Jetta GLI: disfarce familiar, desempenho exuberante

Ele pode se parecer com o Virtus, mas o novo esportivo acelera muito com 230 cv e promete dar trabalho ao Civic Si

Texto: Kleber Nogueira – Fotos: autor e divulgação

 

No lançamento da sétima geração do Volkswagen Jetta, em setembro, certas faltas chamaram atenção. Algumas de recursos como suspensão traseira independente multibraço e comandos para mudanças de marcha no volante, que o modelo anterior oferecia; outra, a do motor turbo de 2,0 litros que, desde 2011, mantivera o Jetta Highline TSI no topo de desempenho em sua categoria. Agora a marca alemã supre essas ausências ao mesmo tempo com um só lançamento: o Jetta GLI 350 TSI.

 

 

A sigla para Gran Luxury Injection pode parecer estranha aos que não conhecem sua trajetória. Nos Estados Unidos — mercado que tem no Jetta o Volkswagen mais vendido por larga margem —, o GLI é sua versão esportiva desde 1984, ainda na primeira geração do sedã, com um jeito de Voyage equipado e 90 cv no motor de 1,8 litro com injeção. Com o Golf em fim de produção no Brasil, mantido apenas na versão GTI, o GLI parece a solução para a marca se manter entre os esportivos depois que desligar os aparelhos que retêm a vida do hatch.

Em um mercado que cobra R$ 140 mil por um Honda HR-V de 173 cv, o preço sugerido do Jetta GLI é tentador: R$ 145 mil em um pacote completo (veja lista no quadro abaixo) que deixa de fora apenas o teto solar panorâmico, oferecido a R$ 5 mil. O concorrente mais próximo, o cupê Honda Civic Si, custa R$ 164.900. Pedem-se pelo GLI R$ 25 mil a mais que pela versão de topo até então, a R-Line, também sem o teto opcional. E o que ele oferece por essa diferença?

 

Defletor, rodas de 18 pol e até faróis diferenciados conferem ar esportivo ao GLI; o preço de R$ 145 mil sem teto solar é atraente diante do conteúdo de série

 

Começa pelo motor turbo de 2,0 litros, o mesmo do GTI, que produz potência de 230 cv e torque de 35,7 m.kgf. Comparado ao Highline anterior, são mais 19 cv e 7,2 m.kgf; em relação ao Jetta turbo de 1,4 litro, os aumentos chegam a 80 cv e 10,2 m.kgf. O rival Si fica bem para trás com seu 1,5 turbo de 208 cv e 26,5 m.kgf. O GLI é exclusivo entre os Jettas também na transmissão: mantém a automatizada DSG de dupla embreagem e seis marchas, com embreagens banhadas em óleo para suportar mais torque. A vantagem é um comportamento mais esportivo que na caixa automática das demais versões. Os esperados comandos estão lá junto ao volante. Nos EUA existe opção pela manual de seis marchas e a DSG tem sete.

 

Ao volante, o GLI é superlativo: o ronco do motor se faz notar, as respostas são ariscas e o motor pode ser bem explorado – só não espere comportamento de Mini Cooper

 

A suspensão foi recalibrada, mas na traseira o eixo de torção dos Jettas comuns deu lugar ao conceito multibraço, que tanto favorece a estabilidade em uso esportivo quanto permite ao fabricante um melhor acerto para conforto de rodagem. A plataforma MQB do grupo, adotada nesta geração do sedã, permite a flexibilidade de usar um esquema ou outro de suspensão sem alterar a capacidade do porta-malas (510 litros). O GLI recebe freios maiores e rodas de 18 polegadas com pneus 225/45, em vez das de 17 pol e pneus 205/55 das versões Comfortline e R-Line.

Elas podem ser a diferença externa mais marcantes, mas existem outros detalhes estéticos, como o filete vermelho na grade dianteira, as saias e o defletor de porta-malas, discretos e elegantes. Há também pinças de freio dianteiras em vermelho e difusores de ar no para-choque traseiro. Tanto o dianteiro quanto os faróis de leds têm desenho exclusivo, que capricha mais no uso das superfícies tridimensionais. O resultado final agrada muito. A esportividade está presente em detalhes internos como no volante com base achatada herdado do Golf GTI, as costuras vermelhas e os bancos bem conformados, com amplo apoio lateral e para as coxas e regulagem elétrica, que permite encontrar fácil a boa posição.

 

Interior ganha couro preto com detalhes vermelhos e volante achatado; quadro digital admite configuração; caixa de dupla embreagem no lugar da automática

 

Sistema de áudio é algo que não deve ser menosprezado em esportivos. O do Jetta GLI, da grife Beats, tem potência e 300 watts, sete alto-falantes (um deles para subgraves) e amplificador digital de oito canais. A central é a Discover Media, com tela de 8 pol e integração a celular por Android Auto e Apple Car Play. Outros recursos já conhecidos são quadro de instrumentos digital em tela de 12,3 pol com amplas configurações, seletor entre quatro modos de condução (Eco, Normal, Sport e Individual, que configura direção, transmissão e assistentes), controlador de distância à frente e bloqueio eletrônico do diferencial. O controle eletrônico de estabilidade pode ser desativado. Não há opção de ajuste eletrônico de amortecimento, disponível nos EUA.

 

 

Ao volante do Jetta GLI

O Best Cars avaliou o GLI de São Paulo com destino a Itu, no interior do estado, com 50 quilômetros pela Rodovia dos Bandeirantes e um trecho da Estrada dos Romeiros com retorno pela Castelo Branco. A primeira impressão é sobre o estilo um pouco polêmico. Se por um lado inspira-se na frente dos maiores Passat e Arteon, por outro lado, o “ar de família” torna a sétima geração do Jetta um tanto pasteurizada, a ponto de ser confundida com um carro de menor valor, no caso o Virtus. É difícil distinguir um do outro num olhar rápido — ponto negativo para o modelo superior. A geração passada, com sua sobriedade de traços, foi bastante longeva e evitava tal confusão.

