O Sandero (direita) ganhou mais em estilo na recente reforma e ficou bem esportivo na versão
Concepção e estilo
As origens desses hatches são bem diferentes. O Punto nasceu na Itália em 2005 como Grande Punto, evoluindo a linhagem iniciada em 1993, e ganhou produção nacional dois anos mais tarde. Sem sucessor na linha europeia, passou no Brasil por apenas uma reestilização para 2013. Por sua vez, o Sandero de primeira geração foi um derivado brasileiro do Logan e chegou ao mercado em 2008 — aqui antes da Europa, onde leva a marca romena Dacia. O segundo modelo fez o caminho inverso, saindo lá em 2013 e em terras nacionais no ano seguinte.
O desenho do Fiat, de autoria da Italdesign de Giugiaro, foi feliz o bastante para não parecer ter 10 anos de lançamento, mas a nosso ver as mudanças não o deixaram mais bonito e o Sporting ganhou uma aparência que nada tem de esportiva — ao contrário do TJet, que chega a ser exagerado nessa intenção. Com o Renault é diferente: embora permaneça com um estilo simples, ficou bem melhor nesta geração e bastante atraente com o pacote visual do R.S. 2.0, que revela bom gosto nos defletores e saias e nos detalhes em preto brilhante e cinza. Curiosamente, o nome Sandero não aparece em lugar nenhum — já R.S. está na frente, na traseira e nas rodas. O coeficiente aerodinâmico (Cx) do Fiat, 0,34, supera por pequena margem o do Renault (0,35).
Saias, defletores e dupla saída de escapamento vêm nos dois; faixas laterais, só no R.S. 2.0
Conforto e conveniência
São dois carros de desenho interno simples, com materiais plásticos rígidos, embora o aspecto geral seja melhor no Punto. Os revestimentos de bancos usam tecidos sem maior requinte — couro é opcional no Sporting, mas não equipava o avaliado. Entre as decorações das versões estão simulações de fibra de carbono (painel do Fiat) e detalhes e costuras em vermelho (Renault). Vale mencionar as sensações bem diferentes para quem viaja à frente em cada um: painel e para-brisa mais baixos fazem o Punto parecer claramente mais esportivo.
Embora permaneça com um estilo simples, o Sandero ficou bem melhor nesta geração e bastante atraente com o pacote visual do R.S. 2.0
O R.S. 2.0 recebeu bancos dianteiros com os apoios laterais mais envolventes que já vimos em (e, provavelmente, que já foram aplicados a) um carro nacional, mas conformados de modo a não incomodar, ao menos para ocupantes não tão corpulentos. Os do Sporting, moderados nesse aspecto, não satisfazem quanto à largura do assento. Os dois carros usam volantes perfeitos em desenho, o do Renault digno de um carro do dobro do preço com seu couro de toque macio, e permitem obter boa posição de dirigir. A favor do Punto estão o ajuste do volante também em distância (no Sandero, só altura) e apoio para o pé esquerdo em melhor formato.
Bom aspecto interno no Sporting, mas revestimento simples aplicado a bancos algo estreitos
Os quadros de instrumentos trazem computador de bordo, que no Punto oferece duas medições de consumo e velocidade; ele é também o único a ter termômetro do motor. O Sandero traz luz de sugestão de troca de marcha, tanto para subir quanto para redução, e uma sineta que soa por volta de 6.000 rpm para indicar que o limite de rotação está próximo, de grande valia quando se usa o motor a pleno. Mas a iluminação de seus mostradores, em branco a exemplo do rival, deveria ser permanente: é difícil lê-los durante o dia.
Os sistemas de áudio são bons em qualidade sonora e têm conexões USB e auxiliar e interface Bluetooth para telefone celular, mas não toca-CDs — sinal dos tempos. Ambos adotam telas sensíveis ao toque com navegador, sendo a do sistema Media Nav Evolution do Sandero bem maior (sete polegadas ante cinco), mas apenas o Punto oferece comandos por voz para áudio e telefone, opção de câmera traseira de manobras e comandos giratórios que facilitam certas tarefas, como a navegação entre pastas de arquivos MP3.
Vários detalhes favorecem o Fiat: função um-toque para todos os controles elétricos de vidros (nenhum no concorrente, o que é lamentável), temporizador e comando a distância para abri-los e fechá-los; alarme volumétrico que protege o interior por ultrassom, faixa degradê no para-brisa, acionamento automático de faróis e limpador de para-brisa, aviso programável para excesso de velocidade, para-sóis com iluminação, alerta para uso do cinto, retrovisor interno fotocrômico, aviso específico para porta mal fechada (no Renault é geral), tampa traseira aberta por pressão no logotipo da marca (mais prático que acionar uma alavanca no assoalho, como no rival) e um ótimo comutador de farol (basta puxar a alavanca para trocar entre alto e baixo, em vez do puxa-empurra do adversário).
Decoração do R.S. 2.0 é mais chamativa, com faixas, detalhes e costuras em vermelho
Além disso, embora não considerado no carro avaliado, ele oferece teto solar de grandes dimensões com parte dianteira móvel e traseira fixa, além de forros separados. O Sandero dá sua resposta apenas no limitador de velocidade e na mola a gás para manter aberto o capô. Ambos os modelos traziam ainda ar-condicionado com controle automático de temperatura, controlador de velocidade, mostrador de temperatura externa, comandos de áudio e telefone no volante (junto dele, no caso do R.S.) e sensores de estacionamento na traseira.
Alguns itens podem melhorar. No Fiat o teto solar permanece aberto quando se comanda o fechamento de vidros, seu forro deixa passar muitos raios solares e calor e o porta-luvas é mínimo. No Sandero a tela do painel está sujeita a reflexos pela luz que vem dos vidros do lado direito, os sensores de estacionamento com tampas pretas parecem aplicação pós-venda e o controlador de velocidade, em declives, produz “soquinhos” ao acelerar e desacelerar ao motor. Em ambos falta luz de cortesia na parte traseira da cabine e os espaços abertos para objetos são escassos.
O motorista do Punto sente-se em um carro bem mais baixo; o volante regulável também em distância favorece sua posição
Apoios laterais dos bancos dianteiros do Sandero são dos mais intensos; seu espaço no banco traseiro é bastante superior
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