Faróis de duplo refletor e luzes de direção traseiras em cor âmbar são evoluções
bem-vindas no Sentra; ambos têm faróis de neblina, mas não a luz traseira
As suspensões são semelhantes não apenas em conceito — dianteira McPherson, traseira por eixo de torção —, como também em resultados. Com a recalibração da parte posterior, o novo Sentra ficou tão confortável quanto o Corolla, que nesse quesito permanece como antes. Absorvem bem os impactos e irregularidades do piso, embora se note um pouco no Nissan o perfil mais baixo dos pneus. Contudo, o Toyota merece ganhar batente hidráulico nos amortecedores para evitar a “pancada seca” ao passar mais rápido por lombadas — aceitável em carros importados, mas não em um nacionalizado há 15 anos.
Em segurança passiva o Sentra traz bolsas infláveis
do tipo cortina, enquanto o Corolla tem
bolsa adicional para os joelhos do motorista
São automóveis bem acertados quanto ao comportamento dinâmico, tanto direcional quanto em curvas — podem ser dirigidos com rapidez sem sobressaltos, com tendência normal ao subesterço nas mais rápidas, e mostram controle adequado das oscilações pelos amortecedores. Contudo, nessa faixa de preço vários oponentes vêm de série com controle eletrônico de estabilidade e tração, o que os fabricantes dos dois modelos deveriam repensar, mesmo porque há esse recurso em versões vendidas no exterior.
Ambas as marcas usam assistência elétrica de direção, que combina grande maciez em manobras e adequadas precisão e sensibilidade em alta velocidade. Os freios a disco, dotados de sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica entre os eixos (EBD), estão bem dimensionados e calibrados quanto à assistência.
Bolsas infláveis laterais e fixações Isofix para cadeira infantil equipam os dois; só
o Nissan traz cortinas infláveis, e o Toyota, bolsa para os joelhos do motorista
Em termos de iluminação há equilíbrio, pois os dois usam faróis com duplo refletor de superfície complexa (uma bem-vinda novidade no caso no Sentra) e trazem unidades de neblina (mas não a luz traseira de mesmo fim) e repetidores laterais das luzes de direção. Boa medida da Nissan foi passar a luzes de direção em cor âmbar atrás, dentro do padrão brasileiro, em vez das vermelhas que se usam nos EUA. São carros de boa visibilidade, com colunas dianteiras que não chegam a incomodar, embora as traseiras e a tampa do porta-malas possam representar certa dificuldade — compensada, nas manobras de ré, pela câmera. Os retrovisores são convexos e de bom tamanho, outra evolução no caso do Nissan, que antes usava lente plana do lado esquerdo.
Em segurança passiva a vantagem do Sentra é trazer bolsas infláveis do tipo cortina, que protegem a área envidraçada lateral, enquanto o Corolla tem bolsa adicional para os joelhos do motorista (as frontais e laterais dianteiras de tórax equipam ambos, assim como cinto de três pontos e encosto de cabeça para o passageiro central do banco traseiro). Os dois alertam para uso do cinto, o que no Toyota inclui o banco do passageiro, e têm fixações de cadeira infantil em padrão Isofix.
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Desempenho e consumo
Apesar das semelhanças técnicas, a melhor relação peso-potência do Corolla (mesmo com gasolina) mostrou-se decisiva nas medições de desempenho efetuadas pelo Best Cars. Em aceleração e retomada ele foi sempre mais rápido que o Sentra, com vantagem mais perceptível na faixa superior de velocidade (a diferença de 0,8 segundo de 0 a 100 km/h é discreta demais para ser notada pelo motorista comum).
Os câmbios atuam de maneira parecida nas arrancadas, sendo possível elevar a rotação até cerca de 2.500 rpm durante a aplicação dos freios para uma saída mais rápida. Embora comum no uso de caixas automáticas, esse procedimento produz pouca diferença no caso dos dois modelos: houve aumento inexpressivo no tempo de 0 a 100 km/h ao sair simplesmente acelerando tudo, sem “carregar” a caixa antes. Em ambos a saída se dá sem patinação de rodas, pois não há potência suficiente para superar a aderência dos largos pneus em asfalto seco.
Como mencionado no texto principal, o modo Sport faz o CVT do Corolla operar com relações mais altas (curtas), a ponto de simular a primeira troca de marcha por volta de 60 km/h, ante 80 do modo normal. Qual leva a acelerações mais rápidas? Para surpresa de muitos, foi em modo normal que obtivemos os dois melhores tempos entre as oito medições. Embora sempre exista uma margem de erro (por isso fazemos várias sessões), a vantagem tem seu sentido, pois as mudanças de relação com breve interrupção de potência do modo Sport, feitas para agradar a quem não gosta da progressão contínua do CVT, acabam por ser menos eficientes.
