Uma derivada de utilitário esporte, outras duas de hatches pequenos; uma com quatro portas, outra com três e uma com apenas duas
Concepção e estilo
Picapes derivadas de automóvel são hoje uma espécie rara no mundo, com alguns casos na Austrália (Holden Ute e Ford Falcon Ute) e na Europa (como a Dacia Logan Pickup, já fora de produção), embora no passado tenham existido várias nos Estados Unidos, como Chevrolet El Camino e Ford Ranchero. O Brasil é um dos maiores mercados para esse tipo de utilitário, razão pela qual os fabricantes locais costumam ser responsáveis por seu desenvolvimento.
Pioneira da classe por aqui com a 147 Pickup de 1978, a Fiat produz a Strada na mesma geração desde 1998, com reestilizações frontais em 2002, 2005 e 2008 e uma reforma da caçamba para 2014. É sua terceira picape do gênero, precedida pela Fiorino derivada do Uno, de 1988. A Volkswagen seguiu-a em 1982 com a Saveiro baseada no primeiro Gol, que deu lugar a novas gerações em 1997 e 2009 (a de 2000, chamada de Geração III, não passa de reestilização). Por sua vez, a recém-nascida Oroch deriva do Duster, que surgiu como Dacia na Europa em 2010 e como Renault por aqui no ano seguinte.
Bom trabalho de estilo na Oroch; a Saveiro não esconde o teto muito alto da versão dupla; na Strada, conflito entre novas e velhas partes e exagero na decoração
A diferença de idade fica à mostra entre elas. Saveiro e Oroch seguem linhas mais atuais e harmoniosas no conjunto, sem o conflito entre partes novas (frente e traseira) e antigas (seção central) que se percebe na Strada. A Renault obteve também um aspecto mais equilibrado na cabine dupla de sua picape, área que sugere adaptação no caso da VW com o teto muito alto. A Fiat já foi bastante improvisada até 2013, quando a cabine dupla parecia montada pós-produção, com um friso cobrindo a emenda de chapas abaixo da base das janelas — o que felizmente ficou no passado. Gosto é muito pessoal, mas a nosso ver a decoração escolhida para a Adventure mostra exagero, ao contrário das demais, que são discretas.
Como já se esperava, espaço interno é vantagem incontestável para a Oroch: nas outras o vão para pernas atrás é ínfimo, e a largura, menor
Apenas a VW fornece o coeficiente aerodinâmico (Cx), de 0,398: é um fator em geral desfavorável nesse tipo de veículo, tanto pela cabine curta (superfícies mais longas favorecem o fluxo de ar) quanto pela grande altura de rodagem e os pneus largos. Em termos de painéis de carroceria a Cross sobressai pelos vãos menores e mais regulares, com as demais apenas razoáveis.
Conforto e conveniência
Assim como Palio, Duster e Gol que as originaram, as três picapes são modelos de acabamento simples, sem refinamentos e com materiais plásticos rígidos, embora o revestimento de bancos e volante em couro melhore o ambiente interno da Fiat e da Renault (a VW usava um tecido básico, algo áspero; como opcional pode ter simulação de couro). A mais crítica quantos aos plásticos é a Strada, com descuidos como tampa de porta-luvas desalinhada e rebarbas nas portas: há tempos a marca mineira tem mostrado descuido nesse quesito. De resto, seu desenho interno está antiquado.
Interiores simples em materiais; a Fiat está defasada em desenho e usa plásticos inferiores; revestimento em couro não está disponível na VW
A Oroch é a mais confortável para o motorista, tanto pelo banco em si quanto por sua posição relativa a pedais e volante, embora apenas a Saveiro permita a regulagem desde último também em distância (nas outras, só em altura). Todas têm ajuste de altura do banco, mas na VW ela altera de verdade só a inclinação do assento, um velho sistema da marca que poderia ter sido extinto; como agravante, o motorista que aciona a alavanca na intenção de subir o banco acaba por liberar o ajuste, fazendo a parte posterior despencar. Além disso, seu assento curto não apoia bem as coxas. Reclina-se o encosto por botão giratório na Saveiro e por alavanca em pontos predefinidos nas outras. O apoio ao pé esquerdo é apenas regular nas três.
Os painéis trazem os instrumentos de praxe, incluindo conta-giros e (com exceção da Oroch) termômetro do motor, em conjuntos de fácil leitura e iluminados em branco. A Strada tem ainda mostradores de inclinação longitudinal e lateral e bússola em um conjunto central, sobre o aparelho de áudio. Computador de bordo equipa as três, com duas medições de consumo/velocidade nos casos de Fiat e VW.
Com qualidade apenas razoável de som (mais modesta na Strada), os sistemas de áudio trazem comandos no volante ou perto dele, entradas USB e auxiliar e interface Bluetooth para telefone celular. Na Oroch a ampla tela de sete polegadas torna bem mais prático explorar o conteúdo de um dispositivo auxiliar ou pendrive, missão difícil nas concorrentes, mas a tela fica muito baixa e suscetível a reflexos. Nela fica de fora o toca-CDs, que alguns ainda apreciam.
A Strada tem conforto relativo na frente, mas é restrita a duas pessoas atrás; acesso pela porta adicional requer que o ocupante da frente saia do banco
É clara a vantagem da Oroch em acomodação no banco traseiro e acesso a ele; o motorista tem boa posição, embora falte o ajuste do volante em distância
Há três lugares atrás e boa altura útil na Saveiro, mas o espaço para pernas é crítico, assim como na Strada; regulagem de altura do banco do motorista precisa melhorar
Entre os bons detalhes, destacam-se na Strada faixa degradê no para-brisa (existe na Saveiro, mas tão clara que de pouco serve), alerta específico de qual porta está aberta (geral na Renault, nenhum na VW) e destravamento da tampa do tanque de combustível com as portas (na Oroch há comando interno; na Saveiro requer uso da chave). A favor da Saveiro estão assistente para saída em rampa, repetidor digital do velocímetro, abertura e fechamento a distância dos vidros, partida a frio com preaquecimento de álcool (dispensa o tanque suplementar de gasolina, usado pelas outras), iluminação nos espelhos dos para-sóis e luz elevada (branca) para a caçamba combinada à terceira luz de freio.
A Oroch responde com navegador integrado ao painel, limitador de velocidade, aviso no painel como sugestão para troca de marcha (para cima e para baixo), mola a gás para manter o capô aberto, maçanetas internas cromadas (aparecem mais à noite), monitor Driving Eco2 que atribui notas à eficiência de condução do motorista e o comando Eco, que deixa o acelerador mais lento para poupar combustível.
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