Simulação de desempenho
Apesar das vantagens do Sandero em potência e torque (compare as curvas nas figuras abaixo), o Etios chegou ao confronto com algumas compensações, como menor peso e melhor aerodinâmica. Assim, como ficaria a comparação de desempenho? A simulação elaborada pelo consultor Iran Cartaxo trouxe as respostas.
Pode-se dizer que o Toyota se defendeu muito bem, a começar pela velocidade máxima equivalente à do Renault. Aqui vale muito a eficiência aerodinâmica, mas também o bom cálculo das relações de câmbio: embora ambos tenham caixas 4+E, que levam a obter maior velocidade (de 1 a 2 km/h a mais) em quarta marcha que em quinta, o Renault excede por mais de 500 rpm o regime de potência máxima, enquanto o adversário fica cerca de 300 rpm acima. O que isso significa: na rotação em que se obtém a maior velocidade, o GT Line está com 100 cv (menos 6 cv que o valor máximo), enquanto o XS se mantém com 89 cv (perda de 1 cv).
É interessante notar que o Etios tem relações mais baixas (longas) que o concorrente da primeira à quarta marcha, o contrário do esperado para um motor de menor cilindrada — ainda mais de quatro válvulas por cilindro, que em geral levam a potência e torque em rotações mais altas. Com a quinta é o contrário (a do Sandero é mais longa), mas ambos rodam a 120 km/h com regime moderado, que ajuda a atenuar o nível de ruído um tanto alto dos motores. A tal velocidade, a combinação de melhor aerodinâmica e pneus mais estreitos permite ao Toyota consumir 4 cv a menos, o que trará efeito positivo em outro item, adiante.
Os 110 kg de vantagem para o Etios representam alívio para o pequeno motor, a ponto de cada cv carregar só mais 0,5 kg que no oponente, mas o Sandero ainda é o mais rápido para acelerar e, sobretudo, retomar velocidade (aqui o câmbio mais curto ajuda). Ainda assim, 1,2 segundo a mais para passar de 0 a 100 km/h e 1,4 s a mais em uma típica ultrapassagem rápida em rodovia (de 80 a 120 km/h em terceira) são diferenças discretas, que corroboram a sensação de agilidade transmitida pelo novo carro da marca japonesa.
Quem aceitar essa desvantagem em desempenho terá no Etios um carro mais econômico por margem importante, como ao fazer quase 2 km/l em ciclo rodoviário com gasolina, enquanto as marcas do Sandero são apenas regulares para um carro pequeno de 1,6 litro. Com isso, mesmo com tanque de combustível de menor capacidade, o Toyota pode rodar alguns km a mais que o rival sem abastecer.
Sandero |
Etios |
|||
gas. | álc. | gas. | álc. | |
Velocidade máxima | 166,6 km/h | 169,4 km/h | 166,3 km/h | 170,0 km/h |
Regime à veloc. máxima (4ª.) | 6.000 rpm | 6.100 rpm | 5.800 rpm | 5.950 rpm |
Regime a 120 km/h (5ª.) | 3.400 rpm | 3.450 rpm | ||
Potência consumida a 120 km/h | 36 cv | 35 cv | 32 cv | 31 cv |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 12,9 s | 11,9 s | 14,3 s | 13,1 s |
Aceleração de 0 a 400 m | 18,4 s | 18,0 s | 19,2 s | 18,6 s |
Aceleração de 0 a 1.000 m | 34,3 s | 33,4 s | 35,6 s | 34,2 s |
Retomada 60 a 100 km/h em 4ª. | 12,0 s | 10,9 s | 14,4 s | 12,8 s |
Retomada 60 a 100 km/h em 3ª. | 8,4 s | 7,7 s | 9,7 s | 8,8 s |
Retomada 80 a 120 km/h em 5ª. | 19,7 s | 17,9 s | 22,8 s | 19,4 s |
Retomada 80 a 120 km/h em 4ª. | 13,9 s | 12,4 s | 16,6 s | 14,6 s |
Retomada 80 a 120 km/h em 3ª. | 9,8 s | 8,8 s | 11,3 s | 10,2 s |
Consumo em ciclo urbano | 9,1 km/l | 6,6 km/l | 10,4 km/l | 7,5 km/l |
Consumo em ciclo rodoviário | 12,5 km/l | 9,3 km/l | 14,4 km/l | 10,5 km/l |
Autonomia em ciclo urbano | 408 km | 296 km | 422 km | 304 km |
Autonomia em ciclo rodoviário | 564 km | 419 km | 581 km | 426 km |
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Dados dos fabricantes
Sandero |
Etios |
|||
gas. | álc. | gas. | álc. | |
Velocidade máxima | 177 km/h | 179 km/h | ND | |
Aceleração de 0 a 100 km/h | 11,5 s | 11,1 s | 12,2 s | 11,8 s |
Consumo em ciclo urbano | ND | 12,5 km/l | 8,5 km/l | |
Consumo em ciclo rodoviário | ND | 13,0 km/l | 9,0 km/l | |
ND = não disponível |
As vantagens em desempenho do Sandero (à esquerda) são menores do que se
esperaria pela potência adicional; o Etios é mais econômico em todas as condições
Comentário técnico
• O motor do Etios é da família NR da Toyota, que tem versões de 1,2, 1,3 e 1,5 litro. Embora exista na Europa em versão mais sofisticada, com variador do tempo de abertura das válvulas, a unidade de 1.329 cm³ reservada a esse modelo dispensa o mecanismo para redução de custos, o que implicou potência mais modesta (o europeu, movido só a gasolina, tem 99 cv). Leve, o motor usa bloco de alumínio e tem a boa característica de transmitir movimento do virabrequim ao comando de válvulas por meio de corrente, mais robusta que uma correia dentada (como no Sandero) e isenta de manutenção. A elevada taxa de compressão escolhida para o Brasil (12,2:1) prevê bom rendimento com álcool.
• A Renault aplicou a seu motor de duas válvulas por cilindro um conjunto de alterações na linha 2013: aumento da taxa de compressão (de 9,5:1 para 12:1), nova central eletrônica, bielas forjadas e mais leves, quinto bico injetor para a injeção de gasolina durante a operação de partida a frio, novo comando de válvulas e pistões mais leves. O resultado foi potência específica próxima à do Etios, mesmo com uso de apenas duas válvulas por cilindro.
• Os dois modelos são bastante simples em termos de arquitetura, caso das suspensões, que usam os consagrados esquemas McPherson na frente e de eixo de torção na traseira.