Há também questões de acabamento: essa geração representou notório declínio no aspecto dos materiais, com detalhes curiosos. Não há difusores de ar para o banco traseiro (apenas saídas no assoalho, insuficientes) nem tomada USB, que o Virtus oferece. Não há acabamento no arremate do vidro junto à porta traseira, como no Voyage, aparecendo a chapa. Os painéis de porta dianteiros têm plástico suave ao toque, mas os de trás usam plástico duro, como que separando primeira classe da classe econômica. Por outro lado, a central de áudio é excelente e fácil de usar e o quadro de instrumentos digital dá um show, fazendo coro com a iluminação ambiente que muda de cor, decorando o painel todo em 10 opções de tons.

Próxima parte

 

Com 230 cv e 35,7 m.kgf, o GLI acelera forte e chega a 100 km/h em 6,8 segundos, diz a fábrica; suspensão firme garante estabilidade em sacrifício do conforto

 

Ao volante, o GLI é superlativo. Claro que o Sport é o modo de condução mais divertido: o ronco do motor se faz notar com o motor em rotações mais altas e as respostas se tornam ariscas. A DSG é um espetáculo, rápida e responsiva. Quando em modo manual, o motor pode ser facilmente explorado em seu vigor e levado a perto de 7.000 rpm. Não há razão para duvidar do ótimo tempo de aceleração de 0 a 100 km/h em 6,8 segundos. Contudo, não espere um comportamento de Mini Cooper: a quase tonelada e meia do Jetta aparece nitidamente, tornando as puxadas mais amanteigadas, digamos, que no Civic Si — em que pese o GLI ter condições de deixá-lo na poeira em uma arrancada.

 

 

Curioso é o comportamento da DSG no modo Eco, que torna o GLI um… Jetta. Ao soltar o acelerador a embreagem se desacopla, como se a transmissão entrasse em ponto-morto, e o carro fica em marcha-lenta. Pise de novo e ele reengrena. O objetivo é reduzir o consumo, aproveitando o embalo, assim como as trocas de marcha são feitas em rotações bem menores. De qualquer modo, a suspensão não é indicada para quem se engana com o porta-malas de carro familiar. Dura e áspera nas irregularidades, deixa claro que não se trata de um Comfortline. Em contrapartida, o carro é assentado, estável, e passa uma segurança que instiga o motorista a altas velocidades. A direção, calibrada à perfeição, também responde ao modo selecionado.

Em uma palavra, o GLI é exuberante. Tem itens de série com fartura e um preço que faz até o Civic Touring parecer caro demais, tamanha a diferença em desempenho e conteúdo. Compensa a regressão em termos de acabamento com uma longa lista de benesses e um motor que desperta paixão.

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Preço e equipamentos

Jetta GLI 350 TSI (R$ 145 mil) – Ar-condicionado automático de duas zonas, assistente de farol,  bolsas infláveis laterais dianteiras e de cortina, banco traseiro bipartido 60:40, bloqueio eletrônico do diferencial, câmera traseira de manobras, central de áudio Discover Media com tela de 8 pol, navegador e integração a celular (Android Auto e Apple Car Play), chave presencial para acesso e partida, cintos de três pontos para todos os ocupantes, controlador de velocidade e distância à frentecontrole eletrônico de estabilidade e tração, faróis e lanternas traseiras de leds, faróis e limpador de para-brisa automáticos, fixação Isofix para cadeira infantil, freio de estacionamento elétrico, monitor de fadiga do motorista, monitor frontal com frenagem automática, parada/partida automática do motor, quadro de instrumentos digital configurável, retrovisor interno fotocrômico, revestimento de couro nos bancos, rodas de alumínio de 18 pol, seletor de modos de condução, sensores de estacionamento à frente e atrás, volante de couro com comandos.

Opcional – Teto solar panorâmico.

Garantia – Três anos sem limite de quilometragem com as três primeiras revisões gratuitas.

 

 

Ficha técnica

Motor
Posição transversal
Cilindros 4 em linha
Comando de válvulas duplo no cabeçote
Válvulas por cilindro 4, variação de tempo
Diâmetro e curso 82,5 x 92,8 mm
Cilindrada 1.984 cm³
Taxa de compressão 9,6:1
Alimentação injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar
Potência máxima 230 cv de 4.700 a 6.200 rpm
Torque máximo 35,7 m.kgf de 1.500 a 4.600 rpm
Transmissão
Tipo de caixa e marchas automatizada de dupla embreagem, 6
Tração dianteira
Freios
Dianteiros a disco ventilado
Traseiros a disco
Antitravamento (ABS) sim
Direção
Sistema pinhão e cremalheira
Assistência elétrica
Suspensão
Dianteira independente, McPherson, mola helicoidal
Traseira independente, multibraço, mola helicoidal
Rodas
Dimensões 7,5 x 18 pol
Pneus 225/45 R 18
Dimensões
Comprimento 4,702 m
Largura 1,799 m
Altura 1,478 m
Entre-eixos 2,688 m
Capacidades e peso
Tanque de combustível 50 l
Compartimento de bagagem 510 l
Peso em ordem de marcha 1.432 kg
Desempenho e consumo (gasolina)
Velocidade máxima 250 km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h 6,8 s
Consumo em cidade 9,9 km/l
Consumo em rodovia 12,5 km/l
Dados do fabricante; consumo conforme padrões do Inmetro

 

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