.250/5.300 rpm (5ª.) | ND | 4.700/4.800 rpm (5ª.) |
Tração | dianteira | dianteira | dianteira |
* na relação mais baixa | |||
Freios | |||
Dianteiros | a disco ventilado | a disco ventilado | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor | a tambor | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim | sim | sim |
Direção | |||
Sistema | pinhão e cremalheira | ||
Assistência | elétrica | elétrica | elétrica |
Diâmetro de giro | 10,5 m | 10,3 m | 10,5 m |
Suspensão | |||
Dianteira | independente, McPherson | independente, McPherson | independente, McPherson |
Traseira | eixo de torção | eixo de torção | eixo de torção |
Elemento elástico | mola helicoidal | mola helicoidal | mola helicoidal |
Estabilizador(es) | dianteiro | dianteiro | dianteiro |
Rodas | |||
Dimensões | 17 pol | 6 x 16 pol | 6,5 x 17 pol |
Pneus | 205/45 R 17 V | 185/55 R 16 V | 205/50 R 17 H |
Dimensões | |||
Comprimento | 4,364 m | 4,455 m | 4,482 m |
Largura | 1,726 m | 1,695 m | 1,751 m |
Altura | 1,516 m | 1,485 m | 1,472 m |
Entre-eixos | 2,521 m | 2,60 m | 2,651 m |
Bitola dianteira | 1,465 m | 1,482 m | 1,514 m |
Bitola traseira | 1,498 m | 1,472 m | 1,495 m |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | ND | ND | 0,326 |
Capacidades e peso | |||
Tanque de combustível | 48 l | 46 l | 52 l |
Compartimento de bagagem | 525 l | 536 l | 521 l |
Peso em ordem de marcha | 1.271 kg | 1.135 kg | 1.192 kg |
Peso-potência (gas./álc.) | 9,4/9,1 kg/cv | 9,9/9,8 kg/cv | 10,3/9,3 kg/cv |
Garantia | |||
Prazo | 3 anos sem limite de quilometragem | ||
Carros avaliados | |||
Ano-modelo | 2018 | 2018 | 2018 |
Pneus | Pirelli Cinturato P7 | Bridgestone Turanza ER300 | Dunlop Sport Blu Response |
Quilometragem inicial | 3.000 km | 5.000 km | 1.000 km |
Dados do fabricante; ND = não disponível |