Ford Fiesta, há 40 anos, coloca o motorista no centro

O segundo Fiesta era uma atualização do primeiro, mas havia novidades como dois modelos de painel, motor CVH de 1,4 litro e um inédito a diesel

 

Geração 2: mais potência e CVT

O Fiesta de primeira geração ainda era líder de vendas na Alemanha e na Inglaterra quando, em setembro de 1983, a Ford apresentou seu sucessor. Inspirado nos maiores Escort e Sierra, estava mais arredondado com capô em forma de cunha, faróis retangulares maiores e para-choques de plástico. O Cx mais baixo (0,40) e a caixa de cinco marchas permitiam menor consumo, embora a plataforma básica fosse mantida. Uma versão furgão, sem banco e vidros atrás, foi oferecida.

 

Tradicional no Escort, a sigla RS era aplicada ao Fiesta em 1990 no RS Turbo: com 132 cv, arrancava de 0 a 100 em 8,2 segundos e alcançava 213 km/h

 

No interior havia desenhos diferentes de painel para as versões mais simples e para a dupla superior, Ghia e XR2. Mais que o motor de 1,4 litro e 74 cv da série CVH, chamava atenção um 1,6 de 54 cv: era o primeiro a diesel no segmento, muito econômico (a 90 km/h fazia 26,3 km/l), mas com alto nível de ruídos e vibrações. Outras novidades eram bitola dianteira alargada e freios e direção aprimorados. A concorrência incluía Fiat Uno, Opel Corsa e logo depois Peugeot 205, além do R5 e do Polo.

Uma transmissão automática de variação contínua (CVT) aparecia em 1987 na versão CTX de 1,1 litro. Apesar da facilidade de condução e dos bons índices de consumo, não fez grande sucesso. O XR2 acentuava seu tempero com o motor CVH de 1,6 litro com comando no cabeçote de alumínio, bem mais moderno que o Kent. Com 96 cv e 13,5 m.kgf para um carro de 950 kg, o desempenho empolgava: máxima de 180 km/h, de 0 a 100 em 9,9 segundos. Rodas de alumínio, faróis de longo alcance e filetes em vermelho por fora e por dentro garantiam o ar esportivo.

 

O esportivo XR2 ganhava motor mais moderno com 96 cv e alcançava 180 km/h; a versão CTX trazia caixa automática de variação contínua em 1987

 

A Autocar inglesa confrontou-o ao Vauxhall Nova GTE (Opel Corsa na Alemanha) e ao Daihatsu Charade GTTI em 1988. Embora fosse o mais lento para acelerar, seu comportamento convenceu: “O subesterço moderado pode ser mudado para sobresterço progressivo, fazendo o XR2 rápido e previsível em curvas. Sua direção tem a melhor combinação de respostas e peso. O carro mais antigo do trio não está ultrapassado e, em alguns aspectos, ainda domina. Com o GTE a Vauxhall tem um vencedor, mas seu reinado pode ser curto: o novo Fiesta vem aí”.

 

 

Terceiro Fiesta, maior, traz freios ABS

Com a terceira geração, que chegava em fevereiro de 1989, o Fiesta estava mais amplo (3,80 m de comprimento, 2,45 m entre eixos) e elegante com predomínio de linhas retas. Podia contar pela primeira vez com cinco portas, sistema antitravamento de freios (ABS) mecânico e desembaçador elétrico do para-brisa. A nova plataforma trazia suspensão traseira por eixo de torção em vez do eixo rígido dos dois primeiros.

Para os motores 1,1 e 1,4 (este agora com 90 cv) havia opção de CVT e a versão diesel era agora de 1,8 litro. A Ford estudou em 1992 um três-cilindros de 1,2 litro a dois tempos com injeção direta da empresa australiana Orbital, que chegou a ser avaliado pela imprensa com grande expectativa, mas o projeto não foi adiante. Os concorrentes incluíam 205, Corsa, Polo, Uno e o Nissan Micra — o Renault Clio sairia no ano seguinte.

