Mini Cooper S Coupe vs. Peugeot RCZ – continuação
Duas maneiras de combinar o nostálgico ao moderno em um formato que agrada aos olhos
Concepção e estilo
A Mini que conhecemos hoje é um fabricante ainda novo, iniciado pela BMW em 2001, sete anos depois de adquirir o antigo grupo inglês Rover — que produzia desde 1959 o Mini original desenhado por Alec Issigonis. Uma evolução do simpático hatchback apareceu para 2007. Depois do hatch e da perua Clubman inspirados no modelo do passado, do conversível e do pequeno utilitário esporte Countryman, a Mini buscou criar algo mais esportivo e apresentou, no Salão de Frankfurt de 2009, duas novas interpretações sobre o tema: o Mini Coupe, que chegou ao mercado nacional em 2011, e o Roadster, lançado este ano.
O RCZ remete a cupês dos anos 40 a 60, como o Volkswagen Karmann-Ghia — é inevitável se lembrar desse modelo ao ver, pelos retrovisores, as protuberâncias em torno das rodas traseiras
A história da Peugeot, como sabemos, é bem mais longeva — a marca está no mercado francês desde 1810 e construiu em 1889 seu primeiro automóvel. Desde então, muitos de seus modelos (como 304, 404, 504, 406 e 407) contaram com versões cupê, sem falar no 307 CC com seu teto rígido retrátil. Com o lançamento do 308 europeu, os franceses decidiram criar um cupê fechado de linhas elegantes, revelado como 308 RCZ no Salão de Frankfurt em 2007. Em três anos o modelo estrava em produção, chamado apenas de RCZ, e no ano passado foi lançado ao Brasil, onde a marca não atuava no segmento desde o fim da importação do 406 Coupé.
Tomada de ar, teto que lembra um capacete, duas saídas de escapamento: o Mini Coupe
Pode-se dizer que ambos combinam elementos de estilo do presente e do passado, mas o fazem de maneiras diferentes. O que há de nostálgico no Mini Coupe é o que ele mantém do hatchback, como as formas da frente e da traseira, que buscaram associação com o modelo de 1959, e detalhes como as maçanetas cromadas. O restante é atual e até mesmo ousado, caso do teto que alguns associam a um capacete e dos faróis com refletores elipsoidais. Defletores, grandes tomadas de ar, rodas de 17 pol, duas saídas centrais de escapamento e um aerofólio móvel, que se destaca a partir de 80 km/h, voltando a baixar a 60 (pode ser erguido, mas não baixado, por botão junto ao teto), garantem um ar muito esportivo ao cupê.
No RCZ a nostalgia está em seções como os para-lamas salientes, que remetem a cupês dos anos 40 a 60, como o Volkswagen Karmann-Ghia — é inevitável se lembrar desse modelo ao ver, pelos retrovisores, as protuberâncias em torno das rodas traseiras —, ou no teto que simula o formato de duas bolhas sobre os ocupantes, como em clássicos desenhos do estúdio italiano Zagato para a Alfa Romeo. Os arcos sobre as janelas laterais, em cor prata que simula alumínio polido, dão um toque peculiar de muito bom gosto.
O RCZ: para-lamas salientes, teto em dupla bolha, arcos em tom de alumínio e o aerofólio móvel
Como no Mini, o teto em preto dá a sensação de ser envidraçado ou mesmo retrátil, mas na verdade é fechado e de chapa, e o aerofólio traseiro destaca-se da carroceria em velocidade. Ele atua em dois estágios: assume 19º de inclinação em relação à horizontal, a 85 km/h, e passa a 34º ao atingir 155 km/h (pode ser erguido e baixado por botão no console). As rodas são de 18 pol e há duas saídas de escapamento. O restante do Peugeot é todo moderno, caso da frente com o estilo típico da marca.
