
Modelo chinês, melhorado em acabamento e mecânica, enfrenta o nacional da marca francesa com preços próximos
Texto e fotos: Fabrício Samahá
A cada lançamento, os carros chineses vão demonstrando o rápido progresso de uma indústria ainda recente. Percebemos isso com o JAC T40, avaliado inclusive no teste Um Mês ao Volante, e agora submetemos o T50 CVT — evolução do conhecido T5 — a um Desafio contra o Citroën C4 Cactus. O T50 tem preço sugerido de R$ 87 mil e com o chamado Pack 3 passa a R$ 91 mil, sendo comparado aqui à opção Feel Pack do concorrente, que sai por R$ 87.490. Ambos usam motor de 1,6 litro e transmissão automática.
Estilo
O T5 foi reestilizado na frente e (levemente) na traseira para se tornar o T50. O aspecto melhorou, caso da dianteira que disfarça melhor seu grande balanço, mas ainda é daqueles carros com tanto volume lateral que faz as rodas de 16 polegadas parecerem bem pequenas. Esse quesito favorece o C4 Cactus, que merece crítica pela traseira tímida em comparação ao bom impacto da parte dianteira.
Traseira do Citroën não segue a ousadia da frente; JAC melhorou com a reestilização, mas continua com volume lateral que faz as rodas parecerem pequenas
Acabamento e conveniência
O ambiente interno tem impressionado muito bem nos últimos JACs, com ótima escolha de materiais e detalhes de acabamento — destaque ao painel revestido que simula couro, assim como os bancos. Ele vence nesse ponto o Citroën, que é mais simples em geral e tem bancos com tecido algo áspero.
O T50 é superior também em conveniências, como alerta programável para excesso de velocidade, apoio de braço central traseiro, câmeras ao redor (dianteira, duas laterais e traseira) que podem compor uma vista de cima ou mostrar imagens em separado, câmera junto ao retrovisor com gravação do trânsito à frente (útil em caso de acidentes), duas tomadas USB, monitor de pressão e temperatura dos pneus com mostrador individual (no rival, só monitor geral de pressão), para-brisa com faixa degradê, para-sóis com iluminação e rebatimento elétrico dos retrovisores.
Instrumentos digitais diferenciam o C4 Cactus, que tem melhor posição para motorista; a favor do T50, acabamento mais sofisticado e várias conveniências
Vantagens do C4 Cactus são alarme volumétrico (ultrassom), limitador de velocidade e limpador de para-brisa automático. Incomodam nele as faltas de ajuste de altura dos cintos dianteiros, alças de teto e luz na parte traseira da cabine. Confira no quadro de equipamentos (abaixo) outros itens presentes nos dois. Ambos têm boa central de áudio com integração a celular por Android Auto e Apple Car Play, ampla tela (8 pol no JAC e 7 no Citroën) e comandos no volante. A qualidade de som pareceu superior no chinês.
O ambiente interno tem impressionado nos últimos JACs, com ótima escolha de materiais e detalhes de acabamento, mas a posição de dirigir pode melhorar
Posto do motorista
Os dois oferecem bons bancos dianteiros e posição de dirigir bem definida, com ressalvas no T50 ao volante ajustável só em altura (no C4 Cactus, também em distância) e aos largos apoios laterais, feitos para ocupantes magros. O Citroën tem um bom quadro de instrumentos digital, de fácil leitura como o analógico do JAC, e ambos trazem computador de bordo. Melhores no chinês são os faróis de refletor duplo, do tipo elipsoidal no facho baixo, e com ajuste elétrico de altura. Os dois têm faróis e luz traseira de neblina, luzes diurnas por leds e repetidores laterais das luzes de direção. A visibilidade do Cactus é melhor nos ângulos dianteiros, sendo a traseira complicada em ambos.
SUV chinês oferece mais espaço vertical (sendo semelhante nas demais acomodações) e para bagagem, embora com vantagem bem menor que a divulgada
Espaço
Maior em todas as dimensões externas, o T50 é mais espaçoso para cabeça na frente e atrás, sendo os dois parecidos no restante, com bom vão para pernas no banco traseiro, largura insuficiente para dar conforto a três pessoas e acomodação relativa do passageiro central.
Porta-malas
Não considere a capacidade de bagagem de 600 litros informada pela JAC, medida até o teto: sob a cobertura nossa estimativa é de cerca de 400 litros ante 320 litros do Citroën. Os dois têm banco traseiro bipartido em 60:40. A favor do T50 estão o estepe com pneu igual aos outros (o do C4 Cactus é bem menor) e o acesso com base mais baixa.
Equipamentos de série e opcionais
• C4 Cactus Feel Pack – Alarme volumétrico, ar-condicionado automático, assistente de saída em rampa, banco traseiro bipartido 60:40, bolsas infláveis laterais dianteiras, câmera traseira de manobras, central de áudio com tela de 7 pol e integração a celular, chave presencial para acesso e partida, computador de bordo, controlador e limitador de velocidade, controle elétrico de vidros com função um-toque para todos e fechamento a distância, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis e luz traseira de neblina, faróis e limpador de para-brisa automáticos, fixação Isofix para cadeiras infantis, luzes diurnas de leds, monitor de pressão dos pneus, rodas de alumínio de 17 pol, volante de couro com ajuste em altura e distância.
