O lançamento da francesa começa um convívio de 30 dias, em
versão intermediária, e revela bons atributos mecânicos
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Atualização inicial: 14/11/13
Um Mês ao Volante retorna com seu vigésimo oitavo teste (após um intervalo maior do que gostaríamos, por causa das avaliações regulares dos últimos lançamentos) e um dos principais lançamentos do ano: o Citroën C4 Lounge. À venda desde setembro, o sedã que substitui o C4 Pallas chegou a nossas mãos praticamente zero-quilômetro (apenas 300 km rodados) na versão Tendance, com motor de 2,0 litros e caixa de câmbio automática de seis marchas.
Pedimos essa opção intermediária, e não a Exclusive com motor THP turbo de 1,6 litro, porque representa a fatia mais expressiva das vendas do modelo. Além disso, o topo de linha já foi dirigido no lançamento e avaliado depois para participar de um comparativo a ser publicado em breve. Ao preço básico do Tendance automático, R$ 67 mil, o carro avaliado acrescenta apenas a pintura perolizada em branco Nacré, que o leva a R$ 68.680.
Por esse valor ele traz equipamentos de segurança de série como bolsas infláveis frontais, rodas de alumínio de 17 pol com pneus 225/45, faróis e luz traseira de neblina, freios antitravamento (ABS) com distribuição eletrônica entre os eixos e reforço de assistência em emergências, alarme com ultrassom e fixação Isofix para cadeiras infantis. Não há controle de estabilidade, que está restrito ao Exclusive.
A versão Tendance combina o conhecido motor de 2,0 litros ao novo câmbio
automático de seis marchas e, ao preço de R$ 67 mil, traz bom conteúdo de série
A dotação de conforto passa por ar-condicionado automático de duas zonas de ajuste com difusores para o banco traseiro, faróis e limpador de para-brisa automáticos, temporizador de faróis, sensores de estacionamento traseiros, retrovisor interno fotocrômico, banco traseiro bipartido, computador de bordo, rádio/CD com MP3 e interface Bluetooth para celular, controlador e limitador de velocidade, direção com assistência eletro-hidráulica, volante regulável em altura e distância com comandos de áudio, para-brisa com isolamento acústico e controle elétrico dos vidros, travas e retrovisores.
O motor de 2,0 litros revelou bom desempenho geral, mas o torque em alta rotação requer empenho da caixa automática para obter desenvoltura
A primeira impressão é de um carro bem-acabado e confortável, mesmo que o tecido de revestimento dos bancos e o plástico do volante sejam algo ásperos. O interior oferece bom espaço para quatro adultos; contudo, um quinto ocupante não dispõe de conforto pelo encosto muito duro. O motorista acomoda-se bem em um banco amplo e conta com diversas regulagens. No quadro de instrumentos, a iluminação alaranjada dos mostradores digitais acaba favorecendo a leitura em comparação aos vários tons de azul e roxo que podem ser escolhidos no THP.
Em vez da tela central de sete polegadas com navegador do topo de linha, o Tendance traz o conhecido mostrador do computador de bordo — prático, com duas medições — e um porta-objetos com tampa. Não há câmera traseira para manobras, só os essenciais sensores de estacionamento. Outras diferenças estão nos faróis, com refletores de superfície complexa e lâmpadas comuns, halógenas (a versão de topo pode vir com refletores elipsoidais e lâmpadas de xenônio), e na chave convencional, que ao menos não precisa mais ser entregue ao frentista ao abastecer como em antigos Citroëns.
Há amplo espaço para quatro adultos no novo Citroën, mas falta conforto ao
quinto ocupante; os instrumentos vêm iluminados em laranja nessa versão
Entre os bons detalhes estão o controle elétrico dos vidros com função um-toque para todos, temporizador e controle remoto de fechamento (não abertura), porta-luvas refrigerado, apoio de braço central regulável, amplos retrovisores externos convexos, aviso específico para cada porta mal fechada e conexões USB e auxiliar no sistema de áudio.
Algumas ausências podem incomodar, como faixa degradê no para-brisa, iluminação nos espelhos dos para-sóis e bolsas para revistas nos encostos dianteiros (até onde chegou a redução de custos…). O porta-malas, com a capacidade regular de 450 litros, usa braços convencionais, que roubam espaço em comparação às articulações pantográficas do C4 Pallas; ao menos não amassam a bagagem por ter espaço reservado. Abaixo, o estepe usa roda de 16 pol e assim fica fadado a essa condição, sem poder substituir um pneu em caráter definitivo.
