São quatro sedãs atuais e bem desenhados, embora pontos como os triângulos na
frente do Focus e as extensões de lanternas no Civic sejam algo controversos
Concepção e estilo
Há apenas um nome longevo no grupo: o do Civic, modelo lançado em 1972 e que já chegou à nona geração, apresentada no Brasil em 2011 um ano após os Estados Unidos. O Focus começou em 1998 e está na terceira, à venda na Europa desde 2011 e só agora ao alcance dos brasileiros. O Fluence apareceu em 2009 para os europeus e um ano mais tarde chegou aqui; o C4 Lounge é o mais recente, tendo sido revelado em 2012 na China como C4 L e no ano seguinte no Brasil.
Os quatro mostram linhas atualizadas, um pouco menos no Renault, e conseguem desenhos harmoniosos. O Honda foi o que menos mudou desde a geração anterior, que havia sido bastante ousada, a ponto de muitos acreditarem ter havido apenas reestilização da frente e da traseira — na verdade, toda a carroceria é outra. Alguns pontos revelam criatividade, como o vidro traseiro côncavo do Citroën, já visto em outros modelos da marca. Outros causam controvérsia, a exemplo dos vãos triangulares da frente do Focus e das extensões às lanternas traseiras do Honda. No Renault, apesar de bem desenhados, os defletores e saias do GT teriam melhor aspecto se não fossem emendados aos para-choques originais. Mas no conjunto pode-se dizer que são carros bem desenhados e atraentes.
Nenhum se equipara ao Civic em qualidade de carroceria: vãos estreitos entre os painéis metálicos e alinhamentos exatos, mesmo em pontos mais complexos, transmitem agradável impressão de esmero na fabricação. O C4 Lounge mereceria elogios, não fosse por um vão enorme de um lado da tampa do porta-malas. O Focus tem vãos excessivos no capô e na tampa, em que pese a qualidade da região das portas, e o Fluence mostra espaços grandes e um encontro irregular entre capô e para-lama direito.
O Honda é o que mais se parece com a geração anterior, que havia sido bastante
ousada em 2006; no Ford e no Citroën houve rompimento da filosofia de estilo
O melhor coeficiente aerodinâmico (Cx) é o do Civic, 0,28, seguido de perto pelo do Focus (0,287) e de longe pelo Fluence (0,334), que revela baixa eficiência para um sedã de seu porte. O do C4 Lounge não foi informado pelo fabricante, sendo possível estimar 0,31 por suas formas. Como o Honda tem a menor área frontal, sobressai ainda mais quando esse fator é considerado: seu índice é de 0,661, ante 0,72 do Ford (o de maior área frontal no grupo), 0,775 do Citroën (com o Cx estimado) e 0,825 do nada fluido Renault.
Nenhum se equipara ao Civic em qualidade de carroceria: vãos estreitos entre os painéis e alinhamentos exatos transmitem esmero
Conforto e conveniência
O desenho interno do Focus recupera a ousadia que caracterizava sua primeira geração, com formas angulosas e modernas. É uma fórmula diferente da seguida pelo Civic — que se tornou mais tradicional nesta geração, embora mantenha os instrumentos digitais e “em dois andares” — e sobretudo por Fluence e C4 Lounge, mais conservadores em desenho de painel. Todos trazem bancos revestidos de couro, com agradável tom cinza no Civic e preto nos demais; o GT usa costuras em vermelho como caracterização esportiva. Predominam os plásticos rígidos, mas com montagem e aspecto apropriados à categoria. Ford e Citroën usam painel mais macio; no Renault poderia ser melhor o forro das portas.
O motorista encontra posição confortável nos quatro modelos, com banco amplo e bem conformado, regulagens de altura para ele e o volante (também ajustável em distância), pedais em posição correta e apoio bem definido para o pé esquerdo. Em apoios laterais, Focus e Fluence sobressaem, sem causar incômodo. O Ford é o único a ter ajustes elétricos do banco e regulagem (manual) de apoio lombar. A reclinação de encosto é por botão giratório no Renault e por alavanca em pontos definidos nos demais (só para o passageiro no Ford). No C4 pode melhorar a forma do encosto, que apoia mal a região lombar e causa cansaço; também estranhamos seu painel alto e volumoso, fora dos padrões.
