O desenho do Ka+ é moderno, mas poderia ser mais ousado na parte traseira;
o do Logan, ainda discreto, mostra grande evolução sobre o antecessor
Concepção e estilo
Dentro da estratégia de globalização da Ford, o novo Ka foi desenvolvido no Brasil com vistas também a outros mercados emergentes, caso da Índia, que receberá o sedã com o nome Figo e traseira mais curta A criação do modelo de três volumes confirma a tendência iniciada com o segundo Ka, em 2007, de adequar um modelo bem pequeno às necessidades de mais espaço do comprador médio desses mercados. Por outro lado, houve avanço expressivo em refinamento em relação ao despojado — e não tratamos apenas de acabamento interno — modelo anterior.
Projeto da Dacia (marca romena do grupo Renault encarregada de desenvolver carros de baixo custo), o Logan nasceu em 2004 com o objetivo de oferecer boas acomodações à família em um carro simples e barato, ideia que o fez bem-sucedido também no Brasil desde 2007. No ano passado ele chegou à segunda geração, bem superior em estilo e ambiente interno, embora boa parte das evoluções mecânicas tenha ficado do lado de lá do Atlântico.
O novo Ford tem projeto brasileiro, mas será produzido em outros países;
o Renault foi desenvolvido pela romena Dacia e lançado em 2012 na Europa
O desenho dos dois modelos cumpre a missão de parecer simpático à maioria e não causar rejeição, bem diferente do que era o Ka duas gerações atrás, mas o faz de diferentes maneiras. O Logan é retilíneo, e o Ka+, arredondado. O Renault tem elementos simples como grade, faróis e lanternas traseiras; o Ford é mais ousado em alguns deles. Apesar dessa ousadia, o Ka sedã foi um tanto conservador no estilo da traseira, que várias pessoas associaram ao antigo Chevrolet Prisma e ao primeiro Fiat Siena, aquele de 1998. Uma pitada de pimenta teria sido bem-vinda ali.
Para estimular a economia, os dois trazem
seta que sugere a mudança de marcha e
o Logan pontua o motorista em três quesitos
O Renault melhorou bastante em aerodinâmica na nova geração, em que o Cx baixou de 0,37 para 0,34, adequado a um sedã compacto nos dias atuais. O Ford não teve tal valor divulgado, mas é possível estimar algo na mesma faixa a partir de suas formas. Embora o Ka+ avaliado fosse uma unidade de pré-produção, que deixa expectativa de melhoria para as de fabricação normal, sua carroceria mostrava vãos desiguais entre os painéis (alguns grandes, outros pequenos), curvas malfeitas e sérias diferenças entre os lados da tampa do porta-malas. O Logan é mais bem cuidado nesse aspecto, ainda que não seja expoente na categoria.
Conforto e conveniência
Os dois interiores mostram notável melhoria de aparência em comparação aos modelos anteriores, tanto nas formas quanto no aspecto dos materiais, mesmo que não que sejam luxuosos — plásticos rígidos são a nota dominante e os revestimentos de bancos usam tecidos simples, algo ásperos. Detalhes em preto brilhante e contornos cromados contribuem para a sensação de cuidado com o ambiente interno, mas a interessante textura ondulada do painel do Ka causa reflexos que parecem manchados, mesmo sem incidência de sol.
A boa aparência interna, apesar dos materiais simples, agrada no novo Ka; apenas o
sedã tem apliques em preto brilhante; o espaço interno está na média da classe
O motorista encontra relativo conforto nos dois carros, mas com restrições. O encosto reto demais do Ford deixa os ocupantes com pouco apoio lombar, o que cansa em viagens; no Renault o assento curto apoia menos as coxas do que deveria. Nos dois, o apoio para o pé esquerdo é um tanto vertical (imposição da caixa de roda próxima) e a regulagem de encosto por alavanca impõe pontos predefinidos, o que nem todos apreciam. Embora haja regulagem de altura para banco e volante, este não tem ajuste em distância.
Os quadros de instrumentos contêm o que hoje é essencial, somado a computador de bordo, sem marcador de temperatura do motor (apenas luz de alerta para superaquecimento) e iluminado em branco. Estranhamos a demora de vários minutos do computador do Logan em atualizar a velocidade média, a ponto de não podermos usar tal função nos testes de consumo como sempre fazemos; no Ka+ a função de autonomia e o marcador de combustível é que levavam tempo anormal para responder após abastecimentos de menos de 20 litros (notado também em outra unidade).
O interior do Logan ganhou em aspecto com a reformulação e seu espaço sobressai
na categoria, mas a posição do motorista tem restrições como no adversário
Para estimular a economia de combustível, os dois trazem no painel uma seta que sugere a mudança de marcha, apenas para cima no Ka+ e também para reduções no Logan, com funcionamento adaptativo à forma de dirigir. O segundo vem ainda com o sistema Eco2, que analisa e pontua o motorista nos quesitos aceleração, troca de marchas e antecipação, além de informar a distância percorrida sem consumo, ou seja, com acelerador fechado e alimentação interrompida.
O Renault é o único a oferecer navegador integrado ao painel, junto ao sistema de áudio que dispensa toca-CDs, usa tela sensível ao toque e traz — como no concorrente — conexões auxiliar e USB e interface Bluetooth para celular; pena que a tela apresente reflexos da luz que entra pelos vidros traseiros. O Ford traz comando de voz para algumas funções de áudio e telefone, mas certos comandos (como navegar pelas pastas do dispositivo USB e ajustar o som) são complexos e nada intuitivos. A qualidade sonora é apenas razoável em qualquer um deles.
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