 

O modelo 1989, novo desde a plataforma, era o primeiro a oferecer cinco portas e motor com injeção; a versão furgão existiu em alguns mercados

 

O Fiesta XR2i, em outubro, trazia injeção eletrônica no motor CVH de 1,6 litro, que passava a 110 cv e 14,1 m.kgf, e a transmissão do Escort XR3i. Em um carro menor e mais leve, os resultados eram muito bons — 0 a 100 km/h em 9 segundos, máxima de 190 km/h. Além do estilo esportivo, com quatro faróis auxiliares e para-choques na cor da carroceria, ganhava bancos dianteiros Recaro. Naquele ano a Ford alcançava cinco milhões de Fiestas produzidos em três fábricas.

O XR2i foi comparado pela inglesa Autocar & Motor ao Peugeot 205 GTI, ainda hoje uma referência em hot hatch da época: “O Fiesta produz boa aderência em curvas, mas lhe faltam as respostas precisas e o equilíbrio do 205. O Peugeot tem 5 cv a mais, e o Fiesta, maior torque: é mais enérgico em baixa rotação, e o 205 em alta. O XR2i tem especificações impressionantes e desempenho suficiente para desafiar o 205, mas na estrada o Peugeot está em plano superior”.

Tradicional no Escort, a sigla RS (Rally Sport) era aplicada pela primeira vez ao Fiesta em 1990 no RS Turbo, com motor CVH 1,6 a injeção de 132 cv e 18,7 m.kgf, turbocompressor Garrett, suspensão mais baixa e firme e pneus 185/55 R 14. Bancos Recaro e teto solar estavam disponíveis. Com peso de 945 kg, arrancava de 0 a 100 em 8,2 segundos e alcançava 213 km/h.

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Nas pistas

O pequeno Ford apareceu em competições em 1979, pilotado pelo finlandês Ari Vatanen — que se tornaria grande campeão de ralis — no famoso Rali de Monte Carlo. O motor 1,6 com dois carburadores, cárter seco e 155 cv podia alcançar 7.250 rpm, apesar do comando no bloco. No entanto, a carreira esportiva do modelo perdeu ímpeto nos anos seguintes, em que os maiores Escort e Sierra receberam prioridade.

Nos anos 90 surgiu o Ford Zetec Championship, na Inglaterra, campeonato com Fiestas Si de 130 cv da quarta geração, preparados segundo o regulamento do Grupo N da FIA, isto é, quase originais. Receita semelhante, mas com o motor 1,6 de 95 cv, resultou no Brasil em 2001 no Campeonato Brasileiro Ford Fiesta Feminino, categoria destinada a mulheres. A receita de certame monomarca teve seguimento em 2006 com o Fiesta Sporting Trophy, que usava o ST de 2,0 litros preparado para 165 cv. Outros carros da quinta e da sexta gerações disputaram a Copa Europeia de Carros de Turismo, ETCC.

 

O sexto Fiesta era preparado para a categoria de rali Super 2000 pela inglesa M-Sport em 2010, mas o regulamento mudava para o ano seguinte, o que levou à criação do RS WRC para o Mundial de Rali no lugar do Focus. Com tração integral e motor 1,6 turbo, ganhou provas em 2011 e 2012. A mais recente versão, em 2016, extraía 385 cv do motor Ecoboost. Houve também o Fiesta R2, menos potente, que participou da WRC Academy e do JWRC (Campeonato Mundial de Rali Júnior). Foi o carro dos três primeiros colocados de 2011 a 2013.

Fiestas muito potentes foram desenvolvidos nessa geração para provas de Rallycross, populares nos EUA: o motor Duratec de 2,0 litros alcançava 560 cv. A equipe sueca Olsberg Motor Sport Evolution preparou dois carros em 2009 para a subida de montanha de Pikes Peak, nos EUA. Com pouco em comum ao carro de rua além da aparência, transmitiam nada menos que 800 cv às quatro rodas.

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