Interior espaçoso e funcional no C4 Lounge, com opções de cores para a luz dos
instrumentos; o navegador é comandado pelo botão do aparelho de áudio
Os instrumentos trazem as mesmas informações nos quatro, mas se distinguem pela apresentação. Fluence GT e Civic usam velocímetro digital — que facilita muito o controle preciso da velocidade, tão útil em tempos de vias supermonitoradas — e o do segundo vem em posição elevada, mais perto da linha de visão da estrada; o C4 traz repetidor digital dentro do mostrador analógico. Só o Honda vem sem termômetro do motor, substituído por luzes indicadoras de motor frio e de superaquecimento. A nosso ver, no GT o conta-giros analógico destoa dos demais mostradores digitais.
A iluminação dos painéis usa a cor branca, sendo possível escolher entre esse tom e vários de azul a roxo no Citroën — contudo, na prática nenhum é ideal para leitura como o laranja usado na versão Tendance do modelo. Embora o computador de bordo equipe todos eles, só o do C4 Lounge traz duas medições independentes (todos informam consumo em km/l). Interessante no Focus o modo de apresentação com escolha entre dígitos maiores e mais informações no mesmo espaço. Exclusivo do Civic é o histórico de consumo, com os intervalos definidos pelo hodômetro parcial.
O conta-giros do C4 pisca em vermelho ao atingir a rotação de troca — mera curiosidade, já que não se solicita ação do motorista — e indica a marcha em uso mesmo em modo automático. O Fluence GT traz luz de sugestão de mudanças de marcha para cima e para baixo, que se adapta de maneira bem clara ao modo de dirigir do motorista; embora aponte a proximidade do limite de giros, para esse fim deveria ser mais chamativa.
Todos têm ar-condicionado com controle automático de temperatura, que só no Honda fica sem a dupla zona de ajuste. Citroën e Renault usam difusor de ar para o banco traseiro, um item importante no tipo de carro, e oferecem três modos de operação automática (do mais suave ao mais rápido), mas ficam devendo um comando para unificar os ajustes de motorista e passageiro.
O Focus voltou a ter um painel arrojado, como na primeira geração; tela admite
comandos por voz; espaço para pernas no banco traseiro é o menor no grupo
O controle elétrico de vidros dos quatro carros têm função um-toque, sensor antiesmagamento, temporizador e comando remoto para fechamento, o que inclui o teto solar. Apenas Civic e Focus permitem também abrir os vidros a distância, muito prático ao chegar ao carro estacionado em dia quente, mas seria melhor que o teto apenas basculasse (ao correr para trás, expõe o interior ao sol quando o objetivo é baixar a temperatura). Só no Honda é preciso usar a chave para destravar as portas e dar partida ao motor, pois os outros têm chave presencial — um cartão no caso do Fluence — e botão de partida.
O Focus é o único a oferecer assistente de estacionamento, que assume o controle do volante e orienta as operações (uso do câmbio e freios) para colocar o carro em vagas paralelas ao tráfego e tirá-lo dali. O aparato para isso inclui sensores de estacionamento à frente e atrás e câmera traseira, também presentes no C4 Lounge. O Civic traz apenas a câmera, que tem sua utilidade prejudicada pela falta de alerta sonoro de proximidade — é preciso se acostumar à distância visualizada na tela —, e o Fluence traz só os sensores traseiros. A câmera do Focus é a única com linhas-guia que se adaptam ao movimento do volante, uma utilidade a mais.
Todos estão dotados de sistemas de áudio de muito boa qualidade de som e graves, com destaque para o do Focus e alguma desvantagem ao do C4 Lounge. Comandos no volante, conexão USB (duas no Ford) e interface Bluetooth para celular estão nos quatro modelos. O Focus ainda admite cartão SD (embora precise manter inserido um desses com os mapas do navegador) e traz conexões de áudio e vídeo do tipo RCA, mas lhe falta a entrada auxiliar presente nos demais. O Ford e o Renault dificultam a tarefa comum de mudar de pasta de arquivos MP3; no Honda o áudio não pode ser usado sem a chave no miolo de ignição.
Próxima parte |