Por preços similares, o novo Renault Sport oferece mais em desempenho, mas o Fiat tem suas compensações
Texto e fotos: Fabrício Samahá
Muitos ainda lembram as décadas de 1980 e 1990 como bons tempos dos hatches esportivos nacionais. Versões como Chevrolet Kadett GS e GSi e mais tarde Corsa GSi, Fiat Uno 1.5R, 1.6R e Turbo i.e., Ford Escort XR3 e Volkswagen Gol GT, GTS e GTI faziam sonhar os aficionados com sua aparência externa e interna diferenciada e elementos mecânicos próprios, mesmo que algumas delas tivessem desempenho incoerente com tal proposta.
Com o acentuado declínio nos anos 90, os esportivos chegaram perto da extinção: a Fiat tem o mérito de preservar a espécie com os Palios 1.8R (da geração anterior) e Sporting (atual) e as versões Sporting e TJet do Punto. Agora chega uma alternativa — o Sandero R.S. 2.0 — por meio da Renault Sport, divisão da marca já bastante reconhecida na Europa pelos Clios e Méganes de alto desempenho e que até então, no Brasil, havia oferecido apenas o Fluence GT de curta duração.
Fiat Punto Sporting |
Renault Sport Sandero R.S. 2,0 |
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4,07 m | 4,07 m | ||||||||
130/132 cv | 145/150 cv | ||||||||
R$ 63.159 | R$ 59.880 | ||||||||
Preços públicos sugeridos, em reais, para os carros avaliados, com possíveis opcionais |
Temos visto o R.S. ser confrontado ao Punto TJet, que de fato é seu concorrente mais direto em termos de potência e torque, apesar das fórmulas mecânicas diferentes — motor de 2,0 litros e aspiração natural no Renault e de 1,4 litro com turbocompressor no Fiat. Entretanto, essa comparação esbarra em uma diferença de preço consistente: enquanto o Sandero custa R$ 59.880 com as rodas opcionais de 17 polegadas, o TJet parte de R$ 69.310 e pode chegar a R$ 84.200 com itens cobrados à parte. Por isso, quando recebemos a novidade da Renault Sport para avaliação, fomos buscar na linha Punto a versão que mais se aproxima dele em preço: a Sporting, com motor aspirado e flexível de 1,75 litro.
Embora não tão próximo quanto o TJet (que tem 152 cv), esse Punto representa alternativa ao Sandero em potência: 130 cv com gasolina e 132 com álcool ante 145 e 150 cv, na ordem. A proposta de uso é a mesma: hatches compactos de cinco portas com temperamento esportivo, aptos a emocionar ao motorista-piloto sem inviabilizar o uso no dia a dia de uma pequena família. Em porte, o comprimento varia apenas 3 milímetros e o Renault mede 8 centímetros a mais em distância entre eixos. Portanto, estão atendidos três dos quatro “Ps” de nossos confrontos.
Como antecipamos, em preço as coisas se equilibram ainda mais, ao contrário do que aconteceria com o TJet. O R.S. 2.0 começa em R$ 58.880 e sobe R$ 1.000 com as rodas; o Sporting parte de R$ 56.580 e vai a R$ 63.159 na configuração avaliada — não consideramos o teto solar que você vê nas fotos, pois o concorrente não o oferece. Se não é pelo bolso que se vai escolher, é bom que seja pelo que cada um oferece em desempenho, comportamento, conforto e outros atributos que compararemos em detalhes.
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O Sandero (direita) ganhou mais em estilo na recente reforma e ficou bem esportivo na versão
Concepção e estilo
As origens desses hatches são bem diferentes. O Punto nasceu na Itália em 2005 como Grande Punto, evoluindo a linhagem iniciada em 1993, e ganhou produção nacional dois anos mais tarde. Sem sucessor na linha europeia, passou no Brasil por apenas uma reestilização para 2013. Por sua vez, o Sandero de primeira geração foi um derivado brasileiro do Logan e chegou ao mercado em 2008 — aqui antes da Europa, onde leva a marca romena Dacia. O segundo modelo fez o caminho inverso, saindo lá em 2013 e em terras nacionais no ano seguinte.