• Opcionais e acessórios – Pacote Plus (frisos de porta, protetor de cárter, tapetes), pacote Tech (sensores de estacionamento traseiros e rebatimento do retrovisor direito em marcha à ré), pacote Voyage (barras transversais de teto, engate removível, porta-bicicleta).
• Garantia – Três anos sem limite de quilometragem.
• T50 CVT – Alarme, ar-condicionado automático, assistente de saída em rampa, banco traseiro bipartido 60:40, central de áudio com tela de 8 pol, chave presencial para acesso e partida, computador de bordo, controle elétrico de vidros com função um-toque para todos e fechamento a distância, controle eletrônico de estabilidade e tração, faróis com ajuste elétrico de altura, faróis e luz traseira de neblina, fixação Isofix para cadeiras infantis, monitor de pressão e temperatura dos pneus, para-sóis com iluminação, rodas de alumínio de 16 pol, sensores de estacionamento à frente e atrás, volante com ajuste em altura.
• Opcionais – Pack 3 (bancos e volante que simulam couro; câmeras dianteira, laterais e traseira de manobras; câmera frontal com gravação do trânsito, cinzeiro, controlador de velocidade, faróis automáticos, integração a celular na central de áudio, luzes diurnas de leds, pinças de freio vermelhas, rebatimento elétrico de retrovisores).
• Garantia – Seis anos sem limite de quilometragem.
C4 Cactus tem tela de 7 pol na central de áudio e limpador de para-brisa automático
No T50 a tela de 8 pol mostra pressão e temperatura dos pneus e câmeras filmam frente, laterais e traseira; outra grava o tráfego adiante, útil em acidentes
Motor e desempenho
Os motores de mesma configuração — 1,6 litro, 16 válvulas — produzem resultados diferentes: potência de 138 cv no T50 e de 115 (com gasolina) ou 118 cv (álcool) no C4 Cactus, torque de 17,1 m.kgf no JAC e de 15,5/16,4 m.kgf no Citroën. Só que o carro da francesa pesa bem menos (1.204 kg ante 1.320 kg) e a potência constatada com um T40 em dinamômetro ficou longe da anunciada, cerca de 120 cv. Assim, mesmo com a teórica vantagem de sua transmissão de variação contínua (CVT) sobre a automática de seis marchas do adversário, o T50 foi só um pouco mais rápido em acelerações, como de 0 a 100 km/h em 12,2 segundos ante 12,5 s do C4 Cactus, e em retomadas.
A favor do Citroën estão o motor mais suave e silencioso — sobretudo em alta rotação, onde o rival se torna ruidoso e áspero — e a maior sensação de desempenho em uso normal, em parte pela melhor distribuição de torque, em parte pelo “pulo” inicial promovido pelo conversor de torque da caixa. A JAC é talvez a única marca hoje a não aplicar conversor à CVT: prefere embreagem, que favorece a economia, mas deixa a saída lenta.
Apesar da CVT dos 23 cv anunciados a mais, o JAC acelera só um pouco mais rápido; o Citroën agrada pela vivacidade no trânsito; ambos são econômicos
Sua caixa simula seis marchas em modo manual, que é operado pela alavanca, como no oponente. Ambas as transmissões estão bem calibradas, embora a do T50 seja lenta para atuar em retomadas, e oferecem três programas (normal e esportivo; o terceiro é de inverno no chinês e econômico no nacional). Estranha-se no JAC a caixa não voltar ao programa normal ao dar nova partida, como em todos os carros.
O C4 Cactus é superior em estilo, posto do motorista, comportamento e segurança passiva, ficando a favor do T50 acabamento/conveniência e porta-malas
Consumo
A CVT com embreagem de fato contribui para a economia do T50, que superou o rival nos dois trajetos urbanos por boa margem. Já em rodovia o C4 Cactus é que brilhou — foi o SUV mais econômico que já testamos —, com o chinês um pouco atrás. De qualquer modo, os dois estão muito bem nesse quesito. Vale lembrar que só o carro nacional é flexível em combustível.
Comportamento dinâmico
Não são carros prazerosos para fazer curvas rápidas, mas mostram estabilidade segura e contam com controle eletrônico de série. No T50 chama atenção a grande aderência dos pneus. Em conforto, os dois obtêm rodar macio pelos amortecedores, mas passam mais os impactos aos ocupantes do que se deseja, sobretudo o JAC. Nele, outros pontos precisam melhorar: o ruído na distensão ao passar por lombadas, o peso exagerado do volante em curvas em alta rotação e a facilidade com que o carro muda de direção em velocidades urbanas, passando a impressão de volante leve demais — chega a andar em ziguezague em piso ondulado. A direção do Citroën é mais acertada. Os dois carros freiam bem, com vantagem ao chinês pelos discos também na traseira.