Calibração de câmbio é destaque
Sob o capô está o veterano motor flexível de 2,0 litros e 16 válvulas, com potência de 143 cv com gasolina e 151 com álcool, como no C4 Pallas, agora associado à caixa de seis marchas da japonesa Aisin, que substitui a quatro-marchas de fabricação PSA/Renault do antecessor. Mudanças manuais podem ser feitas pela própria alavanca e há opção entre os programas de funcionamento normal, esportivo e para pisos de baixa aderência.
Comandos no volante, ar-condicionado de duas zonas e controlador de velocidade
são itens de série; o motorista acomoda-se bem e encontra diversas regulagens
Nos primeiros cinco dias de avaliação o C4 Lounge rodou quase 500 quilômetros, com predomínio de rodovias, tanto entre Pindamonhangaba (cidade-sede do Best Cars) e São Paulo quanto entre aquela cidade e Campos de Jordão, também no interior paulista. O motor de 2,0 litros abastecido com gasolina revelou bom desempenho geral, com potência apropriada ao elevado peso de 1.414 kg do sedã. No entanto, sua concentração de torque em alta rotação — o pico de 20,2 m.kgf só aparece a 4.000 rpm — requer algum empenho da caixa automática para obter desenvoltura.
O lado positivo é que o novo câmbio é ótimo: não só efetua mudanças suaves, como se espera em um carro desse segmento, como revela perfeita calibração. A viagem em serra a Campos evidenciou esse acerto, pois em modo automático normal o C4 “trocava de marchas com o pé”, dispensando mudanças manuais. O motor era mantido acima de 3.000 rpm na subida, mas em uso urbano moderado a rotação caía a cerca de 1.500 rpm, comportamento que a antiga caixa não apresentava — era crônica sua insistência em usar rotação mais alta que a necessária.
O melhor veio nos declives, tanto na serra de retorno quanto em trajetos dentro da charmosa estância de inverno. Nem mesmo precisamos do programa esportivo: em modo normal o câmbio segurava marchas inferiores na medida certa para propiciar freio-motor, dispensando o uso do pedal esquerdo em grande parte da descida. Uma redução de quinta para terceira não requer uso do comando manual, bastando um toque breve e decidido no acelerador para a caixa interpretar, pela rápida tirada de pé, que se deseja redução.
O C4 Lounge próximo ao Pico do Itapeva, com acesso via Campos do Jordão,
SP: desempenho e conforto adequados e uma ótima calibração de câmbio
Bem calibrada foi também a suspensão do C4 Lounge, apesar de manter a arquitetura do Pallas. Percebe-se melhoria importante na absorção de irregularidades, como ao cruzar linhas férreas, embora o rodar firme nem sempre seja tão confortável quanto o tipo de automóvel faz esperar. Ao transpor lombadas ou valetas, nova lembrança do antecessor: acabou a facilidade com que se raspava o para-choque dianteiro, fator agora dentro dos padrões. O carro tem mostrado ainda boa estabilidade em retas e curvas.
O que não agradou no Lounge nesse começo foi o consumo de combustível, com médias de 10,8 km/l de gasolina no percurso a Campos e 8,7 na viagem a São Paulo (com mais pressa e 60 km de trânsito urbano). Como atenuante ele tem o fato de estar muito novo: motores ficam mais econômicos após alguns milhares de quilômetros. Mas é cedo para um julgamento — o item será avaliado com mais exatidão no decorrer dos 30 dias, incluindo o uso de álcool e os percursos-padrão de cidade e rodovia com ambos os combustíveis.
Desde o início
5 dias |
499 km |
Distância em cidade | 108 km |
Distância em estrada | 390 km |
Tempo ao volante | 9h 14min |
Velocidade média | 54 km/h |
Consumo médio (gasolina) | 9,2 km/l |
Indicações do computador de bordo |
Preço
Sem opcionais | R$ 66.990 |
Como avaliado | R$ 68.680 |
Preços públicos vigentes em 13/11/13 |
Teste do Leitor
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Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 85 x 88 mm |
Cilindrada | 1.998 cm³ |
Taxa de compressão | 10,8:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima (gas/álc.) | 143/151 cv a 6.250 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 20,2/21,7 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | automático / 6 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | eletro-hidráulica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 17 pol |
Pneus | 225/45 R 17 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,621 m |
Largura | 1,789 m |
Altura | 1,505 m |
Entre-eixos | 2,71 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 60 l |
Compartimento de bagagem | 450 l |
Peso em ordem de marcha | 1.414 kg |
Desempenho | |
Velocidade máxima (gas.) | 211 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h (gas.) | 9,5 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |