Alguns atrações chegarão ao Brasil, como BMW X1 e a cara nova da Ranger; outros só homeopaticamente, como Bentley Bentayga e Jaguar F-Pace
Algumas das maiores atrações do Salão de Frankfurt, aberto de 17 a 27 de setembro, foram listadas pela coluna anterior. Das maiores referências como lançamento de produtos, tendências e modas, a mostra alemã exibiu muitas novidades. Algumas chegarão ao Brasil: novo BMW X1, o segundo ciclo de vida do sedã Série 3, a revitalização do Ford Ecosport, cara nova da picape Ranger. Outras, importadas homeopaticamente como os utilitários esporte Bentley Bentayga e Jaguar F-Pace e o Toyota Prius, o híbrido mais vendido.
Bentayga, que está na lista curiosa de denominações inexplicáveis, por si só combina com o produto: são insólitos. Bentleys eram Rolls-Royces com leve dose de esportividade. Quebra da empresa inglesa dividiu-as, e desde então RR é BMW, e Bentley, Volkswagen. Segue a desorientação do mercado, com utilitários esporte cada vez mais impositivos, performáticos, volumosos e caros. No Bentayga há facilidade, pois a controladora VW tem partes para compô-lo, como a plataforma comum a VW Touareg e Audi Q7 e o motor em W de 12 cilindros, a ser aplicado em outros produtos do grupo — hoje o maior fabricante de motores com 12 cilindros.
Elegante, tem cara de utilitário esporte, disposição e formulação mecânica apta a enfrentar dificuldades proporcionais ao glamour, refinamento decorativo, preço para filtrar compradores. É grande: 5,14 m de comprimento, 2 m de largura, 1,74 m de altura e 2.422 kg. Pneus opcionais com rodas de 22 polegadas, muito refinamento interno, couro e madeiras nobres, mantendo o DNA de finor. Motor W12, 6,0 litros, dois turbo, injeção direta, 608 cv, torque de caminhão — 91,8 m.kgf. Caixa de câmbio automática, oito marchas, 0 a 100 km/h como esportivo sério (4,1 segundos), velocidade final de 301 km/h. Suspensão pneumática, muita eletrônica para conforto e som de 1.950 W e 18 alto-falantes.
A Ranger preparou-se para exibição ante o comprador norte americano — maior consumidor mundial da especialidade. A versão Wildtrack, pináculo da linha, tem combinação de tração nas quatro rodas, liderança em conectividade, direção com assistência elétrica, parada/partida automática do motor, e promete cortar consumo em 17%. Nova grade, faróis, painel frontal e bancos. Sem confirmação de ida aos EUA, antecipa o segundo ciclo do produto para o Mercosul. Ranger é produzida na Argentina.
Outro a aparecer em solo brasileiro é o novo Toyota Prius. Híbrido mais vendido no mundo, agora sobre plataforma TNGA — Toyota New Global Architecture. Permite ancorar a mecânica em pontos mais baixos, aumentou a resistência torcional, suspensão traseira multibraço, centro de gravidade mais baixo. No visual manteve o padrão triangular, baixando o teto em 20 mm e dando ênfase ao grupo óptico para ganho aerodinâmico. No pacote, redução de peso nos componentes e aprimoramento mecânico entre o motor 1,8 a gasolina e o elétrico para — diz — grande redução de consumo. Não é para emoções, mas para ser amigo do meio ambiente. Produção local? Veja nota abaixo.
Entre o curioso e o interessante, o mais novo Mini em sua versátil carreira. A perua Clubman cresceu em tudo: comprimento, largura — e portas, agora seis! Quatro para passageiros e a tampa traseira, dividida em duas pequenas portas. Motor de três cilindros, 1,5 litro, turbo e apenas 134 cv. Mais? Versão S, motor 2,0-litros, turbo, injeção direta, 189 cv.
Mercedes exibiu o conceito IAA, desenvolvido em 10 meses por base digital. Dinamicamente, a partir de 80 km/h altera ângulo do defletor frontal e faz uma extensão em toda a curva do painel traseiro, aumentando a área de contato com o ar e reduzindo a resistência aerodinâmica. O conceito planta soluções para modelos futuros. No Salão comentava-se, o interior regerá a próxima geração Classe E.
Pelo Salão
• Presidente da BMW Harald Kruege, 49, tomou e deu sustos: caiu na entrevista de imprensa. Pensaram ser barbeiragem da mão de obra árabe no acabamento do piso. Não era. O executivo tonteou e caiu. Excesso de trabalho mais emoção da primeira aparição publica como CEO. Afastamento por alguns dias.
• Se fila for medida de sucesso, Alfa Romeo Giulia ganhou disparado: enorme sequência de jornalistas para acessar o novo veículo, marcando a volta da marca. Mostrou versões com bancos estruturados e tampa do porta-malas em fibra de carbono. E anúncio comparativo: cumpriu a parte norte do circuito alemão de Nürburgring em 7 min 39 s — 9 s menos que BMW M4. Deu o parâmetro de preços: 95 mil Euros, acima do M4 e igual a Mercedes-AMG C63. Não haverá Alfa para pobres.
• Picape Ranger inicia ser importada para a Europa, mas será produzida na Argentina até final do ano. Ford não quer deixar a nova Toyota Hilux abrir maior distância em vendas. Wildtrack será a versão de topo.
• Hyundai criou departamento de desenvolvimento esportivo, para preparar carros para corridas e desenvolver versões comerciais. Chama-se N, para ser associada a Nürburgring, velho circuito alemão agora em moda.
• Peugeot Citroën terá carro elétrico com o sócio chinês Dongfeng.
• Frankfurt marcou definição na menor das alemãs: linha Porsche 911 daqui para a frente começa com motor turbo.
• Primeiro Bentley Bentayga tem destino: presente para a Rainha Elizabeth II — ex-usuária de Range Rover.
Sandero R.S. 2.0 mistura hatch com esportividade
Não é apenas um Sandero com adesivos, como no usual se indicam veículos com pretensa alma esportiva. Ao contrário, é um bom trabalho de engenharia comercial o criar versão com rendimento superior para ser referência na marca, e fazê-lo com preço suportável.
Versão é a Renault Sandero R.S. 2.0. Grosseiramente pode-se resumi-lo como o hatch Sandero, líder de vendas da marca, com motor do Duster, 2,0 litros de cilindrada e 150 cv com álcool. Entretanto é mais, muito mais. O R.S. indica ações da Renault Sport, empresa separada da marca líder francesa para desenvolver carros esportivos. Já fez verdadeiros canhões sobre rodas, como o mítico Clio com motor V6 3,0 traseiro entre eixos.
Pacote completo de engenharia, com câmbio de seis marchas e escalonamento de modo que a 120 km/h gire a 3.000 rpm em sexta. Vai de 0 a 100 km/h em 8 segundos e crava 202 km/h como velocidade final. Pacote mecânico incluiu freios a disco nas quatro rodas, menor distância ao solo, amortecedores mais reativos. Em resumo, o desenvolvimento de conjunto, usualmente descartado nos carros esportivados com adesivos.
Custa R$ 58.880. Se o interessado pretender rodas com aro 17 pol e pneus 205/45 deve pagar mais R$ 1 mil — não aconselho. Os pneus têm visual bonito, porém com 9 cm de altura são incompatíveis com os buracos brasileiros. Externamente, além dos adesivos… novo para choque frontal, luzes diurnas em leds, defletores dianteiro e traseiro operacionais. Dentro, novo grafismo para a instrumentação, uso de vermelho para dar atmosfera esportiva.
Sintonizada com a realidade nacional, onde se busca ambiência de Rolls-Royce a preço de Uno, há uma lâmpada espia indicando momento ideal da troca de marchas — no caso, a baixas 2.000 rpm — para favorecer a economia de combustível. Mesma postura com os bancos. Abas com a finalidade de dar contato e firmar o eixo do motorista nas curvas, tipo anular o efeito G, mas são macios. Afinal, há cinquenta anos, quem sentava num banquinho duro e fazia milagres com Berlinette e motor Renault 1.000 era o Bird Clemente. Comprador de hoje é muito menos espartano.
Concorrentes do Renault Sandero R.S.: o Fiat Punto TJet, mais performático e mais refinado no interior, a R$ 65.330, e o Suzuki Swift Sport, entre R$ 73 mil e 85 mil. O R.S. abre um caminho no país, o de produtos afinados por mão de obra especializada em rendimento esportivo.
Roda a Roda
Efeito – Primeiro resultado da situação econômica do país e do futuro nublado: Toyota freou projeto de montar o Prius por processo CKD em nas instalações em São Bernardo do Campo, SP.
Ocasião – Toyota marcou lançar novas picapes Hilux: início de novembro.