Lado a lado, os dois mostram-se capazes de atrair todas as atenções. A maioria dos que opinaram achou o RCZ mais elegante e harmonioso, embora o público mais jovem tenha apontado preferência pelo Cooper S. Quem também prefere o Peugeot é o ar, que cruza sua carroceria com maior eficiência (coeficiente aerodinâmico, ou Cx, 0,32) que a do Mini (0,35, ou 0,02 acima do próprio hatch). Mesmo se considerada sua maior área frontal estimada, o Peugeot permanece mais eficiente, com Cx.A de 0,745 ante 0,756 do oponente.
Conforto e conveniência
No Mini, o tema circular por toda parte, um imenso velocímetro e conta-giros sobre a coluna de
direção; no RCZ, um interior elegante e mais tradicional, com materiais de aspecto superior
Se por fora eles têm diferentes vocações, por dentro ainda mais. O Coupe repete o visual irreverente dos outros Minis: painel simétrico que destaca o imenso velocímetro central, muitos elementos circulares (quantos você pode contar, só dentro do volante?) e comandos em forma de chave que são mais interessantes do que funcionais. O padrão do RCZ é outro: painel elegante e com toque esportivo discreto, que usa detalhes cromados e um tradicional relógio analógico no centro para certo ar nostálgico, enquanto numerosos itens deixam claro se tratar de um Peugeot.
O Coupe repete o visual irreverente dos outros Minis, com painel simétrico e muitos elementos circulares — quantos você pode contar, só dentro do volante?
Os dois trazem revestimentos em couro para bancos e volante. O franco-austríaco (é fabricado na Magna Steyr em Graz, Áustria) traz painel e portas com aspecto sofisticado, em material que imita couro (incluindo costuras), e plásticos de qualidade superior aos do inglês de Oxford, que são um tanto simples para um carro de seu preço. Curiosos no RCZ são os bancos com encosto alto, sem apoio de cabeça destacado — mais um item vindo de outras épocas.
Dirigir um cupê é sentar-se mais perto do solo que em um automóvel qualquer, seja para sensação de esportividade, seja para permitir que o teto seja mais baixo e contribuir para abaixar o centro de gravidade. Se no Peugeot até há espaço para se escolher uma posição de assento mais alta, a visão para o lado esquerdo começa a ser prejudicada pelo recorte superior da janela, que é baixo. Os dois modelos revelam bom projeto para a posição do motorista, com alinhamento correto entre banco, volante e pedais.
Os dois bancos do Mini seguram bem o corpo e há algum espaço atrás para volumes; a tela
multifunção no velocímetro abriga navegador, computador de bordo, áudio e telefonia
No RCZ os bancos dianteiros têm ajustes elétricos para as principais funções, com duas memórias de posição no do motorista, enquanto no Mini tudo é manual (e com reclinação do encosto por alavanca, em pontos predefinidos). Em comum, ambos oferecem boa conformação, densidade de espuma correta (firme), apoios laterais pronunciados para reter o corpo nas curvas sem chegar ao desconforto, regulagem manual de apoio lombar, ajuste do volante em altura e distância e “terceiro pedal” bem definido para o pé esquerdo.
O painel de instrumentos do Mini baseia-se, como se disse, no enorme velocímetro central (com leitura não muito prática) e em um conta-giros aplicado sobre a coluna de direção, como nos tempos de adaptação pós-venda desse item. Dentro do velocímetro está a grande tela multifunção que serve a sistemas de áudio e navegação por GPS, interface Bluetooth para telefone celular, configurações do carro, computador de bordo e até um manual digital de instruções — tudo controlado por um pequeno botão no console que se gira e aperta, como no sistema IDrive da BMW.
Já o conta-giros, que acompanha o ajuste do volante em altura, aloja um bem-vindo velocímetro digital, luzes-piloto e indicador da marcha em uso; não há marcador de temperatura do motor. Tradicional, o quadro do RCZ traz as mesmas principais funções (sem navegador) em um conjunto elegante e de fácil leitura, com fundo em tom prata que escurece sob baixa luz ambiente. Os computadores informam consumo em km/l, como deve ser aqui, e indicam se estão corretos o nível de óleo do motor e a pressão dos pneus; a iluminação vem em branco no Peugeot e em laranja no Mini.
Próxima parte