O desenho do Fiat, de autoria da Italdesign de Giugiaro, foi feliz o bastante para não parecer ter 10 anos de lançamento, mas a nosso ver as mudanças não o deixaram mais bonito e o Sporting ganhou uma aparência que nada tem de esportiva — ao contrário do TJet, que chega a ser exagerado nessa intenção. Com o Renault é diferente: embora permaneça com um estilo simples, ficou bem melhor nesta geração e bastante atraente com o pacote visual do R.S. 2.0, que revela bom gosto nos defletores e saias e nos detalhes em preto brilhante e cinza. Curiosamente, o nome Sandero não aparece em lugar nenhum — já R.S. está na frente, na traseira e nas rodas. O coeficiente aerodinâmico (Cx) do Fiat, 0,34, supera por pequena margem o do Renault (0,35).
Saias, defletores e dupla saída de escapamento vêm nos dois; faixas laterais, só no R.S. 2.0
Conforto e conveniência
São dois carros de desenho interno simples, com materiais plásticos rígidos, embora o aspecto geral seja melhor no Punto. Os revestimentos de bancos usam tecidos sem maior requinte — couro é opcional no Sporting, mas não equipava o avaliado. Entre as decorações das versões estão simulações de fibra de carbono (painel do Fiat) e detalhes e costuras em vermelho (Renault). Vale mencionar as sensações bem diferentes para quem viaja à frente em cada um: painel e para-brisa mais baixos fazem o Punto parecer claramente mais esportivo.
Embora permaneça com um estilo simples, o Sandero ficou bem melhor nesta geração e bastante atraente com o pacote visual do R.S. 2.0
O R.S. 2.0 recebeu bancos dianteiros com os apoios laterais mais envolventes que já vimos em (e, provavelmente, que já foram aplicados a) um carro nacional, mas conformados de modo a não incomodar, ao menos para ocupantes não tão corpulentos. Os do Sporting, moderados nesse aspecto, não satisfazem quanto à largura do assento. Os dois carros usam volantes perfeitos em desenho, o do Renault digno de um carro do dobro do preço com seu couro de toque macio, e permitem obter boa posição de dirigir. A favor do Punto estão o ajuste do volante também em distância (no Sandero, só altura) e apoio para o pé esquerdo em melhor formato.
Bom aspecto interno no Sporting, mas revestimento simples aplicado a bancos algo estreitos
Os quadros de instrumentos trazem computador de bordo, que no Punto oferece duas medições de consumo e velocidade; ele é também o único a ter termômetro do motor. O Sandero traz luz de sugestão de troca de marcha, tanto para subir quanto para redução, e uma sineta que soa por volta de 6.000 rpm para indicar que o limite de rotação está próximo, de grande valia quando se usa o motor a pleno. Mas a iluminação de seus mostradores, em branco a exemplo do rival, deveria ser permanente: é difícil lê-los durante o dia.
Os sistemas de áudio são bons em qualidade sonora e têm conexões USB e auxiliar e interface Bluetooth para telefone celular, mas não toca-CDs — sinal dos tempos. Ambos adotam telas sensíveis ao toque com navegador, sendo a do sistema Media Nav Evolution do Sandero bem maior (sete polegadas ante cinco), mas apenas o Punto oferece comandos por voz para áudio e telefone, opção de câmera traseira de manobras e comandos giratórios que facilitam certas tarefas, como a navegação entre pastas de arquivos MP3.
Vários detalhes favorecem o Fiat: função um-toque para todos os controles elétricos de vidros (nenhum no concorrente, o que é lamentável), temporizador e comando a distância para abri-los e fechá-los; alarme volumétrico que protege o interior por ultrassom, faixa degradê no para-brisa, acionamento automático de faróis e limpador de para-brisa, aviso programável para excesso de velocidade, para-sóis com iluminação, alerta para uso do cinto, retrovisor interno fotocrômico, aviso específico para porta mal fechada (no Renault é geral), tampa traseira aberta por pressão no logotipo da marca (mais prático que acionar uma alavanca no assoalho, como no rival) e um ótimo comutador de farol (basta puxar a alavanca para trocar entre alto e baixo, em vez do puxa-empurra do adversário).
Decoração do R.S. 2.0 é mais chamativa, com faixas, detalhes e costuras em vermelho
Além disso, embora não considerado no carro avaliado, ele oferece teto solar de grandes dimensões com parte dianteira móvel e traseira fixa, além de forros separados. O Sandero dá sua resposta apenas no limitador de velocidade e na mola a gás para manter aberto o capô. Ambos os modelos traziam ainda ar-condicionado com controle automático de temperatura, controlador de velocidade, mostrador de temperatura externa, comandos de áudio e telefone no volante (junto dele, no caso do R.S.) e sensores de estacionamento na traseira.
