A Quantum seguia o Santana em 1985 e oferecia amplo porta-malas; as cinco portas eram as primeiras em uma perua nacional desde a Simca dos anos 60
A perua Santana Quantum (mais tarde apenas Quantum), a mesma Passat Variant dos europeus, era lançada em agosto de 1985, depois de ter sido mostrada ao público no Salão de São Paulo do ano anterior. Seu grande atrativo estava nas cinco portas, conveniência que — à parte o grande utilitário Chevrolet Veraneio — não se via em uma perua nacional desde a Simca Jangada dos anos 60. Seu nome significava quantidade, volume em latim, e era o mesmo do Santana no mercado norte-americano (leia quadro na página 1).
Outras novidades no mercado nacional eram a cobertura “sanfonada” no compartimento de bagagem, que podia ser recolhida em vez de retirada; bagageiro de teto com barras transversais removíveis (até então só se usavam conjuntos fixos) e revestimento de teto pré-moldado. A capacidade de bagagem era ampla, 507 litros, e podia ser ampliada pelo rebatimento do banco bipartido em 60:40. A Quantum oferecia versões CS e CG e estreava com o motor AP-800, evolução do 1,8 original com bielas mais longas e pistões mais leves. Ele fornecia 90 cv (gasolina) ou 96 cv (álcool). O volante ganhava novo desenho, que ficaria conhecido como “quatro bolas” em razão dos botões circulares da buzina.
A Motor 3 elogiou a Quantum CG com ressalvas: “É uma ‘senhora’ station-wagon, grande, espaçosa, bonita, sugestiva de muita qualidade, conforto, durabilidade e confiabilidade. Em termos de espaço, a Quantum está em excelente posição. Temos receio que seja reconhecida como ‘xoxa’, pois lhe falta motor. Seria ultradesejável um motor com mais potência e, principalmente, com bastante mais torque”.
Bagageiro com hastes removíveis e cobertura sanfonada no porta-malas eram primazias da Quantum, mas o motor se mostrou mais limitado diante do maior peso
Essa limitação ficou clara na comparação pela Quatro Rodas à Chevrolet Caravan Diplomata de 4,1 litros, ambas com caixa automática: “O desempenho da Caravan é superior. Enquanto ela fez de 0 a 100 km/h em 11,72 segundos, a Quantum precisou de 14,95 segundos. Mas a Caravan consumiu entre 49% e 57% mais. A estabilidade da Quantum é bem melhor, com suspensão mais dura e menos confortável. Em espaço para bagagem, sem a tampa, há equilíbrio”.
A versão C tinha caixa de quatro marchas, poucos equipamentos e nenhum opcional — era uma forma de contornar o controle de preços pelo governo
Pouco após seu lançamento, a Volkswagen decidia encurtar as marchas de todos os Santanas, à exceção da primeira, criando uma quinta de desempenho (usada para velocidade máxima) e não mais de economia. O ganho em agilidade com essa medida, associado ao motor mais suave, atenuou as reclamações de fraco desempenho ao custo de aumento de consumo e ruído em viagem. Na lanterna traseira do lado esquerdo surgia uma luz de neblina. No primeiro semestre de 1986 a dupla Santana/Quantum liderava sua categoria com 50,6% das vendas.
A primeira reestilização
Os para-choques envolventes do modelo alemão eram adotados aqui na linha 1987, que trazia outras alterações. As versões agora eram quatro: C (Comfort), CL (Comfort Luxe), GL (Gran Luxe) e GLS (Gran Luxe Super), inclusive para a Quantum. A GL mostrava esportividade com rodas usinadas de 14 polegadas — as mesmas do Gol GT e do Passat GTS Pointer, mas sem fundo preto — e pneus 195/60, além de bagageiro preto-fosco na perua em vez de prateado. Nessa versão o Santana só vinha com duas portas.
Novos para-choques vinham na linha 1987; o GLS trazia faróis auxiliares junto à grade e luz no para-sol, e o GL (embaixo), rodas de 14 pol para um ar esportivo
A GLS trazia os faróis de neblina junto à grade, como no modelo alemão, e não mais salientes na parte inferior do para-choque — posição que, embora eficaz em iluminação no nevoeiro, os deixava vulneráveis a danos. No interior havia requintes como luzes de leitura, chave com iluminação embutida (para encontrar facilmente a fechadura e evitar riscos à pintura, pois ainda não se usava controle remoto de travamento) e espelho iluminado no para-sol do passageiro do GLS. O teto do sedã passava a ser pré-moldado, como na Quantum.
A versão C só existia com motor a álcool e caixa de quatro marchas, com poucos equipamentos (sem aquecimento, vidros verdes ou desembaçador traseiro), e não oferecia opcionais. Essa composição incoerente com a proposta do modelo era uma forma de contornar o controle de preços do Plano Cruzado, lançado em 1986 pelo governo federal de José Sarney. Com ela a Volkswagen podia oferecer ao valor do antigo CS um carro mais despojado e de menor custo de produção, o que representava um aumento camuflado.
O motor passava para 96 cv e 15,6 m.kgf com álcool, aumento de 2 cv e 0,4 m.kgf. Agora o Santana acelerava de 0 a 100 km/h em 11,4 segundos, e a Quantum, em 13,2 s, ambos com álcool. Na suspensão, os amortecedores ganhavam novo acerto e as buchas adotavam novo material, o cellasto, um elastômero poroso e de longa vida útil. O silenciador traseiro ficava menos visível.
Próxima parte
No Japão
O Santana também foi fabricado no Japão, de 1984 a 1989, pela Nissan. Começou com motores 1,8-litro de 100 cv e 2,0-litros de 110 cv a gasolina, seguidos por um 1,6 turbodiesel de 72 cv. A versão Xi5 Autobahn, um ano depois, vinha com rodas de 14 pol e teto solar com controle elétrico. Dois anos depois chegavam retoques visuais e o motor 2,0 com cinco cilindros, duplo comando e 140 cv. A transmissão automática opcional tinha três marchas. Não havia diferenças significativas de desenho em relação ao modelo alemão, mas o volante do lado direito foi acompanhado de redesenho do capô, pois havia recortes para os braços do limpador de para-brisa que agora estavam em nova posição.
Os especiais
A linha Passat de segunda geração foi modificada mundo afora. As alemãs Öettinger e Zender ofereciam rodas largas e anexos aerodinâmicos para o Santana e a Variant. A primeira das empresas preparava o motor de 2,1 litros, que crescia para 2,5 e obtinha 150 cv com torque de 21,7 m.kgf.
Não faltaram adaptações ousadas, como a Variant com motor VR6 de 2,8 litros (lançado na geração posterior) e turbo da alemã RS Tuning. Os 442 cv eram transferidos ao sistema de tração integral Syncro.
No Brasil, em 1988, o ex-piloto de competição e fabricante de carros especiais Antônio Carlos Avallone lançava uma versão limusine da Quantum com 84 cm adicionais e oito lugares. Trazia vidros escurecidos, televisor, telefone e mais um banco para três pessoas. Várias adaptações podiam ser feitas a gosto do cliente, incluindo divisão de vidro escuro entre passageiros e motorista e espelhos para maquiagem.
Por volta de 2000 a EWV Projects, do engenheiro mecânico Eduardo Vasconcellos, produziu uma Quantum “aventureira”. O kit Country elevava a altura de rodagem e aplicava estribos, quebra-mato, rodas de 15 pol e faróis auxiliares. Reforços adicionais, feitos por tirantes fixos ao subchassi dianteiro e à estrutura do carro, buscavam adequar a perua a aplicações fora de estrada.
por Felipe Bitu