Com base na Countryman, o hatch chega com maior porte e
bom desempenho, mas os R$ 140 mil são difíceis de convencer
Texto: Fabrício Samahá – Fotos: divulgação
A marca é Mini, mas de míni essa família do grupo BMW não tem nada. Depois do hatchback, da perua Clubman (não mais importada desde 2011), do conversível de quatro lugares, da perua com jeito de utilitário esporte Countryman, do cupê e do roadster — conversível de dois lugares —, a linha da marca inglesa ganha seu sétimo membro no mercado brasileiro: o Mini Paceman, um hatch de três portas que se baseia na Countryman.
O Paceman surgiu como carro-conceito no Salão de Detroit de 2011 e tornou-se modelo de produção no evento de Paris, no ano passado. Como na Countryman, a ideia é pegar carona na imagem irreverente do Mini original — aquele lançado em 1959 e produzido até 2001 — e no charme de sua recriação para oferecer um carro mais espaçoso. Um dos objetivos da empresa é manter a fidelidade do cliente à marca ao oferecer uma alternativa a quem já teve o hatch e pensava em um carro maior.
Esse espaço adicional não significa mais lugares: em vez de um banco traseiro inteiriço como o da Countryman, o Paceman traz dois individuais, de modo que continua limitado a quatro pessoas. Mas elas ganham melhores acomodações que no hatch, em assentos com bons apoios laterais que dão conforto a passageiros de estatura média, e há um razoável compartimento de bagagem de 330 litros (20 a menos que na Countryman).
Quase igual à Countryman de frente, o Paceman tem desenho próprio nas laterais
e na traseira, com para-lamas “musculosos”; o teto solar dianteiro corre por fora
O Paceman chega em um momento de recuperação para a Mini, que tenta reverter o baixo volume de vendas alcançado no ano passado — 1.850 unidades, ante quase 2.900 em 2011 — por conta do aumento de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para carros importados. Hoje a situação é outra, pois a adesão do grupo BMW ao programa Inovar-Auto permitiu reduzir tributos e fixar os preços em patamares inferiores aos de 2011. A empresa espera colocar nas ruas de 30 a 40 exemplares por mês, um volume pequeno mesmo dentro da gama Mini, que hoje vende 270 unidades mensais.
O novo Mini anda muito bem, com potência de sobra, e o motor gira macio como se espera de algo em que a BMW tenha colocado as mãos
De início há uma só configuração de Paceman no mercado brasileiro, a versão Cooper S com tração dianteira, o conhecido motor de 1,6 litro com turbocompressor e injeção direta, com potência de 184 cv, e caixa de câmbio automática de seis marchas. O preço sugerido de R$ 139.950 é mais alto em R$ 10 mil que o da Countryman equivalente. Ainda este ano chega a opção de tração integral pelo sistema All4, que usa a repartição de torque de 50% por eixo em condições normais de aderência, mas chega a enviar todo ele às rodas traseiras se necessário. No próximo ano estreia aqui o apimentado John Cooper Works, com o mesmo motor preparado para 218 cv.
O conteúdo de série é farto, com controle eletrônico de estabilidade e tração, seis bolsas infláveis (frontais, laterais dianteiras de tórax e cortinas que protegem todos os ocupantes), faróis com lâmpadas de xenônio em ambos os fachos, revestimento interno em couro, ar-condicionado automático, rádio/toca-CDs/MP3 com comandos no volante e interface Bluetooth, alto-falantes Harman/Kardon, navegador por GPS, controlador de velocidade, dois tetos solares (só o dianteiro abre, correndo por fora da carroceria), sensores de estacionamento na traseira e computador de bordo. A garantia é de dois anos.
Os bancos individuais para dois na traseira são um item peculiar do Paceman
Definido pela fábrica como um Sports Activity Coupé ou cupê de atividade esportiva (embora não se trate de um cupê no sentido usual), o Paceman tem no estilo os elementos básicos de todo Mini, como as formas da cabine, mas há diferenças importantes. A frente segue a da Countryman, mais retilínea e com faróis que fogem à forma oval, com diferenças apenas na grade, no domo do capô e no defletor. O destaque está na traseira, a única da família a usar lanternas horizontais. Vidros laterais e posterior de perfil baixo, “músculos” nos para-lamas posteriores e as grandes rodas de 18 polegadas concorrem para o aspecto robusto do mais novo Mini.
As dimensões deixam claro que ele não é tão míni assim quanto o três-portas que deu origem à família. Com 4,11 metros de comprimento, 1,78 m de largura, 1,52 m de altura e 2,59 m de distância entre eixos, supera o hatch em 40 cm, 10 cm, 11 cm e 12 cm, nesta ordem. Também não há nada de pequeno no peso de 1.330 kg, típico de carro médio. As formas pouco favoráveis ao ar implicam coeficiente aerodinâmico (Cx) nada expressivo, 0,36, com resultado de 0,84 na multiplicação pela área frontal.