Alguns itens podem melhorar. No Fiat o teto solar permanece aberto quando se comanda o fechamento de vidros, seu forro deixa passar muitos raios solares e calor e o porta-luvas é mínimo. No Sandero a tela do painel está sujeita a reflexos pela luz que vem dos vidros do lado direito, os sensores de estacionamento com tampas pretas parecem aplicação pós-venda e o controlador de velocidade, em declives, produz “soquinhos” ao acelerar e desacelerar ao motor. Em ambos falta luz de cortesia na parte traseira da cabine e os espaços abertos para objetos são escassos.
O motorista do Punto sente-se em um carro bem mais baixo; o volante regulável também em distância favorece sua posição
Apoios laterais dos bancos dianteiros do Sandero são dos mais intensos; seu espaço no banco traseiro é bastante superior
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Punto: computador de bordo com duas medições, tela de 5 pol com câmera de manobras, comandos por voz, opção de teto solar e retrovisor fotocrômico
Mesmo que espaço não deva ser prioridade do comprador de um esportivo, vale saber que o Renault é claramente superior nesse quesito: é maior em largura e altura, tanto na frente quanto atrás, e oferece bem melhor acomodação para as pernas no banco traseiro. Levar ali três adultos chega a ser viável nele, enquanto no Fiat beira o impossível, embora ambos prevejam adequado conforto para o passageiro central.
O compartimento de bagagem também é maior no Sandero, 320 ante 280 litros. Ambos deixam a desejar pelo banco traseiro inteiriço: o bipartido (opcional no Punto) faz falta em hatches, cuja facilidade de colocação de grandes objetos leva à combinação de carga e passageiros mais frequente que em sedãs. O estepe do Sporting segue a medida dos outros pneus, apenas com roda de aço, o que habilita ao uso normal em viagens ou mesmo a colocá-lo como reposição a um dos outros pneus; o R.S. faz indevida economia (pneu de 15 pol ante 17 dos demais), tornando-o temporário e restringindo o comportamento do carro durante o uso.
No Sandero os instrumentos ficam escuros, mas a tela de 7 pol é superior e inclui navegador de série; ele tem programa esportivo, limitador de velocidade e mola a gás no capô; o logotipo R.S. está por todo lugar; ar-condicionado automático é padrão
São dois práticos cinco-portas, mas o porta-malas do Sandero leva 40 litros a mais
Equipamentos de série e opcionais
Punto | Sandero | |
Ajuste de altura dos bancos mot./pas. | S/ND | S/ND |
Ajuste de apoio lombar mot./pas. | ND | ND |
Ajuste do volante em altura/distância | S/S | S/ND |
Ajuste elétrico dos bancos mot./pas. | ND | ND |
Ajuste elétrico dos retrovisores | S | S |
Alarme antifurto/controle a distância | S/S | S/S |
Aquecimento | S | S |
Ar-condicionado/controle automático/zonas | S/O/1 | S/S/1 |
Bancos/volante revestidos em couro | O/S | ND/S |
Bolsas infláveis frontais/laterais/cortinas | S/O/O | S/ND/ND |
Câmbio automático/automatizado | ND/O | ND |
Câmera traseira para manobras | O | ND |
Cintos de três pontos, todos os ocupantes | ND | ND |
Computador de bordo | S | S |
Conta-giros | S | S |
Controlador/limitador de velocidade | S/ND | S/S |
Controle de tração/estabilidade | ND | S/S |
Controle elétrico dos vidros diant./tras. | S/O | S/S |
Controles de áudio no volante | S | S |
Direção assistida | S | S |
Encosto de cabeça, todos os ocupantes | S | ND |
Faróis com lâmpadas de xenônio | ND | ND |
Faróis de neblina | S | ND |
Faróis/limpador de para-brisa automático | O/O | ND |
Freios antitravamento (ABS) | S | S |
Interface Bluetooth para telefone celular | S | S |
Limpador/lavador do vidro traseiro | S | S |
Luz traseira de neblina | ND | ND |
Navegador por GPS | O | S |
Rádio com toca-CDs/MP3 | S/S* | ND/S |
Repetidores laterais das luzes de direção | ND | S |
Retrovisor interno fotocrômico | O | ND |
Rodas de alumínio | S | S |
Sensores de estacionamento diant./tras. | ND/O | ND/S |
Teto solar/comando elétrico | O/O | ND |
Travamento central das portas | S | S |
Convenções: S = de série; O = opcional; ND = não disponível; *a opção pelo sistema UConnect retira o toca-CDs |
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Com mais 18 cv (com álcool) e torque superior, o Sandero (direita) é claramente mais rápido
Mecânica, comportamento e segurança
As duas marcas seguiram a mesma escola nessas versões, com motores de aspiração natural, quatro válvulas por cilindro e cilindrada acima da média da categoria. É natural que o da Renault, com 2,0 litros, supere em potência e torque o de 1,75 litro da Fiat: 145/150 cv e 20,2/20,9 m.kgf ante 130/132 cv e 18,4/18,9 m.kgf, sempre na ordem gasolina/álcool. Além disso, o Sandero gira 500 rpm a mais no pico de potência e 500 a menos no de torque, o que indica maior elasticidade. Com peso inferior em 60 kg, o R.S. 2.0 acaba em evidente vantagem em relação peso-potência, com 7,7 ante 9,3 kg/cv (com álcool).