Transmissão bem calibrada, estabilidade segura, faróis de neblina e luzes diurnas nos dois; faróis melhores no T50; acerto superior de direção no C4 Cactus
Segurança passiva
O C4 Cactus leva vantagem em proteção dos ocupantes pelas bolsas infláveis laterais dianteiras. Os dois carros têm fixação Isofix para cadeira infantil, encostos de cabeça e cintos de três pontos para cinco pessoas.
Custo-benefício
Eles partem de preços quase iguais, mas nosso T50 era a versão superior Pack 3, que superava o C4 Cactus em R$ 3.500. A diferença não se justifica pelos equipamentos adicionais, que em geral são úteis em raras condições, o que deixa o Citroën mais interessante. Quem optar pelo franco-brasileiro terá um carro superior em estilo, posto do motorista, comportamento dinâmico e segurança passiva, ficando a favor do chinês os itens acabamento/conveniência e porta-malas. Assim, o C4 Cactus sai vantajoso da comparação, mas o T50 revela bom processo evolutivo e deixa claro que, em poucos anos, os chineses estarão incomodando de verdade.
Nossas notas
C4 Cactus | T50 | |
Estilo | 4 | 3 |
Acabamento e conveniência | 3 | 4 |
Posto do motorista | 4 | 3 |
Espaço interno | 3 | 3 |
Porta-malas | 3 | 4 |
Motor e desempenho | 3 | 3 |
Consumo | 4 | 4 |
Comportamento dinâmico | 4 | 3 |
Segurança passiva | 4 | 3 |
Custo-benefício | 4 | 3 |
Média | 3,6 | 3,3 |
Posição | 1°. | 2º. |
As notas vão de 1 a 5, sendo 5 a melhor; conheça nossa metodologia |
Desempenho e consumo
C4 Cactus | T50 | |
Aceleração | ||
0 a 100 km/h | 12,5 s | 12,2 s |
0 a 120 km/h | 18,0 s | 17,7 s |
0 a 400 m | 18,6 s | 18,7 s |
Retomada* | ||
60 a 100 km/h | 8,1 s | 7,7 s |
60 a 120 km/h | 13,8 s | 13,2 s |
80 a 120 km/h | 9,7 s | 9,6 s |
Consumo | ||
Trajeto leve em cidade | 13,3 km/l | 14,7 km/l |
Trajeto exigente em cidade | 7,0 km/l | 7,9 km/l |
Trajeto em rodovia | 13,8 km/l | 13,1 km/l |
Testes com gasolina; *reduções automáticas; conheça nossos métodos de medição |
Ficha técnica
C4 Cactus | T50 | |
Motor | ||
Posição | transversal | transversal |
Cilindros | 4 em linha | 4 em linha |
Comando de válvulas | duplo no cabeçote | duplo no cabeçote |
Válvulas por cilindro | 4, variação de tempo | 4, variação de tempo |
Diâmetro e curso | 78,5 x 82 mm | 75 x 90 mm |
Cilindrada | 1.587 cm³ | 1.590 cm³ |
Taxa de compressão | 12,5:1 | 10,5:1 |
Alimentação | injeção multiponto sequencial | injeção multiponto sequencial |
Potência máxima* | 115/118 cv a 5.750 rpm | 138 cv a 6.000 rpm |
Torque máximo* | 15,5/16,4 m.kgf a 4.000 rpm | 17,1 m.kgf a 4.000 rpm |
Transmissão | ||
Tipo de caixa e marchas | automática, 6 | automática de variação contínua, simulação de 6 marchas |
Tração | dianteira | dianteira |
Freios | ||
Dianteiros | a disco ventilado | a disco ventilado |
Traseiros | a tambor | a disco |
Antitravamento (ABS) | sim | sim |
Direção | ||
Sistema | pinhão e cremalheira | pinhão e cremalheira |
Assistência | elétrica | elétrica |
Suspensão | ||
Dianteira | independente, McPherson, mola helicoidal | independente, McPherson, mola helicoidal |
Traseira | eixo de torção, mola helicoidal | eixo de torção, mola helicoidal |
Rodas | ||
Dimensões | 17 pol | 16 pol |
Pneus | 205/55 R 17 | 205/55 R 16 |
Dimensões | ||
Comprimento | 4,17 m | 4,345 m |
Largura | 1,714 m | 1,765 m |
Altura | 1,534 m | 1,64 m |
Entre-eixos | 2,60 m | 2,56 m |
Capacidades e peso | ||
Tanque de combustível | 55 l | 45 l |
Compartimento de bagagem | 320 l | 600 l (até o teto) |
Peso em ordem de marcha | 1.204 kg | 1.320 kg |
Desempenho e consumo* | ||
Velocidade máxima | 185/190 km/h | 198 km/h |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 12,1/12,0 s | 11,3 s |
Consumo em cidade | 11,0/7,4 km/l | 11,3 km/l |
Consumo em rodovia | 12,2/8,6 km/l | 11,5 km/l |
Dados do fabricante; *gasolina/álcool para C4 Cactus e gasolina para T50; consumo conforme padrões do Inmetro |