No interior, quem está acostumado a qualquer Mini vai se sentir em casa. Estão lá a profusão de elementos circulares, o conta-giros (com velocímetro digital) sobre a coluna de direção e o enorme velocímetro no centro do painel, tendo dentro de si a tela multifunção para computador de bordo, navegador e configurações. Não poderiam faltar os comandos do tipo chave acima do retrovisor interno e à frente da alavanca de câmbio, mas os controles elétricos dos vidros já não vêm ali e sim nas portas. A alavanca de freio de estacionamento lembra os manches de aviões.
O painel com enorme velocímetro, cuja tela interna inclui navegador, e o conta-giros
sobre a coluna são habituais na marca; o porta-malas comporta 330 litros
Mais pressão por seis segundos
O Paceman é oferecido na Europa em cinco versões: Cooper (com motor 1,6 a gasolina de 122 cv), Cooper S, Cooper D (com um turbodiesel de 1,6 litro e 122 cv), Cooper SD (também turbodiesel, mas de 2,0 litros e 143 cv) e John Cooper Works. A unidade escolhida para o Brasil tem o recurso de sobrepressão temporária do turbo (overboost), acionado assim que se pisa até o fim de curso do acelerador, o que aumenta por seis segundos a pressão de 1,2 para 1,4 bar. Com isso, o torque máximo de 24,5 m.kgf entre 1.600 a 5.000 rpm cresce para 26,5 m.kgf.
O câmbio admite trocas manuais sequenciais pela alavanca seletora, no padrão BMW (subindo marchas para trás), ou pelos comandos do volante, também por um modo não usual (puxa-se para subir marchas, empurra-se para reduzir, tanto na esquerda quanto na direita). No console, o botão Sport aciona o programa esportivo que faz o câmbio operar em marchas mais baixas em modo automático, torna mais rápida a curva de atuação do acelerador e deixa a direção menos assistida, portanto mais pesada. As suspensões mantêm os conceitos habituais nos Minis — McPherson à frente e independente multibraço na traseira — e os pneus são do tipo roda-vazio, o que dispensou o estepe.
Os ingredientes pareciam apetitosos, mas a avaliação da imprensa foi limitada demais para experimentá-los: 30 quilômetros em São Paulo e em um trecho da Rodovia Raposo Tavares, com muito trânsito e nenhuma condição de explorar o desempenho ou a atitude em curvas do Paceman.
Os 184 cv não decepcionam com o maior peso do Paceman, ajudados pelo câmbio;
apesar da suspensão bem calibrada, os pneus transmitem demais os impactos
O que se pôde perceber foi que o novo Mini anda muito bem, salvo nos primeiros instantes quando se sai da imobilidade seguindo o tráfego — o motor turbo mostra ligeira hesitação antes de empurrar o elevado peso do Paceman adiante. Dali em diante, o 1,6-litro fornece potência de sobra e gira macio em qualquer rotação, como se espera de um motor no qual a BMW tenha colocado suas hábeis mãos. A caixa automática opera tão bem, respondendo ao que se pretende fazer com o carro, que efetuar mudanças manuais se torna mero capricho.
Embora um tanto alto para um Mini, o Paceman fica bem “à mão”, com uma direção precisa e rápida que parece apta a divertir em percursos sinuosos. A suspensão tem calibração firme, mas com a flexibilidade necessária para dar conforto adequado em pisos ondulados e lombadas. O que realmente incomoda são os pneus: com perfil baixo (medida 225/45 R 18) e a construção rígida das laterais para poderem rodar sem ar, transmitem os impactos em dose muito maior que a aceitável.
Pneus à parte, o mais novo membro da família Mini parece tão divertido de dirigir quanto seus irmãos (algo a confirmar em melhor oportunidade) e mais prático de usar no dia a dia que o hatch original, sem ter o jeito familiar da Countryman. O preço é que ficou difícil de convencer: com opções como Audi A3 Sport e Volvo V40 — ambos de 180 cv — na faixa de R$ 115 mil, para pagar R$ 140 mil no Paceman é preciso gostar demais de Mini.
Ficha técnica
Motor | |
Posição | transversal |
Cilindros | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 77 x 85,8 mm |
Cilindrada | 1.598 cm³ |
Taxa de compressão | 10,5:1 |
Alimentação | injeção direta, turbocompressor, resfriador de ar |
Potência máxima | 184 cv a 5.500 rpm |
Torque máximo | 24,5 m.kgf de 1.600 a 5.000 rpm (26,5 m.kgf de 1.700 a 4.500 rpm durante sobrepressão temporária) |
Transmissão | |
Tipo de câmbio e marchas | automático, 6 |
Tração | dianteira |
Freios | |
Dianteiros | a disco ventilado |
Traseiros | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim |
Direção | |
Sistema | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica |
Suspensão | |
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | independente, multibraço, mola helicoidal |
Rodas | |
Dimensões | 7,5 x 18 pol |
Pneus | 225/45 R 18 |
Dimensões | |
Comprimento | 4,115 m |
Largura | 1,786 m |
Altura | 1,522 m |
Entre-eixos | 2,595 m |
Capacidades e peso | |
Tanque de combustível | 47 l |
Compartimento de bagagem | 330 l |
Peso em ordem de marcha | 1.330 kg |
Desempenho e consumo | |
Velocidade máxima | 212 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 7,8 s |
Dados do fabricante; consumo não disponível |