A diferença transparece com clareza ao dirigi-los, com bem mais vigor à disposição do motorista no Sandero. Seu motor é também mais linear no fornecimento de potência, enquanto o do Punto parece fraco em baixas rotações e só ganha ímpeto a partir da faixa média, como 3.000 rpm. Em altos regimes ambos são relativamente suaves, mas o R.S. produz um ronco esportivo de escapamento mais presente que o sutil do Sporting. Nenhum pode ser chamado de silencioso em velocidades de viagem, sobretudo o Renault, com excessivos ruídos mecânicos e vibrações transmitidas aos pedais.
O Punto (esquerda) precisa de mais rotações para obter potência; nenhum deles é silencioso
Como esperado, o Renault foi bem mais rápido em todas as medições de desempenho, como ao acelerar de 0 a 100 km/h em 9,7 segundos, ante 12,1 s do Fiat, e ao retomar de 80 a 120 km/h em quarta marcha em 7,5 s contra 13,3 s. O Sporting tem alguma compensação no consumo de combustível mais moderado em todas as condições medidas, sobretudo no trajeto rodoviário, assim como autonomia superior por tanque (veja na próxima página os resultados e a análise detalhada).
Toda a firmeza garante ao R.S. 2.0 uma estabilidade excelente: a carroceria movimenta-se muito pouco e a aderência dos pneus parece não ter limite
É preciso observar que, apesar das seis marchas, a Renault Sport definiu um escalonamento de caixa de câmbio bastante fechado que faz a sexta “encher” à velocidade máxima informada, chegando ao regime de maior potência com gasolina e o superando por pouco ao usar álcool (o Punto faz o mesmo na quinta e última marcha, mas seu pico de potência está 500 rpm abaixo do adversário). Ou seja, o objetivo foi puramente obter agilidade e sensação de potência, sem oferecer uma sobremarcha para aumentar o conforto acústico e reduzir o consumo em rodovia. O resultado agrada quando se busca explorar o máximo do carro, como em uma aceleração a pleno de 0 a 100 km/h ou um trajeto sinuoso feito rápido, mas incomoda o restante do tempo.
O R.S. 2.0 redefine a expressão “pedir marcha”. Na cidade, seguindo o tráfego, usa-se uma marcha acima da que seria aplicada em qualquer carro: transpor lombadas suaves pede quarta; avenidas pouco mais rápidas, sexta. Nesse tipo de uso, trocas sucessivas pouco baixam a rotação: parece mais efetivo “pular” de segunda para quarta e desta para a sexta. A 80 km/h o motorista é levado a procurar a sexta para perceber que já estava nela… a 120, nem se fale. De fato, a essa velocidade a última marcha produz 3.450 rpm, 100 acima da quinta do Sporting. Para nós, com a boa distribuição de torque desse motor, faria bem mais sentido um escalonamento aberto com sexta sobremarcha — como no antigo Honda Civic Si nacional, cuja esportividade nunca foi colocada em dúvida.
O comando de câmbio do Renault (direita) deveria ser mais preciso; a marcha à ré sincronizada e à esquerda requer anel-trava, que o Punto poderia dispensar
Relações à parte, ainda assim o câmbio do Sandero esportivo merece ser revisto: os engates são menos precisos e suaves do que se espera, não raro levando a dificuldade de engrenar — ou mesmo a erro, como colocar quarta em vez de sexta — quando se dirige rápido sem estar familiarizado ao carro. À mudança de terceira para quarta, por exemplo, falta a fluidez da maioria das caixas. Não que o do Punto seja como um Honda ou Volkswagen, mas nos pareceu melhor, talvez por ter uma perna a menos no “H” de marchas. Os dois carros usam anel-trava para liberar o engate da marcha a ré, medida necessária no Renault (ela fica junto à primeira) e prescindível no Fiat (ao lado da quarta). A daquele modelo é sincronizada, o que facilita manobras com trocas frequentes, pois não é preciso esperar a parada total para o engate.