As retomadas foram feitas com os câmbios em redução automática, o único modo possível no caso do Sentra. Também aqui foram experimentados os modos normal e esportivo do Corolla, sem diferença importante, como esperado pelo igual comportamento: em ambos os casos há oscilação de rotação na faixa de 5.000-6.000 rpm.
A Toyota não informa velocidade máxima (o que é lamentável), mas é possível estimar algo bem próximo à do Nissan, pela pouca potência adicional com gasolina (3 cv) e aerodinâmica pouco menos favorável que a do concorrente.
As medições de consumo apontaram um Corolla mais econômico no uso urbano e empate técnico no trajeto rodoviário. Contudo, sobre a grande diferença no percurso exigente em cidade, precisa-se ressalvar que os carros não foram testados no mesmo período e que o dia estava quente ao extremo (faixa de 32°C) nesse teste do Sentra; assim, seu ar-condicionado trabalhou mais que o do adversário, o que impactou no resultado. Acreditamos que nas mesmas condições do Corolla ele poderia fazer cerca de 6,5 km/l (nos próximos testes evitaremos temperatura ambiente acima de 30°C, fazendo as medições à noite se necessário, para permitir comparações mais exatas).
A autonomia do Corolla é maior, pelo tanque de 60 litros ante apenas 52 do Sentra. A Nissan deveria ampliar sua capacidade tendo em visto o consumo com álcool, cerca de 30% maior, o que acaba por incomodar o usuário com abastecimentos frequentes. Trata-se de limitação aceitável em um modelo que na origem roda apenas com gasolina e tem motor de 1,8 litro, mas caberia adaptação às condições brasileiras.
Medições Best Cars
Sentra |
Corolla |
|
Aceleração | ||
0 a 80 km/h | 7,4 s | 7,2 s |
0 a 100 km/h | 11,2 s | 10,4 s |
0 a 120 km/h | 16,0 s | 14,9 s |
0 a 400 m | 17,3 s | 17,0 s |
Retomada | ||
60 a 100 km/h* | 7,1 s | 6,4 s |
60 a 120 km/h* | 12,1 s | 10,5 s |
80 a 120 km/h* | 8,6 s | 7,9 s |
Consumo | ||
Trajeto leve em cidade | 12,2 km/l | 12,8 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 5,8 km/l | 7,3 km/l |
Trajeto em rodovia | 12,8 km/l | 12,9 km/l |
Autonomia | ||
Trajeto leve em cidade | 590 km | 691 km |
Trajeto exigente em cidade | 271 km | 394 km |
Trajeto em rodovia | 599 km | 697 km |
Testes efetuados com gasolina; *com reduções automáticas; melhores resultados em negrito; conheça nossos métodos de medição |
Dados dos fabricantes
Sentra |
Corolla |
|
Velocidade máxima | 186 km/h | ND |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 10,1 s | ND/9,6 s |
Consumo em cidade | 10,2/6,9 km/l | 10,6/7,2 km/l |
Consumo em rodovia | 12,9/9,1 km/l | 12,6/8,7 km/l |
Gasolina/álcool; consumo conforme padrões do Inmetro; ND = não disponível |
Comentário técnico
• Os motores são de concepção atual, sobretudo o do Corolla, membro da família ZR lançada em 2007 no Japão (o MR do Sentra existe lá desde 2004). Ambos usam bloco de alumínio, duplo comando de válvulas acionado por meio de corrente (solução favorável quanto à confiabilidade) e sistema de partida a frio por preaquecimento de álcool, que dispensa o tanque auxiliar de gasolina.
• No Toyota existe variação de tempo de abertura das válvulas de admissão e escapamento (origem da denominação Dual VVTi), ante apenas nas de admissão do Nissan; a taxa de compressão de 12:1, contra a baixíssima de 9,7:1 do Sentra, também favorece o rendimento do Corolla. Por esses fatores sua potência específica alcança expressivos 77,5 cv por litro quando usa álcool (72 cv/l com gasolina), enquanto a do rival fica em 70,1 cv/l com qualquer dos combustíveis. O torque do Nissan com gasolina, contudo, é mais alto que o do Toyota.
• Ambas as caixas de câmbio de variação contínua (CVT) usam conversor de torque, que opera sobretudo em baixas velocidades e enquanto o carro está imóvel com o câmbio engatado. Se fosse usada embreagem em vez do conversor (como no Honda Fit de primeira geração), haveria risco de prejudicar sua vida útil com o esforço em certas condições, como arrancadas fortes em aclive íngreme ou com o (mau) uso do acelerador para manter o carro parado em subida sem aplicação de freios. Na imagem, o CVT do Corolla em duas posições do sistema de variação das polias.
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