Com 127 cv a partir de R$ 40 mil, nova versão flexível de 1,5
litro sobressai em desempenho entre os carros de sua categoria
Texto: Paulo de Araújo e Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
Em fevereiro do ano passado a JAC Motors apresentou o J3 S, uma versão de apelo esportivo do hatchback compacto equipada com o motor de 1,5 litro da marca — o mesmo do sedã médio J5 — adaptada para flexibilidade em combustível. A opção acabou sendo atropelada pela renovação visual da linha J3, em junho seguinte, quando o importador oficial da empresa chinesa anunciou que ela voltaria em setembro.
O relançamento atrasou, mas agora estreiam não só o J3 S com o estilo atualizado, como também o sedã J3 Turin S. O motor é o mesmo de antes, o que inclui sistema Delphi para partida a frio com preaquecimento de álcool e dispensa o tanque suplementar de gasolina. Por enquanto esses são os únicos modelos flexíveis da JAC, mas toda a linha será convertida ainda este ano, assegura o importador.
Aos preços de R$ 40 mil para o hatch e R$ 41.690 para o Turin, os novos J3 oferecem boa relação entre preço e potência — são 125 cv com gasolina e 127 cv com álcool. Como referências, o Nissan March SR 1,6 16V tem 111 cv e custa R$ 41.790, o Fiat Palio Essence 1,6 16V de 115/117 cv parte de R$ 40.460 e o Ford Fiesta S 1,5 16V oferece 107/111 cv a partir de R$ 42.190. Entre os sedãs, o Nissan Versa S 1,6 16V de 111 cv começa em R$ 39.600. Para ter potência similar à do JAC é preciso passar a modelos mais caros, como Fiesta e Hyundai HB20 com motor 1,6 16V.
Ao contrário do modelo 2013, o novo J3 S é discreto: apenas as rodas mudaram e foram
aplicados mais logotipos na traseira para o motor 1,5 com o sistema flexível Jetflex
O motor da chinesa mantém a taxa de compressão original do J5 (10,5:1) e por isso não obteve ganho de potência ou torque com gasolina (125 cv e 15,5 m.kgf), mas surgiram mais 2 cv e 0,2 m.kgf ao usar álcool. Em comparação ao 1,35-litro os aumentos chegam a 19 cv e 1,6 m.kgf. Essa unidade de 1,5 litro, que compartilha o diâmetro de cilindros do motor do J3 conhecido (apenas o curso de pistões é mais longo), traz duplo comando e quatro válvulas por cilindro com sistema de variação do tempo de abertura.
O aumento de desempenho é claro, com
um motor que cresce de giros com empolgação,
mas se percebe lentidão em baixa rotação
O resultado é potência específica das maiores entre os motores de aspiração natural do lado de cá de Ferraris e Lamborghinis, com 84,7 cv/litro com álcool — não distante dos 89 cv/l do Ford Focus 2,0 16V com injeção direta. Como são modelos razoavelmente leves (1.060 kg o hatch, 1.100 o sedã, mesmos pesos das versões 1,35-litro), o desempenho informado é muito bom, com aceleração de 0 a 100 km/h em 9,7 e 9,9 segundos (na mesma ordem de modelos) e velocidade máxima de 196 km/h, sem esclarecer qual o combustível.
O motor foi a única alteração técnica aplicada aos J3, que preservam o câmbio manual de cinco marchas, a altura e a calibração da suspensão, os freios (com tambores na traseira) e a medida dos pneus, 185/60 R 15. Na aparência, ao contrário do hatch S do ano passado — que vinha com uma seção preta na frente —, a JAC optou por um visual discreto: mudam apenas as rodas de alumínio e os logotipos na traseira, que somam J3 S, Jetflex e 1.5 em três alturas e fontes distintas (o sedã fica sem a indicação de cilindrada). A empresa anunciou também faixas laterais para o hatch, mas elas não aparecem nas fotos oficiais.
