Prazerosa de dirigir, a versão de entrada do hatch com motor
de 1,5 litro convence ao volante, mas pode melhorar em acabamento
Texto e fotos: Fabrício Samahá
O novo Ford Fiesta emplacou: a versão nacionalizada do hatch — antes trazido em pequeno volume do México, o que ainda acontece com o sedã — ganhou espaço no mercado e venceu a 16ª. Eleição dos Melhores Carros em sua categoria, desbancando o Hyundai HB20. Para verificar se suas qualidades se mantêm mesmo na versão de entrada, a S, o Best Cars colocou-a em avaliação na seção Dia a Dia.
Ao preço sugerido de R$ 41.790 (mais a pintura metálica ou perolizada por até R$ 1.270), o Fiesta S traz bom conteúdo de série, que abrange freios com sistema antitravamento (ABS) e distribuição eletrônica de força entre os eixos (EBD), bolsas infláveis frontais, fixação Isofix para cadeiras infantis, ar-condicionado, direção com assistência elétrica, controle elétrico dos vidros dianteiros, das travas e dos retrovisores, alarme com ultrassom e sistema de áudio MyConnection com toca-MP3 e interface Bluetooth. Por mais R$ 3,2 mil a versão SE acrescentaria rodas de alumínio, faróis de neblina, repetidores de luzes de direção nos retrovisores e acabamento interno diferenciado.
Mais simples que o SE nas rodas com calotas e sem faróis de neblina, o Fiesta S
mantém o desenho atraente, que passou por remodelação no ano passado
É um conjunto competitivo com outros compactos de lançamento recente, como Chevrolet Onix LT 1,4 (R$ 38,2 mil), Citroën C3 Origine 1,4 (R$ 40 mil), HB20 Comfort Plus 1,6 (R$ 43 mil), Peugeot 208 Active 1,4 (R$ 41 mil) e Toyota Etios XS 1,5 (R$ 40,2 mil), e outros nem tão novos assim, como Fiat Palio Essence 1,6 (R$ 40 mil), Nissan March SE 1,6 (R$ 41,6 mil), Renault Sandero Expression 1,6 (R$ 39,7 mil) e Volkswagen Gol 1,6 (R$ 36,6 mil). Vale lembrar que os níveis de equipamentos de série variam bastante e há concorrentes que cobram à parte até pelo ar-condicionado.
O aspecto interno mantém o ar contemporâneo,
mas assume de vez o despojamento nessa versão, na
qual vem todo entre o cinza escuro e o preto
Apesar da aparência simplificada pelas rodas de 15 pol com calotas, o novo Fiesta agrada à primeira vista, com um desenho moderno e de forte identidade, cuja frente não nega a familiaridade com os maiores Focus e Fusion. O aspecto interno mantém o ar contemporâneo, mas assume de vez o despojamento nessa versão: todo o ambiente fica entre o cinza escuro e o preto, sem qualquer aplique em tom prateado ou preto brilhante, como no SE e no Titanium, e os bancos vêm revestidos em tecido simples.
Plásticos rígidos deixam claro que se trata de um compacto comum — nada do rótulo de premium que alguns lhe atribuem —, assim como algumas folgas e irregularidades entre as peças do interior. O painel usa diferentes texturas entre a parte superior (que risca com facilidade) e a inferior, o que soa estranho por terem a mesma cor. O motorista encontra posição confortável, para o que concorre o ajuste do volante em altura e distância, e o painel traz os instrumentos usuais, incluindo marcador de temperatura do motor (que não vinha na versão mexicana) e computador de bordo com consumo indicado em km/l, como gostamos aqui.
Agradável pelas formas, o interior perde atrativo com o acabamento todo em preto;
o motorista tem boa posição, mas o espaço no banco traseiro é escasso
Há bons detalhes no Fiesta S, a exemplo de controle elétrico de vidros (só dianteiros) com função um-toque, sensor antiesmagamento e temporizador; bons faróis de duplo refletor, indicador de temperatura externa, luz de alerta para a proximidade do limite de rotações do motor (só se acende nessa condição), destravamento da portinhola do tanque junto das portas, três porta-copos, alerta para porta mal fechada (geral nesta versão em vez do específico do SE), limpador de para-brisa com intervalo regulável, comando na chave para abrir a quinta porta e — para quem gosta — comutador de farol alto/baixo do tipo que apenas se puxa contra o volante, sem risco de ligá-lo já em alto.
Em contrapartida, algumas faltas incomodam como faixa degradê no para-brisa, alças de teto (neste caso, sem a alegação de haver cortinas infláveis), repetidores laterais das luzes de direção, iluminação na parte traseira da cabine e controle elétrico dos vidros de trás, sobretudo ao transportar crianças. Ainda, o comando de faróis no painel redesenhado fica oculto pelo volante, a alavanca que permite reclinar o encosto vem apertada junto à coluna central, o limpador de para-brisa deixa ampla faixa superior sem limpeza (seria ideal usar braços em sentidos opostos nesse vidro tão grande), o volante é um pouco áspero e o retrovisor esquerdo plano tem campo visual muito limitado. E por que uma mensagem em inglês no direito acerca da lente convexa em um carro feito no Brasil?
O rádio (que não toca CDs) traz a entrada USB no próprio aparelho, o que faz um pendrive encobrir parte de seu mostrador e o deixa bem à vista de quem passa pelo carro estacionado — que tal colocá-la junto à conexão auxiliar, próxima do freio de estacionamento? Além disso, como em outros rádios da Ford, passar à próxima pasta de arquivos MP3 é trabalhoso (exige uma série de comandos para o que poderia ser feito em um só) e nada intuitivo.
Bons instrumentos com computador, fixação Isofix e rádio com Bluetooth são
pontos positivos; manivelas de vidros e posição da tomada USB, negativos
Espaço no banco traseiro é um ponto crítico do novo Fiesta, que nos parece menor por dentro que o antecessor. Dois adultos obtêm relativo conforto atrás, mas a largura e a acomodação para as pernas são bastante limitadas, a ponto de uma cadeira infantil mais volumosa impor ao passageiro da frente que avance um pouco seu banco. O ocupante central não dispõe de encosto de cabeça nem cinto de três pontos.
A capacidade de bagagem, 281 litros, é apenas mediana para o porte do modelo. Aproveitar o espaço obtido com o rebatimento do banco traseiro seria melhor com uma peça bipartida 60:40, item comum em hatches que faz falta em algumas situações. Embora não seja temporário como na versão mexicana, o estepe continua restrito a emergências, pois usa roda de 14 pol em vez de 15 como os outros pneus.
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