O Sandero traz no painel a tecla R.S., que aciona o modo Sport de condução: a curva de atuação do acelerador fica mais rápida ao acelerar e mais lenta ao desacelerar e a marcha-lenta sobe um pouco para 950 rpm, o que traz algum som de escapamento, só notado de fora do carro — uma “versão dos pobres” para as borboletas que se abrem em carros esportivos bem mais caros… Se pressionada por alguns segundos, a mesma tecla desativa o controle eletrônico de estabilidade e tração. Seria interessante que alterasse também a assistência de direção, como em outros carros com sistema eletro-hidráulico (o Ford Focus de geração anterior é exemplo).
As suspensões de ambos seguem os mesmos conceitos (dianteira McPherson e traseira com eixo de torção), mas com um acerto muito mais firme no Sandero, em especial na traseira, o que penaliza o conforto em pisos irregulares, lombadas e maiores impactos. Em emendas imperfeitas de entradas de ponte o R.S. 2.0 dá um salto bem transmitido aos ocupantes, chegando a lembrar uma picape pequena sem carga. Nos trajetos de todos os dias percebem-se defeitos do piso que pareciam nunca estar lá.
Não só os pneus do R.S. 2.0 (direita) são mais largos e baixos: a suspensão é muito mais firme
Toda essa firmeza, associada aos pneus largos e de perfil baixo (205/45 R 17), garante ao R.S. 2.0 uma estabilidade excelente. A carroceria movimenta-se muito pouco, mesmo nas curvas mais intensas, e a aderência das “patas” Continental Conti Sport Contact 3 parece não ter limite: o carro faz curvas tão colado ao asfalto que só mesmo em condições extremas — ou simulando um teste de “desvio do alce” — consegue-se fazer intervir o controle de estabilidade, calibrado de forma a não atrapalhar a diversão. Acreditamos que desativar o controle, por meio de toque mais longo na tecla R.S., faria diferença em asfalto seco apenas em circuito.
O ajuste do Sporting, bem diferente, a nosso ver atingiu um ponto de equilíbrio muito bom para uma versão esportiva no Brasil. Apesar dos amortecedores firmes que controlam bem os movimentos, seu rodar é confortável com um acerto típico de bons carros europeus e melhor absorção de impactos. A frente e a traseira “conversam” melhor que no R.S., no qual a parte posterior é mais dura que a anterior. Os pneus 195/55 R 16 mostram boa aderência e o carro comporta-se bem em curvas rápidas. Contudo, a falta de controle de estabilidade merece ser revista pela fábrica, sobretudo na versão TJet.
No R.S. 2.0 a assistência de direção passou a eletro-hidráulica, ante a hidráulica dos demais Sanderos (e do Punto), o que o favorece tanto em eficiência energética quanto no peso de volante em manobras: ficou adequado, mesmo com pneus bem mais largos que os das versões comuns. Tanto nele quanto no Sporting, esse atributo equilibra-se à firmeza correta em média e alta velocidades, mas a maior transmissão de impactos do piso ao volante no Renault chega a incomodar em curvas em pisos menos regulares. Seus freios, com discos também na traseira, são superiores; ambos vêm com distribuição eletrônica entre os eixos (EBD).
O Sandero ganhou leds diurnos, mas perdeu os faróis de neblina; os faróis do Punto decepcionam
Na atual geração o Sandero usa bons faróis de duplo refletor, melhor solução que os simples do Punto, inaceitáveis em um carro de sua categoria. O R.S. 2.0 ganhou leds para sinalização diurna, que permanecem acesos ao ligar faróis, mas tomam o lugar dos faróis de neblina presentes no Sporting (nenhum deles tem luz traseira de nevoeiro). Ao menos o Renault vem com repetidores laterais das luzes de direção, outra ausência imperdoável do rival. As colunas dianteiras prejudicam a visibilidade em ambos, efeito mais grave no Punto, e as traseiras são um tanto largas nos dois; os retrovisores convexos cumprem bem seu papel.