Direto – Citroën lançou campanha objetiva para motivar vendas de seus bons produtos: comprador leva o carro e mais duas passagens para Nova York. Vale até 31 de outubro, apela para o insólito, e aproveita a redução de preços praticados pelas companhias aéreas para instigar viagens aos EUA, hoje em queda por conta de dólar elevado, temores e tremores quanto ao futuro.
Mais – Acredita maior demanda pelo C4 Lounge. Para turbinar vendas em setembro, entrada e saldo sem juros ou a menor percentual. Aposta, plano com entrada de 50% e 48 vezes de R$ 789 terá muito sucesso.
Positivo – Graças à nova linha do segmento mais vendido, a Classe C, vendas de automóveis importados Mercedes baterão recorde neste ano, circa 17 mil unidades, superando 2014 em 30%. Em descompensação, as de caminhões, base do faturamento, cairão 40%.
Visão – Philipp Schiemer, presidente da Mercedes-Benz no Brasil, único no setor a se manifestar sobre economia, projeta: se as demais agências, Fitch e Moody’s, acompanharem a Standard & Poor’s rebaixando o Brasil a nível de não investimento, nossa economia só deve se recuperar em 2018.
Coerência – Finalmente a prefeitura de São Paulo isentou do medieval rodízio imposto aos contribuintes os poucos carros elétricos da cidade. Limita circulação em nome das emissões de poluentes e outros apelos ecológicos. Apenas mascara a ineficiência oficial. Autoriza venda de automóveis para receber impostos, mas não os aplica em estrutura viária.
Mostra – Apesar de os 3.000 veículos elétricos na frota brasileira serem percentual desprezível na frota dos com motores por ciclo Otto e Diesel, e do desinteresse oficial, há esforço de conscientização a seu uso. Entre 24 e 26 de setembro, no Center Norte, São Paulo, SP, 11º. Salão Latino Americano dos Veículos Elétricos, reunindo de patinete a ônibus, forma de discutir a matéria e buscar envolvimento e políticas públicas.
Prática – Audi declarou-se chocada com o sofrimento dos refugiados na Europa e acelerou para ajudá-los. Aplicará 1 milhão de Euros para auxiliá-los nas cidades onde opera, na Alemanha, Bélgica e Eslováquia. Recursos irão para entidades comprometidas em solucionar o problema.
Mais uma – Moto BMW S 1000 R, uma roadster, nono produto da marca em Manaus, AM, baixou preço: R$ 53.900. Quatro cilindros em linha, 160 cv a 11.000 rpm e bom pacote de eletrônica veicular.
Ocasião – Triumph promove vendas: até 30 de setembro série Tiger, a mais vendida da marca, preços reduzidos em torno de 15%. Speed Triple a R$ 38 mil e Sport R$ 39 mil. Toda a linha com cortes e facilidades. Corre atrás do projeto de vender 4.500 unidades neste ano, mas até agosto vendera 2.531.
Caminho – Pedro Piquet, 17, bicampeão em Fórmula 3 Brasil. Estrela ascendente com o DNA da família. Porfolio é aval: venceu a temporada com duas provas de antecedência; teve 10 vitórias neste ano, nove seguidas.
História – Na França, Renault fez festa para comemorar os 60 anos de fundação da mítica Alpine a grande marca esportiva francesa do pós-guerra. Juntou veículos, pilotos, engenheiros, gente com o sangue da pequena marca.
Estória – No texto perpassa pelo Brasil citando Willys Interlagos, Alpine A108 de base e projeto, mas esqueceu dois pontos importantes: fomos o único mercado onde os A108 venciam provas de velocidade — na Europa eram ralis — e do Bird Clemente, imbatível vencedor com o modelo, autor de teoria de condução derrapando com o automóvel. Nem o sempre grande Juan Manual Fangio, então pentacampeão mundial, conseguiu igualá-lo em Interlagos.
Gente – Mary Barra, engenheira, 53, presidente da corporação GM, Mulher Mais Poderosa do mundo, Segundo o ranking da revista Fortune. O enfrentar problemas e custos com as falhas de ignição dos carros GM, custando muitas vidas e muitos milhões, auxiliou definir. / Cledorvino Belini, presidente da FCA América Latina, premiado. Jubileu de Ouro da Administração, nos 50 anos da atividade. Belini é administrador pela paulistana Mackenzie; pós-graduado em finanças por mestrado na USP; MBA pela Fundação Dom Cabral, em Minas. E levou a Fiat à insólita e exclusiva liderança mundial no Continente, líder no Brasil há 13 anos. Fosse na Itália, seria santificado.
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