O modelo inicial do Jetta, em 1979, acrescentava um porta-malas saliente
com vistas ao mercado dos EUA e foi inspiração para nosso Voyage
O Golf Cabriolet ou conversível aparecia em março de 1979 no Salão de Genebra, fabricado pela Karmann, como já ocorrera no passado com essa versão do Fusca. Uma barra ligava as colunas centrais para aumentar a rigidez do monobloco e a capota de lona tinha acionamento manual. Os reforços estruturais resultavam em aumento de peso da ordem de 130 kg. Curiosamente o Golf a céu aberto resistiria ao fim do primeiro modelo, “pulando” a geração seguinte do hatch, talvez pela inviabilidade de redesenhar o ferramental após pouco tempo de produção.
A italiana Quattroruote avaliou o Cabriolet GL de 1,5 litro, que revelou bom desempenho, como aceleração de 0 a 100 km/h em 12,6 segundos. “A montagem das várias partes é impecável. A grande capota de lona, uma especialidade da Karmann, tem perfeita vedação contra ar e água e, mesmo em velocidade elevada, ruídos e assobios são mínimos. Reduzida, em relação ao sedã, é a capacidade de bagagem de 280 para 230 litros. A característica principal do motor é a prontidão, que permite sair rápido, apesar da potência pouco elevada (70 cv). Quanto ao conforto, tudo bem se o piso é bem regular; em caso contrário, a suspensão transmite vibrações”, analisou a revista.
Para-choques envolventes e lanternas traseiras maiores vinham em 1980;
o GTI (fotos) adotava o volante de “quatro bolas”, bem conhecido aqui
Em agosto seguinte vinha o Jetta, versão de três volumes e linhas pacatas, para o consumidor mais familiar. Um de seus alvos era o mercado dos EUA, pouco interessado em hatchbacks, onde ele obteve sucesso imediato. Oferecido com duas ou quatro portas, o Jetta media 4,19 metros de comprimento (38 cm a mais que o Golf) com o mesmo entre-eixos, oferecia um grande porta-malas (510 litros) e usava frente diferenciada, com faróis retangulares, para se distinguir do hatch e buscar semelhança ao Passat. Seu estilo foi evidente inspiração para o Voyage da VW brasileira, lançado dois anos mais tarde.
Mesmo sem ser pioneiro, o Golf pode ser
considerado o precursor de muitos hatches
compactos com motor transversal
Uma reforma visual para o Golf com para-choques envolventes em plástico, lanternas traseiras maiores e — apenas nos EUA — faróis retangulares era apresentada em 1980. O GTI adotava o clássico volante de quatro raios e quatro botões circulares de acionamento da buzina, aqui usado por Gol e Passat. No mesmo ano o Jetta recebia o acabamento esportivo GLI, equivalente ao Golf GTI, com o motor 1,6 de 110 cv, suspensão mais baixa e firme, pneus mais largos, bancos esportivos e volante revestido em couro. O Golf Formel E (fórmula E, de economia) surgia no ano seguinte com um sistema que desligava o motor de 1,1 litro com o carro parado, como em semáforos, e o religava rapidamente — um precursor do dispositivo hoje comum na Europa.
O marco de cinco milhões de Golfs era atingido em fevereiro de 1982, mesmo ano em que o motor do GTI e do Jetta GLI passava para 1,8 litro. Com 112 cv, representava apenas 2 cv a mais, só que com torque bem mais alto (15,6 m.kgf) e melhores respostas em baixa rotação para lidar com o peso de novos itens de conforto. Carroceria de cinco portas e computador de bordo também eram introduzidos no GTI.
Já com motor de 1,8 litro e 112 cv, o GTI ganhava em 1983 a série Pirelli,
cujas rodas de 15 pol tinham o “P” como elemento dos furos de ventilação
No teste da Autocar, o GTI de 1,8 litro agradou: “Não havia reclamações sobre o GTI 1600, mas você precisava usar bastante o câmbio para obter seu melhor desempenho, o que diminuiu muito com o novo motor”. O esportivo acelerou de 0 a 96 km/h em 8,3 segundos, ante 9 s do anterior, e foi bem mais rápido nas retomadas de velocidade em última marcha.
Em um quadro comparativo com BMW 316i, Mitsubishi Colt Turbo, Fiat Strada (Ritmo) 105 TC, Renault 5 Gordini Turbo e Volvo 360 GLT, o GTI foi o melhor em aceleração e velocidade máxima. “Os concorrentes com turbo têm uma pequena vantagem em consumo e o R5 é o mais próximo do VW em desempenho. Mas ele não tem as respostas do Golf, tanto em comportamento quanto em motor, nem é tão prático quanto ele. Em seu segmento o GTI é um pouco mais caro, mas podendo bancar a diferença a maioria de nós ficaria feliz com o VW”, concluiu.