Ambos trazem apenas o básico em segurança passiva, com as bolsas infláveis frontais exigidas por lei e cintos de três pontos só para quatro ocupantes. Ao menos como opcionais o Punto oferece bolsas laterais dianteiras e de cortina, além de ter encosto de cabeça para o passageiro central do banco traseiro. Não há em qualquer deles a fixação Isofix para cadeira infantil. Nos testes de impacto do Latin NCap, a única informação disponível perdeu sua validade: a do Sandero de geração anterior e sem bolsas infláveis.
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Ao acelerar e retomar velocidade bem mais rápido, o R.S. é a opção certa para quem prioriza desempenho
Desempenho e consumo
Se para você acelerar na frente é prioridade, a escolha é clara: Sandero. A comparação dos tempos deixa patente sua superioridade em desempenho, como ao cumprir de 0 a 100 km/h em 9,7 segundos, 2,4 s menos que o Punto. A atitude dos dois em arrancadas enérgicas é similar, com forte destracionamento até que os pneus encontrem a aderência necessária. No R.S. usamos o controle de tração desligado, pois sua atuação “mata” o motor de imediato e piora os tempos. A sineta que ele soa por volta de 6.000 rpm ajuda bastante a encontrar o ponto ideal para trocar de marcha.
A vantagem do Renault é ainda maior nas retomadas. Mesmo sem poder fazer as de 60-120 e 80-120 km/h em terceira marcha, pois ela é curta demais para tal velocidade final, deixou o Fiat comendo poeira: basta notar que seu 80-120 em quinta ainda é feito em menor tempo que com o concorrente em terceira! Embora a caixa de câmbio curta do Sandero seja decisiva para sua agilidade nessas medições, ele vence o oponente mesmo quando trabalha em rotação bem inferior.
O Sporting fica como consolo com um menor consumo de combustível nos três trajetos de medição, tendo a maior vantagem no rodoviário: 9,6 ante 8,6 km/l, ambos com álcool. A rotação exagerada do R.S. 2.0 nessas condições cobra seu preço ao abastecer, embora não seja o único fator (maior cilindrada, carroceria mais larga e pneus maiores também concorrem). Com 10 litros a mais de capacidade do tanque, o Fiat pode rodar um tanto a mais sem parar no posto.
Medições Best Cars
Punto | Sandero | |
Aceleração | ||
0 a 100 km/h | 12,1 s | 9,7 s |
0 a 120 km/h | 16,3 s | 13,9 s |
0 a 400 m | 18,2 s | 17,2 s |
Retomada | ||
60 a 100 km/h (3ª.) | 9,5 s | 6,8 s |
60 a 100 km/h (4ª.) | 12,9 s | 8,3 s |
60 a 120 km/h (3ª.) | 13,0 s | NA |
60 a 120 km/h (4ª.) | 17,6 s | 10,6 s |
60 a 120 km/h (5ª.) | – | 13,9 s |
80 a 120 km/h (3ª.) | 9,8 s | NA |
80 a 120 km/h (4ª.) | 13,3 s | 7,5 s |
80 a 120 km/h (5ª.) | – | 9,4 s |
Consumo | ||
Trajeto leve em cidade | 9,4 km/l | 8,8 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 4,9 km/l | 4,6 km/l |
Trajeto em rodovia | 9,6 km/l | 8,6 km/l |
Autonomia | ||
Trajeto leve em cidade | 508 km | 396 km |
Trajeto exigente em cidade | 265 km | 207 km |
Trajeto em rodovia | 518 km | 387 km |
Testes efetuados com álcool; NA = não aplicável; melhores resultados em negrito; conheça nossos métodos de medição |
Dados dos fabricantes
Punto | Sandero | |
Velocidade máxima | 190/193 km/h | 200/202 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 9,9/9,6 s | 8,4/8,0 s |
Consumo em cidade | ND | |
Consumo em rodovia | ND | |
Dados do fabricante para gasolina/álcool; ND = não disponível |
Ambos usam motores comuns a outros modelos, mas essas versões trazem ajuste específico na suspensão
Comentário técnico
• Nenhum dos motores pode ser considerado moderno. O E-Torq da Fiat, usado em grande parte de sua linha nacional, é uma variação do Tritec que equipou o Mini inglês de duas gerações atrás, enquanto o F4R da Renault está em uso por aqui desde a Scénic 2001, passando por Mégane e Duster até chegar ao R.S. 2.0. Ambos usam bloco de ferro fundido — embora a francesa disponha no Fluence de uma unidade mais atual, de origem Nissan, com bloco de alumínio.