O sedã J3 Turin também recebe a versão mais potente; com variação de tempo das
válvulas, o motor vai a 127 cv com álcool, aumento de 19 sobre o de 1,35 litro
Por dentro há detalhes decorativos que sugerem esportividade, com o tom vermelho aplicado às costuras do volante, dos bancos e da coifa da alavanca de câmbio, iluminação do painel na mesma cor (na versão básica vem em branco), soleiras em padrão alumínio escovado com o nome J3 S e pedais esportivos. Seções do volante e da área central do painel, que são pretas na versão básica, passam a vir em tom prateado.
O conteúdo de série é o mesmo das versões de 1,35 litro, com ar-condicionado, direção assistida, rádio/CD com MP3 e tomada USB, sensores de estacionamento na traseira, volante revestido em couro com comandos de áudio e regulagem de altura, chave canivete com destravamento remoto das portas, alarme antifurto, faróis e luz traseira de neblina, ajuste elétrico dos faróis, banco traseiro bipartido, comando interno das tampas do tanque e do porta-malas e controles elétricos de vidros, travas e retrovisores, além de bolsas infláveis frontais e freios com sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica de força entre os eixos (EBD).
Esperto, sobretudo em alta
A avaliação do J3 S pela imprensa deu-se em uma viagem entre São Paulo e Atibaia, no interior do estado, parte da qual estivemos ao volante do sedã Turin. O aumento de desempenho sobre a versão original é claro, com um motor “esperto” que cresce de giros com empolgação. No entanto, percebe-se uma lentidão nas respostas em baixa rotação, sendo preciso mantê-lo acima de 3.000 rpm para obter sua melhor desenvoltura.
Costuras e instrumentos com vermelho, volante com prata, soleiras e pedais são
as diferenças internas da versão S, que mantém o conteúdo de série do J3
A potência máxima vem a 6.000 rpm, faixa em que o nível de ruídos e de vibração se torna acentuado. Os engates do câmbio são precisos, embora um tanto longos. Sem alterações, a suspensão do sedã mostra um acerto firme que transmite boa estabilidade — em consonância com a proposta da versão —, ainda que a altura de rodagem se faça presente nas curvas rápidas, deixando o carro se inclinar mais que o desejado. Precisa melhorar a absorção de irregularidades e desníveis de pista. Contudo, a calibração da assistência de direção é correta.
No restante, é o mesmo J3 Turin que passou em outubro pela avaliação Dia a Dia: um sedã bastante compacto para quem viaja atrás, mas com amplo porta-malas (490 litros); um carro simples em acabamento e que deveria ganhar ajuste de altura do banco do motorista, computador de bordo e interface Bluetooth para telefone celular, embora traga bons detalhes que a indústria local tem eliminado, como faixa degradê no para-brisa e luzes de cortesia nas portas.
Com aumento de R$ 2 mil pela mudança de motor (a versão original continua disponível), o J3 S parece convincente para quem coloca o desempenho em alta rotação como prioridade, além de trazer a flexibilidade em combustível que muitos ainda valorizam, mesmo diante dos altos preços do álcool nos últimos anos. No entanto, a JAC precisa retrabalhar as deficiências apontadas — ou ser mais ousada em preços — se quiser morder uma fatia maior do mercado das marcas consolidadas.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 75 x 84,8 mm |
Cilindrada | 1.499 cm³ |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas./álc.) | 125/127 cv a 6.000 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 15,5/15,7 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | manual, 5 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | hidráulica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 15 pol |
Pneus | 185/60 R 15 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,155 m |
Largura | 1,65 m |
Altura | 1,465 m |
Entre-eixos | 2,40 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 48 l |
Compartimento de bagagem | 490 l |
Peso em ordem de marcha | 1.100 kg |
Desempenho e consumo (gas./álc.) | |
Velocidade máxima | 196 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,9 s |
Dados do fabricante para J3 Turin; consumo não disponível |