O primeiro Golf despedia-se com a série especial Pirelli GTI, com rodas de 15 pol, pneus (Pirelli, claro) 185/55 e volante revestido em couro. Embora descontinuada na Europa, essa geração permaneceu em fabricação até 2009 na África do Sul (leia quadro na página 3), onde era conhecido como Citi Golf — o Jetta durou até 1998 por lá. Como o Cabriolet não acompanhou a segunda geração, manteve-se em linha na primeira até 1993, tendo recebido novos para-choques na cor da carroceria em 1988 e acionamento elétrico da capota em 1991. Edições especiais foram desenvolvidas a partir dessa versão, como Bel Air, Best Seller, Carat, CC, Etienne Aigner, Quartett, Sportline e Wolfsburg. O hatch teve ainda a série Driver, que seguia o visual do GTI.
Fórmula aprimorada: o segundo Golf estava mais espaçoso e oferecia
novos motores, mas mantinha a identidade visual do antecessor
O Golf pode ser considerado o precursor de grande número de hatches compactos com motor transversal e tração dianteira. Mesmo que não fosse o pioneiro nessa arquitetura — o Austin Mini inglês já era assim em 1959, seguido por modelos da Fiat e da Autobianchi —, seu êxito nos quatro cantos do mundo foi responsável pela adesão de diversas marcas a tal configuração, como a Renault com o R14 de 1976, a Chrysler/Simca com o Omni/Horizon de 1978, a Opel com o Kadett de 1979, a Ford com o Escort de 1980 e a Austin Rover com o Maestro de 1983.
Segundo tempo
A segunda geração do Golf, ou Tipo 19E, chegava ao mercado europeu em agosto de 1983, nove anos após a primeira. Com maiores dimensões (3,98 m de comprimento, 2,47 m entre eixos) e porta-malas mais espaçoso, mostrava uma traseira mais encorpada e com amplas lanternas, mas a frente lembrava muito a anterior, incluindo os faróis. As largas colunas posteriores também estavam lá. As mudanças acarretavam aumento de peso, que agora partia de 910 kg.
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Nos Estados Unidos
A carreira do Golf no mercado norte-americano teve um começo atribulado. Renomeado Rabbit (coelho), talvez para criar a associação com o animal leve e rápido, o modelo oferecia motores de 1,5 e 1,6 litro a gasolina e, de 1978 em diante, 1,5 a diesel (uma versão 1,7 a gasolina com 74 cv, não disponível na Europa, viria em 1981).
Com dificuldades em conquistar mercado, o Rabbit não ajudou a VW a manter o mercado antes pertencente ao Fusca: em 1976, somando o hatch ao Passat e ao Scirocco, a empresa vendeu lá 201 mil unidades ante 476 mil veículos arrefecidos a ar em 1972. Os problemas começaram pelas adaptações necessárias ao país (como dispositivos de controle de emissões poluentes e para-choques reforçados), que elevaram o peso entre 45 e 90 kg, conforme a versão, e reduziram a potência dos motores. Houve também falhas mecânicas, elétricas e de acabamento que levaram à convocação de mais de um milhão de veículos e causaram insatisfação.
As críticas não diminuíram quando foi iniciada a fabricação local em Westmoreland, na Pensilvânia, em 1978. A qualidade dos bancos e do acabamento interno caiu, os amortecedores mais macios prejudicaram a estabilidade e os problemas continuaram. Quase um terço dos 1.200 concessionários VW mudou de bandeira em poucos anos. A estreia do GTI — com motor de 1,8 litro e 90 cv, ou 22 cv a menos que no similar europeu —, adiada até 1983, não contribuiu para melhorar o quadro.
O lançamento da segunda geração, agora com o nome original, ajudou a trazer de volta a reputação da marca e a lealdade dos compradores: em 1985 eram vendidos 140 mil carros VW nos EUA, ante 77 mil de dois anos antes. Nessa fase a VW ofereceu nos EUA versões específicas como o Golf GT, que combinava o visual do GTI ao motor 1,8 convencional, além de oferecer cinco portas e câmbio automático, que o GTI não podia ter. Um motor de 2,0 litros e 136 cv para o GTI, em substituição ao 1,8, também foi exclusivo dos EUA entre 1990 e 1992.
A fábrica de Westmoreland acabou sendo fechada, mas a empresa ganhou novos problemas ao começar sua produção em Puebla, no México, onde até então só fazia o Fusca. Com a qualidade em franco declínio, as vendas da marca não chegavam a 50 mil carros em 1993. Mas o terceiro Golf estava por chegar e, com as devidas correções na fabricação, o mercado reagiu: quase 138 mil veículos em 1997, sendo 90 mil do Jetta, que se manteria por anos como o VW mais vendido naquele mercado.
Curiosamente, o mal-sucedido Rabbit ganhou uma homenagem quando o Golf de quinta geração foi lançado com esse nome aos norte-americanos, em 2006, com direito a um coelho no logotipo da traseira. Mas a denominação durou só até o lançamento do sexto modelo, que retomava por lá o nome alemão.
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