• No Punto, duas peculiaridades: uma só árvore de comando para as válvulas de admissão e de escapamento (o usual é uma árvore para cada grupo de válvulas, como no Sandero) e acionamento do comando por corrente, uma mudança de hábito para Betim, MG, que sempre usou correia dentada para esse fim (como no Renault). Nenhum deles está dentro do limite convencionado para a relação r/l: a do Sporting é 0,316 (melhor), e a do R.S., 0,323 (seria ideal não passarem de 0,3).
• A comparação das velocidades em cada marcha a 1.000 rpm, pelas fichas técnicas abaixo, demonstra como foi escalonada a caixa de câmbio do Sandero: equivalente à do Punto em primeira, ela se mostra bem mais curta em terceira e tem uma quarta próxima da terceira do concorrente. E segue assim: sua quinta se parece com a quarta do Fiat, e sua sexta, com a quinta do adversário, a ponto de o regime do Renault a 120 km/h ser 100 rpm mais alto que o do rival, ambos na última marcha.
• As versões esportivas usam suspensões recalibradas, mais firmes. No R.S. 2.0 foram aplicadas molas com carga 92% maior na frente e 10% na atrás, amortecedores mais firmes e aumentos de rigidez em 17% no estabilizador dianteiro e 65% no eixo traseiro, além de altura de rodagem 26 mm menor (sempre em relação à versão Dynamique). A assistência hidráulica de direção deu lugar à eletro-hidráulica, sem alterar a relação da caixa, e os pneus são 195/55 com rodas de 16 pol e 205/45 com as opcionais de 17 pol.
Ficha técnica
Punto | Sandero | |
Motor | ||
Posição | transversal | |
Cilindros | 4 em linha | |
Material do bloco/cabeçote | ferro fundido/alumínio | |
Comando de válvulas | no cabeçote | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4 | |
Diâmetro e curso | 80,5 x 85,8 mm | 82,7 x 93 mm |
Cilindrada | 1.747 cm³ | 1.998 cm³ |
Taxa de compressão | 11,2:1 | |
Alimentação | injeção multiponto sequencial | |
Potência máxima (gas./álc.) | 130/132 cv a 5.250 rpm | 145/150 cv a 5.750 rpm |
Torque máximo (gas./álc.) | 18,4/18,9 m.kgf a 4.500 rpm | 20,2/20,9 m.kgf a 4.000 rpm |
Potência específica (gas./álc.) | 74,4/75,6 cv/l | 72,6/75,0 cv/l |
Transmissão | ||
Tipo de caixa e marchas | manual, 5 | manual, 6 |
Relação e velocidade por 1.000 rpm | ||
1ª. | 3,91 / 8 km/h | 3,73 / 8 km/h |
2ª. | 2,24 / 14 km/h | 2,10 / 13 km/h |
3ª. | 1,52 / 21 km/h | 1,63 / 17 km/h |
4ª. | 1,16 / 27 km/h | 1,29 / 22 km/h |
5ª. | 0,87 / 36 km/h | 1,02 / 28 km/h |
6ª. | NA | 0,81 / 35 km/h |
Relação de diferencial | 3,73 | 4,12 |
Regime a 120 km/h | 3.350 rpm (5ª.) | 3.450 rpm (6ª.) |
Regime à vel. máx. informada | 5.250/5.350 rpm (5ª.) | 5.750/5.800 rpm (6ª.) |
Tração | dianteira | |
Freios | ||
Dianteiros | a disco ventilado (257 mm ø) | a disco ventilado (280 mm ø) |
Traseiros | a tambor (228 mm ø) | a disco (240 mm ø) |
Antitravamento (ABS) | sim | |
Direção | ||
Sistema | pinhão e cremalheira | |
Assistência | hidráulica | eletro-hidráulica |
Diâmetro de giro | 10,9 m | 10,6 m |
Suspensão | ||
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal | |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal | |
Estabilizador | dianteiro | |
Rodas | ||
Dimensões | 6 x 16 pol | 17 pol |
Pneus | 195/55 R 16 | 205/45 R 17 |
Dimensões | ||
Comprimento | 4,065 m | 4,068 m |
Largura | 1,687 m | 1,733 m |
Altura | 1,497 m | 1,499 m |
Entre-eixos | 2,51 m | 2,59 m |
Bitola dianteira | 1,471 m | ND |
Bitola traseira | 1,467 m | ND |
Coeficiente aerodinâmico (Cx) | 0,34 | 0,35 |
Capacidades e peso | ||
Tanque de combustível | 60 l | 50 l |
Compartimento de bagagem | 280 l | 320 l |
Peso em ordem de marcha | 1.222 kg | 1.161 kg |
Relação peso-potência (gas./álc.) | 9,4/9,3 kg/cv | 8,0/7,7 kg/cv |
Garantia | ||
Prazo | 2 anos sem limite de km (3 anos para motor e câmbio) | 3 anos sem limite de km |
Carros avaliados | ||
Ano-modelo | 2016 | |
Pneus | Pirelli Cinturato P7 | Continental Conti Sport Contact 3 |
Quilometragem inicial | 1.000 km | 3.000 km |
Dados do fabricante; ND = não disponível; NA = não aplicável |
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Embora custe menos quando básico, o Punto (esquerda) fica R$ 3,3 mil mais caro como avaliado
Custo-benefício
O preço inicial do Punto é R$ 2.300 mais baixo, mas para se equivaler em conteúdo ao Sandero ele precisa receber ao menos o pacote de opcionais Sporting 2 (sistema UConnect com navegador, sensores de estacionamento e controle elétrico de vidros traseiros, por R$ 3.824). O avaliado acrescentava o grupo Full 1 (faróis, limpador e ar-condicionado automático e retrovisor fotocrômico, R$ 2.209) e câmera de manobras (R$ 546), que o levavam a R$ 63.159. Ainda poderia receber teto solar, bolsas infláveis laterais e de cortina, bancos de couro, banco traseiro bipartido e câmbio automatizado Dualogic, conjunto que com pintura metálica alcançaria R$ 78.668!
No R.S. 2.0 as únicas opções são rodas de 17 polegadas (R$ 1.000) e pintura metálica: com as rodas, ele ainda custa R$ 3.279 menos que o Sporting avaliado (consideramos o custo de pinturas especiais só no preço completo) e apresenta a vantagem do controle de estabilidade. Esse item é o mais relevante a diferenciá-los em conteúdo, embora o Punto tenha mais equipamentos de conveniência.
Mais conforto e economia no Fiat, mais desempenho e estabilidade no Renault: defina suas prioridades
Como as notas abaixo revelam, o Punto mostrou-se superior em posição de dirigir, instrumentos, itens de conveniência, consumo, câmbio e suspensão, perdendo para o Sandero em espaço interno, porta-malas, desempenho, freios e estabilidade. Fica fácil perceber que, com exceção do espaço para passageiros e bagagem, as vantagens do R.S. 2.0 estão concentradas nos atributos mais relevantes em um esportivo, enquanto o Sporting revela-se mais confortável tanto pelo ambiente interno (mais uma vez, com ressalva do espaço) quanto pela suspensão, além de mais econômico.
Com vantagem em preço e um importante conteúdo de série adicional (o citado controle de estabilidade), o Renault recebe um ponto a mais em custo-benefício, o que não lhe garante a vitória na média de notas: o Fiat termina o confronto um ponto à frente, ao oferecer boas contrapartidas ao adversário.
Como sempre destacamos, porém, o melhor carro nem sempre é o que obtém maior média de notas: o importante é definir as prioridades do comprador e observar como eles se saem em cada quesito. Se o que você procura é o máximo de esportividade em desempenho e comportamento dinâmico, mesmo que lhe custe algum desconforto, a escolha só pode ser o Sandero R.S. 2.0. Por outro lado, se o objetivo é um carro mais refinado e agradável para o dia a dia, sem abrir mão de certo tempero, o Punto Sporting — apesar da idade avançada — permanece uma boa alternativa.
Nossas notas
Punto | Sandero | |
Estilo | 4 | 4 |
Acabamento | 3 | 3 |
Posição de dirigir | 4 | 3 |
Instrumentos | 4 | 3 |
Itens de conveniência | 4 | 3 |
Espaço interno | 3 | 4 |
Porta-malas | 3 | 4 |
Motor | 4 | 4 |
Desempenho | 4 | 5 |
Consumo | 4 | 3 |
Câmbio | 4 | 3 |
Freios | 3 | 4 |
Direção | 4 | 4 |
Suspensão | 4 | 2 |
Estabilidade | 4 | 5 |
Visibilidade | 3 | 3 |
Segurança passiva | 3 | 3 |
Custo-benefício | 3 | 4 |
Média | 3,61 | 3,55 |
Posição | 1º. | 2º. |
As notas vão de 1 a 5, sendo 5 a melhor; conheça nossa metodologia |
Teste do Leitor: opinião dos proprietários
Punto | Sandero |
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